Chereads / Assassino de Heróis / Chapter 14 - Capítulo 13 - Não respire

Chapter 14 - Capítulo 13 - Não respire

Chegando a noite, o quarteto de Cicatrizes estava discutindo alguns detalhes, ainda escondidos atrás dos veículos e destroços. Tendo uma boa visão do prédio em que estavam os Ghouls, Ethan era quem estava observando e tentando sentir qualquer energia de singular se movendo ali.

- Se o que está dizendo é verdade, quer dizer que, além de ter envolvimento de algum singular muito poderoso, o ponto fraco dos Ghouls pode ser na nuca? –David pergunta.

- Na verdade, qualquer pessoa comum morre na hora se for na nuca o golpe. – Mary diz enquanto fazia um diagrama na terra com um galho.

- Não banca a espertinha. – David responde, indignado que a resposta era tão clara.

- Minha teoria é de que os Ghouls estão fugindo de um grupo poderoso dos Heróis, e esses cadáveres deles poderiam servir de isca para curiosos, ou então despistar esse tal grupo que os está ameaçando, deixar os corpos à vista para ilustrar que já foram mortos. – Mary diz.

- O que não parece ter funcionado. Se esses que enfrentamos já estavam mortos, então quer dizer que esse tal grupo já tem noção de tudo e talvez só esteja nos provocando, ou então não sabemos a verdadeira extensão do poder de um Ghoul e eles são capazes de controlar os corpos mortos de sua espécie. – Lucy responde dessa vez, forçando bastante sua mente.

- De qualquer forma, o que iremos fazer? Eles não parecem com muita pressa em sair do prédio. – David diz enquanto olhava de relance para o local dito.

- Daniel e Claire deve alimentá-los por um tempinho, eles comem carne humana, mas não parecem comer mais do que um humano normal. – Mary começa a pensar e chega a uma conclusão um pouco estranha. – David, o quanto você consegue congelar estruturas de concreto? Lucy, o quão forte você consegue disparar as balas de sangue?

- Você não tá sugerindo para colocarmos esse prédio abaixo, né? – Lucy pergunta, já esperando que essa realmente fosse a resposta.

- Se forem realmente como estamos pensando, vão mais por seus instintos predatórios, então eles vão ficar enraivecidos se colocarmos o esconderijo deles abaixo. E depois, é só uma questão de dispersar. – Mary diz. Com essas frases, Ethan continua observando escondido, mas guarda suas pistolas já. Lucy e David também parecem que entendem. Apesar de não acharem aquela decisão a melhor, não tinham outras ideias, então decidem ir de acordo.

A ruiva então começa a puxar o sangue que estava nas roupas e rosto de todos ali, e ela mira a bolha formada para o lado direito, onde havia uma rua em linha reta. Lucy dispara a bolha pela rua, abre e fecha a mão e a bolha de sangue vai gastando seu líquido, deixando respingos de sangue por onde passa, ela então aponta o dedo para a esquerda após o líquido ter percorrido metros o suficiente, e, por fim, a bolha entra em uma casa abandonada e explode, espalhando o restante do sangue no local.

- Pronto, dispersei nosso cheiro. – Lucy dizia enquanto ajeitava seu cabelo. – Vamos pôr esse prédio abaixo num momento mais oportuno, os Ghouls estão com vista grossa em nós por agora.

- Não tem ninguém na janela... – Ethan diz, tentando não aparecer por detrás do concreto.

- Ainda é melhor irmos escondidos, venham, esta fábrica abandonada aqui é perfeita para usarmos como esconderijo. – David aponta com o polegar para o local dito, que estava na direção oposta a que Lucy disparou a bolha, não muito longe de onde estavam. Os quatro então confirmam que não estavam sendo observados e seguem se escondendo por escombros até chegar na fábrica. – Se eles por algum motivo forem ali, vamos conseguir escutar.

Chegando ao local, parecia ser um conjunto de construções que formavam uma fábrica de materiais pesados, porém naquele ponto havia somente duas delas de pé ainda. Agora, fora da vista dos Ghouls, os quatro ficam mais relaxados, mas ainda evitando falarem muito alto.

- Vocês não têm problema com dormir em chão duro, não é? – Mary pergunta para David e Lucy. O singular gélido responde que não e olha para a ruiva, que cruza os braços e o olha de volta com uma expressão indignada.

- Jura? Eu dormi numa jaula, meu bem. Com pregos fincados em mim o dia tod- Antes de Lucy terminar de falar, David envolve um de seus braços ao redor de sua amada e faz um cafuné na cabeça dela.

- Claro, claro, oh pobrezinha. Quem que queria uma massagem nos pés enquanto ficava na banheira mesmo? – David debocha da situação. A ruiva fica sem jeito e só aproveita a caricia.

- Depois de um dia cansativo de trabalho, protegendo a vila, eu precisava relaxar, e foi só uma vez. – Lucy tentava se defender, entrando na brincadeira.

- Claro, claro. – David acalma os ânimos de Lucy e Ethan se aproxima, curioso.

