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Chapter 23 - Inicio 2: Fronteiras

Horas haviam se passado desde o confronto quase fatídico, e Octávio e Luna permaneciam dentro da caverna que outrora fora o lar do Lobo das Neves. Ali, encontraram um refúgio temporário para tratar das feridas, analisar os recursos coletados e assimilar as lições que a batalha lhes ensinara.

Octávio, com o braço precariamente enfaixado com tiras de roupas rasgadas e folhas que improvisou como curativos, encarava seus ferimentos com uma mistura de frustração e preocupação. A dor, embora suportável, era um lembrete constante de sua vulnerabilidade.

Ele suspirou e murmurou para si mesmo, com uma expressão marcada pelo cansaço:

Se continuar assim, eu acabarei morto!

Seu olhar desviou-se para o corpo destroçado da Aranha Trevo Glacial, que havia sido separado em partes meticulosamente organizadas. Longas patas congelados, presas afiadas e até fragmentos de carapaça translúcida estavam dispostos como se fossem peças de um quebra-cabeça. Octávio passou a mão na testa, afastando o suor, antes de declarar com uma resignação decidida:

De volta à mesa de projetos!

Enquanto isso, Luna, em sua nova forma, estava deitada tranquilamente sobre sua cama improvisada. A jovem companheira mastigava de forma despreocupada a perna dianteira do mesmo animal que a desafiara.

E assim, dois meses se passaram na vasta planície gélida. O ambiente, antes inóspito e implacável, começava a mostrar sinais de mudança. O vento cortante que uivava incessantemente agora soprava com menos intensidade, e a neve que caía como uma cortina ininterrupta se tornara apenas um leve e esporádico véu branco. O grande lago, antes congelado e coberto por uma espessa camada de gelo, encontrava-se agora parcialmente descongelado, suas águas reluzindo sob o tímido sol gélido. A vida ressurgia ao redor, e diversas criaturas, adaptadas ao rigor daquele ambiente, circulavam, caçavam e disputavam territórios.

Octávio, de pé próximo à margem do lago, observava tudo com um olhar atento. Seu braço, antes ferido, estava completamente recuperado, graças ao repouso e às soluções improvisadas que aprendera a criar ao longo do tempo. Em suas mãos, ele empunhava uma longa lança afiada, criada das patas da Aranha Trevo Glacial. A arma, com sua ponta translúcida e mortal, parecia refletir o brilho gelado do ambiente ao redor.

Ele se mantinha alerta, seus olhos acompanhando os movimentos sutis dos vultos que nadavam próximos à superfície do lago. Cada movimento parecia prometer uma oportunidade.

De repente, uma uma sombra projetou-se sobre ele, banhando-o em um breve instante de escuridão. Intrigado, Octávio levantou levemente a cabeça, e sua expressão endurecida deu lugar a um breve momento de fascínio. Acima dele, uma imponente ave planava graciosamente nas correntes de ar. Suas penas brancas e cinzentas refletiam a luz do sol como se fossem feitas de neve e aço, e seus olhos predadores buscavam uma presa.

Apesar da ameaça que aquele predador representava, Octávio sentiu algo inesperado. A visão do grande pássaro planando com tanta facilidade sobre o vasto céu lhe trouxe uma serenidade incomum. Por um breve momento, a luta pela sobrevivência, o frio cortante e o peso das adversidades pareciam desaparecer. Tudo o que restava era o espetáculo daquela criatura, que, em sua majestade selvagem, parecia simbolizar a liberdade e a força necessárias para prosperar naquele mundo implacável.

A ave rapidamente desapareceu do campo de visão de Octávio, mergulhando em um voo rasante em direção ao solo, provavelmente para abater a presa que tanto esperava. Sua silhueta majestosa logo se confundiu com o horizonte gelado, deixando Octávio novamente sozinho, imerso no silêncio cortante da planície.

