Envolvidas em seu novo relacionamento, Bia e Nika estavam se tornando displicentes.
Esqueciam por exemplo, cabelos molhados que denunciavam os banhos compartilhados.
Os olhos, inegáveis espelhos da alma, denunciavam ações e enviavam mensagens, sempre captadas por inúmeros olhos que as observavam.
E na conhecida roda dos homens fofoqueiros,surgiam, entre outros comentários:
– Parece que a patricinha arranjou uma namorada? Ou será que é uma mãe adotiva? – E risadas coletivas acompanhavam tais piadas de mau gosto.
Outros comentavam que o marido de Bia estava cuidando da casa, enquanto ela cuidava de ninfetas.
– Me disseram que ela está participando de orgias – Nika quebrou o silêncio da caminhada apressada depois do almoço.
E Bia só pôde pensar que ela estava procurando se informar sobre a vida da ex-namorada. Sentiu o ciúme lhe avermelhar o rosto. Mas calou-se.
Os comentários chegaram aos ouvidos do doutor Celso.
E ele se sentiu obrigado a tomar uma posição. Conheci Allan e respeitava a condição de mulher casada de Beatriz.
Tanto que jamais deixara transparecer o quanto gostara dela durante os anos em que trabalhava ali.
Nada tinha contra nenhuma opção sexual, desde que os relacionamentos fossem fora do trabalho e não se tornassem escândalos.
Sendo com um homem ou uma mulher, um relacionamento extraconjugal de sua secretária executiva com alguém que também trabalhasse na clínica se tornaria prejudicial para a reputação do estabelecimento.
Ao ser chamada para uma advertência, Bia chorou de vergonha. Estava se comportando como uma adolescente inconsequente, ela sabia... Mas dai a se tornar público, era demais.
Pela primeira vez, pediu, por favor, para não ser demitida.
Precisava do emprego... E como do ar para respirar, precisava de Nika.
Naquele dia, não pôde lhe dar explicação... Mas ao sair, ligou para ela, dizendo o que havia acontecido.
Mas ela daria um jeito. E já sabia qual... Perto da clínica havia um Centro de Cursos de Aperfeiçoamento. O mês de férias da faculdade estava chegando e ela poderia passar mais tempo com Nika.
Sabia do horário que o curso terminava. Dez minutos antes, iria esperar Allan, que viria pega-la.
Em casa, a custo, conseguia ceder aos desejos de Allan. Agora ela precisava fingir melhor que antes, para não acontecer o que acontecera na clínica.
Não poderia decepcionar Allan. Considerava-se a mais inconsequente das mulheres, mas gostava dele e não queria fazê-lo sofrer. Maldita vida dupla que estava levando!
Na clínica, Bia e Nika evitavam qualquer contato, até mesmo se cruzarem nos corredores.
Nika passou a ir almoçar em casa sozinha e Bia ficava no restaurante, em um local que fosse visível para todos.
Parecia que depois da tempestade viera a calmaria e todos tinham esquecido o assunto.
Em casa, as saídas de Maira continuavam e Bia parecia ter desistido de tentar se aproximar da filha.
As férias começaram e os tais cursos de Bia também.
E a cada noite, o amor parecia crescer junto com a experiência das duas.
Como se tivesse sede de recuperar todo o tempo perdido, Bia se aperfeiçoava em descobrir cada recanto do corpo de Nika e fazer deles fontes de prazer para as duas.
À noite estariam em segurança. Os demais funcionários moravam longe.
Bastava apenas ter o cuidado de não esquecer o horário de sair para esperar Allan.
Havia sido a saída perfeita.