10:00 A.M
Passado um tempo de viagem, a equipe de reconhecimento então é vista no alto de morros, já afastados da vila dos Cicatrizes. Lucy e David estavam na moto ainda, observando o horizonte, enquanto Daniel estava ajoelhado no capô do carro, analisando o território à frente.
Na paisagem à frente deles havia diferentes localidades, ruínas de uma cidade, sendo possível ver nelas árvores enormes passando pelos prédios. Além disso, juntamente do cemitério de concreto, plantas estavam crescendo em todo canto. Ao lado das ruínas havia um imenso deserto, com apenas alguns pedaços de construções aparecendo por estarem enterrados na areia.
Do outro lado o cenário destruído ficava menos aparente, os prédios e casas estavam mais preservados, mas ainda continuavam com aparência decadente. Não parecia que viviam pessoas ali, pois não havia sequer movimentos nas construções. Outra coisa que se destacava era que toda essa cidade em ruínas era cercada por muralhas, que, mesmo já rachadas, só tinha uma entrada.
Ethan reconhece a área tomada por árvores e plantas. Era onde ele e Mary estavam passando um tempo e treinando, e também foi próximo dali que os dois enfrentaram Dex e quase morreram porque ela precisava proteger o menor. Culpando-se um pouco por isso, ele olha para a albina, que não demonstra muita decepção no olhar, já que ela mesma não podia culpar Ethan, ele era uma criança ainda.
Quando foi reparar nos outros membros da equipe, notou que as expressões deles tinham uma certa tristeza e culpa no olhar. O menino não sabia exatamente o porquê.
- Foi aqui perto, não é, Claire? – Daniel dizia para sua companheira logo ao seu lado.
- Foi... Naquela época eu não tinha ideia que singulares podiam causar tanto estrago. – A morena responde com um olhar mais entristecido.
- Esses poderes... Quase varreram o mundo, levaram milhões de vidas, e nenhum poder até hoje foi capaz de reverter isso. – Lucy diz com o olhar cabisbaixo, o que faz todos ali olharem para ela. A ruiva corta seu dedo com a unha e faz o pouco sangue que sai levitar. – Por que isso apareceu para os humanos em primeiro lugar? Era óbvio o resultado... É legal utilizar essas habilidades, mas parece uma maldição que hoje em dia você precisa ter para sobreviver.
David acaricia o rosto de sua namorada e em seguida seus cabelos, tentando acalmá-la. Mary, com essas palavras, lembra-se de como tudo que ela não conseguiu salvar em sua vida foi por causa de singulares muito mais poderosos, com habilidades num patamar muito maior que o da albina. Após isso ela olha para frente, observando novamente a paisagem.
Ethan também se lembra de que sua vida só estava assim por causa de seu poder, uma habilidade aparentemente única, que até mesmo poderia ser uma arma antissingular. Porém, com testes após testes se mostrando ineficientes para ele liberar o poder, junto ao desânimo do menino em querer melhorar, só garantiram para ele servir de moeda de troca e acabar em locais como os que Mary o encontrou.
- Esses "Ghouls", eles podem ter comido alguém da vila, é algo imperdoável de fato. Mas honestamente eu não acho que eles escolheram ter esse tipo de poder. – Mary dizia enquanto colocava sua máscara de tecido no rosto novamente e olhando para Lucy sutilmente. – O que se faz quando só quer viver e não tem escolha?
-... – A ruiva não sabia o que responder.
- É, é cruel essa realidade... – A albina responde por ela, e em seguida os ventos balançam os cabelos de todos ali, enquanto Ethan observava sua mestra, intrigado. O olhar dela lembrava alguém cansado mentalmente, mas ainda de pé. – Não que eu goste da realidade...
- Mas tem algo incrível nisso tudo, até em uma situação assim, as pessoas conseguem encontrar amor e um lugar para chamar de seu. – Daniel diz, sorrindo por trás daquela franja enorme que cobria metade de seu rosto, em seguida, Claire sorri também e os dois batem os punhos. Lucy fica um pouco mais feliz com a fala de Daniel e até abraça David, que obviamente havia entendido o significado da frase.
Ethan também dá um sorriso sutil e em seguida olha para Mary, que, dentre todos, era a única que parecia demonstrar um olhar de tristeza, porém ficava um pouco difícil de distinguir por causa de sua máscara. O menino tentava, mas não conseguia entender o que se passava na mente de sua mestra.
