Num leito de hospital, um homem de 76 anos estava deitado. Seu nome era Carlos Benta. Dois anos atrás, um ataque cardíaco o havia deixado ali, e desde então, ele passou seus dias imerso em um tédio profundo. Porém, recentemente, algo inesperado havia surgido para preencher o vazio do seu tempo: a leitura.
Carlos sempre odiava ler, mas agora se via completamente absorvido em um tipo de escrita que nunca imaginou que fosse gostar. Ele descobriu as fantasias e webnovels, histórias escritas por autores amadores, e foi como se uma nova janela se abrisse em sua vida. Era uma leitura bem diferente dos textos difíceis sobre guerra e política, que sempre o haviam entediado. Agora, ele se via ansioso pelas novas aventuras que cada capítulo poderia oferecer.
Mais do que um simples passatempo, ele se sentiu envolvido com aqueles autores, como se estivesse contribuindo para o trabalho deles ao apoiar suas histórias. Carlos, que antes só via livros como algo difícil e sem graça, agora sentiu uma conexão com os escritores e as pessoas que, como ele, se deixaram entreter por aquelas narrativas cheias de imaginação.
Apesar da idade, Carlos mergulhou de cabeça nas histórias, perdendo noites inteiras imaginando o que aconteceu com seus personagens favoritos. Seus olhos, que antes cansavam facilmente por causa da idade, agora ficavam horas grudados na tela do tablet, querendo saber para onde a história iria a cada capítulo.
Com o tempo, ele começou a criar seu próprio mundo, uma história cheia de personagens cativantes e reviravoltas que só a mente de um senhor poderia achar incríveis. Embora sentisse uma certa vergonha de mostrar o que escreveu, seu maior desejo era terminar aquele enredo antes de morrer, afinal, ele sabia que já não era tão novo e saudável como um dia foi. Já tinha escrito 20 capítulos dessa história, a escrita virou sua nova paixão.
Em uma noite fria e silenciosa, depois de guardar seu tablet na mesa ao lado da cama e apagar a luz, Carlos se deitou e começou a imaginar futuros alternativas para seu personagem. Ele adorava aquele herói, e agora ele estava prestes a tomar uma decisão difícil. Carlos imaginou as possibilidades que o personagem poderia seguir, se empolgando como se estivesse vivendo aquilo junto com ele. O tempo parecia passar rápido, e ele não queria que aquela diversão acabasse.
Mas, de repente, uma dor forte no lado esquerdo do peito o pegou de surpresa. Era como se algo tivesse perfurado seu coração. Tentou gritar, chamar alguém, mas a dor o deixou sem forças. Ele não conseguia se mover, só sentia aquele peso, como se fosse algo que não pudesse evitar. E, naquele momento, todos os seus sonhos e histórias ficaram parados, como se o tempo tivesse dado uma pausa definitiva.
No mesmo momento, um som contínuo veio do aparelho ao lado de sua cama; seu coração havia parado de bater! O som parecia interminável, fazendo com que, para Carlos, os segundos se tornassem horas.
Carlos sempre dizia que não tinha medo da morte, mas agora que ela havia chegado, só pensou: "Eu não quero morrer". A última coisa que viu antes de perder a consciência foi um grupo de médicos correndo em sua direção; ele pensou então: "Estou salvo"
Quando os médicos chegaram, ele já estava morto. Foram necessários cerca de 10 segundos desde a parada cardíaca até o óbito. Os médicos tentaram de tudo para reanimá-lo, mas nada funcionou.
No dia 23 de janeiro de 2039, Carlos Benta, conhecido como um dos heróis da 3ª Guerra Mundial, faleceu. Essa foi a maior notícia desde o fim do conflito, quando o continente americano se uniu em uma só aliança e pôs fim à guerra.
Após o término da guerra, formou-se um governo mundial, onde 21 pessoas passaram a decidir o destino do planeta. Vinte eram chamados de anciões, e um ocupava o cargo de líder mundial, eleito a cada 10 anos pelos anciões. Carlos Benta foi um desses anciões, mas, há dois anos, devido a um ataque cardíaco, precisou ser mantido sob observação hospitalar, transferindo sua posição para um sucessor eleito por voto popular.
Hoje, aos 76 anos, Carlos Benta faleceu, deixando para trás sua esposa e dois filhos.
Hoje, um capítulo se encerra… mas um novo destino começa a ser escrito.
Numa floresta, durante a noite, uma mulher chorava. Sua expressão misturava medo, arrependimento e desespero. Ao seu lado, um homem idoso, ostentando o símbolo de comandante do exército da família Black, tinha o rosto pálido e marcado por feridas, como se tivesse passado por uma longa batalha.
— Ele se foi... — sussurrou o homem, a voz triste. — Não... Ele vai voltar...
O silêncio da noite foi quebrado por um comando firme:
— Você acha que ele morreu? Então vá atrás dele, AGORA!
A mulher engasgou com o próprio choro, o desespero evidente em seus olhos marejados.
