"Capítulo 11 - Eu posso colocar em palavras? Não vou colocar em palavras! Quebre todas as barreiras dos mundos alternativos e destrua a matrix! Parte 2"
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Um beco. Tudo começou em um beco.
Yuki havia ido até um beco e nunca mais voltou.
Sado seguiu o mesmo rumo em busca da garota e quando entrou na mesma ruela, estava voltando pra mesma manhã de quando estava com Yuki. Uma viagem que dilata o fluxo temporal, retornando ao passado.
Ou assim ele pensou que era, mas a verdade não era algo tão sofisticado, e sim que estava transitando entre "dimensões de bolso". Mundos criados na mente deste mago incrível afim de impedir que Sado alcançasse a verdadeira Yuki.
E cada vez que Sado se mantinha persistente em refazer o mesmo caminho, de novo e de novo, em cada dimensão, visando se aproximar do beco, era mandado para uma camada inferior da Realidade. Ou melhor, uma falsa realidade.
Mundos-maquete.
Mas por que o beco?
Porque ali era a chave para sair de tudo isso.
Sado sabia que naquele beco, escondia algo intrínseco para sair deste "looping".
Esse algo então foi revelado. Um círculo vermelho bizarro com desenhos e símbolos descritos nele. Sado não conseguia identificar nenhum deles e era uma forma de escrita ilegível aos olhos humanos.
Foi tocando essa forma com seu corpo que detém a capacidade de destruir tudo aquilo que é fantasia, Sado destruiu toda aquela realidade de bolso, como que quebrando uma das camadas de uma cebola, e indo de encontro com a próxima.
E a próxima... E a próxima... E a Próxima... E assim sucessivamente.
Voltando o percurso que ele fez sozinho, agora com Yuki Sato, sua amiga mágica.
— Correeeee!!
Um grito estridente foi ouvido a plenos pulmões.
Naquela rua da cidade, o garoto de cabelos pretos corria com sua roupa escolar básica: uma camisa branca e um agasalho com zíper aberto.
Explosões eram ouvidas atrás dele quebrando o asfalto e desnivelando o chão para todo o lado.
— Sado, a inimiga está se aproximando.
— Eu sei disso, tá bom!? Mas falar não vai ajudar em nada agora!
A menina sendo levada no ombro de Sado parecia estar sem energia. Ela usava um tapa-olho e tinha um rosto bastante inexpressivo agora.
Originalmente ela não era assim, com um tapa-olho e expressão de paisagem. Era por ela não ser assim, que Sado tentava alcançar o núcleo de todo esse mal.
O núcleo que montou essas maquetes gigantes e até mesmo recriou os residentes da cidade baseado nas memórias de Yasutora Sado.
Sendo esse que os perseguiam, o pior de todos.
— Droga, Falsa-Yuki! Essa é persistente, hein!?
Correndo e pulando em cima dos telhados de mercados e prédios, a pequena menina de cerca de 1,40 metros de altura, perseguia os dois jovens abaixo.
Ela se parecia totalmente com Yuki de tapa-olho carregada no ombro de Sado, mas de igual, não possuía expressão.
De sua palma branca, ela disparava bolas de chamas que explodiam no chão, visando o dramático rapaz.
Cada estouro vindo de trás assustava o Sado como se fosse seu último dia de vida.
— Você é imune à poderes mágicos. Por que está correndo assim?
— Eu posso ser imune a ataques mágicos mas não sou imune a pancadaria! Eu já sei que sou mais fraco que você! Eu já sei que eu apanho contra uma menina de cabelos brancos muito menor do que eu! Caramba, que força insana você têm, hein!? Me passa essa dieta quando chegarmos em casa vivos!
De repente ele escorregou o pé em uma lomba que não se lembrava de existir neste mundo e perdeu o equilíbrio deslizando a sola dos tênis no asfalto liso.
— Aaaaaaaaahhh!!!
Parecia que o chão estava mais escorregadio do que ele esperava. Sado sem conseguir manter o equilíbrio e sua mobilidade, tropeçou e caiu junto de Yuki no meio de uns matos que também, supostamente, não existiam em plena área comercial.
— Uhg... Quando os personagens de anime caem nas moitas assim, parece tão, mas tão macio... Eu senti tudo doer!
— Sado, levante-se. Ela ainda pode nos encontrar.
