Um mês havia se passado desde o primeiro encontro de Octávio e Luna com os mortos-vivos na floresta. A situação estava longe de melhorar. O número de mortos-vivos aumentava a cada dia, transformando a floresta em um território hostil e quase intransitável. Essas criaturas eram impiedosas, movidas por uma obsessão insaciável pelos vivos. Uma vez que avistavam um ser vivo, começavam uma perseguição implacável, que só cessava quando o alvo era destruído ou convertido em mais um dos mortos-vivos.
Além dessa ameaça crescente, um denso nevoeiro negro havia tomado conta da floresta. Cobrindo o chão e envolvendo as árvores como se fosse uma entidade. O nevoeiro limitava a visibilidade e roubava a orientação de quem nele adentrava, dificultando ainda mais a sobrevivência daqueles que vivam na floresta.
No entanto, nem toda a floresta estava submersa nesse manto escuro. Algumas áreas ainda permaneciam limpas, como pequenos refúgios. Uma dessas áreas era onde Octávio havia estabelecido sua cabana. Que agora era cercada por barricadas de madeira improvisadas e buracos recém-cavados, a cabana havia se tornado em uma fortaleza em miniatura, remodelada pela necessidade. Octávio criou armadilhas e defesas improvisadas para manter os mortos-vivos afastados. As barricadas de madeira, feitas com troncos de árvores caídas, formavam o segundo perímetro de defesa, enquanto os buracos disfarçados no chão eram o primeiro eles serviam como armadilhas para qualquer criatura que tentasse se aproximar.
A noite era uma vigília constante, com Octávio e Luna atentos a qualquer som ou movimento nas sombras. Nem todos os mortos-vivos eram parados pelas armadilhas ou pelas barricadas. Prova disso foi um chimpanzé-zumbi que, com agilidade atravessou as defesas improvisadas e avançou loucamente em direção a Octávio. Seus olhos vazio brilhavam em uma luz sombria, seu corpo deformado pela corrupção, movia-se com uma força antinatural.
Octávio, alerta reagiu rapidamente. Ele se lançou-se para frente com uma investida furiosa, colidindo com o chimpanzé-zumbi com toda a sua força. O impacto momentaneamente desorientou a criatura, que cambaleou para trás, com movimentos descoordenados. Sem perder tempo, Octávio cravou sua arma diretamente no núcleo mágico do zumbi. O brilho sombrio nos olhos da criatura se apagou, e ela caiu pesadamente no chão, inerte.
Antes que pudesse respirar aliviado, Octávio sentiu o ar se mover ao seu redor. Ele rapidamente deu uma cambalhota para trás, escapando por pouco das garras afiadas de um trio de Maracajás-zumbis que tentavam emboscá-lo. Os felinos mortos-vivos, com seus corpos ágeis cobertos de feridas putrefaças, soltavam rosnados baixos e ameaçadores enquanto cercavam Octávio, suas garras brilhando com uma luz sinistra à luz fraca da lua.
Tendo falhado em sua emboscada, o trio de Maracajás-zumbis avançou ferozmente contra Octávio. Ele, com reflexos afiados, brandiu sua espada em um movimento preciso, dividindo um dos zumbis ao meio. O corpo da criatura se separou em duas metades grotescas, caindo ao chão com um som abafado.
Os Maracajás-zumbis remanescentes não hesitaram. Com um salto coordenado, lançaram-se em direção a Octávio, suas garras prontas para dilacerar. Porém, antes que pudessem alcançar seu alvo, um deles foi interceptado no ar por Luna. Com uma ferocidade implacável, ela cravou suas mandíbulas no zumbi, esmagando-o com um estalo seco, enquanto o corpo morto-vivo se debatia inutilmente em suas presas.
O último Maracajá-zumbi, determinado a não falhar, avançou com suas garras estendidas em direção ao pescoço de Octávio. Por um instante, parecia que o golpe acertaria, mas Octávio, confiando em seus Reflexos Rápidos, desviou habilmente para o lado, evitando o ataque por uma fração de segundo. Aproveitando a abertura, ele reuniu toda a sua força e desferiu um Golpe Devastador, atingindo a criatura com uma potência brutal, rompendo carne e osso com um único golpe. O impacto lançou a criatura para trás, suas garras se contraindo no ar enquanto voava em direção às sombras da floresta. Lá, o corpo do Maracajá-zumbi se perdeu na escuridão da noite, desaparecendo entre as árvores silenciosas.
