Quando o professor Riealdli respondeu à minha pergunta, fez uma breve pausa, olhando para cima como se estivesse refletindo profundamente. Alguns segundos depois, um sorriso malicioso surgiu em seu rosto. Estávamos na biblioteca da minha casa, onde o silêncio reinava, interrompido apenas pelo crepitar ocasional da lareira. Eu senti a tensão no ar "algo na expressão do professor me deixou desconfiado, algo que nunca havia sentido antes. Parecia que minha pergunta havia mexido com ele de alguma forma."
— O que é o mundo perdido, você pergunta? — ele falou com voz presunçosa, seus olhos brilhando com um misto de motivação e mistério. — Existem muitas teorias sobre esse lugar. Uns dizem que as almas dos mortos vão para lá depois que morrem; outros dizem que lá é o continente dos deuses, onde só eles podem viver.
Ele fez uma pausa, deixando suas palavras pares no ar pesado da sala. O ambiente, antes apenas de uma área de estudos, agora estava carregado de um suspense visível. Eu me recostei na cadeira, tentando não demonstrar o incômodo que suas palavras causavam.
— Mas existe uma forma de ir lá — continua o professor, sua voz baixando quase a um sussurro, como se estivesse compartilhando um segredo proibido. — O deus celestial conseguiu entrar há mil anos, mas antes deixou uma mensagem. Ele disse que o próximo a entrar no continente dos deuses seria a reencarnação de seu povo. Ele deixou um teste para ver quem seria o escolhido.
Enquanto ele falava, suas mãos se moviam com uma energia frenética, esfregando-se como se tentasse aquecer-se em um fogo invisível. O sorriso malicioso nunca deixou seu rosto, e eu não consegui evitar a sensação de que havia algo profundamente errado naquele homem.
Ver o professor Riealdli, geralmente calmo, falar com essa expressão no rosto me magoou arrepios. Não entendi por que ele adotou aquela postura. Será que você queria me intimidar? Enquanto pensava nisso, continuei ouvindo a explicação do professor e logo percebi sua intenção. A ideia de um teste deixado por um deus milenar parecia ao mesmo tempo fascinante e aterrorizante. Eu me perguntava que tipo de desafio poderia ser, e o que significaria ser "o escolhido".
— Se você entrar para a religião celestial, poderá fazer o teste e controlar toda a religião, sendo o deus escolhido. O que tal? O que você acha de ser um fiel de Celesti, hein? Vamos? — Disse ele, inclinando-se para frente, sua voz agora transmitiu de uma urgência que beirava o desespero.
Fiquei chocado. Esse infeliz não está passando de um fanático religioso tentando me recrutar. Como sair dessa sem ser grosseiro? Eu precisava de uma saída, mas cada palavra que se formava na minha mente parecia insuficiente para escapar da situação sem causar uma cena. O professor Riealdli, em sua mania, não parecia sujeito a aceitar uma recusa educada.
Se eu fosse realmente uma criança, uma história tão fascinante com certeza faria meus olhos brilharem de atração. Qual criança não ficaria acesa com uma ideia tão fantasiosa? "Mas onde já se viu uma pessoa normal virar um deus? Será que nesse mundo as pessoas viram deuses?" Não pude deixar de pensar na possibilidade de pessoas virando deuses e aceitando a fé de mulheres de pessoas.
— Eh... professor Riealdli, eu...
— Sim, sim! Você vai entrar, não é? — Ele interrompeu, seus olhos brilhando com uma intensidade que beirava a loucura.
"Merda, esse lunático nem me deixa falar" , Pense, sem saber o que dizer. Foi então que a voz sombria de Freya ecoou da porta da sala. A transformação no ambiente foi imediata. O ar ficou denso e gelado.
— Da próxima vez que você tentar falar com meu filho sobre essa religião doentia, eu mesmo arranco sua cabeça e mando para o próprio deus de merda que vocês tanto atividades — sua voz ecoou pela sala como trovões, transmitida de uma autoridade inquestionável.
Quando olhei para trás, vi a expressão de Freya. Seus olhos mostravam nojo e raiva em relação religião celestial. Nunca a tinha visto assim antes, e até fiquei com medo. Freya, uma figura normalmente reservada, agora parecia uma deusa da vingança, pronta para despachar justiça com mão firme e implacável.
— Se eu soube que o professor do Azriel era um rato de Celesti, nunca o teria contratado — ela continuou, em suas palavras só havia desprezo.