- Jaula, pregos? – Ele pergunta para a ruiva, que fica um pouco incerta se conta para o garoto ou não. Lucy chega a olhar para Mary, para ver se podia contar seu passado para um menino pequeno, mas a albina só encolhe os ombros, nem ela sabia responder.

- Ah... Outra hora, Ethan, outra hora. – Lucy tenta contornar a situação.

- Ah... Okay. – Ethan praticamente pede desculpas por ser curioso. Lucy tenta contornar o desconforto dele, mas era evidente que não sabia fazer isso. Ela tenta olhar para Mary e ver se ela sabia o que fazer nessa situação, mas a albina desvia o olhar, já que não fazia ideia.

- Bom, então como faremos a vigilância? Se quiserem eu fico primeiro. – David sugere.

- Ficarei com a parte da madrugada, talvez seja o horário em que eles fiquem mais ativos. – Mary diz.

- Eu... Vou rapidinho averiguar o local. – Lucy diz, adentrando mais na fábrica, para escapar da situação em que estava.

- Melhor aproveitarem para descansar. – David diz para Mary e Ethan e logo em seguida vai para a entrada do local. O singular gélido então ativa seu poder e esfrega as mãos umas nas outras e as estende para os lados, o vapor frio que saía deles começa a rodear a fábrica e não se dispersa, permanece por ali. David então fica de sentinela primeiro. – Se alguém tentar entrar, vai se autocongelar.

Enquanto Lucy e seu namorado faziam a vistoria da fábrica, Ethan e Mary ficam mais a sós. A moça recomenda que o menino durma, mas ele na verdade começa a conversar baixinho com sua mestra.

- Mary, por que não ensina pra Lucy e pro David como sentir a energia de singulares? O Daniel morreu porque não conseguia fazer isso. - Ele pergunta inocentemente. A albina pensa se deveria respondê-lo e, após suspirar, ela sussurra para ele.

- Ethan, veja bem, isso aparentemente é algo que só eu percebi que dava para fazer, eu não posso revelar todos as minhas cartas na manga. Por isso só você sabe dessa técnica. – Mary se senta encostada na parede, e Ethan faz o mesmo logo ao lado dela. – Eu nunca confio cem por cento em alguém. Estamos ajudando Lucy e David, eventualmente eles irão nos ajudar a deter os Heróis, eu aprecio isso, mas... É uma questão de segurança, Ethan, não dá para confiar em todo mundo.

O menino escuta isso e fica um pouco cabisbaixo, pois Mary não conseguia confiar plenamente nem nele mesmo, alguém que tem 2 anos que não saía de perto dela, mas, ele até que entendia, então só pergunta para ela:

- Um dia... Você vai confiar cem por cento em mim? – Ele questiona, encolhendo suas pernas e as abraçando. Mary olha isso e fica muito pensativa, não sabendo o que responder para o menino. De certa forma, ele era a pessoa em quem Mary mais confiava, mesmo que não totalmente.

- É melhor você descansar, Ethan. – Mary diz, levantando-se, e estava para se afastar dele, porém o menino segura na saia dela timidamente, como se estivesse pedindo para que ela pelo menos ficasse ali com ele.

A albina tenta resistir, sua mente dizia para se afastar e deixar ele ser mais independente, mas seu coração dizia outra coisa. Por fim, Mary desacopla a bainha de sua espada da cintura, segura-a na mão e volta a ficar sentada ao lado do menino, que começa a adormecer aos poucos. Quando ele fecha os olhos totalmente, sua cabeça pende para o lado e acaba encostada no ombro da albina, que na hora estava totalmente desconcentrada, olhado para o horizonte com o queixo apoiado na mão.

Logo que ela sente Ethan encostando a cabeça em seu ombro, ela tenta dar um empurrãozinho com o ombro para acordá-lo, mas isso na verdade faz o menino deitar a cabeça no colo de Mary, que agora sim olha, surpresa, e sem saber o que fazer. Ela então só acena negativamente e suspira, pois agora, se tentasse tirá-lo, ele poderia ou acordar ou bater a cabeça no chão, portanto ela permanece como está, servindo de travesseiro.

Mary nota que David e Lucy se aproximam e estavam olhando sorrindo. A ruiva chega a agachar, só para admirar o quão estranhamente fofa era aquela cena. Eles começam a se comunicar por linguagem de sinais.

- "Essa cena vai entrar para a história." – Gesticula Lucy.

- "Não o acorde, ele precisa descansar." – Mary responde da mesma forma.

Lucy então faz um sinal de "ok" e se levanta, ainda sorrindo por ver algo tão fofo. David por último diz em linguagem de sinais para Mary:

- "Babá" – Em seguida dando uma risada silenciosa. Mary o responde somente com uma cara de indignada e um dedo do meio.

_____________

23:30

Agora era Lucy quem estava de guarda. Já tinham decidido a ordem de revezamento, depois dela seria Ethan, que se aproxima da ruiva e já faz o sinal para ela ir descansar. A ruiva olha para o menino e seu olhar era de realmente cansada. Quando ela olha para trás, percebe que David estava encostado em um contêiner, mas ainda acordado, esperando sua amada para poder descansarem juntos. Ela sorri.

