Da copa das árvores vejo as figuras dos meus companheiros de equipe e eles também já nos identificam.
"Encontraram algo?" -Castiel
"É pior do que pensamos, o kobold identificou os inimigos como uma colônia, mas para piorar ainda desconheço nossos inimigos. Ele disse que viu em um livro de fantasia esse tipo de monstro" -Virmana
"Conte-nos os detalhes, venham" -Castiel
"É o seguinte, eles se chamam Bullywugs são sapos humanoides que conseguem se camuflar em pântanos e concidentemente esse lugar é um pântano. Assassinos frios que matam apenas por prazer, mas alguma coisa como talvez um Bullywug xamã ou um Bullywug guerreiro esteja os comandando para fazer isso" -Alfaar
"Normalmente andam em bandos grandes destruindo cada cadeia alimentar que passam, são uma praga resumindo. Quando veem um inimigo que não podem derrotar fogem com o rabo entre as pernas. São nanicos e muito gordos, os batedores da espécie possuem veneno em sua pele e usam para acabar com inimigos que não podem derrotar" -Alfaar
"Essas são as informações mais importantes que lembro sobre eles, se tiverem mais alguma pergunta, posso tentar o máximo possível pra responder" -Alfaar
"Calma, é muita coisa, você descobriu isso usando um feitiço? Demorou tanto pouco tempo e nem vejo você cansado. Como podemos confiar no que disse?" -Castiel
Todos com o tempo pareciam concordar com o que Castiel disse e consequentemente olharam pra mim esperando uma resposta convincente.
"Beleza. Eu usei o ritual conversar com as plantas, demorou muito pra aprender. Os rituais para mim são diferentes, não preciso fazer símbolos no chão ou coisa do tipo, posso fazer alguns riscos com giz e tinta nos meus instrumentos e ao toca-los posso completar o ritual" -Alfaar
"Sobre o que sei deles, não tem como eu provar isso, apenas posso dizer que realmente vi em um livro, se chamava The Forgotten Realms D&D" -Alfaar
"Como podemos lidar com eles? Já que você sabe tanto" -Roxxan
"Temos dois jeitos, erradicação e através do medo, mas se usarmos o segundo método não vamos estar realmente resolvendo o problema, só empurrando para uma outra pessoa ou cidade resolver" -Alfaar
"Não faço ideia de quantos sejam, mas normalmente não passam de 100, mas essa colônia é bem grande por tanto deve existir umas 50 a 70 cabeças" -Alfaar
"E existe a possibilidade de já termos sidos expostos, ficar na lama é estar em desvantagem, pois são peritos em fazer armadilhas com veneno na lama" -Alfaar
"Faremos como você disse, não vai ser tão difícil, até Dixeon que é um mago já recebeu esse treinamento para casos especiais onde não se pode estar no chão" -Castiel
"Mantenham a guarda alta, avante!" -Castiel
Movendo de forma coordenada passamos pelo pântano e com o tempo ficou mais fácil ver uma construção parecida com uma cabana rustica de 3 andares.
Quanto mais perto chegávamos mais lentos e precavidos estávamos. Sendo possível notar que abaixo de nós pessoas que não eram Bullywugs sendo escravizadas, procurando pelo local objetos de valor. Todos pareciam cansados e sem vida, seus olhos não detinham um futuro, aqueles que caiam ou pareciam que iam morrer de exaustão eram mortos no local mesmo, sendo comidas vivas cada vez que acontecia isso causava um estardalhaço com outros tentando fugir de desespero. Aproveitamos isso para passar despercebidos.
"Vamos para a casa do meio, se tivermos sorte vamos encontrar o guerreiro Bullywug ou xamã junto com as escravas de reprodução" -Alfaar
"E-Espere, você disse escravas de reprodução!? Como assim!?" -Roxxan
"Isso mesmo, todas as fêmeas de outras espécies são raptadas e estupradas por eles, não existem Bullywugs fêmeas, seus genes são muito fortes, engravidam quase qualquer fêmea, menos as orcs, que o útero delas não aceita o esperma deles. Quando eu disse que são uma praga e tende ser erradicados foi isso que quis dizer..." -Alfaar
Depois que escutam todas as minhas palavras ficam totalmente mudos, mas a resiliência e vontade de vingança queima nos olhos de cada um.
Quando estamos cerca de 25 metros, começa as cabanas rústicas por serem casas facilitava a movimentação, para os moradores de baixo aquilo não passava de vultos.
