Mais difícil que seja acordei tarde, por volta de umas 8 horas e a Virmana já tinha levantado, os lençóis que eram brancos estavam manchados de vermelho por causa do meu choro.
Me levanto coloco uma roupa característica do local e deixo o resto dos itens no inventario, já vou saindo pois não tenho nem o direito de ficar aqui, as cenas passadas se chocam a todo momento na minha cabeça.
Queria poder apagar os problemas foi por isso que criei esse personagem, esse mundo. Tudo isso foi criado para fugir 5 horas na semana, mas... Em quanto a vida existir tudo que há de ruim também existirá. Os golfinhos estupram suas fêmeas, os chimpanzés matam a pedra os gorilas quando são em menores quantidades, os ratos espalham doenças mesmo que involuntariamente. Parece que viver é ser alguém ruim.
Esse mundo tem deuses criados para ajudar seus habitantes, todos tem consciência do que acontece, as vezes podem interferir diretamente, as vezes se não pudesse isso mandariam apóstolos, então por quê?
O Mosteiro é muito grande e mesmo com o acontecimento de ontem não pararam sua rotina, apenas resignaram algumas das suas pessoas para ajudar os escravos.
Ninguém sabe que estou aqui exceto Virmana.
Dentro do mosteiro tem uma grande cerejeira que consigo ver mesmo com os telhados, vou indo em sua direção, ela está localizada em um penhasco e embaixo dela tem um pequeno tronco que serve como banco.
Acabo por me sentar lá, tudo abaixo do penhasco é pequeno mesmo sabendo que não é, a terra é firme, a madeira da árvore é grossa e grande com uma vitalidade irradiante, aqui na ponta do penhasco não tem flor nenhuma, não tem grama, é apenas terra compactada que continua ali por causa da árvore.
Quando a água pesava de mais no bambu o fazia abaixar causando um baque quando encostava na pedra então derramava para subir novamente como um ciclo.
Me sento ajeitando minhas roupas, coloco o bongo em baixo dos meus pés, pego meu violino, sem a gaita, iria ver como estava minha afinação na voz, já que tinha um tempo em que não cantava usando minhas próprias cordas vocais.
Sagaz – Ultimo capitulo
♪ Está eu e Deus abraçado no meu cubículo ♪
♪ Esperando pelo próximo capítulo ♪
♪ O comodismo é um sonífero ♪
♪ Tipo filtro do instagram no mundo efêmero ♪
♪ Ódio me destruiu, amor regenerou ♪
♪ Sua vida fluiu, quando você acordou ♪
♪ Que nessa terra e só mais uma unidade ♪
♪ O meu paraquedas precisa de humildade ♪
♪ O ser humano hoje e um mecanismo bélico ♪
♪ Pra fazer dinheiro eu tenho que usar o cérebro ♪
♪ Parar com cigarro e também com cartão de crédito ♪
♪ O tempo não para o tempo é rei, o tempo é médico ♪
♪ Depois de fazer bagunça, é tudo no seu lugar ♪
♪ Ou você vai viver na busca sem saber procurar ♪
♪ Observo nessa bússola meu tempo passar ♪
♪ Me trancafiar na cúpula não vai me curar ♪
♪ Hipocrisia foi a primeira colheita ♪
♪ Saiu de casa e passou na roleta ♪
♪ Bateu o ponto com ódio do mundo ♪
♪ Voltou pra casa e amou a família ♪
♪ E que esse mundo é oito ou oitenta ♪
♪ A mesma coisa que te mata é a que te tenta ♪
♪ O importante no final é a diferença ♪
♪ Entre quem não faz e quem tenta ♪
♪ Eu vi o sonho, eu vi o corre ♪
♪ Dormiu na rua, virou a noite ♪
♪ Dormiu na lua, conhece o medo ♪
♪ Conhece o ego, conhece o cego ♪
♪ Mas... ♪
♪ Dessa vez pro futuro eu me entrego ♪
'Minha voz ainda está boa, infelizmente a voz espectral virou um passiva, contanto que eu toque e tente cantar vai sair as duas'
A cerejeira balançou comigo, parecia que tínhamos nos tornado um. O vento cantou junto e o bater do bambu entrou também no ritmo, de alguma forma inexplicável os pássaros estavam no topo cantando.
"Muito bem jovem kobold" -Velhinho com voz amigável
"que, oi? Desde quando você estav... aí..." -Alfaar
Quando me viro pra ver quem era fico chocado, Além de ter um velhinho bem baixo cerca de 1,40 por causa da curvatura de suas costas, tinha outras pessoas também, outras não, todas elas eu acho.
"Fico feliz que tenha gostado desse lugar, me sento todo dia neste banquinho para poder respirar" -Senhorzinho
Não o bastante estar todo mundo ali de joelhos e meditando pelo o que parece, aparentemente eu tava sentado no banco do senhorzinho.
Os únicos que não estavam do mesmo jeito era o velho e o grupo que me contratou.
