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Chapter 32 - Inicio 2: Fortaleza de Cyradell (4)

Com o passar dos dias em constante caminhada, Octávio e seu grupo finalmente avistaram sinais de civilização: um vilarejo à beira da costa, simples, mas acolhedor. As casas eram feitas de madeira robusta, algumas cobertas com telhados de palha, enquanto outras apresentavam pequenos reparos improvisados, refletindo o estilo de vida humilde dos moradores. O som das ondas quebrando ao longe e o aroma salgado do mar se misturavam ao ambiente.

Ao chegarem, foram recebidos de braços abertos pelo chefe do vilarejo, um homem robusto de cabelos grisalhos e um sorriso gentil. Os moradores, curiosos, espiavam de suas casas, mas logo se aproximaram, oferecendo frutas, água fresca e até um pouco de pão.

Vocês não são os primeiros viajantes a passar por aqui — disse o chefe enquanto conduzia o grupo até a praça central. — Outros dois grupos chegaram há alguns dias e estão hospedados em minha casa. Estão aguardando Os comboios de transporte para os levarem até a cidade de Omakle.

Octávio trocou um olhar com Isaac e Thomas, ambos refletindo o mesmo pensamento: o caminho a frente será complicado.

O chefe continuou: — Vocês também podem descansar na minha casa enquanto esperam. Os comboios devem chegar amanhã ao amanhecer. 

Com um suspiro de alívio, Octávio agradeceu ao homem pela gentileza, mas-se recusa residir na mesma casa que os outros dois grupos. Olhando para seus companheiros, que claramente demonstravam cansaço e desejavam uma pausa, ele declarou com firmeza: — Vamos aproveitar esta pausa, mas montaremos acampamento aqui perto. Amanhã, seguimos caminho.

Os sorrisos aliviados de seus companheiros mostraram que a decisão foi bem-vinda. Eles seguiram para um local tranquilo próximo ao vilarejo, onde poderiam armar um pequeno acampamento. Luna, sempre alerta, acompanhava cada passo, enquanto o grupo começava a relaxar, sabendo que por ora estavam em segurança.

Antes de se afastarem completamente, o chefe do vilarejo insistiu: — Se precisarem de algo, qualquer coisa, não hesitem em pedir.

Agradecemos muito sua hospitalidade — respondeu Octávio com sinceridade, antes de se virar para ajudar seu grupo a organizar o acampamento.

Após duas horas, o acampamento estava finalmente montado. As tendas foram erguidas, e o grupo, exausto da longa jornada, já estava deitado para descansar. Octávio, ao passar por cada tenda, notou que nenhum dos seus companheiros havia tirado suas armaduras antes de se deitar. Ele soltou uma leve risada, imaginando o desconforto que sentiriam ao acordar no dia seguinte, mas decidiu não perturbá-los.

Com todos descansando, Octávio caminhou em silêncio até a costa. A noite estava tranquila, e o som das ondas se quebrando na areia era quase hipnotizante. Ele encontrou um ponto onde a água apenas tocava seus pés e ficou ali por alguns instantes, respirando fundo, sentindo o cheiro do sal no ar e deixando que o som do mar limpasse sua mente.

Lentamente, ele sacou sua espada. As estrelas acima brilhavam como suas guias, iluminando sutilmente o local enquanto ele começava a praticar sua esgrima. Cada movimento errado era corrigido com paciência, como se lapidasse uma pedra bruta em uma gema preciosa. Seus gestos, antes pesados e rígidos, começaram a ganhar fluidez e harmonia. A cada corte e defesa, ele ajustava sua técnica, experimentando diferentes combinações de força e velocidade, retirando ou acrescentando intensidade conforme sentia necessidade. 

Enquanto atacava e defendia contra adversários invisíveis, Octávio visualizava os combates mais desafiadores que já havia enfrentado. Imaginava golpes vindo de várias direções, ajustando sua postura para evitar falhas e aprimorar sua precisão. O som do mar ecoava ao fundo, ritmado como uma melodia que guiava seus movimentos.

Quando o cansaço começava a pesar em seus braços, ele embainhava a espada com calma e sentava-se na areia, cruzando as pernas. Fechava os olhos e respirava profundamente, permitindo que o som das ondas embalasse sua meditação. Sua respiração tornava-se lenta e uniforme, acompanhando o fluxo da maré.

Octávio tentava sentir o fluxo da energia interna dentro de si, aquele poder latente que sabia estar lá, mas ainda fora de alcance. Por breves momentos, sentia uma conexão mais intensa. Porém, assim como vinha, o momento desaparecia, deixando-o em um estado de reflexão profunda.