— É, é eu já sei... Poxa vida que bom que caímos nuns mato aqui... Mas afinal, não lembrava de ser assim.
— Já estamos no oitavo mundo, sempre haverá uma diferença.
— Já é a oitava você, huh...?
O menino se ergueu do chão feito de grama e deu uns tapinhas em sua roupa. Olhando para o topo da lomba que caiu, ele contempla a oitava vez que batalhava contra uma Falsa-Yuki dês de que começou a destruir dimensões vazias.
Vazias. Sem vidas. Limitadas. As leis da física como gravidade funcionavam aqui, mas era um mundo morto que nunca iria anoitecer pois o ciclo do dia estava travado para sempre.
Sado suspeitava que até aquele suposto sol lá em cima era nada comparável ao original do mundo verdadeiro.
E havia também uma distância limitada de quilômetros quadrados da área falsa. Se você atravessar essa área, segundo Yuki de tapa-olho, você retornava para o lado extremo do mundo, a outra borda, como se andasse em círculo sob uma esfera.
Se contar a maquete da área comercial e o espaço vazio fora do "mundo gerado", pode se dizer que todo essa dimensão é maior que uma cidade, ou até mesmo províncias inteiras, até mais do que um estado de algum país.
E tudo isso era estilhaçado quando Sado tocava o núcleo mágico que fazia todo esse mundo falso existir.
Havia limite de área para o Faker? Ele não sabia mesmo.
Mas somente Sado poderia fazer isso agora.
E ele já destruiu 8 mundos desses.
— Eu tô ficando cansado... Mas devemos prosseguir, certo?
— Naturalmente, embora seja uma pena que minhas energias caíram.
— Você tinha que ter me falado que usar emoções gastava muita energia!
Inexpressiva como sempre, Yuki de tapa-olho se desculpou por essa falha e assim se pôs a pensar.
Foram 8 cópias dela derrotadas até o momento e não estavam nem na metade. Ela conseguia lidar com suas versões que pareciam mais fracas e reduzidas pois era a original.
Sua força de vontade, sua mente parcial e seu espírito verdadeiro e único era o que diferenciava.
Força de vontade em querer ser liberta e libertar o Sado daqui.
Mente parcial porque sua consciência foi dividida para estar aqui e estar com o corpo real ao mesmo tempo.
Espírito único por manter essa chama de justiça e unicidade da menina, não importa se está em seu estado apático ou com todas as emoções do mundo, Yuki Sato ainda é Yuki Sato.
— Eu tento replicar ser o que era na original, afinal sou metade do que ela é. Não... Menor ainda, mas ainda sou melhor do que essas cópias baratas.
— Em falar nisso, onde está o seu corpo verdadeiro mesmo?
— Preso. Neste exato momento está selado, protegido das mãos do inimigo. Mas não demorará muito para que ele destrua a barreira e tome posse de mim.
— Tomar posse? Colocando assim torna esse cara ainda mais suspeito e eu não gosto disso.
Magos, bruxos e bruxas — Yasutora Sado já estava no seu limite sobre isso e tudo o que ele queria era voltar para sua casa agora.
Não... Era certificar de que o senhor Tsukiama, o Ike, o pai de Ike e o resto da companhia estejam bem e seguros... Ah e ele não poderia se esquecer da mulher daquele bar. Ele queria que todos estivessem bem e só assim poderia descansar de verdade.
Ele não dormiria se soubesse que alguém se perdeu.
E como que lendo os pensamentos dele, Yuki de tapa-olho disse:
— Vamos nos mover daqui, não demorará muito para que ela nos ache.
— Certo, e como vamos derrotá-la?
— Há algumas formas que ainda não usamos para vencer o oponente. Vamos tentar alguns planos. Venha.
— Beleza, mas não me sinto nada bem em erguer meus punhos contra você.
Deixando escapar essa impressão, ambos seguiram por dentre árvores e arbustos.
— Ela não sou eu.
Lembrou Yuki de tapa-olho.
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A área comercial se via vazia e sem vida. Era uma cidade fantasma. Nem carros, nem pedestres, nada.
As únicas formas de existência aqui...
— É isso mesmo. Sou eu contra você.
O garoto franzino parado no meio da estrada não aparentava estar nervoso. A Falsa-Yuki teve seu olhar sem vida direcionado à ele.
— Só eu contra você. Eu sou bom em servir de isca, afinal.