O velho acariciava sua barba, Virmana me olhava com olhos gentis (totalmente diferente da nossa primeira vez que nos conhecemos) infelizmente estavam inchados por causa de tanto chorar. Os de Diveon estava tão ruim quanto se não mais que o dela parecendo ter dormido pouco. Sobre Castiel e Roxxan? Bem... O deles era o pior, parecia que iam definhar e morrer a qualquer hora. Roxxan me olhava com culpa, como se a culpa fosse minha, Castiel olhava pra mim com culpa, como se a culpa fosse dele.
"Sabe garoto, já vivi muito tempo, vi príncipes e princesas, vi tão bem o bem e vi de forma tão má o mal, Vi condes e viscondes falharem com a própria terra e o seu povo a elevar, mas nunca tinha visto kobold como você, nem se quer bardo algum chegou no que você chegou aqui" -Velho
"Eu poderia desmotivar você dizendo que foi sorte sua, que foi talento ou até mesmo destino, mas é mérito seu, o mundo não é justo, nem nós somos, no entanto se eu puder mudar pelo menos um pouco desse ciclo, eu mudarei" -Velho
"Virmana e Castiel me contaram o que aconteceu, não vou pedir detalhes profundos de seus poderes, mas se puder deixar escrito, alguns outros monstros que você lembra, então ficaria grato" -Velho
"Ah mais uma coisa, sua voz e sua música não são o que você imagina, elas são tão especiais como você e tão instáveis quanto sua alma" -Velho
Logo depois disso pego meus apetrechos e sigo Castiel que me convida para entrar em uma certa sala.
"Sente-se por favor" -Castiel
Me sento e olho toda a sala, simples e minimalista, misturando o xintoísmo e budismo. A mesa era baixa feita para sentar no chão tendo 5 chás posicionados nela. 1 em cada canto da mesa, dois do lado contrario do meu e um chá onde Castiel apontou para me sentar.
Eu sento onde fui indicado, logo chega os outros integrantes, Diveon e Virmana pegam seu chá e sentam no mesmo lado que eu estou, ela na minha direita e ele na minha esquerda, sorte que a mesa tinha espaço suficiente. Castiel olha isso com olhos curiosos e não diz nada, mas Roxxan quando entra bufa ao ver essa cena, fazendo Castiel dar um sorriso amarelo.
Ao ver que me sento, e pareço pronto para escutar Virmana interrompe.
"É sério isso Castiel!? Você me desaponta" -Virmana
"...você mudou Virmana, mas mudou pra melhor. Podem sair" -Castiel
Quando Castiel diz isso as paredes se rasgam, era o que parecia ser ninjas, mas... não era pra ser possível, não tinham ninjas no nosso D&D.
"N-Ninjas?" -Alfaar
Quando digo essas palavras, todos me olham profundamente sem nenhuma exceção.
"Como você sabe disso? Isso nunca escapou daqui estávamos criando a 5 meses, mesmo que alguém vazasse informação não seria tão rápido" -Castiel
"Ah... Entendi. Lembra o livro D&D? Existe o livro chamado Tormenta que continha sobre os ninjas. Vou seguir o que o senhorzinho pediu e escrever todas as anormalidades que lembro" -Alfaar
"..." -Pessoas da mesa
"Cof Cof. Continuando o que eu queria dizer, vim aqui em nome de todos os participantes da nossa equipe, concordem eles ou não" -Castiel
Assim que disse isso se prostrou diante de mim e pediu desculpas e o obrigado, Roxxan entrou em choque e o tenta levantar em quanto ela mesma chora.
"Nos desculpe por termos sidos preconceituosos com você, por desprezarmos suas capacidades. E obrigado, obrigado por ter aceitado mesmo com todas as desavenças que tinham sido criadas no primeiro instante que nos vimos. Obrigado por ter nos ajudado com os bullywugs, sem você lá talvez, se outra pessoa tivesse lá no seu lugar, os resultados não tivessem sido este. E por último, obrigado por trazer um fim digno a quem não merecia sofrer" -Castiel
Suas linhas eram preenchidas por um rosto firme, que tentava segurar o choro, no meio das palavras dele Virmana segura secretamente minha mão, a mão dela era grande comparada com a minha, meus dedos eram pequenos e ásperos, a sua mão não era tão grande, mas tão áspera quanto à minha por conta de intensos treinamentos.
"Não precisa se desculpar e nem agradecer, sempre que precisarem de ajuda podem pedir pra mim, eu sou péssimo com palavras e despedidas, queria ter feito mais, me desculpe. Não precisa se preocupar com questão de recompensa, a minha parte espero que seja dividida para ajudar aqueles que estão lá fora, quero dar uma vida digna para todos" -Alfaar
"Pode ser apenas 20 moedas de aurum, é o suficiente, não insistam por favor, respeitem minha decisão" -Alfaar
Em quanto conversávamos sobre essas formalidades eu escrevia com a minha mão esquerda algumas informações sobre monstros que não deveria ter nesse mundo, de alto até mais baixo nível.
Me despeço de todos e saio da sala, vou andando sozinho para o portão de saída, quando estou no portão aparece Virmana.