"Alfaar... Você tem certeza no que disse? Que eles fazem isso? A nossa irmã mais nova desapareceu também..." -Roxxan
Era a primeira vez que me chamaram pelo nome, nos olhos de Roxxan a chama começava a se apagar, se antes ela tinha alguma convicção que sua irmã poderia estar bem, agora foi embora como poeira ao vento. Os olhos de Castiel transpareciam menos os seus sentimentos, mas conseguia notar pelo seu clima pesado. Virmana e Diveon, sentiam pena e dó dos seus amigos e provavelmente de sua amiga que podia estar lá dentro nesse momento.
"Desculpe..." -Alfaar
"... Entendo, obrigado por nos ajudar Alfaar" -Castiel
Castiel chega arrombando uma das paredes com o próprio corpo mesmo, e para variar esses sapos nojentos estavam fazendo a única coisa que sabem fazer, destruir.
O local era grande e as vitimas também, cada uma sem vida no rosto, não tinham gritos, não tinha raiva, cada corpo estava usado e jogado no chão, como bonecas que não serviam mais. Fedia, o cheiro era forte e ânsia apertava na garganta.
Ninguém falou nada, não precisavam falar, por que queriam agir, queimar e destroçar essa raça da existência.
Castiel se joga com o seu escudo em um dos sapos que cometiam atrocidades, todos estavam perplexos, mas não conseguiam entender, o êxtase do sexo e as drogas que usaram não os permitia pensar.
Roxxan corre na direção de outros dois que não tiveram tempo de reagir, com o seu bastão. Ataca-os com uma velocidade de combo surpreendente, cada golpe é pesado que quebra os ossos dos anfíbios que gritam de dor, mas isso não à vai para-la, sua feição era demoníaca com puro ódio, raiva e tristeza.
Diveon aparentava calma se escuta-se apenas sua voz, no entanto sua pele branca estava vermelha como prova do coração dele estar a um milhão. Finalmente ele evoca um chicote elétrico que prende todos que considera como inimigo e então puxa-os para mais perto além de deixar eletrocutados.
Vendo isso como oportunidade salto dos ombros de Virmana pulando no meio de todos os sapos, tiro do meu inventario o meu bongo junto com um pacote inteiro de giz esfarelado, derramando no tambor e enfim socando violentamente.
CABRUMMMM
Fumaça junto com um som ensurdecedor espalha por todo o local. Logo outro som de cair no chão ocorre, todos os sapos do local, cerca de 8 estão desmaiados espumando no chão.
A poeira abaixa e o meu grupo vê os caídos, eles também estão bem zonzos, mas como o raio era de 2 metros de mim, não foram afetados pelo meu dano.
"Matem eles, só desmaiaram com o som" -Alfaar
Virmana limpa-os em uma velocidade surpreendente, estar indefeso na frente dela é o mesmo que morte, em quanto cada um matava um, ela já tinha terminado o serviço.
Eram 11 que estavam copulando, nenhum campeão ou xamã, apenas guerreiros comuns.
BLÉIMM BLÉIMM
O sino já tocou, vão começar a vir sem mais nem menos.
Dito e feito, assim que ousavam aparecer na escada eram mortos por Roxxan e aqueles que tentavam escalar, assim que mostravam suas cabeças eram degolados por Virmana.
Diveon usou provocação no pó de giz que estava espalhado pelo chão e outra magia para espalhar esse giz pela vila. O alvo? Todos agora queriam um pedacinho do Castiel.
Foi uma batalha rápida, mas se houvesse algum erro seria fatal, o que quase aconteceu umas 3 vezes, subiam por outro lugar e tentavam almejar Virmana com dardos ou facas envenenadas, mas como eu já estava no seu ombro novamente protegia-a com meu escudo, assim ela podendo focar apenas em matar.
O fedor de sangue infestou o lugar que já fedia a abatedouro a muito tempo, no entanto esse abate era com sangue, raiva e vingança por aqueles que caíram injustamente.
Logo acaba os bullywugs, exterminados, ou pelo menos os menos importantes. De longe começa a correr um Bullywug mais forte que os demais, ele andava sem afundar como se tivesse em terra firme, era grande também, duas grandes espadas em suas costas que agora se encontravam fora das respectivas bainhas.
Com uma rápida velocidade de reação, Castiel pula no guerreiro com um grande escudo e seu bastão.
O campeão disfere golpes consecutivos no escudo de Castiel, que por causa do terreno sua postura cede e afunda na lama, quando estava prestes a apunhalar o tank caído no chão, chega Roxxan, disferindo um golpe pesado, na cabeça do Campeão e empurrando-o um pouco, através desse golpe desferido consegue subir em um telhado, sempre atacando por cima e com a mesma força que batia ela voltava.