Era isso que ele era. Era tudo que poderia ser no momento.
Mas a Falsa-Yuki não pareceu resoluta com isso e dirigiu seu olhar para os arredores.
— Ela não está aqui. Como eu disse, sou só a isca. A verdadeira está indo até o círculo vermelho para quebrá-lo. Sou só eu contra você.
— E espera que eu acredite nisso?
— Oh? Decidiu falar, hein? Hehe, de você eu não espero nada. Só tô aqui fazendo meu papel. Meu único papel.
— Ser tão fraco que serve de uma mera isca deixado para trás.
— De destruir essa fantasia barata.
Um olhar de indignação foi lançado para a Falsa-Yuki, não... Para o ser que havia por detrás daquele controle.
O ser que criou este mundo.
— Tolo. Morrerás aqui e a menina será a próxima.
— O que quer conosco? Com essas pessoas? É você que está desaparecendo com os outros e deixando esse boato se espalhar pra lá e pra cá? Por quê? Simplesmente dizer porque você é mau, não ajuda, tá bom!? Então me de uma resposta convincente de vilão final e vamos ver se vale a pena levar isso a sério.
— Você é um tolo na verdade. Aquela menina se esconde, e eu sei onde ela está. Eu cansei de joguinhos.
— ....?
A Falsa-Yuki, ignorando cada pergunta de Sado, bateu palmas de repente. Então, subitamente do céu, portais obscuros foram abertos. Haviam dezenas deles.
— Mas o que...
Distorções na Realidade, portais mágicos. Passagens além das dimensões naturais do mundo físico.
Dali, silhuetas saltaram e pousaram uma por uma ao redor de Sado e a Falsa-Yuki.
— Isso é...
Mesmos rostos, mesma roupa, mesmo cabelo e todas inexpressivas e vazias. Eram todas Yuki.
Todas Falsas. Réplicas.
Todas falaram unanimemente:
— Garota tola, apareça. Seu plano de me pegar desprevenida foi um fracasso dês do início. Revele-se ou este rapaz morrerá aqui mesmo.
Todas as meninas iguais tomaram posse de armas brancas. Algumas tinham tacos de metal, outras pés-de-cabra e até mesmo correntes.
Todas elas rondavam o garoto enquanto se aproximavam fazendo barulho com suas correntes e armas de ferro.
— Uhg... Merda...!
Sado cerrou os punhos olhando para todos os lados enquanto o círculo diminuía cada vez mais.
Elas falaram ao mesmo tempo:
— Sado Yasutora, o garoto que desafia a lógica e o mundo mágico. Tu tens algo que é do nosso agrado. Mas morrerá diante da jovem mágica.
— Algo do seu agrado? O meu Faker?
— Não visualizo este dom de forma alguma. Mas você não é tão simples quanto aparenta. Irei dissecá-lo através do seu ser. Farei uma dicotomia mágica e chegarei no amálgama que é o seu verdadeiro eu.
Ouvir isso de todas as Yuki falsas não era nada agradável e ele se sentiu em um beco sem saída.
O plano de esconder Yuki de tapa-olho caiu pela culatra, e agora ele estava cercado.
O único jeito era se revelar...
— Iá!
Abaixo dos pés, a menina escondida saiu da tampa de um bueiro.
Rapidamente, antes que qualquer movimento contra ela fosse lançado, a menina de tapa-olho atingiu o solo com as mãos nuas, causando uma onda eletromagnética forte o suficiente para afastar todas as cópias para longe.
Todas elas se chocaram contra alguma parede, exceto a do meio que conseguiu se manter de pé.
Salvo Sado que nada sentiu.
— Aí está você. Chega de resistência. Vamos, se entregue por completo e assim será menos ruim e esforços não serão em vão.
— Eu recuso. Este corpo é meu. Aquele corpo é meu. E este corpo também. — aponta ela para a Falsa-Yuki que falava — Só há espaço para uma única consciência.
— Tola. Mas forte, eu respeito isso. Pois bem. Vai morrer lutando.
A inexpressiva Falsa-Yuki finalmente fez uma expressão, e era de pura repugnância pelo que via.
Com esse gesto, todas as dezenas de Yuki reagiram ao mesmo sentimento e entraram em ressonância umas com as outras. Elas se recuperaram da queda e saltaram de volta.