- Bobo... – Lucy então apoia a mão no ombro de Ethan e sussurra para ele. – Se algo atacar é só fazer barulho, vamos acordar na hora. – E assim ela vai até David, a ruiva então o convence a entrar no contêiner para ficar mais difícil de serem encontrados caso ocorresse algo, e assim os dois fazem.

Ethan sorri ao ver essa cena e olha para Mary, que estava mais ao lado, encostada na parede, e, pelo visto, ela também estava dormindo, segurando sua katana, como fazia todas as noites. O menino volta sua atenção para a entrada e saca as pistolas, ficando de guarda. Não haviam se passado nem cinco minutos que ele estava ali, e Ethan sente uma energia de singular se aproximando do local, porém, para a surpresa dele, vindo dos fundos da fábrica, e não da entrada.

O garoto vira para trás e observa aquela escuridão enorme, já que a fábrica não tinha mais energia elétrica. O garoto começa a tremer, talvez um misto de frio e medo. Ele suava e quase lacrimejava. Se na luz do dia ele já tinha um trauma de singulares, na noite ele jamais aguentaria, principalmente por agora não saber de onde viria o ataque. Por mais que dissesse que estava pronto várias vezes para Mary, era evidente que isso não era verdade.

Sem pensar muito, ele guarda as armas no coldre e iria logo acordar alguém do grupo, porém, assim que deu um passo a frente, seu olhar se tornou vazio e inexpressivo, como se estivesse sob uma espécie de hipnose. Em sua cabeça, Ethan escutava uma melodia calma e aconchegante, chamando por ele, dizendo que traria conforto para seu sofrimento, que tiraria os traumas e medos de sua mente, enquanto os outros de fora, por estarem dormindo, não escutaram nada.

O menino foi caminhando sem acordar os outros, adentrando mais na fábrica, aquele corredor retilíneo, escuro. Só seria possível ver se alguém fosse de fato um predador selvagem. Por fora, era possível escutar sons de passos bem calmos se aproximando, algo como se fossem gotas caindo no chão, suspiros lentos, como se alguém estivesse com fome. Ethan só ia adentrando mais e mais nessa escuridão rodeada de Ghouls.

Quando percorreu uma distância considerável, uma mão rapidamente surge na frente do rosto do menino e o agarra pela boca. Foi um susto tão grande que Ethan praticamente sai da hipnose, e, em questão de um segundo, outra mão envolve seu braço e tronco, impedindo seu movimento praticamente. Ele então é puxado para o lado, dentro de um cômodo da fábrica que havia no corredor e, dentro desse cômodo, ele é carregado até ficar atrás de um mecanismo enorme e desgastado. O garoto tenta gritar, mas era totalmente abafado, ele nem abrir a boca conseguia, já estava para lacrimejar de desespero e tentava mexer suas pernas para se libertar, até que sentiu uma boca chegando perto de seu ouvido e sussurrando.

- Ethan, sou eu, para de espernear... – Mary diz, e assim que ela fala, o menino parece se acalmar. Ele olha para cima e vê o rosto e olhos verdes inconfundíveis de sua mestra.

- Mary... – Ele tenta falar uma frase com um tom de alivio, mas é interrompido por um sinal de silêncio de Mary. Os dois então escutam os passos dos Ghouls se aproximando, e algumas falas bem sussurradas.

- Se nenhum foi atraído... Então devem estar dormindo, mas que maravilha. – Um rapaz jovem aparentemente diz, dando uma risada sutil logo em seguida.

- Que idiotas... Acharam mesmo que nossa única maneira de entrar era por terra. – Uma moça Ghoul fala dessa vez.

- Ugh... Minhas unhas ainda estão cheias de terra... – Uma voz feminina novamente. Aparentava ser uma garota, e essa voz em específica chama a atenção de Ethan, era a mesma de quem havia tentado devorá-lo na vila dos Cicatrizes há poucos dias, e que por alguma razão, parecia familiar.

A dupla consegue escutar os passos desse pequeno grupo de Ghouls passando perto da porta do cômodo em que estavam e torcendo para que não sentissem o cheiro deles. Mary estava calma, mas Ethan estava quase suando. Eles enfim passam, e os dois podem respirar mais tranquilamente.

O garoto é retomado à atenção por Mary, chegando perto de seu ouvido e dizendo:

- Ethan, presta atenção no que vou dizer, tá? Eu não vou te dar sermão por não me acordar antes, agora não temos tempo, eu vou atrair a atenção deles, e você corre para acordar Lucy e David, diga para eles derrubarem o prédio, entendeu? – Mary diz, calma e serena.

- Mas... E você? – Ethan questiona, preocupado.

- Eu vou alcançar vocês, não confio tanto assim nos dois para tomarem conta de você. Mas faça o que eu disse, e fique perto deles, tá? – A albina responde, e o garoto, com uma certa relutância, talvez por causa do nervosismo, aceita a proposta.