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Chapter 24 - Inicio 2: Fronteiras (2)

Priscila aceitou o amontoado de dentes de Octávio, examinando-os rapidamente antes de guardá-los em uma pequena bolsa de couro presa à cintura. Quando seus olhos se voltaram para a esfera pulsante que Octávio segurava, ela ergueu uma sobrancelha, como se não estivesse particularmente impressionada.

Isso aí? — Ela deu um sorriso leve, mais de condescendência do que de entusiasmo. — É um núcleo mágico.

Octávio franziu a testa, olhando para a esfera em sua mão.

Um núcleo mágico? — repetiu, pensativo.

Priscila balançou a cabeça afirmativamente, pegando a esfera para analisá-la de perto.

Exatamente. Quase toda criatura mágica tem um núcleo desses. Ele armazena uma fração da energia que mantém criatura viva e, em alguns casos, até poderes que ela possuía.

- O que aconteceria se uma criatura comesse muito destes Núcleos?- Octávio pergunta com preocupação em sua voz.

Priscila devolveu a esfera a Octávio, notando o olhar preocupado que ele lançava para Luna, que agora mastigava tranquilamente um pedaço de osso em sua cama improvisada. Ela franziu a testa, percebendo o motivo da inquietação dele.

Você está preocupado com ela? — Priscila perguntou, cruzando as asas.

Octávio hesitou por um momento antes de responder.

Ela ingeriu muitos núcleos desde que nos conhecemos.

Priscila suspirou, olhando para o Lobo Veloz.

É natural que você se preocupe, mas, no caso dela, os núcleos só aceleraram um processo natural que já estava acontecendo, tome um goblin por exemplo, se um goblin ingerisse muito núcleos mágicos ele se tornaria em um hobgoblin, uma versão evoluida e mais forte que um simples goblin. 

Octávio estreitou os olhos, ainda não completamente convencido. Ele olhou para Luna, que parou de mastigar por um momento, levantando as orelhas como se entendesse a conversa.

Então, você está dizendo que é algo natural? Que isso não vai machucá-la? — ele perguntou, sua voz ainda carregada de preocupação.

Priscila balançou levemente a cabeça, suas asas movendo-se suavemente ao fazê-lo.

No caso dela, sim, é natural. Mas isso não significa que seja seguro para qualquer criatura. Goblins, como mencionei, podem se transformar em hobgoblins, mas o processo é instável. Muitos não sobrevivem à transição porque seus corpos não são compatíveis com a energia acumulada.

E Luna? — Octávio insistiu, desviando os olhos para sua companheira. — Como saber se ela vai suportar?

Priscila o observou por um momento, seus olhos avaliando tanto Octávio quanto a figura serena de Luna, agora deitada em sua cama improvisada.

Ela já evoluiu uma vez, certo? — Priscila disse com confiança, gesticulando levemente na direção da criatura. — Isso por si só já é um bom indicativo de que ela aguenta.

Octávio franziu o cenho, claramente não satisfeito com a resposta.

Mas e se houver um limite? E se ela ultrapassá-lo?

Priscila suspirou, descruzando as asas e dando um passo à frente. Sua expressão suavizou, mas manteve uma certa seriedade.

Olha, evolução é sempre um risco, seja para ela ou para as outras criaturas. Isso já e um fato. Cada núcleo consumido pode fortalecer e torna-la mais forte, mas nunca há garantias de segurança.

Ela pausou por um momento, procurando as palavras certas.

O que posso dizer é que a evolução dela foi estável. Não há sinais de instabilidade ou perigo iminente. Isso significa que o corpo e a essência dela estão lidando bem com a energia acumulada.

Octávio suspirou, seus ombros relaxando um pouco, mas sua preocupação ainda visível.

Então você acha que não há problema em continuar?

Priscila sorriu levemente, com um toque de seriedade nos olhos.

Não disse isso. Só estou dizendo que, até agora, ela lidou com isso melhor do que a maioria das criaturas lidaria.

Ela fez uma pausa, desviando o olhar para Luna, que agora lambia as patas de maneira despreocupada. Priscila continuou com um tom firme:

Mas também não acho que será você quem decidirá quando parar.

Octávio seguiu o olhar de Priscila, encarando Luna. A companheira de longa data parecia alheia à conversa, mas ele sabia que ela era muito mais perceptiva do que aparentava.

O que você quer dizer? — Octávio perguntou, a voz baixa, quase um murmúrio.

Priscila deu um meio sorriso, cruzando os braços.