Cercando assim Sado Yasutora e Yuki de tapa-olho.
— Merda, Yuki. O que a gente faz? Lutar contra todas essas... Você consegue? Merda eu me sinto um inútil completo!
Sado não era páreo no combate físico contra uma única Yuki, e aqui haviam dezenas da mesma.
Eles derrotaram 8 dela antes, mas nunca foi sozinho. E cada uma foi um esforço enorme.
Isso aqui já era um exagero de demonstração de poder.
Mas...
— Eu luto. Você vai!
— O qu-...!? Wah!?
Sentindo uma pressão no pescoço e tendo seus pés tirado do chão, Sado foi levado.
Em uma fração de segundo, Yuki de tapa-olho agarrou o menino pela gola do casaco e saltou.
Ela bateu os pés em um edifício e saltou ainda mais alto.
— Waaah! Tá forte demais, eu vou cair!
O jovem não sabia aonde aterrissaria com suas próprias pernas.
Além disso...
— Todos, magia massiva de chamas. Atirar.
Dezenas de palmas brancas miraram Yuki que usava somente de força física insana para levar Sado para longe, e atiraram em conjunto chamas como um inferno.
— Cuidado, abaixo da gente! — o rapaz grita.
Era um mar de chamas tão grande que ele imaginou não ser possível defletir com seu Faker. Mas era só isso que ele tinha. Porém, sentiu que Yuki que levava ele pelas paredes deste edifício não escaparia com total segurança.
Até que...
— Uoaah!
Ela saltou daquela prédio em um salto fortíssimo com as forças das pernas brancas que rasgaram seus sapatos e um pouco da calça.
O garoto sentia o baque fortíssimo do vento no rosto, e Yuki de tapa-olho saltou de um prédio para o outro enquanto desviava do tiroteio de chamas.
Explosões e mais explosões reverberavam por todo lugar que saltassem. Até que então, Yuki saltou do topo do prédio mais alto que conseguia.
Distante no céu, Sado viu. Ele viu o enxame de luzes quentes vindo na direção de ambos e não havia mais para onde se apoiar. Magia também não iria funcionar aqui, Faker não permitiria.
Então como sair ambos ilesos de um ataque fatal desses?
— Vá, Sado!
— O quê? Espera, Yuki!
Sentindo em pleno ar ser puxado com tanta força para frente e ter seu corpo arremessado para o céu, o garoto foi recebido com ventos fortíssimos.
Sua mão foi estendida para a figura da menina que se tornava cada vez mais pequena e distante.
Não tinha controle sobre seu próprio corpo. Não conseguia parar nem se virar. Era difícil até mesmo se mover com a pressão dos ventos.
Sair ambos ilesos? Esse era o plano dele. Mas quem disse que era o plano dela?
Confuso e incrédulo, ele viu aquele mar de fogo atingir a menina que caía de braços e pernas abertos em queda livre enquanto transmitia uma única expressão facial.
Ela sorria.
— Encontre o meu corpo e acabe com essa fantasia!
No instante seguinte, o garoto adentrou o portal mais alto e tudo ficou sem som.
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"Eu quero ser um herói", pensou ele.
"Eu quero fazer a diferença", desejou ele.
"Eu quero entrar em aventuras incríveis", disse ele.
"Eu quero salvar pessoas", buscou ele.
Pensar. Desejar. Dizer. E fazer.
Pensar. Desejar. E dizer.
Pensar. E desejar.
Pensar.
Pe-...
"..."
A consciência estava dormente. A consciência queria escapar dele mais uma vez.
Não fazia ideia de que aventuras eram tão cansativas.
Não fazia ideia de que salvar pessoas era tão desgastante.
Não fazia ideia de que fazer a diferença era tão complicado.
Ele, Sado Yasutora, não fazia ideia de como era ser um herói realmente.
Mas ele queria descobrir. Ele queria se esforçar pra isso. Ele tinha esse furor para tal. Ele queria ser capaz de dizer isso pra si próprio no espelho! De que Sado Yasutora era capaz!
— Uhg... uagh... Cof, cof.
Debruçado no chão, ele tossiu e vomitou um pouco de bile das entranhas. Havia um enjoo e uma pressão na cabeça após ter sido levado e levado, girado e girado. Sentiu como se tivesse dentro de uma máquina de lavar roupas.
