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Chapter 20 - Capítulo 1 - Truque fácil

Dia 15 de setembro, 11:45 da manhã — Kandori no Uta, área comercial.

É nesta área movimentada e cheia de prédios e comércio que um garoto de cabelos escuros e desgrenhados se encontrava.

Perplexo, ele tinha acabado de receber alta do hospital onde permaneceu à noite e manhã.

Nem preciso dizer que o homem que o ofereceu tratamento gratuito por ter salvado sua filha no dia anterior ficou surpreso em vê-lo novamente.

"Você anda se envolvendo em brigas toda hora? Não esperava ter te visto na mesma noite do dia em que cobri suas despesas médicas. Mas tudo bem, minha palavra ainda vale."

— Que vexame... — o menino suspira.

Por ter salvado a filha deste homem que era associado com aquele hospital, Sado acabou por receber da generosidade sem fim do mesmo, e agora suas despesas médicas caíam na conta do homem de meia-idade.

Ainda assim, foi doloroso ir para o hospital no mesmo dia em que saiu.

— Eu detesto hospitais! Eles só existem porque pessoas ficam doentes, são baleadas ou machucadas! Se eu for para um lugar como esses novamente, significa que minha saúde estará correndo risco, droga! Pessoas espirrando e tossindo pra todo lado. Cheiro de jaleco de médico e remédios nas paredes! Um dos piores lugares para um cara que vive em reclusão social como eu...!

Em um banquinho de um parquinho, ele reclamava tirando seus curativos do rosto que descolavam de forma dolorosa.

Ao seu lado, uma sacola plástica.

Sado aproveitou o momento em que estava se sentindo chateado e abriu a sacola, retirando alguns bolinhos recheados com carne e pão de melão, o famoso Meron-pan, para comer.

Ele não comia nada a manhã toda dês do momento em que devorou aquele hambúrguer guardado que se encontrava em um estado lamentável.

— Uma refeição é uma refeição, e eu gosto de comer de tudo, mas cara... Finalmente um alimento descente nesse dia.

Ele mordeu um pedaço do bolinho e também mordeu um pedaço do seu meron-pan. Havia também alguns croquetes na sacola e uma lata de refrigerante.

— ...Ela é muito gentil comigo.

Não tendo dinheiro algum, pois não trabalhava, e não levando consigo seu cartão de crédito, Sado teve que ser ajudado com comida pela Yuki uma segundo vez.

Quando ele pensa sobre isso, acaba se sentindo um monstro desalmado que aparenta buscar proveito de uma menina menor que ele.

— Tadinha... Coitadinha... Ela é tão pequenina, e eu aqui, comendo a custas do dinheiro dela...

Mesmo que dissesse isso com lágrimas nos olhos, ele não poderia resistir em mordiscar o Meron-pan mais uma vez e outra.

Então mais uma dúvida surgiu em sua mente.

— Espera um pouco. A Yuki trabalha? Como ela tem dinheiro? Me sentiria horrível em saber que tô tirando dinheiro de alguém que também se encontra em más qualidades.

Ele olhou para o bolinho e o meron-pan mordidos em cada mão.

— Uma menina como ela... passa por dificuldades?

Foi uma questão que ele não pode deixar de se perguntar.

Então, ainda comendo, ele pegou a lata de refrigerante e deslacrou o lacre. O som habitual de gás saindo foi ouvido e ele bebeu.

Ainda refletindo...

— Esse mundo é mesmo a imagem daquilo que se vê em filmes e mangás? Tudo isso... é falso?

Em seu campo de visão, alguns pais e seus filhos passeando; donos andando com seus cachorro e veículos na estrada ali perto.

O garoto não conseguia conceber de que toda essa visão que estava tendo, era apenas uma pequena porção da Realidade que os cerca.

— Magia, mágicos e monstros...

Sim, há exatos 2 dias atrás, ele teve contato com tudo isso. Magia produzida por seres mágicos e poderosos. Monstros que apareciam vindo de outro plano da existência... Sado Yasutora realmente viu tudo isso de perto.

— Não só vi, mas como senti muito bem. — colocou a mão nas costelas se lembrando dos golpes que recebeu nesses eventos sobrenaturais.