Sem o pássaro à vista, Octávio voltou sua atenção para o que realmente o trouxera ali: a pescaria. Com os sentidos em alerta, ele observava o grande vulto que se movia lentamente sob a superfície do lago, aproximando-se cada vez mais de sua posição. O momento crucial estava se aproximando, e ele sabia que precisaria de toda sua força e precisão para garantir uma refeição.

Porém, o foco foi abruptamente interrompido por uma série de barulhos vindos da vegetação gélida atrás dele. Os sons quebravam a calmaria do ambiente, reverberando no ar como o alerta de algo inesperado. O movimento brusco espantou o vulto no lago, que rapidamente se afastou para um local mais seguro.

Com um suspiro resignado, Octávio abaixou a lança e a soltou delicadamente no chão. Ele se sentou, virando-se na direção dos ruídos, já pronto para receber quem estava se aproximando.

Que sem surpresa, foi Luna, sua fiel companheira, emergindo da vegetação com seu habitual ar de confiante. No entanto, o que chamou a atenção de Octávio foi o que ela trazia: um grande pássaro morto, preso em suas mandíbulas. 

Luna caminhava com uma calma quase insolente, os olhos escarlates fixos em Octávio enquanto arrastava o pássaro. Quando chegou até ele, largou a ave aos pés de seu companheiro, sacudindo a cabeça levemente para se livrar de alguns flocos de neve presos à sua pelagem. Ela o observava com sua típica expressão indiferente, que parecia carregar um comando silencioso: "Aqui está a refeição. Agora prepare!"

Octávio não conseguiu conter um sorriso cansado, mas genuíno. Após tantas adversidades, momentos como aquele, em que sua companheira demonstrava sua lealdade à sua própria maneira, eram quase reconfortantes. Ele olhou para Luna e comentou:

Parece que você teve mais sorte do que eu hoje.

Luna inclinou levemente a cabeça para o lado, suas orelhas se movendo, como se esperasse algo mais substancial do que um simples comentário. Octávio percebeu o olhar dela e soltou uma risada baixa. Ele passou a mão sobre sua cabeça em um gesto de afeto.

Obrigado, Acho que essa vai nos alimentar por um bom tempo.

Luna fechou os olhos brevemente, aceitando o carinho com dignidade, antes de se afastar em direção à caverna. Sua postura serena, mas vigilante, mostrava que confiava plenamente em Octávio para cuidar do restante. Ele logo a seguiu, carregando a ave com esforço medido, consciente de que precisaria aproveitá-la ao máximo.

Ao entrarem na caverna, o calor reconfortante do abrigo os envolveu, afastando o frio cortante da planície gélida. Luna se acomodou em sua cama improvisada, feita de peles e folhas, mas não tirava os olhos de Octávio, observando-o com a atenção característica de quem sempre estava alerta.

Octávio começou a limpar e preparar a ave com movimentos experientes, usando uma pequena faca que ele mesmo havia feito. Sabia que, em um ambiente tão imprevisível quanto aquele, cada pedaço de carne era precioso. Ele separou cuidadosamente as partes mais carnudas para o consumo imediato, enquanto o restante seria preservado para a próxima jornada.

Com madeira seca recolhida de troncos caídos na região, ele improvisou uma defumação simples. A fumaça subia suavemente, preenchendo o canto da caverna onde o fogo baixo crepitava. Enquanto a defumação seguia, Octávio preparava uma porção menor, pronta para ser consumida logo por ele e Luna.

Luna, deitada com as patas dianteiras cruzadas, observava tudo em silêncio, seus olhos escarlates fixos em Octávio. Embora sua postura demonstrasse indiferença, sua cauda, que se movia de leve, entregava o interesse por aquele cheiro que tomava conta do espaço.

Octávio notou o gesto e sorriu.

Não se preocupe, Luna. Vou deixar um grande pedaço para você.

