Em meio à vasta e serena planície, onde o céu azul se funde com o horizonte, um grande portal azulado se abre de repente. De dentro dele, surgem mais de cinquenta jovens.
Cada um deles está equipado com armas afidas e armaduras brilhantes, que refletem a luz do portal com um brilho ameaçador. O som do metal tilintando acompanha seus movimentos enquanto eles emergem, um a um. Olhares trocados brevemente entre eles revelam uma mistura de excitação e nervosismo.
Assim que o último deles atravessa, o portal se fecha com um som sutil, desaparecendo como se nunca tivesse existido. O silêncio recai momentaneamente sobre a planície, apenas quebrado pelo som suave do vento entre a grama.
Sem hesitar, os jovens começam a se espalhar, observando atentamente o ambiente. Mapas são desdobrados, olhares atentos percorrem a paisagem. Em questão de momentos, os jovens se alinham e começam a marchar na mesma direção, seus passos sincronizados causando tremores na terra.
Cada passo ecoa com uma força que abala o chão, um lembrete do poder contido em seus números. À medida que avançam, a fauna local recua. A presença massiva, combinada com o brilho de suas armas e o som rítmico de sua marcha, afasta qualquer ameaça que pudesse estar espreitando nas sombras.
Após uma semana de harmonia entre os jovens guerreiros, a tensão começou a crescer. O principal ponto de discórdia foi a liderança do grupo. O debate sobre quem deveria liderar tornou-se acirrado, e por três dias e três noites, discussões eclodiram, envolvendo todos. O conflito, inevitável, culminou na separação do grupo original em três facções distintas, cada uma com seus próprios ideais e líderes.
O primeiro grupo tinha 25 pessoas, ele é comandado por cinco descendentes diretos de grandes casas nobres, figuras de prestígio e autoridade que trouxeram conseguiram a lealdade dos demais. Seus seguidores eram 20 escudeiros, que os obedeciam com devoção. Este grupo se destacava em sua liderança aristocrática.
O segundo grupo tinha dezenove pessoas, Liderado por seis filhos de mercenários, indivíduos com experiência prática em combate e estratégias de sobrevivência. Seus seguidores eram compostos por nove guerreiros e quatro escudeiros, este grupo valorizava a força e a experiência prática.
O terceiro grupo tinha apenas seis pessoas, Composto apenas por guerreiros que foram marginalizados como "peso" pelos outros grupos. Eles formaram um grupo pequeno, mas resiliente, unidos no intuito de sobreviver e de passar pelas provações que viram pelo caminho. O líder deste grupo, era Octávio.
Com as facções formadas, o avanço continuou até que os grupos se depararam com um grande desfiladeiro, uma barreira natural que interrompia seu caminho. Segundo os mapas, contornar o desfiladeiro era a única opção, mas isso exigiria uma decisão coordenada para evitar maiores dissensões.
Os líderes dos três grupos — os nobres, os filhos de mercenários e Octávio — se reuniram em uma clareira, cercados por seus respectivos seguidores. O ar estava tenso, mas havia uma compreensão tácita de que, para superar o desafio à frente, seria necessário diálogo e cooperação.
Os líderes do primeiro e segundo grupo encaravam o mapa estendido sobre uma rocha plana, as linhas indicando os caminhos possíveis ao redor do desfiladeiro. O líder do primeiro grupo, com postura firme e o olhar confiante, apontou para o mapa, indicando a rota que passava entre as montanhas ao oeste.
— Eu vou pelo caminho da montanha! — declarou ele, a voz ressoando com autoridade. Seus olhos se voltaram para o líder do segundo grupo, aguardando uma resposta.
O líder do segundo grupo, conhecido por sua astúcia e experiência prática, estudou o mapa por um momento antes de apontar para o leste, onde uma densa floresta oferecia um caminho alternativo.
— Eu vou pelo caminho da Floresta! — afirmou, com um olhar decidido. Ele sabia que a floresta apresentava seus próprios perigos, mas confiava em suas habilidades e nas de seus seguidores.
Um breve silêncio se seguiu, enquanto ambos se encaravam. Então, o líder do primeiro grupo quebrou o momento com um sorriso confiante, estendendo a mão para o outro.
— Ótimo, parece que não teremos problemas! — disse ele, com um tom quase jovial.
O líder do segundo grupo retribuiu o sorriso, apertando a mão oferecida com firmeza.