- É... Eu concordo. – A Assassina de Heróis diz.
Terminado a discussão, os singulares voltam para seus veículos e descem o morro em direção às ruínas. Enquanto o grupo andava pelos destroços, eles observavam em volta e aquela região em especifica era bem quieta.
- Eles estavam por aqui? Como não nos atacaram? – Ethan questiona, pois, ele e Mary estiveram ali não tinha muito tempo.
- Eu sempre estava de vigia. E também, vai saber, talvez eles sempre se mudem para buscar alimento como qualquer predador. – Mary responde.
Claire, ouvindo isso, começa a anotar numa caderneta, aproveitando que não era ela dirigindo.
- Se for assim então é mais lógico eles andarem em grupo, como se fossem uma alcateia. – David sugere. – O que quer dizer que aquela região ao leste de nós está ficando escassa de humanos, então estão pretendendo ficar mais próximos da nossa vila.
- E se... Aquele "ataque" que sofremos dentro da vila fosse apenas um reconhecimento? – Diz Daniel no comunicador.
- Então quer dizer que eles já estão se preparando para movimentar um ataque em grupo... – Mary diz a cartada final para todos ficarem assustados. – Se for verdade o que estamos pensando, vamos ter que matar todos.
- Acha mesmo que eles vão vir todos para cima de nós? – Lucy questiona.
- Você lembra, não é, Mike? – Mary diz, e Mike recebe a mensagem mentalmente por todos os integrantes ali estarem ligados espiritualmente.
- Sim, aquele Ghoul protegendo a semelhante dele e ainda levando-a para longe de nós. Aliás, eu recomendo pararem e irem a pé a partir daqui, estão chegando perto, é naquele prédio. – Mike dizia enquanto estava em sua casa, que também era simples, como a maioria na vila dos Cicatrizes. Ele visualizava um mapa holográfico proveniente de seu poder, na mesa de centro da casa.
- Mas isso é garantia que todos vão agir assim? – Ethan pergunta dessa vez.
- Eu diria para vocês se dividirem, assim vocês podem encurralar eles melhor. – Mike responde. Enquanto ele analisava o mapa, Alex chega bem rápido ao lado dele e entrega uma lata de energético para ele. – Ah, valeu. E também eu acho que vale a tentativa, o Bruno e a Alex estão prontos para agir se algum se aproximar.
- Então só temos que garantir que eles virem o foco para nós. Mike, consegue indicar quantos mais ou menos têm? – David pergunta enquanto todos paravam os veículos e se ajeitavam para ir em direção ao prédio em questão, que parecia ser um empresarial de tão grande, porém abandonado e partido ao meio simetricamente.
- Consigo ver vários perto da Ghoul, vocês não vão gostar, mas tem bastante até onde eu consigo captar. Não sei quantos exatamente, mas tem bastante. – Mike diz, ficando um pouco apreensivo.
Neste momento, Mary fecha os olhos e, enquanto todos discutiam abordagens, ela se concentra. Assim que ela abre os olhos, a albina não parecia muito animada.
- Tem nos destroços perto do prédio também. – Mary diz para todos, que viram seus olhares para ela, assustados. A singular aponta para os estabelecimentos e casas em ruínas, e todos também olham em seguida. – Com certeza eles colocaram alguns Ghouls para ficar de guarda e alertar a tempo os outros.
- Então vamos ter que entrar na surdina. – Lucy diz. O grupo então começa a se organizar para adentrar no território dos Ghouls.
A dupla que vai atacar de longe será Lucy e Daniel, pois Ethan ainda não sabia utilizar armas como rifles de maneira eficiente, muito por conta de ele ainda ser novo. O garoto ficaria junto de Claire, e fariam a retaguarda da dupla principal, composta por Mary e David, que no começo se olharam um pouco relutantes, mas só reviraram os olhos e aceitaram a decisão do grupo.
Daniel pega seu rifle e na frente de seu olho surge algo semelhante a uma mira holográfica, já Lucy corta a palma de sua mão com a unha e começa a levitar seu sangue. Claire começa a mexer os dedos da mão e as seis adagas que ela trouxe começam a flutuar em volta dela, enquanto Ethan deixa suas pistolas carregadas. Por fim, os braços de David começam a ficar mais pálidos e com um ar gelado em volta. Mary apenas estrala seu pescoço e ombros e saca sua katana, para enfim os seis irem em direção ao prédio.