— Perdão, Freya. Passei dos limites. Isso nunca mais vai acontecer — o professor Riealdli gaguejou, sua confiança e presunção de antes evaporaram como gelo ao sol. Ele se prostrou no chão, pedindo desculpas enquanto batia a cabeça no chão, o som seco de batida ecoando pela sala.
— Sim, isso não vai se repetir. Agora, saia da minha casa e nunca mais aplicável na minha frente. Se eu o vir de novo, vou matá-lo no mesmo instante — disse ela, olhando para ele de cima, sua voz fria como o aço.
— Mas eu ainda não termino...
Quando o professor ia terminar de falar, seu corpo explodiu, espalhando sangue por toda parte. A sala ficou pintada com o sangue do professor. Ela o matou em questão de segundos. Mesmo sendo um veterano de guerra, nunca vi algo tão chocante. Minhas pernas começaram a tremer e uma expressão de medo se formou em meu rosto. A visão era grotesca, como se a realidade tivesse sido distorcida em um pesadelo sangrento.
Quando olhei para a mulher à minha frente, só vi uma aura escura que não parecia humana. Freya estava com uma aura negra ao seu redor, presença sua agora tinha uma força avassaladora que dominava todos os sentidos.
"Então esse é o poder das pessoas desse mundo? Para eles, pessoas normais não passam de formigas?" Esses pensamentos passaram pela minha cabeça como um flash. Minha mente lutou para processar o que tinha acabado de acontecer, cada detalhe grotesco gravado em minha memória.
Freya virou-se lentamente para mim, seu olhar suavizando apenas levemente. Mesmo assim, a intensidade de sua presença permaneceu paralisada.
— Azriel, você está bem? — ela disse, sua voz agora mais suave, mas ainda trazida com uma força inegável.
— Eu... estou, mãe — consegui murmurar, tentando controlar o tremor em minha voz. — Mas o que foi isso? Por que ele...?
— A religião Celesti é uma praga, meu filho. Eles corrompem e destroem tudo o que tocam. São uns traidores desgastados. Riealdli estava tentando te manipular, te usar para seus próprios fins. Eu não poderia permitir isso. — ela falou isso com seus olhos ainda faiscando de raiva.
— Eles acham que podem se infiltrar no continente agora que todos morreram... — Freya soltou essa frase baixinho como se estivesse falando consigo mesmo.
Isso que ela falou, só me deixou curioso para saber o que é essa religião e por que Freya tem tanta raiva deles. "Será que foram eles que mataram o meu pai e toda a família Black antes de eu nascer?" Pensei sobre isso quando de repente ouvi um grito. Quando olhei para a porta, vi uma empregada no chão com uma cara de desespero e pavor olhando a cena na sala que estava toda pintada com o sangue do professor.
Em segundos várias pessoas correram por causa do grito da empregada, e todos que chegaram e olharam para dentro da sala ficaram em choque, mas logo os guardas se recuperaram do choque inicial, enquanto as empregadas estavam chorando, outras estavam imóveis, tentando compreender a brutalidade do que aconteceu.
— Freya... o que vamos fazer agora? — queria, minha voz ainda treme.
— Vamos limpar essa bagunça e seguir em frente. Precisamos estar preparados, Azriel. Esta não será a última vez que eles vão vim — ela respondeu, sua voz firme.
Enquanto os guardas ajudavam as empregadas a limpar os restos mortais do professor, Freya me chamou para seu quarto e me contou mais sobre a religião Celestial e seus interesses.
— Azriel, eu e seu pai nós não éramos deste continente. Viemos de um continente muito distante daqui, um local que para chegar lá é quase impossível. Um continente que fica isolado do resto do mundo. A concentração de mana lá é tão grande que para se teletransportar para lá você teria que juntar uma quantidade absurda de mana. Coisa que só é possível lá, então para sair de lá é fácil, mas para voltar é quase impossível porque o resto do mundo não tem essa quantidade absurda de mana para passar as barreiras naturais de mana que esse continente tem. — Freya falou isso tudo sem olhar no meu rosto.
— Mas mãe, se a magia do teleporte é impossível para lá, por que não vai pelo mar? — Essa era uma das dúvidas que eu também iria perguntar ao professor. Qual era a força marítima dos continentes, já que os dragões dominavam os céus? Queria saber se tinha alguma raça que dominasse o mar também.
Ela olhou para mim como se duvidasse que eu realmente era uma criança fazendo uma pergunta tão lógica.
— Não existe lugar mais perigoso no mundo do que o mar, Azriel.
— Por quê, mãe?
— Porque não existem as criaturas mais poderosas do mundo, um lugar misterioso de onde ninguém que tentou ir muito fundo voltou vivo.
