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Chapter 15 - Arco 1 Capítulo 11C "Último Réquiem"

Zangada.

Por algum motivo, Sado pensava que seria realmente difícil encontrar essa menina cheia de aspectos fofos neste estado emocional tão elevado.

Ela que chegava em seu peito em altura, e passava um ar de inteligência, paciência e alegria... O jovem não imaginaria perceber uma faceta dessas tão de perto.

O moribundo jogado no chão, levantou o pescoço (porque era só o que ele poderia fazer) e sorriu ainda com dor. Mas foi um alívio ver que o seu plano supremo de impulsividade e imaturidade deu certo.

"Eu realmente não entendo esse meu aspecto chamado de Faker. Mas gostaria de imaginar que se eu atirasse meus tênis que fazem parte de mim diariamente naquela sombra, daria certo. Que grande loucura..."

Ele relaxou o pescoço e ficou tendo enxaqueca enquanto olhava o céu noturno.

Seria bom se ele desmaiasse agora após ter levado tantas porradas e tido sua resistência efêmera levada ao extremo.

Pra início de conversa — ele não era um lutador e nunca brigou antes em toda a sua vida.

Qual a sensação de bater em alguém? Com Maxuel ele teve essa resposta.

Qual a sensação de apanhar tanto até ter sua pele rasgada, seu sangue gotejando e sua mente se quebrando? Ele definitivamente teve tal resposta agora a pouco.

Por isso, Sado Yasutora concluiu em si mesmo que nunca mais iria se envolver em algo parecido.

— É muito ruim quando se está na desvantagem.

Desvantagem física. Desvantagem intelectual.

Ele era com certeza um medíocre que viveu seus 18 anos na mediocridade.

E ainda assim...

Ainda assim ele fez o que fez em prol daquela garota.

Estava na hora dela fazer a sua parte.

Por isso o jovem depositou toda a sua confiança nela.

— Tenho fé em você.

Enquanto ele olhava para cima, sentiu que o calor que antes vinha de dentro dele devido a toda a adrenalina e seus músculos trabalhando fervorosamente e o sangue no rosto que saía quente do nariz, lábios e bochecha, agora vinha do exterior.

Mais precisamente, de Yuki que literalmente ardia em raiva.

— Você queria conversar? Estou disposta a conversar agora. — falou Fenícia Silver Waite com um leve sorriso de deboche em seu batom vermelho.

— Não. Eu te dei uma chance. Mais de uma. Vejo que não adianta seguir por esse caminho. Agressão é o que se espera agora. — replicou a menina.

— ...Eu vejo. Então irei te matar.

— Não quero te matar também. Só te deixarei meio-morta.

— .....

Dizendo isso, pareceu que um tipo de combustão havia acontecido a alguns metros de Sado, onde Yuki se encontrava, pois sentiu como se uma fogueira havia acendido neste momento.

Calor extremo e uma luminosidade amarelada tomou conta da praça escura a céu noturno.

— Ah, quente...

Ele reclamou, e quando foi ver o motivo de tanto calo, percebeu que dos punhos de Yuki, brasas de chamas fumegavam violentamente.

O tipo de fogo que só de olhar, causa dor em seus olhos e o faz querer desviar o rosto caloroso para longe onde o ar gelado ainda existe.

As chamas de Maxuel eram semelhantes. Derretiam paredes, explodiam o asfalto e queimavam até veículos.

Mas não poderiam, de forma alguma, serem chamadas de "iguais".

Isso pois...

— Ah! Você queima como um lança-chamas ambulante! Eu que estou habituada com as chamas do meu irmãozinho, consigo ver a sua dedicação! E isso me deixa completamente cheia de raiva e inveja de você que é amada por este mundo. Se você morresse, seria melhor para todos!

— Já acabou de falar? O seu papinho me enjoa.

— Sua sínica...

— Você não pode falar muito também. Agora se prepare. Ou não.

Como um lança-chamas que mirava carbonizar o seu alvo, Yuki explodiu do chão onde estava, indo em direção à mulher em um corpo envolto em fogo.

Um corpo que emanava calor acima de 1.000 graus Celsius, suficiente para derreter metais, superando o calor de um forno elétrico e uma fogueira acesa.

E obviamente...

— ...!?

...Derreter a pele humana com um golpe de punho cerrado, suficientemente para infringir grande dano à seres portadores de magia como um mago Arcano.

Até mesmo um Santo teria cautela.

