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Chapter 21 - Visitando a casa do pai

Segurando um guarda-chuva, um garoto ômega descia do ônibus carregando uma mochila nas costas e uma bolsa grande na mão. Olhando em volta, Theodore sentia cada parte do seu estômago se revirar ao seguir o caminho de estrada de terra já tão conhecido por si.

A única coisa boa de se visitar o pai era que ele vivia em um sítio fora da cidade pequena. O problema era ter de pegar ônibus para chegar perto da estrada, e a longa caminhada até encontrar o portal que lhe desejava boas vindas.

Se fosse em outros tempos certamente o seu pai o buscaria na porta da escola com a caminhonete. Mas aqueles tempos não voltariam mais. Seu pai nem passara mensagem perguntando que horas o loiro chegaria.

Theodore não reclamou de sua longa caminhada, apesar de seus pés e costas doerem ao ponto de precisar fazer algumas paradas antes de continuar. Quando avistara o portal azulado com emblemas de touros, o garoto se preparava para mais alguns metros de caminhada até a casa principal, escondida entre árvores ao fundo.

Na medida em que caminhava, não fora capaz de reprimir as lembranças de sua infância. Vivia correndo entre as plantações enquanto seu pai e os funcionários da cooperativa trabalhavam na colheita. Ou então das vezes que levara o almoço até seu pai à pedido de sua mãe.

Eram bons tempos.

Theodore agradecia a bela lembrança.

O sol já se punha quando a casa amadeirada fora alcançada. Theodore deixara a bolsa no tapete de boas vindas e respirara fundo para dar três batidas na porta. Por um instante desejara que não fosse atendido, que não houvesse gente na casa para que pudesse entrar e ir direto ao seu antigo quarto se trancar.

Mas a porta fora aberta.

Uma mulher a abrira.

O sorriso jovial da mulher ômega de cabelos compridos e escuros surpreendiam o loiro. Ela abrira a porta e tinha os olhos brilhando em alegria sem esconder uma centelha, quando dera um passo em direção do garoto.

— Theodore, não é?

O loiro piscara algumas vezes, se sentindo tímido com a aura brilhante que aquela mulher emanava. Timidamente concordara com a cabeça, apertando a alça da mochila em seu ombro.

— Ahn...

— Sou Maggie, a noiva. — Ria ela se agachando para pegar a bolsa no chão a puxando para dentro, dando passagem pro rapaz.

Fechando o guarda chuva, Theodore retirara os sapatos lameados antes de entrar na casa. Olhando em volta, percebia que a casa parecia mais iluminada do que se lembrava.

— Já estava preocupada com a sua demora em chegar. Pensei que tivesse tido algum problema no caminho.

Voltando a olhar a ômega, Theodore percebia que ela era mais baixa que ele.

— A chuva deixou o caminho bem escorregadio, caminhei com calma.

— Você veio... Andando? — Percebendo os olhos esbugalhados da moça, Theodore apenas concordara com a cabeça. — Deveria ter ligado, eu poderia ter te buscado.

— Não quero incomodar.

— Não é incomodo. Seremos uma família em breve, não é mesmo?

As bochechas de Theodore ruborizavam ao se deparar com os olhos brilhantes daquela mulher reluzirem felicidade. Pelos céus, como ficava sem graça perto de uma mulher daquelas. Elas sempre pareciam bonitas que mal saberia o que dizer em resposta.

Então o rapaz limitou-se em sorrir e acenar.

Fugindo daquele brilho pessoal da mulher, Theodore passara a olhar em volta da casa notando o silêncio. Não havia visto a caminhonete na garagem, e pela ausência da aura intimidadora, certa pessoa não deveria estar em casa.

— Ele ainda não chegou. — Sussurrava a mulher deixando a bolsa de Theodore sobre o tapete da sala — Na verdade hoje chegará tarde, já que a cooperativa quer planejar a próxima temporada.

— Ah... Certo...

— Não precisa ficar nervoso. — Ria ela, fazendo um leve afago no ombro de Theodore. — Na verdade eu estava bastante ansiosa pra te conhecer, já que seu pai tem fotos suas no escritório dele.

Inconscientemente Theodore olhara para a estante da televisão, onde costumavam ter fotos suas e de sua mãe. No lugar haviam retratos do pai e de Maggie. Se ele tivesse jogado fora suas fotografias, o ômega não ficaria surpreso como agora.