A história de Freya foi chocante para mim. A ideia de que viemos de um continente que para o resto do mundo é uma lenda que me assombrou. Nasci em um local muito complicado, e este mundo é muito misterioso. Confesso que, a cada descoberta, sinto ainda mais medo.
"Entendi a história de Freya, mas o que isso tem a ver com a religião Celestial?" quis-me, confuso.
— Quando eu e seu pai nos conhecemos, eu era apenas uma humana de uma família comum, enquanto ele era um nobre do clã demoníaco. — A cada frase que Freya falava, eu sentia a tristeza em seu olhar enquanto me explicava sua história.
— Eu sei que você é apenas uma criança para ouvir um fardo tão grande, mas eles não vão nos deixar em paz.
— Quem, mãe? A religião Celeste?
— A religião Celeste é apenas um bando de ratos movidos por Celeste Bova.
— Quem é Celeste Bova?
— Ele é uma pessoa a quem todos esses fanáticos reverenciam como Deus Celesti. Há mil anos, ele entrou em nosso continente e logo se destacou por sua habilidade de mandar e recebendo informações de outros continentes onde manteve sua religião. Os chamados Profetas da religião que ele criou aqui podem enviar mensagens e receber revelações, como eles chamam. Ele se destacou porque nenhum desses malditos queria vir para cá devido às chances quase nulas de voltar. Eles apenas enviaram alguns guerreiros para resolver problemas, mas as chances de sucesso eram mínimas. Quando alguém apareceu com a capacidade de trocar informações com pessoas de outros continentes, eles forneceram isso para comandar seus soldados e dar instruções, o que era perfeito para eles.
A cada revelação de Freya, fiquei mais incrédulo. Celeste usava uma habilidade para criar uma religião e fazer falsas revelações para aqueles que não tinham fé. Agora eu entendia Freya e seu marido, assim como sua família. Eles estavam fugindo da ira da família do meu pai, Draven Inaylo, mas a religião Celeste os localizou para que os soldados do clã demoníaco aniquilassem sua família. Agora, entendi o motivo de toda a raiva e ira de Freya. Quem não ficaria assim? Por causa de alguns fanáticos que a localizaram, ela teve toda a sua família aniquilada, e, se isso não bastasse, ainda veio atrás do seu único filho e único familiar ainda vivo.
A realidade do que enfrentávamos começou a se assentar. Minha vida nunca mais seria a mesma. Daquele ponto em diante, Freya me treinou para mim defensor. Eu teria que estar preparado para qualquer coisa, e isso deveria entender profundamente a ameaça que enfrentávamos.
Nos dias que se seguiram, Freya e eu passamos horas intermináveis treinando. Ela me ensinou técnicas de combate e me falou sobre as várias armadilhas que os seguidores de Celesti usavam assim como os soldados do clã demoníaco. Cada sessão de treinamento me deixou exausto, mas também mais forte e consciente dos perigos que nos cercavam.
A sombra do incidente com o professor Riealdli nunca deixou minha mente. Sua morte brutal foi um lembrete constante da brutalidade do mundo em que vivíamos e da necessidade de estar sempre vigilante.
Enquanto treinávamos, descobri a força interior que Freya possuía. Ela não era apenas uma mãe protetora; era uma guerreira implacável, disposta a fazer qualquer coisa para garantir nossa segurança. E agora, mais do que nunca, eu sabia que precisava estar à altura das expectativas dela.
As semanas se transformaram em meses e os meses em anos. Logo, 12 anos se passaram e eu já tinha 15 anos. Minha habilidade e confiança cresceram. Freya e eu formamos uma equipe formidável, mas ela sempre dizia que eu não estava pronto, insistindo que o mundo era cruel e que eu necessariamente fosse igualmente implacável. Até aquele dia, Freya chegou ao campo de treinamento com mais de 50 homens presos, homens que cometeram crimes e estavam pensando a morte se aproximar.
— Mãe, o que é isso? Por que trouxe esses homens aqui? — perguntou a Freya, confuso com a presença de tantos prisioneiros.
— Esta é a parte mais importante do seu treinamento, meu filho. — Ela falou com um sorriso de emoção no rosto. — Você já é muito forte e eu não tenho mais nada a lhe ensinar. Meu último treinamento é te ensinar a não ter medo de matar.
Quando ela disse isso, fiquei paralisado. Só havia uma coisa que eu poderia imaginar depois de ouvir suas palavras. "Ela quer que eu execute todos esses homens com minhas próprias mãos?" Para confirmar minhas suspeitas, ela falou logo em seguida:
— Então você será o responsável pela execução dos crimes hoje.