Ao ouvir isso, Luna ergueu uma orelha, como se compreendesse, antes de deitar a cabeça nas patas novamente, relaxada, mas ainda atenta ao som do fogo e ao cheiro que preenchia a caverna.

O crepitar das chamas e o aroma da carne trouxeram um raro momento de tranquilidade. Para Octávio, era nesses pequenos instantes que ele sentia que, apesar de todas as adversidades, ainda havia espaço para algum conforto.

**

Dias haviam se passado, e Octávio e Luna estavam novamente em viagem. A vida nômade já era uma segunda natureza para ambos, uma rotina forjada pela necessidade e resistência. Eles haviam atravessado campos nevados e florestas gélidas, enfrentando o rigor de um ambiente implacável. Quando uma nevasca começou a se formar, os dois encontraram refúgio em uma caverna na encosta de uma montanha.

A caverna era fria e úmida, mas ao menos oferecia proteção contra o vento cortante do lado de fora. Após reunir gravetos e pedaços de madeira seca que haviam carregado, Octávio conseguiu acender uma fogueira. As chamas dançavam, lançando sombras na parede irregular de pedra. Ele se sentou ao lado de Luna, que estava deitada, sua pelagem castanho-escura contrastando com o brilho da fogueira.

Enquanto esfregava as mãos próximas ao calor do fogo, Octávio murmurou em voz baixa:

Status...

{Nome: Octávio da Concessão}

{Raça: Humano}

{Classe: Guerreiro}

{Habilidades:

(Golpe Pesado Nv.3),

(Grande Investida Nv.3),

(Espírito de Luta Nv.1),

(Pele de Pedra Nv.2),

(Reflexos Rápidos Nv.1)}

{Passivas:

(Persistência)}

{Títulos:

(Sobrevivente),

(Víbora)}

{Afiliação:

Lobo Veloz (Luna)}

Octávio olhou para a descrição por um momento, franzindo a testa ao perceber uma mudança que não esperava. Ele se recostou contra a parede da caverna, pensativo, antes de murmurar para si mesmo:

Não era "Técnica de Luta" aqui? Por que agora está mostrando "Espírito de Luta"?

Ele passou os dedos pelo queixo, refletindo sobre o que poderia ter causado essa alteração. Algo dentro de si parecia diferente desde os confrontos recentes.

Enquanto Octávio ponderava, Luna ergue subitamente a cabeça, focando na interior da caverna. Octávio, instintivamente, pega sua espada e assume uma postura defensiva.

Um pequeno vulto e banhado pela luz das chamas da fogueira, lentamente se revelando ser, um pequeno morcego de olhos vermelhos com um laço azul entre as suas orelhas e, com um pequeno saco entre a área de suas assas.

Olá, jovem sobrevivente. Já faz muito tempo desde nosso ultimo encontro não?

Octávio congela por um momento, seus olhos se estreitando. O morcego, com um laço azul entre as orelhas, não era um simples ser voador da região. A voz era inconfundível.

Priscila...? — Octávio murmura, os olhos se arregalando à medida que ele começa a entender quem realmente está diante dele.

Priscila solta uma risada suave, suas asas batendo suavemente no ar.

Sim, jovem sobrevivente, sou eu mesma! Como você está? Parece que já passou por um bom pedaço de desafio, não é?

Octávio, agora mais relaxado, guarda a espada e acalma Luna, enquanto com um sorriso fala com Priscila.

Eu não esperava reencontrar você tão cedo!

Priscila flutua com uma graça despreocupada e pousa mais perto de Octávio, pousando suas patas dianteiras no chão.

Priscila responde com um sorriso amigável. — E embora o vento tenha me levado a muitos lugares, sempre encontro uma maneira de fazer negócios. E aqui estou, trazendo algumas coisas que talvez você precise em sua jornada.

Octávio olha para ela, agora com um olhar mais focado, lembrando-se das negociações que já tinham feito no passado.