Fenícia que foi atingida no rosto, não previu a trajetória do ataque e muito menos percebeu a velocidade exorbitante de Yuki.

Tendo o corpo atingido com força na face branca, ela voou a alguns metros de distância.

— Tsk. Não brinca comigo!

Usando o braço como freio, ela segurou o chão e foi deslizando até parar.

Parando no meio, o número 2 de Espadas tentou recompor a postura, mas rapidamente, como um raio fluorescente, foi atingida pela perna da menina, com um chute no rosto pálido.

— Uhg!

Uma labareda em forma de perna esquerda explodiu em sua face, fazendo-a gemer em dor e ser jogada subsequentemente para os ares.

Corpo queimado. Roupas rasgadas.

Apesar de ser mais resistente do que um ser humano comum, e os magos serem preparados para todo tipo de ataque mágico, ela recebeu grande dano.

Isso já estava se tornando algo insano.

Mas ela mordeu os molares enraivecida e conjurou sua magia de vento cortante para decapitar Yuki.

— Venti Flamina Qui Cortis Al Tactus!!

Um som infernal de serra foi ouvido, e ela segurou tão firme aquele poder que suas mãos se cortaram, espirrando sangue.

Ela não hesitou em direcionar todo o vento de forma tangível e fino para triturar a menina em volto em chamas.

Como se fossem serras invisíveis que cortavam até mesmo o ar natural ao meio, o ataque de uma língua estrangeira misturada com Latim puro foi em direção a Yuki.

Em contraste com os ataques vistos até o presente momento, como as mãos de piche, as chamas de Maxuel e os outros ataques do elemento ar, esse era sem dúvidas mais veloz e mortal.

Iria triturar o alvo em milhões de pedaços de forma instantânea. Não haveria nem dor no processo.

Entretanto...

— Dissipar.

Estendendo levemente a mão direita para cima, com dois dedos ela aniquilou a existência daquela magia como se fosse um mero sopro fraco e frágil.

— O quê!?

Fenícia exclamou horrorizada.

— Como foi capaz de anular o meu ataque!?

— Tola. Possuo controle sobre todos os aspectos da natureza. Lidar contra isso não é tão diferente de colocar ou retirar uma peça de um tabuleiro de criança.

Na verdade, a anulação ou até mesmo a reflexão mágica é algo extremamente difícil de se possuir. Há várias formas para obter tal resultado, e até mesmo a ciência poderia fazê-lo.

No entanto, o método de Yuki era apenas um: controle absoluto sobre o elemento dirigido.

Sabendo disso, Fenícia rangeu os dentes.

Era seu trabalho. Sua paixão. Seu significado.

Ela veio por obediência àqueles que a acolheram e praticava aquilo que acreditava.

Se justificava pela magia arcana que se identificava.

Então porquê?

Por que anos e anos de empenho estão sendo pisados por uma herege como essa que não tem nem mesmo uma motivação e um algo do qual possa se orgulhar e se dedicar?

O mundo era injusto.

Ela havia se esforçando tanto, e mesmo assim parece que Deus havia escolhido outros para que esfregassem na cara dela tamanha discrepância.

Não estava certo.

— Não, não, não, não!! Isso é um absurdo! Eu não vou perder pra você!! Eu me recuso perder pra você!! Não assim! Não contra uma rata largada como você é!!

Ela praguejou, cuspiu, mordeu seu lábio tão forte a ponto de sentir o gosto ferroso se misturar com saliva.

— Eu. Não. Aceito. Ser. Humilhada. Assim!!!

Rasgando a barra da sua roupa extensa com as unhas, expondo suas pernas brancas, Fenícia Silver Waite completamente enraivecida acumulou grandes cargas de energia mágica que se revelavam conforme o seu elemento — o ar.

Dela, um enorme tornado começou a ser formado, puxando cargas massivas de ar de todas as direções.

Árvores balançavam, fios e postes chacoalhavam com a pressão do ar.

Sado que estava no chão sentia o vento passar pelo seu corpo e arregalou os olhos olhando para a cena.

O vento e o fogo se confrontavam mutuamente na escuridão, e tal como era a lei, sem oxigênio as chamas se enfraqueciam.

Embora, não fossem chamas naturais, mas sim produzidas incessantemente pela menina de cabelos brancos, dando o efeito de que não se apagavam nunca, mesmo com tanto vento.

— Eu vou te matar! Não deixarei que um alguém como você pise no nome da minha comunidade assim!

— ....

