/Pera, recebi um zap/ /pera, recebi um zap/ (som do toque de celular)
Escutando o som do toque do celular pego-o e vejo quem enviou... Apenas aparece um número desconhecido, olhando pela tela de bloqueio consigo visualizar as mensagens que diziam o seguinte:
-Seu currículo foi aprovado, vamos introduzi-lo em uma personagem aleatória, desejamos seu sucesso! 22:59
'Que? Que merda que tão me enviando? Bom, depois eu vejo'
Finalizando meu serviço, guardo minhas coisas e espero pelo elevador, uma hora atrasado, não que faça muita diferença, não tem ninguém para me esperar.
Esquecendo totalmente da mensagem, começo a olhar meu google drive com minhas fichas de RPG, são de fato muitas, todas tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo. Olho minha ultima criação Alfaar, um kobold bardo, de um RPG hibrido de D&D com um próprio sistema do meu circulo de amigos, o TOPG. Não posso negar ver ele finalizado me trás orgulho, mas o fato que criei apenas para ser um NPC ajudante para o Miguel me deixa um pouco triste. O mundo dele tá interessante quero ver quando eu começar a jogar, já sei perfeitamente como vai ser o novo personagem, será um antimagia, perfeito!
Descendo os andares satisfeito corro para o carro e dirigindo sem pressa, pelo caminho mais longo, a lua crescente deixava um ar especial dentro de mim, parecia que eu ficava mais sensível na minguante e crescente. O som do carro estava no médio, o excesso de volume me deixa incomodado.
A praia estava linda, a lua perfeita, o cruzeiro do sul sempre presente para guiar os perdidos, me pergunto quando ele irá me guiar?
Mesmo enrolando o possível, não tem como evitar chegar em casa, o portão sobe lentamente, nem ele tem pressa e nem eu, estaciono com cuidado, ligo a luz da cozinha e olho em volta.
Silencio.
Apenas silencio, a luz laranja suaviza a solidão da minha casa, as janelas fechadas, parece que nunca serão abertas, o resto dos cômodos pedem por atenção, e o meu quarto parece querer me expulsar. O tic-tac do relógio mostra que já são quase meia noite, não importa o que eu faça. O tempo não espera, passa rápido demais, eu preciso de tempo, minhas ocupações comem meu tempo. De noite apenas três opções: jogar, ler ou dormir, posso fazer qualquer uma delas, mas vou ir pro trabalho cansado independente da situação.
Faço um hambúrguer de forma leve, as coisas parecem se alinhar pra correr e eu me desalinho para parar, esse contraste gera uma dança, um teatro grego. Meu estomago ronca violentamente exigindo comida, minha boca protesta querendo engolir tudo que coloco na boca.
Não importa, no final sempre perdi, dessa vez sem nenhuma surpresa o tempo ganhou.
No corredor pro meu quarto sinto meu coração descompassar, o pulmão parar, a boca secar, o sangue correr, a visão escurecer, minhas pernas tremer... meu peito apertava, não importava o quanto gritava, nada saía, eu senti, estava morrendo...
Escuridão só vi isso, o meu futuro era escuro, minha infância foi escura, e meu fim ironicamente também, sem tempo, sem luz, sem ninguém.