Limpando os lábios, ele se levantou olhando ao redor. Tudo o que via era um caminho bastante escuro.
— Um túnel?
Para comparação, ele se sentia dentro de uma caverna com rochas vermelhas e roxo.
Olhou para trás e viu um caminho. Olhou para frente e via a continuação do túnel.
— Yuki me jogou aqui... Ela espera que eu faça algo, que eu faça a diferença.
Olhou para sua palma esquerda. Ela estava suja e haviam marcas de esforço como quem trabalhou muito.
O jovem nunca tinha se esforçado tanto em toda a sua vida.
Quando ele olha para frente e imagina que tipo de aberração o espera, ou para trás podendo ser a direção certa ou um poço de ácido esperando para que ele erre o passo e caia, Sado simplesmente pensa que morrer agora seria um trágico final para todos.
Estava nas costas dele essa responsabilidade. A responsabilidade de sua própria vida, e nunca havia sentido tão pesada antes.
— Eu vivia me esquivando das responsabilidades da escola...
Foi sempre assim para esse vadio. Ele, que deveria buscar por si e para si, nunca o fez pois não tinha nenhuma expectativa nele próprio.
— Mas agora é diferente...
A expectativa da vitória não vinha dele, mas sim da menina. Estava na menina que confiou nele e passou para ele.
Ela quem teve expectativas nele.
Foi a segunda garota em toda a sua vida que teve expectativas nele.
Dessa vez, não era de si para si, mas dela para ele.
E ele por ela.
— Yuki confia em mim. Ela está me esperando. Eu vou fazer isso.
O punho foi fechado com convicção e seus pés se moveram para frente.
Neste caminho solitário, sendo movido somente por convicção, Sado se questionou:
— É por este caminho?
Estando convicto ou não, andar as cegas não era uma bom começo. Nunca foi e nunca será. Somente alguém cheio de sorte se daria bem, coisa que Sado não tinha de forma alguma.
Ele, em fato, era conhecido por ser bastante azarado, mas nada que fosse chamado de sobrenatural. Seu azar vinha da sua preguiça e ignorância.
Por isso, pode se dizer que Sado não tinha muita sorte.
Porém, conhecia um certo alguém cujo esse dom era quase como divino.
— Se ele tivesse aqui... Não, ele é só um policial, isso não faz sentido.
Asas bateram vindo detrás, reverberando pelo túnel.
Passou como um vento por Sado Yasutora, balançando seus cabelos.
— Huh?
Um pequeno animal de penas brancas surgiu de repente, e voava para longe.
— Quê isso?
E então, outro surgiu passando por ele também. E outro, e mais outro.
Eram vários pássaros brancos.
— Ah! Espera!
Vendo aquelas aves se afastarem, o jovem decidiu correr atrás.
— Uma pomba? Por que tem pombas logo aqui, neste lugar??
Isso era estranho. Mas era só mais uma camada de estranheza se acumulando em cima de tantas outras. Ainda assim, o garoto não deixava de se surpreender.
Que significado havia neste animal aqui?
Sado não entendeu, mas seguiu esses pequenos animais inofensivos pela extremidades da caverna.
Correu perseguido-os
E mais barulhos de assas passavam por ele.
De onde estavam vindo tantos pássaros?
Foi então que ele chegou até uma estrutura diferente.
— Arff, arff... Um portão. Um grande portão.
As pombas brancas se reuniram em frente ao portão fechado.
— Vocês estavam me mostrando o caminho? Estavam me levando até aqui?
Guiado pelas dezenas de pássaros, o jovem chegou a uma área onde um enorme portão escuro, iluminado por fogo azul existia.
O que ele deveria fazer?
Em primeira instância, tomou a iniciativa de empurrar o portão que parecia pesado com suas mãos.
— Lá vai.
Exercendo força sob aquele portão gélido, o garoto empurrou com a força dos braços e pernas.
Um barulho de portão antigo se abrindo foi ouvido a medida que as portas se descolavam.
Com as portas sendo separadas cada vez mais, as pombas bateram voo para dentro, todas elas passando por Sado Yasutora.
Até que finalizado o processo, ele se encontrou entrando em um salão.
E então, sons de palmas.
— Parabéns, garoto que quer ser um herói.
Andando cautelosamente para frente e parando em uma distância segura para elevar a voz sem ter que gritar, Sado foi recebido por um ente de longos cabelos escuros que exalava um ar sombrio capaz de contaminar alguém só de olhar.
