Após apresentado aos Cicatrizes que os iriam acompanhar, Mary e Ethan voltam para treinar. Lá, o garoto demonstra suas habilidades até então com duas pistolas para o grupo. Mesmo sendo uma criança praticamente, ele mostra que era capaz de atirar como ninguém na cidade e, em questão de acrobacias e correr por obstáculos, ele quase se equiparava a Mary, que o grupo já reconhecia como a mais acrobata dentre todos.
Tudo em Ethan era mais do que alguém da idade dele teria, Lucy inclusive chega a perguntar para a albina se não estava sendo demais tudo pelo que o garoto estava passando. Elas conversavam baixo enquanto o menino treinava mais disparos.
- Eu tentei, mas ele decidiu que vai ficar do meu lado, então pelo menos eu quero garantir que ele fique vivo. – Mary diz após Lucy a questionar.
- Talvez a mentalidade dele não esteja pronta para isso, já pensou no que ele pode virar se o criar com uma rotina de esforço e limite constante? – A ruiva devolve.
- Hum, e nós estávamos prontos para o que viria? Me responda se puder, Lucy. – Mary aponta bem no meio do pescoço da singular, onde havia uma enorme cicatriz de corte nele.
- Ngh... Meus traumas não tem a ver com os outros. – Ela abaixa o dedo de Mary e a responde com um tom mais sério. – E nem os seus deveriam, ele não merece ter só porque você teve.
A albina olha por alguns instantes para Ethan e depois volta a olhar para Lucy, falando num tom calmo e um pouco triste.
- Se você tiver outra ideia para alguém que foi abandonado a vida inteira... Ele se traumatiza primeiro, ou eu o traumatizo? Não me faça escolher, Lucy. - Dito isso, a ruiva fica um pouco surpresa e sem o que responder. Era uma situação complicada de pensar, pois não haviam melhores escolhas, somente menos piores.
Ethan, após terminar de disparar, rapidamente recarrega sua pistola e a arma em pouco mais de um segundo. David estava encostado na parede, não parecia tão bravo mais, de certa forma estava mais curioso e pensativo.
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Na mesma tarde, algumas pessoas da cidade gritaram do nada ao passarem andando por um beco. Em pouco tempo, a informação do que havia acontecido foi passando pelos habitantes até chegar em Bruno, que foi averiguar a situação, e é claro que chegou a Ethan e Mary, que foram na direção do ocorrido. Assim que chegaram à local e viram aquele amontoado de pessoas, tentaram passar por elas até chegarem na frente.
Na frente estava Bruno, ajoelhado observando a cena e tentando analisar a situação, logo atrás dele estava David também pensativo, e Lucy estava perto do líder dos Cicatrizes, analisando juntamente dele. Junto deles, uma criança gritava de choro por seu parente. Enquanto algumas pessoas que estavam ao redor ficavam enojadas e algumas até vomitavam, afastando-se dali, Mary e Ethan se aproximam.
- O que aconteceu? – Mary se aproxima e acaba vendo a cena, mas para ela não acabou tendo tanto efeito. Porém, para Ethan foi outra história. Assim que chegou mais perto e viu o acontecimento ele ficou em total estado de choque, arregalando os olhos e dando alguns passos para trás.
Bruno e Lucy estavam analisando um cadáver naquele beco. No chão em volta dele estava cheio de sangue e vísceras. O corpo era de uma mulher, que, pelas roupas que podiam ser vistas, que eram apenas uma calça jeans e um par de botas, dava a entender que se tratava de alguém que ajudava na plantação da cidade. Porém, só era reconhecível a parte de baixo, pois em cima foi a razão de Ethan ter se assustado.
A parte superior estava quase irreconhecível, o rosto estava ensanguentado e com uma expressão de medo total na hora da morte. O tronco estava todo aberto, com a pele, músculos rasgados, faltando órgãos como estômago, pulmões e fígado. Os braços estavam no puro osso quase, sem músculos praticamente, apenas alguns nervos que ficaram de sobra na hora da atrocidade.
Ethan olha aquilo e na hora se lembra de Dex, que tinha poderes que remetiam bastante aos músculos, aquela cena estava lembrando muito o singular. Havia sido sua primeira batalha de verdade, e já nela levou um tiro enorme na mão, viu Mary ser trucidada e ainda teve que usar a mão que menos tinha eficiência para dar um tiro definitivo.
O garoto segura a camiseta de Mary enquanto virava o olhar e ofegava um pouco. Ele olha para sua mestra, que devolve um olhar um pouco mais acolhedor. Por falta de prática a albina não faz carinho nos cabelos dele, mas foi o suficiente para ele pelo menos tentar esquecer o que tinha acontecido. Enquanto ficava se recompondo, a albina se aproxima e agacha ao lado do corpo também.
Bruno apertava sua mão, que brilhava num tom amarelo junto de seus olhos, enquanto Lucy separava em um canto os sangues da vítima e do agressor, ela então coloca o dedo e lambe o sangue do responsável pelo ataque.