Por um momento, tudo ficou em silêncio. A floresta, envolta pela escuridão da noite, parecia prender a respiração. Octávio respirou fundo, seus olhos atentos vasculhando a escuridão em busca de qualquer sinal de movimento. Ao seu lado, Luna, com os olhos brilhando em um vermelho intenso, soltou o corpo do Maracajá-zumbi. O cadáver caiu pesadamente no chão, com um som surdo que se perdeu na noite.
Sem perder tempo, Octávio finalizou o zumbi com uma estocada precisa em seu núcleo mágico. Um brilho sombrio escapou dos olhos vazios da criatura antes de se apagar completamente, deixando o Maracajá-zumbi inerte no chão.
O silêncio da noite logo foi quebrado novamente. O som de galhos sendo pisados e folhas secas se partindo sob patas ecoou ao redor. Rosnados famintos emergiam da escuridão, cada vez mais próximos.
***
Após quatro horas de constantes confrontos, a resistência de Octávio e Luna começava a dar sinais de desgaste. O suor escorria pela testa de Octávio, misturando-se ao sangue e à poeira que cobriam sua pele. Luna, ao seu lado, ofegava, mas permanecia firme, pronta para qualquer novo ataque.
Finalmente, uma luz suave e dourada começou a se espalhar pelo horizonte, anunciando o nascer do sol. Os primeiros raios de luz atravessaram a floresta, iluminando as sombras. O nevoeiro negro, que havia quase envolvido tudo como uma cortina, começou a se dissipar lentamente, retirando-se como uma maré sombria para as profundezas da floresta.
Com a chegada do sol, alguns mortos-vivos recuaram, fugindo da luz como criaturas noturnas. O som de rosnados e passos tornou-se cada vez mais distante, até que a floresta foi tomada apenas pelo canto dos pássaros e o suave suspiro do vento através das árvores.
Octávio, após eliminar os remanescentes, embainhou sua espada com um suspiro exausto. Ele se sentou no chão, sentindo a terra fria e úmida sob seu corpo. O calor suave dos primeiros raios de sol aquecia sua pele, trazendo um raro momento de alívio em meio ao caos.
Ele olhou para Luna, que estava deitada ao seu lado, suas respirações sincronizadas. Seus olhos, embora sempre vigilantes, tinham uma serenidade momentânea. Luna estendeu suas longas pernas, repousando a cabeça no chão enquanto seus olhos escarlates observavam tranquilamente o movimento das folhas ao vento.
Octávio estendeu a mão, acariciando suavemente o pelo macio de Luna, sentindo a conexão silenciosa entre eles. "Sobrevivemos mais uma noite," ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela.
"Descanse bem, pois logo iremos embora deste inferno," ele murmurou para Luna, sua voz baixa e rouca de cansaço. Seus olhos se voltaram para a pilha de corpos dos mortos-vivos que haviam eliminado ao longo da noite. As formas retorcidas e desfiguradas jaziam espalhadas pelo solo.
Octávio respirou fundo, permitindo-se apenas um momento para contemplar a cena antes de se concentrar no que viria a seguir. A floresta, embora momentaneamente tranquila sob a luz do sol, ainda escondia carregava perigos nas sombras. Eles precisariam se mover rapidamente, aproveitando o curto intervalo de segurança oferecido pelo dia.
***
Enquanto caminhavam pela floresta, Octávio e Luna podiam ver o impacto devastador causado pelo caos dos mortos-vivos. Manchas de sangue espalhadas pelo solo, marcas de garras profundas nas árvores, e membros desmembrados encontrados em quase todos os lugares compunham o cenário brutal. Apesar disso, ambos se mantinham focados em seu caminho, ignorando as evidências viscerais da destruição ao seu redor.
Após algum tempo, chegaram ao local que buscavam: a beira de um rio. Octávio rapidamente se aproximou da vegetação próxima à margem, seus olhos atentos enquanto procurava algo específico. Ele vasculhou cada canto, suas mãos movendo-se com pressa e precisão. No entanto, à medida que o tempo passava, tornou-se evidente que o que ele procurava não estava mais ali.