Foi agredido por um taco de basebol metálico por um punk que se dizia mago e espancado por uma mulher alta de cabelos escuros como um véu negro na noite do mesmo dia.

— Eu apanhei, apanhei e apanhei... Se não fosse o Kitogawa pra me ajudar contra o Maxuel, eu estaria morto... Espera... Eu fiz alguma coisa além de só apanhar!?

O seu segundo ou terceiro encontro com o sobrenatural que aconteceu ontem e também a sua primeira batalha de verdade.

Um jovem inexperiente como ele não fazia a mínima ideia do que estava fazendo. Mas ele fechou seus punhos e se defendeu.

Embora, como dito por ele, o garoto não teria nenhuma chance contra um cara que empunhava uma arma branca, e sua sorte foi que o policial que conheceu no mesmo dia o salvou.

— Parando pra pensar... Como que o Kitogawa encontrou a gente? Estávamos lutando dentro de um prédio, e Maxuel disse que trancou o quarteirão com algum tipo de talismã ou algo assim. Logo, não haveria como uma pessoa comum como ele adentrar aquele espaço fechado, certo?

Se olharmos dessa forma, era um fato verídico, visto que quando Maxuel tinha dito aquilo no dia em que se conheceram (de forma nada amigável) era fácil interpretar dessa forma.

— Mas ele entrou. Caramba, é realmente muita coincidência. Não, não só isso. Foi realmente muita sorte. Ele literalmente não disse que "tinha uma sorte anormal" no sentido figurado!?

Quando topou com Kitogawa, ainda no mesmo dia que também topou com o lunático do Maxuel mais tarde, Sado soube desse policial que o mesmo se considerava um homem de extrema sorte. Uma sorte surreal.

Quando pensa sobre isso, Sado só tem uma coisa em mente que ele toma como conclusão agora.

— É provável que sua sorte seja algum poder sobrenatural. Se esse for o caso, então eu...

Sim, se o caso for realmente esse, era muito provável que Kitogawa se tornasse livre dos efeitos de sua "sorte" quando em contato com o menino de cabelos pretos e desgrenhados.

Embora...

— Eu posso anular algo como "sorte" ?

Não saberia. Isso nem mesmo se tratava de algo como magia. Era puramente conceitual. Uma mecânica universal relacionado à Lei da Probabilidade.

Em outra palavras, era além de tudo o que Sado viu até o presente momento.

— Embora eu desfaça maldições não sei se sou capaz de algo complexo como isso.

Era um dos mistérios da sua capacidade que ele chamou de "Faker" e Yuki associou mais cedo com uma filosofia Niilista. Seu "dom especial" não abrigava nada do qual poderia ensiná-lo a usar e os efeitos por de trás de cada "ativação" era um completo mistério.

— Porque nem mesmo sei como que funciona o ato de tocar em algo místico e isso se desfazer como uma bolha de sabão como se houvesse uma regra absoluta ou um mecanismo por detrás dessa simples e patética ação.

Ele suspirou um tanto frustrado. Não entendia nada sobre seu dom, e haviam-lhe dito que não era um algo digno de ser chamado de "habilidade" mas Sado era teimoso o suficientes para assim resolver chamar — e seria melhor para o entendimento.

Em suma, era uma habilidade que não existia no mesmo mundo das habilidades. Era algo sobrenatural? Foi dito que nem mesmo pertencia a esse reino.

Então o que era e como era?

Uma defesa absoluta assim...

— É uma habilidade que não é superpoder mas age como se fosse um superpoder. Tão me fazendo de palhaço?! Isso é ridículo, até mesmo pra mim que sou o cara que tem ela!

— Tá falando sozinho, Sado?

— Opa?

Pego de surpresa enquanto puxava os seus cabelos, ele vê que alguém apareceu naquele parquinho de repente e parou próximo ao seu lado.

Cabelos brancos, estatura baixa a ponto de ser confundida com uma criança do fundamental.

— Eaí, belezinha?

— Ah, Yuki, é você. Não vi que chegou.

Ela sorriu pra ele de forma relaxada com as mãos nos bolsos do casaco fechado com zíper.