- Não foi ninguém dos Cicatrizes. – O líder dizia após suspirar nervoso.
- E também não é ninguém que eu conheça. – Lucy dizia após analisar o liquido vermelho.
- Tem que ter sido um Ghoul. Olha isso, foi esperto, pegou justamente a responsável pela barreira na cidade. – David dizia indignado, andando de um lado para o outro.
- Mas como eles invadiram se... Ah não. – Alex se perguntava antes de tomar consciência da situação. Sendo assim, ela se vira e utiliza seu poder, saindo correndo a uma velocidade incomparável até a entrada da cidade.
- David, ative a barreira de emergência. – Bruno diz para o singular gélido. Dito e feito, David vai até o centro da cidade ligar um aparelho, no caminho ele apenas agradecia pelos poderes de demônio de seu líder, que também o permitia guardar a essência de poderes de singulares com que ele já formou pacto em objetos. E, assim, uma barreira igual à anterior se ergue na cidade dos Cicatrizes.
- Se essa for desfeita já era... – David fica um pouco preocupado enquanto observava a barreira novamente se formando e, após cobrir a cidade, ela fica transparente.
- Então isso é obra de um deles. – Mary analisava o corpo devorado da pessoa.
- Com certeza não foi apenas um, tem que ter sido pelo menos dois, seria muito difícil ele chegar na cidade e Charlie não ter me avisado. – Bruno dizia, referindo-se à pessoa morta.
- E quem está de vigia neste horário? – Mary questiona.
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Alex chega na entrada da cidade e, como ela já temia, ela encontra outro corpo, dessa vez um rapaz, alto e magro, com uma camiseta branca, jeans e botas. Diferentemente de Charlie, ele não estava com o corpo devorado, e sim apenas o rosto, que estava somente no osso. Aquilo parecia um ataque em sincronia, primeiro eliminaram rapidamente o vigia da cidade para depois trucidar a singular responsável pela barreira.
- Merda... – Alex olha em volta, pega o corpo de Gary nos braços e volta correndo para a cidade com seu poder.
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- Bruno, rápido, envia alguém para a entrada. – Alex chega, assustando quase todos que estavam presentes, já que ela chegou com mais um cadáver. Algumas pessoas em volta vomitaram e outras saíram dali porque estavam enojados com a cena.
- O quê? – O líder se vira e vê que mais um Cicatriz havia morrido por causa desse novo grupo de singulares canibais. Ele fica ainda mais sério, pensa por alguns segundos e se levanta, os olhos dele brilham em amarelo e, em seguida, duas pessoas que estavam no meio da multidão, uma mulher alta e parruda, e um rapaz mais baixo e magro saem correndo na direção da entrada da cidade. – Não podemos mais evitar confronto neste momento, me encontrem em minha casa pela final da tarde.
Os olhos dele brilham novamente, parecia estar contactando algumas pessoas, e quem levanta a cabeça para isso são: Mary, David, Lucy, Alex e Mike. Todos esses acenam positivamente.
- Vou verificar se há mais alguém na cidade. – Alex diz antes de começar a correr com sua super-velocidade pela cidade. Enquanto isso, David e Lucy foram ajudar Bruno com os corpos, levando-os para outro lugar da cidade.
Mary olha em volta, mas, por algum motivo, não consegue achar o garoto, chamando por ele.
- Ethan? Ethan, Ethan! – Ela fica um pouco preocupada, até que sente uma energia estranha atrás dela e, ao se virar, conseguiu sentir essa energia vindo de um beco entre duas casas.
- Huhum... Olhe esse rostinho bonito. – Uma voz feminina com um tom sádico dizia isso, enquanto em sua frente estava Ethan, com um olhar estranho, como se estivesse sob uma espécie de transe. A garota estranha segurava o rosto do menino com as duas mãos, alisando a face dele com unhas compridas e afiadas, inclusive chegando a cortar bem lentamente o rosto dele. – Você é um menino tão bonitinho, inocente, gostou do meu canto? Qual será o seu sabor...?
Ela era do mesmo tamanho de Ethan, tinha um corpo magro e um cabelo longo, liso e preto, lábios carnudos e bem avermelhados, assim como seus olhos, que eram escarlates com as pupilas verticais como as de um predador selvagem. Junto disso, ela usava uma espécie de vestido bem simples, como se fosse um disfarce. E agora, ela abria sua boca lentamente, que conseguia abrir muito mais que a de um humano convencional, e, com os caninos bem pontiagudos, estava para devorar Ethan.
Mas, antes que uma tragédia ocorresse, essa menina recebeu a ponta de uma lâmina em seu ombro, vindo de cima, atravessando todo seu corpo até chegar ao chão. A garota fica em choque e grunhe um pouco de dor, acabando por soltar Ethan. Assim que ela virou o rosto, viu um par de olhos esverdeados e brilhantes, junto de um cabelo branco inesquecível. Mary retira rapidamente sua katana do corpo dela, agarra a garota pelos cabelos, se posiciona na frente da mulher e com uma força um pouco anormal até para um humano, arremessa a Ghoul, fazendo-a sair daquele beco.