- O que sabemos sobre os Ghouls até agora? - Mary pergunta, recapitulando tudo.
- Comem carne humana. – Lucy diz.
- Mais fortes e ágeis que humanos. – David em seguida.
- Dentes e unhas afiados, parecem presas. – Ethan logo depois.
- E se regeneram, mas se for na cabeça pode ser que os desoriente um pouco. – Mary finaliza, suspirando porquê de novo teria que lidar com seres que podiam se reconstruir.
Daniel se posiciona atrás de um carro destruído, mirando seu rifle, e seu olho com mira holográfica pisca, logo tomando uma cor azulada. Agora ele conseguia ver melhor no escuro, para poder identificar algo no prédio ou nas proximidades. Lucy recebe um impulso de Mary, que somente com seu braço direito, o qual era coberto pela munhequeira e ombreira, consegue impulsionar Lucy o suficiente para ela subir em um sobrado destruído. A ruiva então se posiciona ajoelhada na beirada e levitando seu sangue na ponta de seu dedo como se fosse uma arma também.
Ethan e Claire correm um pouco e se posicionam atrás de alguns destroços, o garoto suava nervoso e seus batimentos estavam mais que acelerados, o único novato ali. Claire começa a levitar suas adagas prontas para atacar. Na verdade, todos tinham um certo nervosismo no olhar, até mesmo Mary, porém ela não deixava visível isso.
A albina e David então vão na frente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Os dois encostam na parede do estabelecimento próximo e olham com cuidado pela vitrine quebrada do local.
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Enquanto isso acontecia, nos andares mais altos do prédio, um Ghoul observava tudo encostado perto da beirada, porém ele fica mais intrigado com outra coisa, e não o grupo dos Cicatrizes.
- O quê? Mas como...? – A voz masculina diz e então volta para dentro, aparentemente um pouco amedrontado. E o que ele estava vendo aparentemente eram apenas alguns Ghouls lá embaixo nos terraços dos estabelecimentos em ruínas, andando silenciosamente para tentar pegar o grupo.
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Mary e David conseguem ver que aquela era uma antiga loja de conveniência por causa das prateleiras e refrigeradores. Os dois conseguem ver uma silhueta escura, parecia ser uma feminina por causa do corpo e cabelos compridos. Ambos os singulares se olham e começam a armar um plano apenas com sinais de mão. Pelo que foi possível entender, David iria atrair a atenção da Ghoul e assim que ela viesse, Mary iria neutralizá-la.
Por último, a albina dá um sinal de mão para Ethan, que, pelo que ambos tinham praticado, significava "verifique ao redor". O garoto entende e fecha os olhos, concentrando-se o máximo que conseguia para sentir a energia de qualquer singular em volta. Aparentemente aquilo era algo que somente Mary e Ethan sabiam fazer, pois Claire fica um pouco confusa sobre o que os dois estavam fazendo.
- Ei, Lucy, consegue ver? – Daniel dizia no comunicador enquanto mirava seu rifle com silenciador na direção dos terraços.
- Sim, quer que eu ajude? – Ela responde enquanto também mirava o dedo em que na ponta estava a bolha de sangue flutuando.
- Não estou vendo nenhum movimento no prédio... Só estou achando a forma de se mover daqueles Ghouls bem estranha. – Ele diz enquanto via aqueles seres nos terraços dos estabelecimentos andando de forma um pouco esquisita, mas ele logo ignora esse fator e dispara dois projéteis que acertam na cabeça dos dois Ghouls que estavam chegando perto de Mary e David.
- Boa... – Lucy parabeniza Daniel, que até sorriria para se gabar, porém percebe novamente algo estranho.
Ele aumenta o zoom de sua mira no olho e consegue ver que, mesmo que aqueles Ghouls que havia acertado tivessem levado tiros na cabeça, eles sequer caíram ou fizeram algum som de dor. Quando prestou mais atenção, conseguiu perceber que os canibais estavam se movendo de forma muito bizarra até para o padrão de um Ghoul, como se estivessem um pouco travados.