— Certamente! — respondeu, sua voz carregando uma nota de alívio misturada com determinação.
Com o acordo selado, ambos se afastaram, cada um retornando ao seu grupo para organizar a partida. Octávio, que havia estado em silêncio durante a troca, observava os dois líderes se retirarem.
Octávio, com o rosto sério, caminhou de volta ao seu pequeno grupo. À medida que se aproximava, notou as cabeças baixas de seus companheiros, seus olhares evitando os dele. Era evidente que o encontro não tinha sido fácil para eles. Suspiros pesados e expressões abatidas indicavam que haviam sido alvos de comentários desdenhosos e provocações dos outros grupos durante sua ausência.
Soltando um suspiro profundo, Octávio deixou seu olhar percorrer cada um de seus companheiros, percebendo a mistura de emoções refletida em seus rostos: desânimo, tristeza, raiva e ansiedade. Ele sabia que o peso da situação recaía sobre todos.
— Como vocês sabem, não muito à nossa frente há um gigantesco desfiladeiro, e infelizmente, as rotas para contorná-lo foram tomadas pelos outros grupos. — Sua voz era calma, mas carregava a gravidade da situação. Ele fez uma pausa, observando a reação do grupo. O silêncio que seguiu estava repleto de uma tensão palpável.
As expressões de desânimo se intensificaram, mas Octávio sabia que precisava reacender a esperança neles.
— Mas isso não quer dizer que não há outro jeito! — acrescentou, com uma centelha de determinação em sua voz.
Todos o encararam com expressões de descrença e surpresa. Um dos membros do grupo, franzindo a testa, perguntou:
— Há outro jeito? Há outro jeito de atravessarmos o desfiladeiro?
Octávio assentiu, seu olhar firme.
— Sim, há. Mas eu não vou mentir para vocês. Esse caminho é... mais demorado. Se tomarmos essa rota, levaremos bem mais tempo do que simplesmente contornar o desfiladeiro. — Ele fez outra pausa, seus olhos encontrando os de cada membro do grupo, garantindo que eles sentissem o peso de suas palavras. — Será difícil, mas não impossível.
Ele então respirou fundo antes de fazer a pergunta que sabia ser crucial:
— Vocês estão dispostos a me seguir?
O silêncio que inicialmente pairava sobre o grupo foi rapidamente quebrado por risadas calorosas.
— Se estamos dispostos a te seguir? — disse um dos guerreiros, rindo. — É claro que estamos!
— Que pergunta é essa? — exclamou outro, sorrindo. — Claro que te seguiremos!
— Só mostre-nos o caminho, que te acompanharemos! — acrescentou um terceiro.
— Somos uma equipe, e você é nosso líder. É claro que iremos te seguir! — disse uma voz firme, ecoando o sentimento geral do grupo.
— Essa pergunta é desnecessária e você sabe disso! — brincou mais um, arrancando mais risadas.
Ouvindo as palavras encorajadoras e as risadas de seus companheiros, Octávio não pôde evitar um leve sorriso. O calor da união do grupo dissipava qualquer dúvida que pudesse ter restado. Ele inclinou-se sobre o mapa, apontando para uma área marcada ao sudoeste.
— Certo, então... vamos para o Sudoeste. Vamos para a costa! — declarou ele com confiança.
O grupo assentiu em uníssono, as risadas transformaram a atmosfera tensa em uma atmosfera renovada. Com Octávio liderando, eles se prepararam para a longa jornada que enfrentariam.
****
Após quatro semanas de caminhada sob o sol escaldante, o grupo finalmente alcançou a costa. O cheiro salgado do mar e o som suave das ondas quebrando na areia trouxeram um alívio imediato. Octávio fechou os olhos, inspirando profundamente o ar fresco, sentindo-se sereno. Com um leve sorriso, virou-se para seu grupo e disse com tranquilidade:
— Vamos descansar aqui por hoje. Amanhã, seguiremos ao norte pela costa!
Os companheiros assentiram prontamente, sem questionamentos. Alguns já estavam retirando suas armaduras, ansiosos para se banhar nas águas refrescantes. A alegria que irradiava deles era contagiante. O som de risadas, brincadeiras e o chapinhar da água ecoava pelo ambiente, criando um cenário de paz e descontração.
Observando a animação do grupo, Octávio não conseguiu conter um sorriso. As travessuras e a leveza de espírito deles eram algo que ele não via há muito tempo.