Ethan não parecia sair daquele transe, Mary tenta estalar algumas vezes os dedos na frente dele, até que ela dá um tapa com as costas da mão no rosto dele, enfim o acordando, bastante confuso. Parecia mais aliviada, mas a albina voltou a ficar em posição de ataque quando percebeu que a Ghoul que ela arremessou, começou a se levantar, e quando olhou para o ombro ferido dela, estava totalmente fechado, sem sequer cicatrizes.
- Regeneração, eu odeio essa habilidade. – Mary diz, enquanto guardava a katana e sacava uma faca militar de seus shorts embaixo da saia. A garota de cabelos pretos levanta seu olhar sádico com um sorriso enorme e, como Mary imaginava, ela salta na direção dela com uma força de impulso anormal.
A albina faz a mesma coisa, quase rachando o chão em que se impulsionou, talvez tivesse algo haver com suas botas ela ter essa força nas pernas. Enfim, ela, assim que salta, joga a faca na direção da Ghoul, que desvia facilmente inclinando o rosto para o lado. Ela saca suas garras e tenta dar um corte horizontal no rosto de Mary, que com seu braço direito, o que tinha a luva com braçadeira, segura o pulso da Ghoul.
A albina percebe logo de cara que a força de sua adversária era muito maior que a de um humano, mesmo que ela tivesse um corpo magro sem indícios de treinamento pesado. Ficou um pouco difícil dela segurar por muito tempo o pulso dela e, logo em seguida, a menina tentou outro corte violento com a outra mão. Mary teve de se abaixar para desviar do golpe, que passou raspando por sua cabeça e retirou alguns fios de cabelo.
Nessa abaixada, a Ghoul olhou para frente em vez de para baixo, pois algo lhe chamou a atenção, Ethan estava com uma de suas pistolas miradas para ela. Mesmo que com uma certa hesitação, ele dispara um projétil que acerta bem no meio do rosto da mulher, abrindo um buraco em seu nariz. Ela leva um baque pelo tiro e vai para trás, Mary aproveita-se dessa brecha para soltar o pulso da Ghoul, girar seu corpo e dar um chute com o calcanhar no queixo da moça, quebrando-o e fazendo-a girar até cair no chão.
Mike se aproximava porque tinha escutado o tiro, estranhando ao ver uma moça estirada no chão e sangrando com uma expressão de morte.
- É uma Ghoul. – Mary diz antes do rapaz questionar algo.
- E como que não notamos antes? – Mike pergunta enquanto se abaixava e analisava um pouco o corpo da garota.
- Ela atraiu Ethan o deixando em transe de alguma forma, lembra do que aconteceu? – A albina pergunta para o menino, que guardava sua pistola e se aproximava, olhando para sua mestra.
- B-bom, eu lembro de ter escutado ela cantando, e... Daí eu acordei aqui nesse beco. – Ethan diz, muito confuso ainda, Mike se levanta e diz.
- Não façam tanto barulho assim, os moradores ficaram assust- - Antes de completar sua frase, Mary o interrompeu com um grito e puxando sua camiseta.
- Cuidado! – Ela o tira de algo que veio de cima, que aterrissou no chão de maneira bestial. Era um rapaz, dessa vez de olhos negros, aparentemente outro Ghoul. Ele era magro também, tinha um cabelo moicano castanho e usava roupas punks, como correntes, piercings, calça jeans rasgada e regata.
Mike ainda estava um pouco assustado, sem saber exatamente o que fazer, Mary se preparava para sacar sua katana e Ethan suas pistolas. O rapaz Ghoul pegou a menina nos braços. Os três percebiam que os ferimentos dela, como nariz e mandíbula quebrados, estavam regenerados já, e ela estava para acordar.
Porém, antes mesmo de algum deles reagir, o homem Ghoul saltou para o lado mais rapidamente do que se esperava, sumindo da vista dos três ao entrar em outro beco entre duas casas ali perto e, quando Mary foi correndo verificar, viu o Ghoul atravessando a barreira da cidade, pois, assim que ele passou, uma pequena deformação no ar era vista, o que era surpreendente, porque a barreira estava um pouco longe de onde eles estavam.
- Ei! Volta aqui! – Alex surge do nada ao lado dos três e tenta sair correndo atrás do Ghoul, só não foi porque Mike segurou no ombro dela e a moça ficou mexendo os pés no ar. – Mike!
- Não vale a pena, eles podem ser apenas distração. – Mary dizia enquanto olhava para onde o Ghoul havia corrido e pensava. – Um grupo de singulares com os mesmos tipos de poderes... Vamos, temos uma reunião com o Bruno.