— Bem... Aqui estou.

— Obrigada por ter vindo. Já comecei a fazer o jantar, o que acha de ir pro seu quarto tomar um banho?

— Certo, então eu vou. Com licença.

Ansioso para se livrar daquela sensação constrangedora, Theodore tornara a pegar sua bolsa e fora para as escadas subir até o seu quarto.

Maggie parecia ser uma boa pessoa, pelo menos em suas primeiras impressões. Não que Theodore temesse o modelo de madrasta má que torna a convivência de pai e filho um inferno. Isso nem seria necessário, já que o inferno fora instaurado antes da chegada dessa ômega.

Se ela fosse boa pessoa, pelo menos Theodore poderia encontrar certa paz naquele final de semana.

Assim que entrara em seu antigo quarto, percebera que seus brinquedos e móveis continuavam no lugar. Sorrindo nostálgico, Theodore se sentara na cama dedilhando os brinquedos arrumados na cabeceira da cama. Como adorava brincar com eles, dedicar horas e horas de imaginação e diversão em seu pequeno mundo.

Antes de ir tomar um banho, o rapaz se lembrou de ligar para sua mãe avisando que havia chego na casa do pai. Assegurou de que estava tudo bem, e qualquer coisa ligaria pedindo ajuda. Depois de meia hora conversando no telefone, o rapaz abrira a mala pegando uma roupa leve e seguiu para o seu banheiro.

Depois de um banho quentinho e roupas confortáveis, Theodore descera as escadas para ir até a cozinha onde vinha o cheiro delicioso do jantar. Parara no último degrau observando Maggie fritar os pedaços de carne, enquanto cantarolava sorridente.

"Tente agir naturalmente, Theodore. Naturalmente". Respirando fundo, o rapaz entrara na cozinha sendo recebido por aquele brilho alegre de sua futura madrasta. Ela apontava para a mesa quase pronta, onde algumas panelas já estavam postas.

— Está aquecido? Se tomou chuva, deve se cuidar para não ficar doente.

— Estou bem, obrigado.

— Deixarei o prato do seu pai pronto no micro-ondas, pra que ele esquente quando chegar — Sussurrava a mulher ao pegar um prato e servir um pouco de cada coisa, sendo constantemente observada por Theodore. — Ultimamente ele tem comido muito tarde, imagino que as coisas no trabalho estão difíceis.

— Nessa época é normal.

— Não é? Haha.

Depois de ter guardado o prato no micro-ondas, Maggie voltara ao fogão para pegar os últimos pedaços de carne que fritara. E então ela se sentou de frente ao rapaz loiro, que começara a se servir.

Inicialmente nenhum deles falara alguma coisa, porém a atmosfera não era tensa. Theodore se sentia confortável com a mulher, percebendo o seu esforço em recebê-lo bem. Apesar de deixá-lo um tanto quanto tímido na sua frente, ele se esforçara para puxar assunto.

— Como vocês se conheceram? — Maggie erguera os olhos escuros para Theodore — Digo, você e o meu pai?

— Ah.. Ele veio dar uma palestra na minha turma de graduação, e eu peguei o seu telefone para fazer estágio na cooperativa. No começo ele era bem fechado e não conversava, mas depois a coisa foi fluindo.

— Quanto tempo estão juntos?

A mulher mastigou lentamente enquanto pensava então apontou o garfo para o rapaz.

— Fazem dois anos que nos conhecemos, mas faz um ano que começamos a ter algo sério. — Encarando o adolescente, ela então baixou os olhos para o seu prato abrindo um sorriso envergonhado. — Parece que fomos rápido demais, não?

Theodore negou com a cabeça enquanto cortava a carne em seu prato. Não se lembrava do pai ter comentado alguma coisa à respeito de um novo relacionamento antes daquela fatídica noite. Questionava o quanto ela saberia da briga entre pai e filho, e o que pensava à respeito.

Infelizmente nem sempre era fácil perguntar alguma coisa.

Comendo silenciosamente, Theodore não desgrudava os olhos de seu prato. Somente quando terminara de comer é que chegara à conclusão de que deveria perguntar. Fazia um ano que não via seu pai e ele tinha curiosidade em saber se havia comentado alguma coisa.

Afinal, era o seu pai.