Yuki não teve nada a dizer para Fenícia. Seu olhar era sério, e ao mesmo tempo que demonstrava sua intensão de batalhar, tentava compreender os sentimentos da sua oponente, como forma de se consolar e absorver sua motivação.

Mesmo diante da troca de golpe que haveria de se suceder agora, ela ainda, a todo momento, buscava entender Fenícia do início ao fim.

Ainda que entender não seja igual a concordar.

Sendo assim, terminando seu ataque de raiva, a mulher de longos cabelos negros produziu de suas mãos uma espécie de "Foice de Ar" maciço e palpável.

Era uma condição mágica que desafiava as leis da física. O ar condensado em suas mãos era tão resistente quanto a sua antiga lança que estava inativa e congelada.

Vendo isso, Yuki achou melhor usar um outro tipo de abordagem, então puxou todo o fogo de seu corpo e os levou até a palma da mão esquerda, formando uma esfera flamejante.

Enquanto a temperatura ao redor reduzia agora que as chamas cessaram de seu entorno, ela ergueu a esfera para cima e prensou com seus dedos o acúmulo escaldante de chamas concentrados em um único ponto da sua palma cerrada.

E logo...

— Eu invoco...

Levou a outra palma como que puxando algo por um cordão. De ambas as palmas um brilho arco-íris emanou dentre os dedos fechados dela.

E ela puxou aquilo como quem dá corda em um brinquedo.

— Ioiô do Cataclismo!

Um sopro de ar e luzes emanaram para os cantos quando aquilo apareceu.

Chamas? Não existiam mais.

Era apenas um objeto pequeno. Um cordão longo entrelaçados em seus dedos segurado por uma mão e uma esfera que rodava abaixo da outra.

Era um ioiô branco e sem calor.

— Que belo show de luzes. Mas receio que esse brinquedinho não seja o suficiente para te salvar. — Fenícia cospe em tom de deboche.

— Essa frase é bem clichê entre os vilões. Esteja preparada para ser derrotada. — respondeu Yuki.

— Tsk. Esse seu jeitinho de achar que está por cima de todos e em qualquer situação... — entornou os lábios em rancor e repulsa. — Isso me anoja!

— ....

— Chega de papo. Eu farei você engolir todas as suas palavras! — Fenícia chutou o chão com sua velocidade sobre-humana. — Prepare-se para ser retalhada da cabeça às pontas dos pés!

Com sua foice recém criada ao usar toda a sua mana condensada em formato de arma, Fenícia Silver Waite avançou em um ataque de cima para baixo, visando partir Yuki ao meio dês do crânio.

Era uma arma invisível, mas estava ali.

Existia. Emitia sinais de existência.

Yuki podia ver claramente com seus olhos a intenção por de trás desse ataque mágico e...

Contorna-lo!

— Uhg...!

Houve um som de ferro se chocando.

A menina usou seu ioiô e o rodou utilizando o cordão, jogando a esfera de baixo para cima, fazendo com que ambas as armas colidissem de frente, anulando o ataque uma da outra.

Fenícia não esperava por isso.

Sentiu o choque do impacto em toda a extensão de seu corpo de uma única vez.

Mas isso não era o suficiente para pará-la — nem um pouco.

Rangendo os dentes com força, ela deslizou com um dos pés pelo chão, pegando estabilidade, girou seu corpo agarrando firmemente o cabo da foice e junto da força do giro de seus quadris, ela desfere mais um ataque em Yuki a curta distância — dessa vez pelo lado.

— Não vou desistir! — ela exclama.

Mas...

Yuki, de maneira similar, girou seu corpo na ponta do pé, como uma bailarina deslumbrante, e anulou o segundo ataque da mulher com seu ioiô que bateu na ponta.

— Ah!

A mulher geme sentido pela segunda vez aquele choque que fazia ranger todos os ossos do corpo.

Era doloroso. O impacto dado na ponta da sua foice era tão forte e pesado, que seus corpo todo vibrava e se enrijecia em dor.

Tendo seu corpo rebatido para o lado, Fenícia mais uma vez usou seus pés para se estabilizar e manter o foco no seu alvo.

— Assim não!

Apertando sua arma com ódio, um som de serra era ouvido.

Mesmo que corte suas mãos a ponto de mais e mais sangue vazar dos cortes, aquela foice de ar cortante exerceria o dever de desfigurar qualquer oponente. Era essa a regra mais simples.

— Então por que...