Então, que negócio lucrativo você trouxe para mim dessa vez?  — Octávio pergunta, com uma mistura de curiosidade e cautela. 

Você já sabe, itens raros, artefatos do submundo e outras preciosidades! — Priscila responde com um confiante sorriso sem se importar com a evidente cautela de Octávio.

Enquanto pensa Octávio tira de dentro de um seu saco de couro animal que ele carregava com sigo, um amontoado de de dentes de goblins e, entrega para Priscila enquanto diz:

Eu quero informações sobre as habilidades, eu sei que elas podem subir de nível, mas isso não e tudo não é? 

Priscila examina os dentes de goblin que Octávio entrega, seus olhos vermelhos brilhando ao ver o material. Ela sabe o valor de itens como esses. Ela sorri, reconhecendo que Octávio não era apenas um sobrevivente comum, mas alguém que sabia o que queria.

Ela pega os dentes com cuidado, pesando-os em suas asas, e então responde, seu tom de voz mais baixo e profissional, como se a conversa tivesse se tornado mais séria.

Ah, então você está ciente do potencial além das habilidades? — Ela olha para Octávio, avaliando sua expressão. — As habilidades podem evoluir, isso é verdade. Mas o que muitos não sabem é que elas podem ser... modificadas. Adaptadas. Mudadas de formas inesperadas, dependendo de como você as usa. Não é apenas uma questão de aumentar de nível.

Ela faz uma pausa, como se escolhesse suas palavras cuidadosamente.

Quando uma habilidade atinge um nível suficientemente alto, ela começa a se desviar do caminho que você conhece. A habilidade se funde com o ambiente ao redor, com os desafios que você enfrenta. Por exemplo, habilidades de defesa podem começar a adquirir resistências adicionais ou, até mesmo, se tornarem adaptativas. Uma habilidade de "reflexos rápidos" poderia se transformar em algo que, ao invés de apenas aumentar sua velocidade, também poderia alterar sua percepção do tempo, permitindo-lhe antecipar movimentos com mais precisão.

Octávio escuta atentamente, o pensamento girando em torno das palavras de Priscila. As possibilidades que ela mencionava começavam a se encaixar com o que ele havia experimentado. Sua própria habilidade "Técnica de Luta" havia evoluído para "Espírito de Luta", e agora, com o que ela sugeria, ele podia ver como isso poderia ser apenas o começo.

Priscila continua, agora com uma expressão mais misteriosa, quase como se estivesse compartilhando um segredo.

Habilidades não são apenas "subir de nível". Elas são moldadas pelas escolhas que você faz, pelos monstros que você enfrenta, pelas situações que vive. E as que estão no limite de sua evolução... bem, algumas delas podem até se "fundir" com outras, criando novos tipos de habilidades. Imagine uma habilidade que combina defesa e ataque, ou uma habilidade de cura que também aumenta a resistência. As combinações são quase infinitas, e o poder delas... bom, ele pode ser surpreendente.

Como eu saberia qual habilidade pode se fundir ou evoluir? — Octávio pergunta, seus olhos agora mais focados. — Há alguma maneira de guiar essa evolução ou ela acontece de forma espontânea?

Priscila observa Octávio com um sorriso enigmático, claramente satisfeita com o interesse dele.

Há formas de guiar, sim. Mas isso não é algo que você possa simplesmente controlar. Tudo depende do seu próprio crescimento e das suas experiências. Mas, há artefatos e treinamentos especiais que podem ajudar a acelerar esse processo, forçando uma mudança ou evolução de uma habilidade. Só tome cuidado. Nem toda fusão ou evolução é benéfica. Às vezes, ela pode ter um preço... algo que você pode não perceber até ser tarde demais.

Após um tempo para absorver a informação, Octávio entrega outro amontoadode dentes para Priscila — O que exatamente e isso? — Octávio pergunta mostrando uma esfera brilhante e pulsante, muito similar aquela que ele havia dado a Luna.