Diveon junto comigo e Virmana percebemos antes dos que estavam em batalha, mais 3 Bullywugs e um Xamã.
O anão começa conjurar um feitiço de enraizamento, por causa da distancia e o quão sedo percebemos eles, pode ser conjurado sem problemas, e as casas em volta se retorcem prendendo o que sobrou dos sapos.
A Virmana inesperadamente me coloca no chão com cuidado e parte sozinha para atrasar os sapos que Diveon deixou preso.
O Campeão sapo é muito forte, mas tem uma fraqueza clara, sua sabedoria. Sabendo disso tento o enfeitiçar, em quanto toco meu bongo, falo com a voz espiritual:
"Eu vou enfeitiça-lo preparem os seus ataques mais fortes, assim que ele receber o dano vai parar de me obedecer" -Alfaar
Os tambores de guerra soavam por toda a vila, cada tapa no tambor era um tiro, vou leva-lo ao um pesadelo eterno a morte vai ser sua única saída.
Assim como eu disse, o campeão Bullywug que conseguia equiparar sua força com dois monges nível três, agora estava parado, esperando as ordens de um pequeno kobold de 50cm.
Diveon taca uma bola de fogo, e os dois irmãos lançam um ataque combinado, sem poder reagir só explode trazendo tripas para tudo que é lado. Sem olharmos pra ele, corremos pra ajudar Virmana que estava enrolando 4 sozinha.
O feitiço do Anão acaba, e podemos ver lá dentro, Virmana com muito sangue saindo dela, sua pele roxa de veneno. Corro pra ajuda-la, mas eu já estava sem mana, controlar um Guerreiro, falar com as plantas, nocautear 8 sapos tem um preço e ele chegou.
Ela iria morrer se eu não tivesse os slots de Player. Usando uma cura de nível 2 seus ferimentos se curaram magicamente, sem conjuração, sem gasto de mana.
"Você..." -Virmana
Ela sussurra baixinho e olha pra mim incrédula, mas se mantém em silencio, pega uma poção para paralisia e para veneno virando as duas sem mais nem menos.
Assim que se cura, mesmo que as poções não tenham feito ainda efeito ela vai avante, disferindo golpes rápidos ajudando sua equipe.
Com isso a única grande resistência foi o xamã, mas sua força física e constituição era insignificante e como alvo isolado, foi limpo rapidamente.
"Uffa. Terminamos. Não sobrou mais nenhum assim espero" -Diveon
Olhamos ao redor e voltamos para salvar as desafortunadas pelo destino.
Como os primeiros sapos que estavam dentro da grande cabana, todas drogadas, com olhos vazios e pensamentos muito letárgicos.
Castiel junto de Roxxan fazem um feitiço de clareza, a habilidade consistia em tirar efeitos como embriaguez, letargia, sono e outros efeitos que algumas drogas também causavam.
Uma a uma pelo menos as que estavam vivas voltam a sua razão, mas o choro, a ânsia os gritos preenchiam o local, essas eram mulheres que pensavam no que iam fazer depois de ali. As que se mantinham em silencio e paradas, bem, essas já não tinham pensamentos sobre o futuro. Eu e o Miguel procuramos fazer um RPG onde nunca aconteceu algo como o estupro, elas foram possivelmente as primeiras.
Infelizmente encontramos a irmã deles, seus olhos eram vazios como todas as outras, pra piorar ela parecia realmente nova, 12 anos? A crueldade do mundo é impecável, não perdoa ninguém.
"IRMÃÃ SNIFF SNIFF" -Criança
Assim que ela nos vê começa a chorar, desabando totalmente, acho que os últimos que queria ver agora era eles. Ela queria só desaparecer.
A menina começa a se desculpar em soluço atras de soluço, abraçando a roupa de sua irmã, mas não queria ver o rosto dela, a menina tinha vergonha de se mostrar para a irmã.
Meu peito arde, não consigo me controlar e choro também consigo controlar pra não fazer som, mas não tem como não esconder, as lagrimas de um kobold é o sangue deles.
A menina para um pouco olha finalmente para o rosto de sua irmã, do seu irmão e dos amigos deles. Ela tenta sorrir, mas chora e desaba novamente, a criança começa a correr pra perto de mim, me abraça forte e pede sua última vez desculpas.
Então consigo escutar o som de algo escorrendo lentamente, era sangue. Ao me abraçar a menina pegou minha faca e enfiou no próprio pescoço. Seu corpo começa a cair, a faca que acabará de ser roubada de mim cai também. Nenhum som sai da boca dela, mas se tentar fazer leitura labial você consegue ver ela pedindo desculpa.