Yuki aparentava usar um conjunto de moletom leve para se exercitar, assim como os de Sado, sendo que a única diferença entre eles era que a roupa dela era vermelha e a de Sado era azul. Embora, Sado não seja habituado com exercícios, usava mais por conforto próprio e até negligenciava da roupa escolar por causa disso.

— Então, conseguiu comer bem?

— Ah, sim, um pouco. Eu deixei alguns croquetes para você, dos quais você mesma comprou, então pode pegar quantos quiser.

O menino apontou para a sacola plástica e demonstrava os alimentos. Em especial, eram como bolinhos de carne no palito, e havia até um que era de açúcar, provavelmente tendo o recheio de algo doce.

Yuki que olhava para isso soltou um "hum" com a boca e se sentiu instigada a pegar um. Ela escolheu o croquete doce.

— Obrigada.

— Que isso... Foi você quem comprou. Então são todos seus.

— Mas eu os comprei para você, Sado. É você quem mais precisa repor as energias aqui.

Assim respondeu ela mordendo um dos 3 croquetes que se encontrava no palito e o puxando com os dentes.

Sado ergue as sobrancelhas notando algo.

— Você come agora, Yuki? Lembro que você disse que não comia.

— Disse que não precisava comer. Mas olhando para isso... Bem, como posso dizer? Me deu vontade, só isso.

Ela corrigiu o garoto que questionou da forma como se lembrava e abocanhou o doce por completo, mastigando e o engolindo no processo.

Ela continuou em um tom reflexivo:

— Na verdade, dês de que meus poderes começaram a diminuir gradativamente, eu comecei a sentir certas necessidades. Olhando para esses doces e salgados, é como se o meu instinto natural optasse pela sobrevivência e buscasse por nutrientes naturais. Resumindo: minha barriga pediu.

Assim ela concluiu dando de ombros e puxando mais um do espeto.

Sado ficou ainda mais curioso com a resposta dita por ela.

— O que tem seus poderes? Porque estão diminuindo do nada? Não me diga que é um ciclo hormonal onde só as meninas entendem?

— Não é nada disso, Sado. Eu tomei uns remedinhos pra reduzir os danos que eu não estava sendo capaz de reverter.

— É mesmo? E que danos seriam esses? Pensei que você controlasse de boa os seus poderes mágicos. Aliás, não sabia que existia remédio pra tal coisa.

A imagem que Sado tinha da menina acabou diminuindo um pouco, claro, ainda não tirava que para ele, ela era um monstro de forte que derrotou a maga da lança com facilidade quando decidida a levar a sério o duelo.

E Yuki respondeu comendo o croquete de açúcar.

— Meu corpo emana radiação de forma natural. Se continuasse assim, não seria capaz de me envolver na sociedade e salvar as pessoas comuns do mundo que elas não compreendem. — ela completou engolindo o doce em um tom sério — É por isso que eu preciso saber mais sobre o mundo paranormal. Para saber quem eu sou. Para saber porquê eu sou.

— ....

Sado iria responder com um "Entendo", mas sua língua sequer se moveu dentro da boca. Tudo o que ele pode concluir agora foi o quão idiota ele era quando pensou que Yuki não passava por problemas.

Era óbvio que ela também tinha seus objetivos a serem alcançados e suas adversidades. Para saber disso bastava lembrar-se do dia anterior onde ela até então estava sendo caçada por magos de uma seita esotérica bizarra.

Era ela quem era o verdadeiro alvo e não Sado Yasutora, o inútil. O garoto apenas acabou envolvido por pura inconveniência do destino.

— Eu sou mesmo um idiota.

— Hum? Sado?

— Não, nada. Tá tudo bem.

O menino se ergueu do banco e recolheu a sacola plástica guardando o lixo dentro. Seu olhar demonstrava certa resolução.

Virou-se para a menina menor que ele e disse:

— Você é incrível, Yuki. Espero que ache as respostas de que procura no lado paranormal do mundo. E não se preocupa. Esse imbecil aqui vai te ajudar, pode ter certeza.

Ele sorriu pra ela e apontou o dedão para si como quem se orgulha do que disse.