Seres como nós têm instintos muito mais apurados do que você imagina. Quando chegar o momento, ela saberá se pode ou não suportar mais. É um equilíbrio delicado, e talvez tudo que você possa fazer é confiar nela.

Luna ergueu as orelhas, parecendo reagir ao tom de voz de Priscila. Por um instante, seus olhos escarlates cruzaram com os de Octávio, e ele sentiu algo como uma certeza silenciosa vindo de sua companheira.

Então... eu só preciso confiar nela? — ele perguntou, mais para si mesmo do que para Priscila.

Confiar, observar e estar preparado para agir se as coisas saírem do controle — respondeu Priscila, com firmeza. — Mas, até agora, ela parece saber o que está fazendo.

Octávio assentiu lentamente, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios. Ele se ajoelhou ao lado de Luna, acariciando suavemente sua crina.

Tudo bem, Parece que você está no comando disso.

Luna soltou um leve um rosnado amistoso, antes de voltar a descansar tranquilamente.

Octávio entregou um amontoado de garras para Priscila, que as pegou com curiosidade. Após uma breve análise, ela ergueu os olhos para ele.

Garras de lobos vermelhos — constatou com naturalidade, deixando-as descansar em suas asas.

Octávio, com os braços cruzados, hesitou por um momento antes de fazer sua pergunta.

Recentemente, venho encontrando criaturas que conseguem usar habilidades mágicas, coisas que mexem com os elementos. E queria saber... eu também posso fazer isso?

Priscila ergueu uma sobrancelha, segurando as garras entre os dedos. Seu olhar, antes despreocupado, agora estava mais atento.

Está falando de manipular elementos, como fogo, água ou até mesmo gelo?

Octávio assentiu, sua expressão uma mistura de curiosidade e esperança.

Exatamente. Tenho visto criaturas fazendo coisas incríveis, e comecei a pensar... será que isso é exclusivo delas, ou eu também tenho alguma chance?

Priscila soltou um pequeno suspiro e devolveu as garras a Octávio, cruzando os braços enquanto ajustava suas asas.

Não é impossível. Mas não é tão simples quanto parece. Para criaturas mágicas, como eu, essas habilidades fazem parte de nossa essência. Elas estão enraizadas em quem somos, nos nossos núcleos e na energia que nos mantém vivos.

Octávio franziu a testa.

E os humanos?

Aqui está o texto ajustado com a sua ideia:

Priscila inclinou a cabeça, avaliando-o com cuidado.

Humanos não têm núcleos como as criaturas mágicas. Mas isso não significa que eles estejam completamente excluídos. Alguns humanos possuem círculos mágicos dentro de seus corpos, o que lhes permite usar habilidades elementares.

Octávio arregalou levemente os olhos, intrigado.

Círculos mágicos?

Priscila assentiu, cruzando as asas.

São como circuitos naturais que canalizam a energia mágica do ambiente para o corpo.

Octávio parecia ponderar, mas antes que pudesse falar, Priscila continuou, seu tom ganhando um toque de lamento.

Infelizmente, você não tem um desses. Eu consigo perceber isso claramente.

Ele franziu a testa, confuso.

Como você sabe?

Priscila sorriu de leve, mas havia algo de sério em seu olhar.

Porque a energia ao seu redor é completamente focada no físico. Sua essência é voltada para força, resistência e habilidade com armas. Eu diria que você pertence a uma classe voltado totalmente para o combate armado, como o guerreiro. Estou certa?

Octávio desviou o olhar, refletindo.

Então, magia está fora de questão para mim?

Priscila suspirou levemente antes de responder.

Infelizmente, sim! — disse ela, sem rodeios.

Isso e uma pena!— disse Octávio, claramente frustrado.

O silencio caiu momentaneamente sobre a caverna, até que Priscila olha para a espada de Octávio com uma expressão de desaprovação evidente, seus olhos brilhando com uma mistura de crítica e curiosidade.

Sabe, essa espada... — disse ela, apontando para a lâmina feita de chifre de Rhinotremor — foi feita de um jeito bastante... rudimentar, para dizer o mínimo.

Octávio franziu o cenho, surpreso com o tom de desdém na voz dela.

O que quer dizer com isso? — perguntou ele, um pouco na defensiva.

Priscila ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços.

Sem ferro, sem temperamento adequado, sem técnicas de forja decentes. Apenas um pedaço de chifre afiado. Pode até ter servido até agora, mas não vai durar muito mais se você continuar dependendo disso. Um corte afiado não é só sobre o material, é sobre o método, a técnica e a dedicação colocada na criação.