— Eu... não posso... — O homem balançou a cabeça lentamente, o peso da culpa refletido em seu tom grave. — Prometi ao seu marido que protegeria você. Por favor... pense no seu filho.
A mulher hesitou, os ombros tremendo de incerteza. Então, como se encontrasse forças na vida que crescia dentro dela, levou a mão à barriga grande e respirou fundo. Ainda com lágrimas nos olhos, ergueu o rosto e, com a ajuda do homem, seguiu em frente, caminhando na escuridão da floresta.
No caminho para sua propriedade, a mulher sentiu uma dor intensa. Seu filho estava nascendo no pior momento possível. Ao perceber isso, o homem não pensou duas vezes—pegou-a nos braços e correu o mais rápido que pôde até a sua casa.
Assim que chegaram, as empregadas despertaram às pressas para ajudar sua senhora, enquanto dois cavaleiros saíram galopando para buscar uma parteira e uma sacerdotisa.
Vinte minutos depois, o parto começou. O ambiente estava carregado de tensão, cada segundo parecia uma eternidade. Mas, quando a criança finalmente nasceu, algo estava errado. Ela não chorou. Nem mesmo uma leve palmadinha no bumbum foi suficiente para fazê-la reagir. O silêncio na sala era esmagador. A tristeza preencheu o ar como uma sombra densa.
A parteira respirou fundo e olhou para a mãe, escolhendo as palavras com cuidado.
— Estranhei o bebê nascer um mês antes do previsto… Você sofreu alguma pancada na barriga esta noite?
Seu tom era respeitoso, mas a pergunta pesou no coração de todos ali. O silêncio tomou conta do quarto. Todos abaixaram a cabeça, evitando olhar para a mãe, como se aquilo confirmasse o pior.
Foi então que a parteira e a sacerdotisa notaram algo estranho—o senhor da casa não estava ali. Uma dúvida surgiu em suas mentes.
"Por que ele não está aqui? Será que sua ausência tem algo a ver com isso?"
Elas trocaram um olhar discreto, mas decidiram permanecer em silêncio.
Quando Carlos Benta recuperou a consciência, abrir os olhos parecia impossível—seu corpo estava fraco, sem forças para reagir. A última coisa que lembrava era a dor lancinante no peito antes de tudo escurecer.
"Será que eu morri?"
Tentou falar, mas sua língua não obedeceu. O som que saiu foi estranho, embolado, como se estivesse tentando falar com a boca cheia.
De repente, um grito ecoou, seguido por várias vozes conversando em uma língua que ele não reconhecia.
"Que estranho… Por que essas pessoas não estão falando inglês?"
Ainda confuso, Carlos finalmente conseguiu abrir os olhos. No mesmo instante, um homem usando roupas esquisitas correu até ele e o pegou nos braços com facilidade.
"O quê?! Como esse cara me levantou assim?"
Ao redor, mulheres olhavam para ele com expressões de choque. Entre elas, uma parecia ser uma parteira, que estava completamente incrédula.
— Mas… como isso é possível?
Ela olhou para uma sacerdotisa ao seu lado, que apenas sorriu, como se já esperasse por aquele milagre.
Carlos ainda estava confuso, mas, aos poucos, começou a prestar atenção ao seu redor. O ambiente era estranho—parecia algo saído de um filme de época. A estrutura do lugar era arcaica, os móveis eram antigos, do tipo que só colecionadores teriam em casa. Nada ali fazia sentido.
Sem conseguir falar ou mover o corpo direito, decidiu apenas observar e tentar entender o que estava acontecendo. Mas algo o incomodava ainda mais: como aquele homem conseguiu pegá-lo nos braços com tanta facilidade?
Após alguns minutos de alegria visível, o homem finalmente o passou para outra pessoa. Carlos agora estava nos braços de uma mulher bonita, mas que carregava uma expressão misturada de felicidade e tristeza. Seus olhos estavam inchados, como se tivesse chorado por horas.
Foi naquele momento que uma suspeita absurda passou pela sua cabeça.
"Espera… Eu encolhi? Ou… Renasci?"
O pensamento parecia loucura, mas tudo ficou ainda mais estranho quando o homem saiu do quarto e a mulher, sem hesitar, colocou um dos seios para fora e forçou sua boca contra ele.
"O QUÊ?! O que ela tá fazendo?!"
Carlos sentiu um arrepio de vergonha e tentou resistir, mas a mulher parecia determinada. Depois de alguns segundos de luta interna, ele respirou fundo.
"Só pode ser um sonho muito doido… É isso, só um sonho!"
Se fosse um sonho, não custava nada ir com o fluxo até acordar, certo? Então, lentamente, abriu a boca e começou a mamar. O gosto, no entanto, não era nada agradável.
"Que coisa horrível! Como os bebês aguentam isso?"
A situação era tão constrangedora que sua mente simplesmente desligou. Uma fraqueza tomou conta de seu corpo, e, antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, seus olhos pesaram, e ele caiu em um sono profundo.