Sentado em uma cadeira de rodas, vestindo uma veste negra, recebeu Sado como quem senta em seu trono.
— Você é o cara por trás de tudo isso? Ou melhor... A mulher por detrás de tudo isso?
Pele pálida, postura de dar medo. Longos cabelos que cobriam um lado da face.
A mulher riu.
— Hehehe, você me surpreendeu muito, garoto com complexo de heroísmo. Andou por aí, como uma pecinha rebelde no tabuleiro, pensando que dominaria o rei e conquistaria sua autonomia, mas não contava que no lugar do rei, quem domina o campo de batalha no xadrez era a rainha.
Os cabelos caindo sobre o rosto da figura, onde um único olho repleto de sabedoria e experiência de vida o observava.
A mulher moveu sua cadeira de rodas um pouco mais ao centro do salão vazio.
Ela não parecia ter força física do qual pudesse subjugar o Sado. O problema seria seu poder mágico ou armadilhas escondidas aqui.
Sado não deu um passo a mais e nem menos.
— Aé, dona bruxa? Pois saiba que eu sempre fui péssimo no xadrez. Então valeu pelo elogio.
A mulher riu, seus ombros tremendo fracamente.
— Bruxa... Não escuto isso à séculos. Você me despertou uma memória antiga, garoto tolo. Algo do qual já fui denominada a muito, muito tempo.
— Você parece ter vivido muito, vovó. Vivendo tanto, você sabe que o que fez não era o certo. Já que eu cheguei até aqui, eu quero saber. Me diga, por que é que fez tudo isso? Os boatos de sequestro de pessoas se espalhando, foram realmente você?
— Hum... Sim. As maldições, os sumiços e o círculo mágico Qliphoth. Eu os fiz.
— P-por que!? Qual o seu intuito? Pra quê isso!?
Sado sentindo-se nervoso, elevou a voz naquele salão. O olhar da bruxa fitando-o secamente.
— Garoto heroico. Você tem um dom realmente interessante. Como chegou até aqui vivo, gostaria de propor um acordo.
— Acordo?
Mudando de tema na conversa, a bruxa estendeu a palma aberta até o garoto.
— Você que tem o dom de se rebelar contra o sobrenatural. Você que é o machado invisível para derrubar a Árvore da Vida, a Árvore Sephiroth e a Árvore da Morte, a Árvore Qliphoth. Você cujo a existência é impermeável sobre todas as formas de compreensão em relação a magia, a mística e o sobrenatural. Você, Sado Yasutora, junte-se a mim.
— Quê?
Escutou algo que causou embrulho em seus ouvidos.
— Eu proponho, que se junte a mim, jovem.
— E por que acha que eu faria isso?
— Por que sua vida não faz sentido. Você que desafia o consenso de Deus e elimina os parâmetros do natural e do sobrenatural. Uma existência sublime. Um ser especial. Um dom além da compressão! Além de todos os céus e toda a terra! Não há poder que pode conter essa maravilhosa e ao mesmo tempo assombrosa realidade! A magia Elemental não pode lhe prejudicar! A magia demoníaca se tornou inapta ao seu poder que transcende o nefasto e o sagrado! Você, que tem posse disso, preso nessa existência simplória, vivendo um cotidiano mundano e comum. Deveria ver o seu real potencial e desvendar as infinitas possibilidades que caem de joelhos diante deste seu dom! Toda a Criação, toda a Existência! No fim, tudo se ajoelhará diante do seu Faker, Yasutora Sado.
— .....
A cadeira foi sendo movida cada vez mais para perto dele a medida que a voz se enchia de furor.
— Mas você não compreende isso agora. Por mais que tenha um dom além de todo o extraordinário, seus olhos pobres de espírito não podem vê-lo. Não podem entendê-lo. Não percebe seu real significado. O poder que vence a Árvore! O poder que está além do bem e do mal! Além da vida e consequentemente... Além da morte.
— ....
Parada diante dele, aquele rosto repugnante com hálito de morte o encarava como se estivesse o consumindo por completo de dentro pra fora.
Olhos negros, desejando-o. Sado Yasutora nunca foi tão desejado antes.
Chegava a lhe causar náuseas e vontade de vomitar.