De repente, um som alto ecoou pela floresta, ressoando entre as árvores como um trovão distante. O som, vinha da direção onde estava a cabana de Octávio. O coração de Octávio disparou. Sem hesitar, ele e Luna correram em direção ao som. Ao chegarem ao local, o que ele tanto procurava nas margens do rio estava ali.
Uma jangada de madeira, que Octávio havia passado dias meticulosamente construindo, estava ali, ou o que restava dela. A estrutura, que representava sua última esperança de escapar daquela maldita floresta, jazia em pedaços no chão, totalmente fatiada. Cada tábua cortada, cada corda desfeita, era um golpe direto em sua determinação.
Octávio sentiu um aperto no peito ao ver a destruição de seu trabalho árduo. Ele sabia que escapar daquela floresta a pé era impossível. A jangada era sua única chance de cruzar o rio e deixar para trás o pesadelo que havia se tornado sua vida. Agora, essa esperança havia sido arrancada dele.
Octávio, sem forças, caiu de joelhos no chão. Em sua mente, um cenário sangrento se desenrolava, onde ele e Luna eram despedaçados por mortos-vivos. O desespero tomou conta, enquanto a sensação de derrota ameaçava esmagá-lo. No entanto, antes que pudesse se afundar completamente nesse pensamento aterrador, Luna o trouxe de volta à realidade. Ela estava inquieta, tentando puxar algo debaixo dos restos da jangada destruída.
Curioso e buscando distração de seus pensamentos sombrios, Octávio se aproximou para ajudar. Juntos, eles descobriram duas coisas enterradas sob os escombros. A primeira era um livro antigo, suas capas desgastadas e páginas amareladas. A segunda era um grande núcleo mágico, brilhando intensamente em um tom verde-claro, sua luz pulsando com uma energia quase hipnotizante.
Antes que Octávio pudesse examinar melhor o núcleo, em um piscar de olhos, ele foi arrancado de sua mão e engolido por Luna.
"DROGA, LUNA, VOCÊ QUASE COMEU MINHA MÃO!" gritou Octávio furiosamente, enquanto olhava para sua mão e contava com preocupação seus dedos. "Ufa, não perdi nenhum," ele suspirou aliviado. "Sério, Luna, você quase—"
Ele parou no meio da frase ao se virar e ver Luna caída no chão, imóvel.
"Luna?" ele chamou, sua voz cheia de preocupação enquanto se aproximava. Não houve resposta.
Com o coração acelerado, Octávio se ajoelhou ao lado dela, verificando rapidamente seus batimentos e respiração. Um alívio o inundou ao sentir o leve subir e descer de seu peito e o ritmo constante de seu coração. Ele soltou um suspiro cansado, passando a mão pelos cabelos enquanto olhava para o céu tingido de roxo.
. " Mas que timing bom você foi escolher Luna" ele murmura para si mesmo.
Colocando a desacordada Luna sobre os ombros, Octávio a carregou para dentro da cabana. Com cuidado, ele a deitou gentilmente sobre a cama, certificando-se de que estivesse confortável. Depois de checar novamente seus sinais vitais e se assegurar de que ela estava estável, ele saiu da cabana, respirando fundo o ar fresco da manhã.
Lá fora, sob a luz do sol, Octávio sentou-se no chão, sentindo o calor reconfortante em sua pele. Com Luna descansando, ele finalmente voltou sua atenção para o livro que segurava. Não havia título na capa, apenas um brasão gravado: um escudo dourado atravessado por duas espadas vermelhas.
Ele passou os dedos pela capa, sentindo a textura do brasão em relevo, enquanto se perguntava o que aquele livro poderia conter. No entanto, no mesmo instante, uma gota de sangue escorreu de uma de suas feridas, caindo diretamente sobre o brasão.
Assim que a gota de sangue colidiu com o brasão, uma luz branca intensa explodiu ao redor de Octávio, envolvendo-o completamente. Ele instintivamente cobriu os olhos com o braço, mas a luz parecia penetrar por entre seus dedos, cegando-o momentaneamente.
O coração de Octávio disparou enquanto ele tentava entender o que estava acontecendo, cada segundo se esticando como uma eternidade, enquanto a luz o envolvia por completo.