V e Dracula caminharam em passos largos até o salão principal, Valery e Victória acabaram acordando com o som das enormes portas sendo abertas e logo se juntaram aos dois, mesmo estando confusas pelo despertar abrupto. Dracula mandava olhares discretos à Inko que os seguia logo atrás, talvez estivesse desconfiado daquele eterno rosto sorridente, mesmo a desconfiança do lorde vampiro sendo algo comum.
Ao chegar na sala do trono, foram recebidos por longos cabelos brancos. A mulher vestindo a armadura se ajoelhava perante o trono, sem dizer uma palavra sequer, como um bom cavaleiro faria.
-Está é...-Dracula estava surpreso pela primeira vez em muito tempo, seria aquela...
-Minha espada.-V disse por ele.-A armadura da Orenmir era feita com um metal especial e muito raro, o mesmo que usamos em nossas agulhas, esse material tem a misteriosa capacidade de moldar a realidade ou sua própria forma física, apenas aqueles Tecelões que conhecem esse segredo são capazes de verdadeiramente dominar a espada.-V fez uma pausa esperando algum deles se manifestar, quando isso não aconteceu, ele continuou.-Enquanto vocês dormiam eu enviei algumas de minhas aranhas até o acampamento e fiz um mapeamento básico.
Ele caminhou até uma das janelas cobertas por cortinas negras e puxou, revelando a bela paisagem da ilha, ao fundo, uma nuvem de fumaça negra subia, indicando um incêndio.
-Descobri que eles não tinham muitas defesas, apenas alguns guardas patrulhavam dia e noite, descobri também que a posição do acampamento seria desvantajosa caso alguém atacasse de frente, pois aí eles não teriam para onde correr estando presos entre uma montanha e o agressor e por fim, eles tinham uma única refém.
-E quem seria ela?
-Alguém importante para o senhor, uma última carta na manga agora que todas as suas empreitadas
-Alguém importante para mim? Quem...-As dúvidas desaparecem rápido, ele tinha uma expressão de puro espanto em seu rosto.-Não... Impossível...
V se dirigiu até a armadura e retirou seu capacete com cuidado, revelando longos cachos dourados, acompanhados dos olhos vermelhos amedrontados de uma mulher.
-Katharine... Meu amor...-O lorde dos vampiros quase não conseguia acreditar em seus olhos, o mesmo havia julgado impossível o seu reencontro com sua amada.
-Drac...-Era ela mesmo, quem mais conhecia aquele apelido?
Katharine lançou-se para fora da armadura e direto nos braços de seu lorde, que não esperou nem mais um segundo para tomar-lhe os lábios. Agora com a armadura vazia, V colocou o capacete de volta em seu lugar e o apertou com força, um estalo metálico e uma nuvem de fumaça, e logo ele guardava sua espada em suas costas.
-Bem senhor Dracula, missão cumprida, o acampamento está em chamas.-V disse tirando um anel de prata do bolso e o jogando em direção ao lorde vampiro que o pegou sem parar o que estava fazendo.
-Se precisarem de qualquer coisa...-Ele disse finalmente se separando dela.
-Ficaremos felizes em ajudar.-Katharine o completou.
-Agradeço sua confiança em nós, majestade, boa sorte em sua busca pela inclusão dos vampiros.-Os três fizeram uma reverência antes de saírem pela porta da frente.
-Quem diria...-Valery começou assim que estavam fora do castelo.-Eu tinha estimado que precisaríamos de uns três ou quatro dias até terminarmos essa missão, acho que a Bright e a Hanako tinham razão sobre você.
-Agora que Dracula está do nosso lado, é seguro afirmar que estamos mais fortes do que nunca?
-Com certeza, e do jeito que você lidou com as coisas, eu tenho quase certeza que ele deve nos ver com outros olhos agora.
-É, antes ele nos via como comida, agora somos seus servos.-Valery ria de maneira gostosa com seu comentário.
-Provavelmente deve ser isso mesmo.
Apesar de estar descontraído, V sentia que algo estava errado. Aquilo não tinha sido fácil demais? Não que ele fosse confiante em suas próprias habilidades, longe disso, mas algo lhe dizia para não baixar a guarda e, em todos os anos de treinamento, ele aprendeu que era melhor ouvir esse sexto sentido.
Um bater de asas voltou sua atenção para o mundo real, onde encontrou um morcego pairando à sua frente, trazendo uma carta selada com um carimbo real em sua boca, ele esperava que V a pegasse. Ele o fez.
-Lorde Dracula o instruiu a lê-la apenas quando estiver sozinho.-Uma voz feminina soou da pequena criatura antes que ela levantasse voo outra vez e desaparecesse entre as árvores.
-O que será que diz aí?-Valery comentou.
-Não faço ideia, mas se apenas eu posso ler acho que você vai ficar só na curiosidade.
V guardou a carta em seu bolso e estava prestes a voltar a caminhar quando percebeu de canto de olho uma movimentação estranha nas árvores, como se alguém estivesse os espiando de trás de uma árvore e se escondesse assim que percebesse ter sido pego.
-Vão na frente.-Ele disse às outras duas antes de avançar para dentro da floresta ao som dos protestos de Valery.
Tirou Orenmir das costas, criou dois chicotes de seda instintivamente e diminui seu ritmo, sua respiração lenta enquanto ele se atenta aos sons à sua volta, caminhou e caminhou, até chegar em uma clareira, alguém sentava-se em uma pedra no meio da luz do sol, não era um vampiro.
Usava um manto negro que impedia a visão de seu rosto, mas pelo exoesqueleto inconfundível cobrindo sua pele V soube na hora que se tratava de um louva-deus.
-Que bom chegou...-A pessoa mostrou que tinha algo em suas mãos algo terrível, que fez V sentir seu estômago se revirar.-Estavamos falando de você.
Aquela coisa era... Uma cabeça...
A cabeça decepada de Edgar... Seu avô...
Aquele não era um louva-deus qualquer... Wallace...
O ódio dominou, falou muito mais alto que qualquer voz da razão tentando o avisar, V avançou. Avançou com toda a sua fúria, seus olhos agora eram duas órbitas negras desprovidas de qualquer cor, o ódio poderia estourar a máscara em seu rosto assim como ele estava prestes a fazer com o lorde louva-deus.
Sua lâmina cortou... O nada...
Não havia ninguém alí, V percebeu tarde demais. Muito tarde. Como pôde ser tão descuidado? Ele havia aberto sua guarda, bastava um único golpe...
Sentiu uma mão agarrando seu ombro esquerdo antes de uma lâmina atravessar sua barriga...
-Ah Edgar... Acho que todo o treino não serviu de nada no final não é?-Uma risada maníaca soou em seu ouvido.-Ele continua sendo a mesma criança patética.
A lâmina foi recolhida e V sentiu o gosto metálico do sangue, SEU sangue, antes de cair deitado no chão.
Ele não queria, não queria apagar agora, não quando o desgraçado estava tão perto, tão perto de suas mãos. Mas não conseguiu, a última coisa que viu foi uma âncora sendo arremessada na direção de Wallace.