Ao despertar, percebi que aquilo não era um sonho passageiro, mas sim a minha nova realidade. Os primeiros dias foram um turbilhão de sensações estranhas e constrangedoras. Eu, um homem que já havia vivido e morrido, agora me encontrava completamente indefeso, dependente de estranhos que falavam uma língua incompreensível. O pior de tudo? Ser alimentado à força, uma experiência que testou minha paciência ao extremo.
Os meses se passaram, e, pouco a pouco, comecei a me adaptar. Minha nova mãe, Freya – ou pelo menos era assim que eu entendia seu nome – percebeu minha resistência e finalmente desistiu de me forçar a mamar. Eu não sabia se isso era uma vitória ou apenas mais uma evidência da minha impotência naquela situação.
O tempo avançou, e quando se passaram dois anos cercado por segredos e olhares de pena, aprendi muitas coisas. Uma delas foi a língua local. Não foi fácil, mas prestando atenção nas conversas ao meu redor e observando os gestos das pessoas, fui juntando as peças até compreender tudo. Só depois disso comecei a entender a verdade sombria sobre minha nova vida.
A casa onde vivia era envolta por uma atmosfera pesada. Aos poucos, fui captando sussurros dos criados e conversas indiscretas, até que juntei as peças: a família Black, da qual aparentemente faço parte, foi massacrada no dia do meu nascimento. Apenas Freya e eu sobrevivemos. Seu marido, e meu suposto pai, morreu para garantir sua fuga, auxiliada pelo enigmático Sr. Dimitri, um homem cuja presença emanava perigo e mistério.
Com o tempo, comecei a observar mais o mundo à minha volta. Não estava mais na Terra – ou, pelo menos, não em uma versão que eu conhecia. A tecnologia parecia inexistente, as roupas e os móveis eram rústicos, e Dimitri me lembrava guerreiros de épocas medievais. Eu precisava entender mais sobre esse lugar.
Eu precisava de respostas. Pedi livros às criadas, mas todas recusaram, alegando que eram raros e caros demais para uma criança brincar. Ficar preso à infância novamente era frustrante. Se queria entender esse mundo, teria que encontrar outro jeito. Então, surgiu uma ideia. Combinando lógica e um toque de manipulação emocional, olhei para Freya com meus olhos mais inocentes e a chamei de "mamãe" com a doçura mais convincente que pude reunir. Como esperado, ela não resistiu.
E assim, garanti meu primeiro professor.
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Após três meses de espera, o professor chegou. Elegante, porém notavelmente jovem, suspeitei que havia acabado de sair da academia. Descobri também, como já suspeitava, que este país era uma monarquia.
A família Black residia na sombria Floresta Black. Há novecentos anos, firmaram um pacto com o Reino de Inova: protegem o território das bestas que a habitavam em troca de cidadania e título de barão. Contudo, pouco se importavam com os privilégios que o título lhes concedia. Surpreendentemente, nossa família era composta por meio-demônios, descendentes de humanos e demônios. Eu, portanto, não era uma exceção.
Há dois anos, quando fomos alvo de um ataque, o reino inteiro ficou estupefato. Quem seria capaz de atingir a família mais poderosa do continente? A que dominava a floresta temida por todos? A família que fez o Reino de Inova o mais próspero do continente. "Nasci em uma família complicada", refleti, imaginando as mesmas perguntas que atormentavam quem conhecia nossa história.
Este planeta, denominado Mundo do Caos, abriga nove continentes. O que habitamos é chamado Dermote, o menor de todos. "Mas que diabos é isso? Se o menor é do tamanho da Ásia, o quanto maior seria o continente central, trinta vezes maior que Dermote?" Esta revelação me abalou profundamente.
Dermote é dividido em quatorze países, sobre os quais nossa família exerce considerável influência. A ausência de Freya em casa se deve a suas incursões na floresta, canalizando sua raiva contra as bestas após a perda de todos os membros da família.
— Então, eu também terei que me tornar forte e caçar monstros? — Deixei escapar meus pensamentos, surpreendendo o professor.
— Claro! Os Black são todos fortes, e você não será exceção — respondeu ele, como se fosse óbvio.
"Parece que as coisas não serão fáceis", refleti.
Meu professor, Riealdli Enered, havia se formado na Academia Continental de Dermote, especializada em magia, esgrima, letras e história.
Com o tempo, estabeleci uma relação de confiança com Riealdli, e meu conhecimento sobre o mundo expandiu-se consideravelmente. Tornei-me cada vez mais curioso acerca das demais raças. Até o momento, apenas havia conhecido os humanos e os meio-demônios como eu. Para ser sincero, diferiam pouco dos humanos, exceto pela longevidade.
Meu entendimento sobre mana cresceu também. Todo ser vivo possui um núcleo de mana, localizado no coração, gerado durante a gestação com a mana da mãe. Esse núcleo funciona como um reservatório de mana, que se expande com estímulo. O coração circula a mana pelo corpo, juntamente com o sangue. Os usuários podem controlar a mana para manipular e criar matéria, sendo chamados de magos. Os guerreiros a utilizam para fortalecer seus corpos e aprimorar suas habilidades com armas.
Riealdli também me ensinou que outras raças aprendem a controlar mana e ficam mais fortes com o tempo; seus corpos absorvem mana para fortalecer o corpo e o controle de mana. Infelizmente, os humanos não possuem essa facilidade, por isso criam universidades para estudar a mana. Como meio-humano, nasci com essa facilidade, mas Freya, sendo humana, deve ter sofrido muito. Antes, todos os Blacks lutavam na floresta, mas agora Freya vai sozinha todos os dias.
Após compreender melhor a mana, aprendi a controlá-la. Meu corpo assimilou rapidamente sua energia e, em um ano, despertei todo o seu potencial. Todos na mansão ficaram chocados, pois crianças geralmente usam pedras de mana de criaturas vivas para acelerar o processo, mas eu consegui naturalmente. Despertar aos cinco anos já era raro, mas aos três era inédito. Freya ficou radiante e passou a dedicar mais tempo em casa, ensinando-me magia todas as manhãs. Com o tempo, nossa relação se estreitou. No início, era estranho chamá-la de mãe, mas agora isso já se tornou natural para mim.
Eu ainda posso usar pedras de monstros para aumentar a quantidade de mana, mas Freya me proibiu. Usar pedras de outras criaturas com mais mana que eu pode mudar meus atributos para os da pedra. O certo seria eu primeiro treinar, descobrir meus pontos fortes e depois absorver pequenas pedras que não tenham mais mana que meu núcleo.
Freya me ensinou muito sobre magia e mana. Ela não era apenas uma grande maga, mas também uma excelente professora. Desenvolvi dois atributos em meu núcleo: trevas e raios. Embora incomum, alguns despertaram até três atributos.
Minha rotina consistia em treinar magia pela manhã com Freya e estudar à tarde com o professor Riealdli. Certo dia, durante meus estudos, deparei-me com algo que despertou minha curiosidade.
— Professor Riealdli, o que é esse Mundo Perdido?