Octávio olha para a espada, e começa a perceber falhas que antes ignorara.

E o que eu deveria fazer? — perguntou ele, encarando os olhos dela.

Priscila deu um sorriso sardônico.

Primeiro, se livrar do lixo. Depois, buscar uma forja de verdade, onde uma arma de verdade pode ser criada. Uma arma digna de um guerreiro, e não um pedaço de lixo afiado às pressas.

Então, onde eu poderia encontrar, essa forja de verdade? — disse ele, com certo deboche enquanto a encarava.

Priscila manteve seu sorriso, seus olhos brilhando com um toque de desafio.

Existe uma forja, bem no coração do submundo. Um lugar onde apenas os melhores mestres ferreiros trabalham, usando técnicas antigas e materiais raros. Mas não é um lugar que você simplesmente encontra. É preciso merecer o caminho até lá. — Diz Priscila com um evidente sorriso profissional 

Octávio arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

E como exatamente eu "mereço" isso? — perguntou, ainda com um toque de ceticismo.

Priscila deu um passo à frente, seu olhar fixo no dele.

Você já sabe como! — Diz ela com um sorriso largo

Octávio suspira e diz — 15 Ml! 

20! — Diz Priscila 

15! — Octávio diz com firmeza 

Tá, 15 então! — Diz Priscila com um sorriso profissional, embora um pouco rigido.

***

Após Octávio dar seu sangue a Priscila, ela segurou o frasco com um sorriso enigmático, observando o líquido com cuidado antes de guardá-lo em sua bolsa. Com movimentos deliberadamente lentos, ela caminhou até uma das paredes da caverna, onde as sombras pareciam mais profundas e inquietantes.

Erguendo uma de suas asas, Priscila desenhou um arco no ar, suas pequenos dedos tocando levemente a superfície rochosa. Com um simples movimento, um vórtice começou a se formar, rodopiando com uma mistura de energia escura e vermelha, como um portal vivo que pulsava entre as sombras da parede. O vórtice crescia, iluminando a caverna com uma luz sinistra, enquanto o som do vento assobiava suavemente ao redor.

Priscila virou-se para Octávio, seus olhos brilhando com um brilho sombrio e cativante.

Está pronto para cruzar a fronteira? — perguntou ela, a voz suave, mas carregada de expectativa.

Octávio, sentindo o peso da decisão à sua frente, fecha o punho com força e deu um passo em direção ao portal, determinado a encarar o desconhecido.

Estou! — respondeu ele, com uma voz firme.

Com isso, Octávio, Luna e Priscila se aproximaram do vórtice, suas silhuetas desaparecendo na energia pulsante enquanto o portal os engolia, levando-os para as profundezas do submundo.

***

Em um lugar sombrio, com pouca luminosidade, três figuras subitamente apareceram, e com elas, a luz tomou o ambiente, dispersando as trevas ao redor.

Seja bem-vindo ao submundo! — disse Priscila animadamente, enquanto olhava para Octávio, que lutava para se manter em pé.

Octávio, com o rosto pálido e o estômago revirado, tentava se recuperar.

E-eu... — ele tentou falar, mas foi interrompido por uma súbita onda de enjoo, vomitando ali mesmo.

Priscila cobriu a boca com suas asas, tentando esconder o riso, mas seus olhos brilhavam com diversão.

Não me diga que é sua primeira vez? — perguntou ela com um sorriso maroto, ainda parcialmente escondida por suas asas.

Octávio ergueu a cabeça, sua expressão uma mistura de fúria e constrangimento.

Vá a merda! — rosnou ele, a raiva evidente em sua voz.

Priscila não conseguiu segurar mais o riso, explodindo em gargalhadas que ecoaram pelas sombras ao redor.

Ha ha ha ha! — riu ela loucamente, claramente se divertindo com a situação.

Após um momento, ela se recompôs, enxugando uma lágrima de riso do canto do olho.

Tá, eu já me diverti muito. Venha, eu te levarei à casa de um ferreiro conhecido! — disse ela, ainda com um sorriso no rosto, antes de bater suas asas e começar a guiar o caminho.

Octávio, ainda resmungando, seguiu Priscila junto com Luna. A caminhada foi longa, e o ambiente ao redor oscilava entre o sinistro e o desolador. Sob a orientação de Priscila, eles finalmente chegaram a uma casa isolada. O som constante de marteladas ecoava pela estrutura.