"Oi... pode me seguir? Preciso conversar com você..." -Virmana
"Tudo bem, adoraria conversar com você também" -Alfaar
Andamos um pouco até ficarmos sozinhos, ela se deita no gramado olhando para o céu, dá dois tapinhas na grama ao lado dela e pede pra deitar ali também.
Ficamos deitados em silencio por uns 15 minutos, o tempo não passava rápido nem lento, parecia parar e não me importaria se continuasse parado assim.
Depois de um longa troca de silencio começo com as perguntas, pergunto olhando para o rosto dela em quanto a mesma olhava distraída pro céu.
"Porque você foi tão grossa comigo na primeira vez que nos encontramos?" -Castiel
"...Desculpe... Eu sei que não resolve e nem justifica como te tratei, mas meus irmãos foram mortos por kobolds assassinos a mandado de alguém que ainda não descobri, eu consegui matar todos eles me vingando, mas não é o suficiente, preciso achar cada envolvido"
Sua raiva era notável mostrando seus verdadeiros sentimentos.
"Está tudo bem, não me importo, já estou acostumado com isso, se uma hora encontrar algo relacionado eu noticio você, você vai conseguir, não sei se vingança é a melhor opção, no entanto, se deixar seu coração em paz eu ajudarei" -Alfaar
"Obrigado..." -Virmana
Seus olhos se encontram com os meus fazendo-me perder a razão. A alma dela é tão linda... cheia de machucados, de dores, de superações e complexas emoções.
"Alfaar, quem é você? Nunca vi ninguém tão único e excêntrico" -Virmana
"Eu posso contar um passado meu, você escolhe, só que o detalhe é que não poderá saber o título. Vamos lá, 1 ou 2?" -Alfaar
"Aaaa, tudo bem então, deixa eu pensar... já sei, quero a segunda!" – Virmana
"Ok, começa assim: Criado numa família de kobolds serviçais de uma nobre casa Imany, meus pais sempre me ensinaram como se comportar diante a todos, que infelizmente ou felizmente seria desprezado, para não dizer desconhecido. Nunca houve algo em que tivesse destaque, minha inteligência era mediana, a destreza era normal dentro dos meus iguais. desde seus seis anos quando atingi a vida adulta, sabia que por mais que minha espécie vivesse, ou pelo menos era pra viver 140 anos, não se tinham a sorte por diversos fatores, mesmo assim sempre tentei enxergar o lado positivo das coisas, por mais que muitas vezes fosse difícil achar. Com o tempo vim a criar pensamentos de que também merecia ter uma história, eu tinha aceitado que ia viver sendo um vassalo, mas queria que o mundo conhecesse minha vassalagem, até que as escondidas na casa regente toquei secretamente cada instrumento musical, percebendo então a minha paixão, esse era o meu dever. Aos poucos masterizei todos os instrumentos contidos lá dentro, começando surgir até boatos para explicar a música que eu tocava de noite, os boatos diziam de um antigo familiar daquela casa acabou virando um fantasma e a noite tocava música expressando seus sentimentos, mas na verdade era apenas a minha pessoa que manifestava meu espirito lá dentro. Finalmente então resolvi sair escondido de lá, deixando apenas uma carta para os meus pais (agora já falecidos), ninguém além deles notaram minha falta" -Alfaar
"Esse sou eu. Patrice e Glaive que me ajudaram, Patrice me perguntou um dia quando eu estava pra baixo se eu queria ser famoso ou queria ser o melhor no que eu fazia, me fazendo clarear todas as minhas dúvidas, me dedicando totalmente a musica e não no fato de não poder ser visto. E Glaive? Me deu abrigo, um emprego e respeito, comprou meus instrumentos musicais, era difícil por conta do meu tamanho, todos os meus objetos tem que ser personalizados. Resumindo Isso formou o que é o Alfaar Al'ahmar" -Alfaar
"É uma história pequena, mas bela como o seu dono" -Virmana
Virmana se vira totalmente e fica sobre mim, beija minha testa, me olha por mais um tempo, olha pra minha boca e levanta.
"Você é tudo de bom e merece apenas o do bom e do melhor nesse mundo" -Virmana
Ela se levanta rapidamente e já começa andar, aparentemente ela não quer olhar para trás.
"Virmana... Você pensa que sou tudo de bom, mas eu penso o mesmo de você. Poucos vão entender a beleza de um cacto, suas flores são as mais lindas" -Alfaar
"... Isso... Não vale..." -Virmana
Eu tenho certeza. Ela está chorando. Seu coração está ardendo como seu cabelo, mas eu não sou bom o suficiente para ela. Esse amor no meu peito deve ser passageiro, ou assim espero. Ela desaparece em meio as árvores, restando apenas gotas de choro pingadas na grama verde esmeralda.
"Me desculpa Virmana... Eu... tenho medo, quem sabe algum dia quando eu for o melhor, ainda não sou o melhor, esse é meu sonho, desculpa" -Alfaar
O sol estava no meio do céu, o caminho de volta foi triste e muito demorado. O tempo estava me julgando e eu merecia.