Dentro da caverna escura na encosta da montanha, um vórtice de energia escura e vermelha se materializa repentinamente. A aura ameaçadora do vórtice afugenta todas as criaturas nas proximidades, suas presenças desaparecendo no silêncio gelado da montanha. O ar vibra com uma força misteriosa, enquanto o centro do vórtice se expande, liberando um clarão de luz intensa.
Das profundezas do vórtice, Octávio e Luna emergem, retornando do Submundo. O ar ao redor deles ainda vibrava com os resquícios da energia sombria, enquanto o vórtice lentamente se dissipava, fechando-se em um murmúrio de energia residual.
Octávio, logo desaba no chão rochoso da caverna, enjoado e desorientado, apoiando-se em um braço enquanto lutava para acalmar seu estômago revoltado pela viagem. O frio da rocha o proporcionava um alívio momentâneo, ajudando-o a recuperar o equilíbrio após a tumultuada travessia entre dimensões.
Luna, ao contrário de Octávio, parecia não ter sido afetada pela dura travessia. No entanto, sua expressão agora era de devastação. O motivo de sua angústia estava no desaparecimento de algo que ela mais prezava: sua cama. Antes da viagem ao submundo, Luna a escondeu cuidadosamente entre algumas rochas, um lugar que acreditava ser seguro. Mas agora, ao retornar, o local estava totalmente revirado. Algo ou alguém encontrara seu esconderijo e levara seu precioso tesouro.
Determinada, Luna tentou captar o cheiro do ladrão, mas o rastro estava misturado com o de outras criaturas. Parecia que, após sua partida, a caverna fora usada como moradia temporária por outros habitantes. Desolada, ela soltou um longo uivo de lamento, expressando sua tristeza, antes de se aproximar de Octávio, choramingando.
"Que foi?" – perguntou Octávio, confuso, observando seu evidente pesar.
Luna começou a fazer gestos, tentando atrair sua atenção. Curioso, Octávio seguiu-a até o local onde ela havia escondido a cama. Ao ver o esconderijo revirado, ele compreendeu o que acontecera.
"Por que você escondeu ela? Por que não a levou?" – com sua voz carregando um leve tom de curiosidade e repreensão, ele a questiona.
Seu questionamento, no entanto, não a agradou. Em um instante de raiva, ela saltou sobre ele, derrubando-o no chão. O impacto os levou ao chão frio da caverna, onde eles dois travaram uma cómica luta corporal. E assim, os dias passaram. Octávio manteve sua rotina de treinos, dedicando-se não apenas a aprimorar suas habilidades, mas também a fortalecer seu corpo. Cada dia começava com exercícios rigorosos, desde corridas pela montanha até sessões de alongamento e treinamento de resistência sobre a neve. Ele sabia que, neste novo mundo repleto de perigos, com um corpo fraco como o dele, seria apenas questão de tempo até encontrar em trágico fim.
Luna, por várias vezes, acompanhou Octávio em seus treinamentos, fossem eles de habilidade, físico ou até com a nova espada. Sempre se mantinha ao seu lado, ela participava ativamente ou simplesmente oferecia sua presença reconfortante. Não importava a natureza do exercício, Luna estava lá, observando atentamente ou se engajando com entusiasmo.
Quando Octávio se dedicava aos treinos físicos, correndo pela montanha ou levantando improvisados pesos, Luna o seguia de perto, correndo ao seu lado com sua agilidade.
Mesmo nas horas mais desafiadoras, quando o cansaço ameaçava dominá-lo, a presença de Luna servia como um lembrete de que ele não estava sozinho. Ela nunca o deixou enfrentar as dificuldades por conta própria, sua companhia infundia força na determinação de Octávio.
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Em uma tarde ensolarada, Octávio estava agachado ao lado de sua mochila improvisada, feita de couro de criatura, examinando cuidadosamente cada item. Ele reunia tudo que poderia ser útil e descartava o que considerava supérfluo. Concentrado, verificava se cada ferramenta e suprimento estavam em ordem, ajustando as alças da mochila para garantir que tudo estivesse seguro.
Luna, por sua vez, observava as ações de Octávio com um evidente aborrecimento. Ela sabia que ele sempre demorava para se preparar, meticulosamente avaliando cada detalhe antes de partir. Seu olhar fixo e ocasional balançar da cauda expressavam sua impaciência.
Finalmente, Octávio se levantou, batendo as mãos e sorrindo satisfeito. "E pronto, vamos!" – disse ele, voltando-se para Luna com um grande sorriso no rosto, animado para seguir em frente.
Luna, no entanto, apenas soltou um suspiro pesado enquanto revirava os olhos. Com isso, eles se afastaram da caverna e da montanha. Não demorou muito para que, após algum tempo de caminhada, finalmente saíssem das Planícies Gélidas. Assim que deixaram para trás o frio intenso e a paisagem branca, foram agraciados com uma visão deslumbrante: um vasto desfiladeiro se estendia à sua frente, ligando o pântano distante ao interior de uma densa floresta.
A visão era bela e imponente, o desfiladeiro serpenteando através da paisagem como uma cicatriz gigante. Octávio e Luna pararam por um momento, absorvendo a majestade do cenário.
No entanto, não demoraram muito para retomar o caminho. A incrível vista logo começou a se perder, lentamente sendo engolida pela grande vegetação da nova área onde se encontravam. As árvores altas e densas formavam um véu verde acima deles, filtrando a luz do sol em diversos fragmentos, que iluminavam a floresta.
Enquanto apreciavam o novo ambiente que se encontravam. Octávio visivelmente desanimado, não pode evitar de exclamar em frustração - Outra Floresta, ninguém merece!
Luna, ao seu lado, ergueu as orelhas, com seu tom desanimado. Seus olhos escarlates brilharam brevemente enquanto ela observava os arredores com uma tranquilidade que contrastava muito com o humor de Octávio.
No entanto, a frustração de Octávio não passou despercebida. No interior da densa floresta, entre as sombras das árvores antigas e o emaranhado de vinhas, algo despertou. Um par de olhos vazios abriu-se no escuro, vazios como a própria noite, mas portadores de uma presença que fazia o ar ao redor mais pesado. Do local onde os olhos se manifestaram, um denso nevoeiro negro começou a se espalhar lentamente, como uma sombra viva que rastejava sobre o chão da floresta, envolvendo cada folha, galho e pedra em seu caminho.
O nevoeiro parecia consumir a luz, tornando o ambiente mais sombrio a cada instante, enquanto um silêncio inquietante dominava o local, abafando até mesmo o som das folhas sendo movidas pelo vento.
Octávio e Luna, alheios ao perigo que se aproximava, continuavam a se aprofundar cada vez mais na floresta. Cada passo os levava mais longe da segurança e mais próximos do desconhecido.