Ela expeliu de sua arma uma rajada invisível de vento. Uma lâmina tão fina que cortaria qualquer parede ao meio.

Mas que era facilmente destruída pelas investidas de Yuki e seu ioiô.

— Por que não consigo cortá-la!?!?

Atirando mais e mais vezes, sem parar as suas serras de ar, Fenícia sentia seu corpo enfraquecendo cada vez mais.

— Morra! Morra! Morra!

O seu corpo se cansando.

Ela era conhecida por sua alta reserva de energia mágica, portanto, era mais que anormal.

E a cada ataque que era lançado, mesmo que corte o chão, mesmo que corte árvores, todos se tornavam nada aos golpes daquela menina.

E a cada ataque lançado, o seguinte parecia ser mais e mais fraco.

Sua foice, já não tão grande quanto inicialmente.

Foi aí que ela percebeu algo.

Diante desta feroz batalha, ela notou algo estranho.

— É como se...

Reparando em uma hipótese momentânea, a mulher viu Yuki mudar o padrão de luta.

Antes na defensiva, agora ela girou seu ioiô e chutou o chão de forma tal que reduziu a velocidade de ambas em um piscar de olhos.

Mesmo diante de uma velocidade que superava a dela, Fenícia concluiu seu pensamento quando, de forma natural...

— É como se esse objeto pífio estivesse sugando todo o meu poder...!

Neste momento ela percebeu que aquele ioiô não era algo que poderia ser subestimado.

O pouco que ela sabia sobre sensação mágica: a habilidade de notar elementos mágicos e saber seu grau de poder — foi capaz de fazê-la ter certeza de que essa arma recém forjada era um algo além de um mero "criação mágica". Era até mesmo diferente da sua lança. Algo mais antigo.

Temendo o poder dessa arma peculiar com aspecto de inofensiva, Fenícia marcou seu erro quando subestimou seu oponente.

Aquele ioiô foi direcionado a ela.

Usando de sua foice como escudo, o Ioiô de Yuki atingiu em cheio aquele cabo invisível.

A pressão esmagando seus músculos. Todos os seus músculos a ponto dela não conseguir se mexer.

Tal fato, ela tirou outro raciocínio.

Qual era...

— Esse ioiô espalha o impacto do seu ataque por toda extensão do corpo do alvo! Mesmo que por intermédio de uma arma feita de magia como a minha... E o dano espalhado não se reduz. Permanece igual como se eu fosse atingido por milhares desse ioiô simultaneamente!

Era essa a pressão abissal que esmagava toda a extremidade de seu corpo.

Cada canto dele.

— Suporte! Suporte! Su... Gasp-... Porte!!

Vomitando sangue, seus ouvidos internos se rompem, os vasos sanguíneos dos olhos se partem e ela chora sangue fresco.

Nariz, boca, ouvidos... Estava escorrendo sangue de todos os orifícios do seu rosto branco.

Um rosto belo foi transformado em uma figura digna da palavra horrenda.

Mas não haveria misericórdia.

Perdendo as forças, sua lança sequer tinha mais o formato de lança como anteriormente. Mesmo que invisível, ela sentia que segurava um pedaço de caco formado pela sua energia completamente esgotada.

— Anos de treino... Anos de desempenho para isso... Para no fim mostrar para mim mesma o quanto me falta...

Era humilhante. Era amargamente humilhante.

Aquele curto e fino fragmento da foice gerava atrito com o Ioiô que não parava de girar e um brilho branco se formava junto do som de serra.

Aquele pequeno fragmento menor que sua palma... Ela segurou seu pulso rígido com a mão livre e resistiria até o fim.

Lutaria até o final.

Era sua honra. Seu orgulho e sua vida.

Seu réquiem final.

E todas essas fortes emoções saíram no formato de um nome por entre seus lábios ensanguentados.

— Adam...

O fragmento rachou.

— ...Eu sinto muito...

O fragmento rachou mais.

— ...Pai.

...O fragmento foi reduzido a mero estilhaços de algo invisível. Explodindo em sua palma, dilacerando-a e expondo a carne e até os ossos. O ioiô que seguia rumo ao alvo sem recuar atingindo então o estômago de Fenícia em cheio com a mesma potência dos golpes anteriores.

— ...!!?!

Sentindo a tremenda falta de ar, o dano foi centuplicado quando o corpo, já sem forças, recebeu cortes por toda a face, pescoço, torço, braços e pernas.

...Ela caiu rolando no chão complemente imóvel.