— A capacidade que desafia toda a Realidade. Moldando-a, definhando-a, destruindo-a. Sendo uma vontade absoluta. Um único ponto sobre o Tudo. Um único caminho que atravessa todos os outros caminhos. Uma única razão além da compressão humana.
As mãos foram estendidas tocando-lhe a face.
Dedos finos, unhas compridas e afiadas.
Sado tremeu com o toque gelado como o de um cadáver.
— Eu compreendo que o dom que você tem é a maior injustiça já feita. E eu quero-a para mim. Por isso... Fique ao meu lado, Yasutora Sado, e vamos curar este mundo.
E essa foi a terceira vez que uma mulher teve expectativas nele.
— O que... O que está dizendo...? Curar...? Você...
— Curar as dores. Curar os males. Curar as injustiças. Curar as caçadas às bruxas. As inquisições. O sofrimento. A macula. Tudo. Tudo!
Uma gota de suor escorreu pelo seu rosto. Olhos vidrados na face abominável em sua frente.
Sua mente estava confusa. Ele estava confuso.
Do que diabos essa mulher falava?
— Tudo? O que é tudo?
— Tudo é tudo. Todas as pessoas. Todos os seres. Todas as vidas. Todas as coisas. O Tudo!
Que proposta insana era essa? Sado quis gritar.
Ele não podia conceber o que estava sendo posto diante de si.
Então ele fez mais uma pergunta.
— ...Como isso?
A bruxa sorriu.
— Extinção Absoluta.
— !! Saia de perto de mim, sua velha gaga!!
Estapeando as mãos da bruxa malévola, Sado cambaleou para trás irritado.
— Oh? Vai recusar minha oferta? Não sabe a tamanha falta de senso que está cometendo. Você é o escolhido para acabar com tudo isso. Aquele que vai por um fim a todas as presentes ordem de coisas.
— Calada, calada, calada! Você é má e é só isso o que sei! Não me venha com essa! Eu não vim aqui pra negociar coisa alguma! Cadê a Yuki!? É por ela que eu vim!!
— Recusar, então? — abaixando a cabeça, recolheu a cadeira para trás — Que seja.
Abrindo os braços, o salão se tornou mais iluminado. Acima da parede do "trono", estava um cristal rodeado por pombas.
E dentro do cristal, adormecida em posição fetal, estava a figura de uma linda e delicada menina.
— Yuki!
Sado chamou a menina, na esperança de acontecer alguma coisa, mas ela não reagiu.
As pombas bateram voo e começaram a rodear o salão.
— Venha, Sado Yasutora, o tolo herói. Eu vou matá-lo. Tomarei posse do corpo jovem daquela donzela que tanto cobicei, e irei completar meu desejo.
— Seu desejo? Destruir tudo?
— Não. Meu desejo inicial. Quando vi você, pensei além do meu próprio desejo e vi uma realidade que poderia ser alcançada. Com o meu saber e o seu dom, poderia acontecer.
— Lamento, mas eu já tenho uma parceria de negócios. E não há espaço pra mais nenhum hambúrguer.
A mulher inclinou a cabeça e o salão foi completamente tomado por uma luz avermelhada.
Sob a luz carmesim e os pombos que voavam em círculo, o veredito foi dado.
— Então, vamos começar. Esse será o xeque-mate. Fufufufuahahaha!
O punho foi cerrado.
O confronto aguardado. A última investida.
Quebre essa barreira descomunal, Sado Yasutora!
— Eu juro que vou acabar com essa fantasia e te trazer de volta para o mundo real!
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Nota do autor: Olá a todos! Voltando do hiato de... Hein? Quase um ano! Sinto muito por isso, mas não pude escrever nada. Enquanto escrevia, estive muito desmotivado com a vida, eu estava deprimido, e foi tão grande a desmotivação que parei de escrever, e quando percebi, além de estar ocupado com o trabalho e cansado demais, acabei tendo depressão. Eu estive muito abalado e fiquei uns 7 meses sem escrever. Bem, me sinto um pouco melhor agora e aqui está mais um capítulo de Apocryphal Testament! Voltando com a mania de escrever as "notas do autor" em uma sessão separada dentro do próprio capítulo, o autor revela que este capítulo teve 4.500 palavras (o bruto), o que acharam? Na verdade, acho que o capítulo do Sado vs Maxuel foi maior... Enfim, reta final do arco 2, aguardo o apoio de todos!