— Se você tá dizendo. Eu irei confiar.

Um belo sorriso decorado com dentes brancos foram direcionados a ele. Por um breve instante, Sado Yasutora sentiu uma sensação estranha aflorar dentro do peito e ele ficou parado sem nada responder em troca.

— Bem, então vamos lá. Se você está recuperado e pronto pra ação, quer dizer que já podemos começar a nos mover. Temos um dia cheio hoje.

Yuki disse isso e deu as costas se distanciando. Ela jogou o palito do doce na lixeira próxima e se moveu.

Sado fez o mesmo assim que pegou sua mochila escolar e a colocou no ombro. Saindo então ambos daquele parquinho e andando pela área comercial.

Era uma área de subúrbios comuns com lojas, lanchonetes e a visão que se tinha era a de toda cidade em áreas como essa: veículos em locomoção para todo lado e pessoas nas calçadas.

Sado que andava lado a lado com Yuki a céu azul, agradeceu-a mais uma vez.

— Obrigado por ter comprado isso pra mim comer. Sinto muito por gastar seu dinheiro.

— Sem problemas. Aliás, é uma coisa simples. Você se esforçou mais por mim ontem a noite, era eu quem deveria agradecer mais. E é com algo como dinheiro que você está preocupado? Não se sinta tanto, Sado, eu posso pegar mais sempre que quiser.

Sado ficou genuinamente surpreso.

— Uau, sério mesmo? É de família nobre por acaso?

— Hihi, não. É um truque que sei usar. — revelou ela de forma leviana ao rir com a mão na boca.

Sado ergueu uma sobrancelha ainda mais curioso.

— Truque? Como assim? Que truque?

E percebendo a insistência do menino em reter mais e mais curiosidade nisso, a menina sorriu animada.

— Quer que eu te mostre? Vem cá.

Ela tomou partida caminhando mais rápido pela calçada, levando um Sado confuso até...

— Tcharam. É essa belezinha aqui. — ela apontou com os dois braços para...

— Um caixa eletrônico?

— Yes! É daqui que eu tirei o dinheiro para pagar seus lanches.

Não era nada surpreendente e Sado estava esperando algo mais místico. A culpa era dele por criar expectativas assim de repente.

— Então quer dizer que você retira o seu dinheiro com cartão de crédito e é só isso?

Era simples demais pra falar a verdade, por isso novamente se sentiu em débito com ela e o dinheiro gasto.

Mas...

— Quê? Que cartão de crédito? Eu não tenho isso não.

— Hein? Então como você saca o dinheiro?

— ? — ela fez uma cara de quem não entendeu, a primeira vez que Sado retira essa expressão facial dela, e logo diz — Assim.

Yuki foi até a máquina, em posição de quem coloca algo nela como que imitando os adultos, digitou uns botões que não levavam a lugar algum e Sado entortou as sobrancelhas, e então...

...Então ela tocou na máquina usando seus poderes para burlar o sistema do caixa eletrônico e assim retirar automaticamente algumas notas de ienes.

— Viu só. Dinheiro grátis.

Ela falou abanando as cédulas próximo ao rosto pálido com um grande sorriso triunfante.

Mas não havia nada de belo nisso. Sado ficou parado, chocado com esse ato inesperado dela, e tudo o que conseguiu dizer foi.

— Isso é roubo, cê sabe disso né?

— Quêêêê...? Não é roubo! Só tô pegando emprestado! Eu tô movendo a economia!

— Isso é roubar descaradamente!

— Não é roubo! Não é!

Ele apontou com o dedo denunciando e reprovando os atos da menina, ao que ela respondia nervosa afirmando seu ponto.

Quando perceberam, olhares de transeuntes que passavam eram direcionados a eles de forma cautelosa.

— É melhor sairmos daqui...

— Sim...

Ela escondeu as cédulas no bolso da jaqueta e ambos foram andando para longe dali. Sado não se sentia mais tão culpado pela comida que recebia de Yuki sendo que nem mesmo o dinheiro era dela.

Não poderia dizer que ela conquistou de forma digna.

— Ela é uma desempregada que nem eu isso sim.

Ele coçou a cabeça e refletiu sobre.