E cai.
Os dois irmãos tentam reanimar ela. Chamando pelo seu nome, Agatha. Um nome bonito, uma criança bonita, com um futuro mais bonito que tudo isso.
"Eu me decidi" -Alfaar
Pego novamente meus instrumentos, vou trazer a paz para aqueles que desejam o fim. Não tem problema desejar o fim, porque esse já é o final ruim.
Uma música do Konai – Se o sol não voltar amanhã
Minha voz espectral parecia crescer para o pântano todo.
"Se vocês desejarem descansar, não tem problema, vocês aguentaram demais esse mundo..."
♪ E se o sol não voltar amanhã ♪
♪ Tu ja disse, que ama ♪
♪Quem tu amas ou coisa assim? ♪
♪ Digamos que amanhã eu já não esteja aqui ♪
♪ Que pela manhã não tenha que sentir ♪
♪ Aquela vontade de não existir mais ♪
♪ Digamos que um dia eu ja te fiz sorrir ♪
♪ Mas você nem considerou e me deixou ir ♪
♪ Eu não consigo amar mais ♪
♪ Se o sol não brilhar ♪
♪ Eu vou sentir o mesmo ♪
♪ Se passar muito tempo ♪
♪ Eu vou sentir o mesmo ♪
♪ Podes não acreditar ♪
♪ Queria tar mais perto ♪
♪ Só valorizo quando perco ♪
♪ A noite veio lembrar ♪
♪ Que não te dei o melhor ♪
♪ Aquele ultimo olhar de dor ♪
♪ Mas nunca te vou deixar ♪
♪ Prefiro amar, te aceitar ♪
♪ Que fomos feitos para durar ♪
♪ Será que vai sentir minha falta? ♪
Cada vez que soltava uma palavra, um timbre, uma lagrima. Todos os sofredores, mesmo vivos ou mortos retumbavam e lentamente transformavam-se em luzes para então borboletas de coloração azul e preta. Quem desejava um fim, ou para aqueles que tiveram um fim voaram, voaram para os confins do céu, buscando uma casa, buscando os Deuses deles. Cada corpo desapareceu em meio ao ar. Nenhuma vitima que estava na sala sobrou, todas escolheram partir.
E eu as entendo, não irei julgar nenhuma escolha.
O corpo de Agatha também virou luz e voou embora como uma linda borboleta.
Castiel e Roxxan tentavam agarrar o ar, alcança-la, mas não conseguiam, os rostos chorosos de todos.
Não foi uma vitória, não tinha como isso ser uma vitória. Pessoas boas sofreram.
Mesmo depois de tudo isso, não parecia ser suficiente.
Os dois irmãos partiam para cima de mim em quanto Diveon e Virmana tentavam impedir. Não os julgo. Se quiserem podiam bater à vontade em mim. Por medo escolhi a eutanásia, não conseguiria aguentar as lagrimas deles sem morrer por dentro também.
Só de noite voltamos para pegar os cavalos, mas estavam mortos pelo bullywug campeão, provavelmente quando descobriu que seu território foi invadido voltou correndo e acabou achando os cavalos.
Os homens escravizados restantes que escolheram pela vida nos seguiram. A caminhada foi longa, eu poderia ter usado minhas próprias pernas para andar, mas inexplicavelmente Virmana pegou-me e me levou em seus braços. O coração dela batia forte, o aperto dos seus braços era tão forte quanto, os seus olhos machucados de tanto chorar e tentar disfarçar.
A viajem foi feita em luto, sem barulhos além do choro e da dor. Antes de sair eu tinha realizado uma cura em massa, mas não ia ajudar seus corações feridos.
A entrada do mosteiro era simples, mas grande. Fomos recebidos e todos os refugiados foram acolhidos, me pediram para voltar somente amanhã, no entanto Virmana não me deixou sair, continuou me segurando forte.
Ela me levou para seu quarto, tirou a sua roupa suja e tomou um banho no setor feminino, eu poderia ir embora agora, mas não parti, apenas obedeci e usei o banho masculino. Chego novamente no quarto de Virmana, a porta estava destrancada.
Vejo ela, de alguma forma, minha invisibilidade inerente da minha espécie nesse momento não funciona.
Ando até ela e quando chego perto o suficiente me pega e me abraça forte.
Ela chora, chora como um bebê querendo sua mãe, tento conforta-la afagando sua cabeça, mas o choro continua e o abraço também.
Foi assim, chorou até dormir.
E eu?
Chorei só depois, no calar da noite. Quando nem a lua nem o sol podiam ver qualquer lagrima minha.