Após algumas horas de prática, com o corpo ofegante e suado, ele se sentou na areia frente ao mar. O horizonte escuro parecia infinito, quase convidativo em sua imensidão. "Ainda não estou pronto... mas logo estarei", murmurou para si mesmo. Inspirando profundamente, deixou o ar gelado preencher seus pulmões antes de se levantar.

Com passos lentos, Octávio retornou ao acampamento, onde seus companheiros descansavam em silêncio. O som das ondas continuou a ecoar ao fundo, como um sussurro tranquilizador, acompanhando-o até que ele também encontrasse o descanso que tanto merecia.

****

Com os primeiros raios de sol iluminando o vilarejo, os comboios finalmente chegaram. O som das rodas de madeira e o trotar dos cavalos ecoavam pelas ruas, trazendo uma sensação de movimento e urgência. Os dois primeiros grupos, impacientes e competitivos, rapidamente ocuparam os melhores assentos disponíveis nos veículos, deixando apenas os lugares menos confortáveis para os demais passageiros.

O grupo de Octávio, tomou os assentos na parte traseira do comboio. Enquanto isso, Octávio aproveitava o momento para conversar com o chefe do vilarejo, que tinha sido uma figura tão generosa e acolhedora.

Novamente, eu agradeço muito pela sua gentileza e hospitalidade — disse Octávio com sinceridade. — Se houver qualquer coisa que queira, algo dentro das minhas capacidades, eu prometo ajudar.

O chefe do vilarejo soltou uma risada calorosa, seus olhos cheios de compreensão e nostalgia. — Não há o que agradecer, jovem. Estou apenas fazendo o meu dever. Afinal, já estive em sua situação na minha juventude, e sei como é difícil — respondeu, enquanto sua mão buscava algo dentro de suas roupas.

Com cuidado, ele retirou um pequeno brasão enferrujado, o emblema de um cavaleiro, e o mostrou a Octávio. O brasão, desgastado pelo tempo, ainda carregava a aura de uma vida cheia de batalhas e histórias. Octávio olhou incrédulo, percebendo que o frágil senhor à sua frente era mais do que aparentava.

O chefe, agora com um sorriso tranquilo, ergueu o brasão, voltando-se para todos nos comboios. — Eu desejo a vocês boa sorte em suas jornadas, que a Deusa Agr'at os guie em direção à vitória — declarou com uma voz firme, mas serena.

Após essas palavras, ele virou-se e começou a caminhar de volta ao vilarejo. Suas costas carregavam o peso de um homem que conhecia os desafios da vida, mas também o orgulho de alguém que os enfrentou e superou.

Os comboios começaram a se mover lentamente, rangendo à medida que avançavam. Octávio, sentado em seu lugar na parte traseira, olhou pela última vez para o chefe do vilarejo. 

***

Após três dias de viagem exaustiva, os comboios encontravam-se cruzando uma estreita estrada de terra ladeada por uma floresta densa e vibrante. As grandes árvores formavam um dossel natural que filtrava os raios de sol, lançando sombras dançantes sobre a trilha. O ar era preenchido pelo som dos pássaros e pelo rangido ocasional das rodas dos comboios.

Alguns passageiros olhavam pelas janelas improvisadas, maravilhados com a beleza da floresta, enquanto outros optavam por aproveitar o tempo para descansar, cochilando ao ritmo do balanço dos veículos. Em contrapartida, um grupo mais animado conversava com entusiasmo, compartilhando sonhos e conquistas futuras. O clima dentro dos comboios era de leveza e otimismo, com risadas e histórias preenchendo o espaço.

A viagem, no entanto, não foi isenta de contratempos. Pequenos problemas surgiram no decorrer do caminho, como cavalos assustados, a rodas quebradas ou atoladas em buracos traiçoeiros, que exigiu breves paradas durante o caminho. Apesar disso, a maioria dos grupos encarou cada revés com grande paciência.

Ao final da floresta, o cenário mudou dramaticamente. O dossel natural deu lugar a uma vasta planície, e, no horizonte, erguiam-se os imponentes portões de aço da cidade de Omakle. Banhados pela luz dourada do sol poente, os portões reluziam como um símbolo de força e resiliência. Suas paredes robustas, marcadas por cicatrizes de batalhas antigas, transmitiam uma sensação de segurança e imponência. Era como se a própria cidade fosse um gigante adormecido.

Os passageiros nos comboios não conseguiram esconder sua admiração. Murmúrios excitados e expressões de alívio dominaram o ambiente -"Finalmente, chegamos a Omakle!" disse um dos escudeiros, sua voz carregada de expectativa.

Os sorrisos e a energia entre os grupos aumentavam à medida que os comboios se aproximavam. Octávio, observando a empolgação de todos, deixa escapar um pequeno murmúrio, enquanto os portões da cidade se abriam para eles. "Parece que agora, começa de verdade..."