Erguendo os olhos para a mulher ômega, a vira comer o restante da salada de tomate em silêncio. Parecia ainda feliz e confortável perto de si, o que lhe dera a pitada de coragem que precisava.

— Meu pai... Falou alguma coisa sobre mim?

Maggie erguera o rosto para o adolescente, concordando silenciosamente enquanto engolia. Ela puxara um guardanapo de papel para limpar os lábios cruzando os braços sobre a mesa.

— Seu pai é bastante conhecido na região, então quando comecei a demonstrar interesse nele alguns colegas já me avisaram que ele era divorciado e tinha um filho. Então, quando as coisas começaram a ficar mais sérias eu pedi que ele me falasse de você.

— E então?

— Foi a primeira vez que vi Bill parecer tão bobo. — Ria Maggie com um riso baixo — Digo, ele sempre teve a cara amarrada, parecendo frio. Mas quando começou a falar de você parecia apenas um pai feliz e orgulhoso.

— E agora, ele fala de mim?

A pergunta desfizera o sorriso no rosto de Maggie, e ela apenas negou com a cabeça. Theodore não ficara surpreso, contudo a ponta de tristeza ficara nítida em seus olhos claros.

— Na verdade eu insisti muito pra poder te conhecer, porque vamos nos tornar uma família. Digamos que eu venci pelo cansaço.

— Imaginei. Fiquei muito surpreso quando minha mãe disse que ele ligou pedindo pra que eu viesse, e que estava para se casar.

— É estranho para você? Ver seu pai se casando com outra pessoa?

Theodore negou com a cabeça.

— Na verdade fico feliz por ele ter alguém do seu lado. Minha mãe casou depois do divórcio e logo engravidou da minha irmã. Então... Não acho estranho que meu pai siga em frente também.

— Fico feliz em saber disso, de verdade. Te conhecer é um passo importante para mim, mesmo sabendo que você e seu pai estão passando por um momento delicado.

Theodore erguera os olhos para a mulher, que lhe direcionou um sorriso amigável. Suas bochechas ruborizavam na hora.

— Você sabia... Do que aconteceu?

Lentamente ela balançara a cabeça.

— Ele me ligou completamente bêbado. Fiquei preocupada e vim vê-lo, encontrando seu pai em uma situação bem deplorável. Cuidei dele e na manhã seguinte me contou o que havia acontecido.

O garoto nunca havia imaginado como o seu pai poderia ter ficado depois daquela noite. Ficara completamente emergido na própria dor, tornando-se cego ao mundo em sua volta.

Queria saber mais. Queria entender como foi aquele ano para o pai.

Mas tinha receio.

Assim como tinha receio de falar tão abertamente com aquela mulher na sua frente.

— Ele contou... tudo?

— Não guardo segredos do meu noivo.

— E você está bem com isso?

— Você parece ser um bom garoto, Theodore. Admito que estou mais preocupada que você não me aceite como esposa do seu pai, do que com sua vida sexual.

Theodore soltara um riso baixo com tamanha sinceridade da mulher. Aquele riso espantara quaisquer receio entre aqueles dois. O rapaz loiro chegara à conclusão de que ter uma madrasta não seria tão ruim, principalmente quando ele já tinha um padrasto.

Então o barulho de um motor anunciava a chegada do assunto principal. Theodore sentira o nervosismo incomodar ao ansiar a porta da frente ser aberta.

Sem coragem para vê-lo, o rapaz se levantara juntando a louça suja a levando para a pia, onde começara a lavar. Pudera ouvir a porta ser aberta e a aura pesada entrar na casa amadeirada.

— Bem vindo de volta, meu bem.

O alfa de cabelos acinzentados olhara na direção da cozinha, onde vira a jovem noiva sentada na mesa de jantar, e logo atrás dela um ômega alto e loiro que não ousara lhe olhar.

Pigarreando, o homem apenas apontava para as escadas.

— Vou pro quarto, depois eu desço.

Sem dar tempo para o momento constrangedor, nem pai e nem filho compartilhavam do mesmo cômodo. Theodore só respirara aliviado quando mais tarde fora para o seu quarto, depois de desejar boa noite à Maggie.

Quando finalmente deitara em sua cama, imaginara que o silêncio e o desencontro seriam as melhores formas de evitar o seu pai.