Naquele dia, Bia resolveu conversar com Maira. Sentiu-se parecida com sua mãe.
Pareceu-lhe que ela também esquecera das filhas. Afinal Maira estava com dezenove anos e nunca lhe apresentara um namorado, sequer um ficante.
Bia tinha consciência de sua falta de sexualidade, mas sabia que isso se devia aos traumas de infância.
Para uma moça de classe média e com uma família estruturada, essa era a idade de já ter uma vida sexual ativa.
Mas pela primeira vez, Maira parecia estar ligada a alguém. Sem jamais ter pronunciado um nome sequer, que a ligasse a um namoro.
Batendo antes na porta do quarto, ela entrou onde as filhas dormiam.
Para a sua surpresa, encontrou Maira chorando convulsivamente.
– Maira, filha! Precisamos conversar! O que está acontecendo? – Perguntou, acariciando os cabelos revoltos da filha.
– O que está acontecendo? – retrucou Maira, entre risos e lágrimas.
– Você é mesmo muito engraçada! Eu nasci há dezenove anos, e hoje você descobriu que alguma coisa pode acontecer comigo!
Infelizmente, é tarde! Investigue a vida das minhas irmãs. Pode ser que dê tempo de fazer algo por elas. Por mim não dá mais!
Estou sofrendo, não vê? Durante todos esses anos foi e continuará cega! Saia daqui! Deixe-me em paz!
Trêmula, Bia quase não conseguiu descer as escadas. Maira não desceu naquela manhã.
Sua primeira alegria do dia foi ver Nika. Estava com tantas saudades... Se pudesse, correria para abraça-la.
Mas conteve-se em dizer um bom dia.
Na hora do almoço, ficou surpresa quando Nika se aproximou de sua mesa e pediu permissão para sentar.
Pareceu triste e disse que não estava bem, pois estava saindo de um romance.
Bia buscou coragem para conversar sobre o assunto, mas não conseguiu.
Então, o que pôde foi demostrar surpresa quando Nika lhe convidou para no dia seguinte, almoçar com ela em seu apartamento.
– Eu moro sozinha, não gosto da comida de restaurante, mas também não gosto de almoçar sozinha. Então, acabo ficando por aqui – Retificou, mediante o silêncio de Bia.
– Aceito sim! – Foi a resposta de Bia, com o coração a bater quase tão alto quanto a sua voz.
E voltaram para suas salas de trabalho.
Na sala, Bia até estaria bem, se pudesse esquecer a conversa que tentara ter com a sua filha mais velha.
Enfim, teria que trabalhar. Esquecer, ou pelo menos tentar esquecer as dificuldades da vida.
À noite não viu Maira. A filha estava para a faculdade. Novamente lembrou-se de Nika. Soubera que ela cursava Administração na mesma faculdade que sua filha estudava. Será que se conheciam?
– Provavelmente, não! – Foi o seu pensamento, ao lembrar que milhares de estudantes, de todos os bairros, passavam em todos os turnos da faculdade.
E foi deitar-se mais cedo. Satisfeito com a noite de sexo anterior, Allan novamente se aproximou de Bia na cama.
Sendo abraçada por trás, Bia sentiu o volume que crescia próximo às suas nádegas. Não poderia fugir. Então se virou e deixou que Allan a abraçasse e beijasse.
Por Deus! Como ela queria que ele fosse rápido. Novamente pôs em prática a tática dos gemidos roucos de prazer e Allan demorou pouco tempo para chegar ao orgasmo.
Bia ali descobrira que estava usando uma faca de dois gumes. Estava conseguindo se livrar mais rapidamente do sexo, mas os gemidos levavam Allan a pensar que ela estava gostando também.
Depois da morte dos pais de Allan, ficara com ele todas as horas até que naquele dia ele pediu que ela nunca se separasse dele.
Dias depois, Allan a pediu em casamento. Assim, sem nenhum contato físico.
Bia nunca pensara em se relacionar com nenhum homem. Ainda mais com Allan, que considerava quase um irmão.
Mas não via nenhuma outra perspectiva de vida. Agora, a única pessoa por quem nutria laços, no caso, de gratidão, era Allan. De seus pais, jamais tivera notícias.
E Bia aceitou se casar.