- Gente, tem algo estranho. – Daniel diz no comunicador para todos, que ouvem e ficam apreensivos.
- Estranho já é esse mundo. – Claire devolve para ele.
- É sério, tem algo que não sei nem se é comportamento de Ghoul. – O atirador responde.
Nesse momento, Ethan consegue perceber algo, e a energia que ele sentiu era grande o suficiente para até mesmo Mary, que sentiu resquícios mesmo estando afastada. Os dois se viram na direção dos telhados em que a ruiva e o atirador estavam.
- Lucy, Daniel! – Ambos, que sentiram aquela energia, viram-se e gritam para eles.
Porém, assim que escutaram os gritos de aviso, não tiveram tempo nem mesmo de virar-se para trás, pois ambos receberam um baque por trás junto de uma dor tremenda em suas costas enquanto viam respingos de sangue em suas frentes. Assim que entenderam que haviam sido atingidos, Lucy e Daniel gritaram de dor por seus peitos terem sido atravessados por mãos com garras afiadas.
Enquanto o sangue derramava no chão, o restante de seus companheiros olhava aquela cena e ficavam extremamente chocados, com uma certa carga de temor no olhar. David e Claire gritam por seus entes queridos e correm na direção deles enquanto Ethan ficava tão aterrorizado que tremia suas pernas e caía no chão em choque.
Assim que David saiu correndo para tentar alcançar Lucy, a silhueta dentro da loja destruída se virou para eles e, tão rápida quanto se virou, pegou impulso e saltou na direção do singular gélido de maneira tão brutal que até rachou o chão que usou de base. David olhou para trás e viu uma mulher com a boca aberta em sua direção, os dentes caninos afiados e garras em suas mãos, porém, curiosamente, ela não rugia e até tinha um olhar um pouco vazio, parecendo morto.
Antes que fosse mordido fatalmente no pescoço, Mary chegou rapidamente ao lado do singular e cravou sua katana na boca da Ghoul, perfurando desde a entrada até o outro lado, na nuca e ainda movendo a espada para o lado, rasgando totalmente a boca dela. Enquanto isso, Claire tentava desesperadamente lançar suas adagas com força total de sua telecinese na direção do Ghoul que perfurou Daniel.
Entre os dois singulares afetados, Lucy era a única que parecia continuar consciente e tentando se libertar, pois os Ghouls os agarraram e iriam tentar devora-los. Quando olhou para Daniel e tentou chama-lo, só conseguia ver o atirador com um olhar vazio e sua arma no chão, seus braços não tinham força para isso mais, e, antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma mandíbula afiada cravou no ombro do singular e arrancou um pedaço dele. O Ghoul então engole aquele pedaço e, assim como a que atacou David, sequer emitia algum som e parecia travado até para comer carne.
Lucy, vendo aquilo, exibe uma expressão de puro ódio. O sangue que saía de sua boca e manchava seus dentes, além do que saía de seu peito atravessado, começam a ferver devido à sua adrenalina, porém a um ponto que saía vapor de tão quente, junto disso, suas veias ficavam mais saltadas e sua pele mais avermelhada. A ruiva então, antes de ser abocanhada, consegue sair do agarro do Ghoul na pura força, mesmo que isso tenha feito o buraco em seu peito piorar
Ignorando o ferimento, que para qualquer um seria fatal, pois era possível ver os ossos quebrados de suas costelas junto de seu pulmão perfurado, Lucy se virou para o Ghoul e saltou para cima dele sem remorso, este que tentou atacar com suas garras, novamente, com um padrão esquisito de movimento, um pouco travado. Enquanto ia na direção do canibal, Lucy parecia tão mais ágil, que conseguiu desviar facilmente do golpe de garra do Ghoul e ainda sacou sua faca, cortando o peito dele bem no lugar do coração.
Assim que se levantaram novamente, Lucy não se importou de levar uma garrada bem no rosto, pois isso permitiu a ela enfiar sua mão com tudo no corte feito no peito do Ghoul e agarrar seu coração. A ruiva então começou a gritar de raiva, utilizando seu poder de maneira como nunca antes havia feito, os membros do ser começam a tremer sem parar, junto da cabeça, até que chega um momento que o sangue circulando era tão intenso que simplesmente explode todas as extremidades daquele Ghoul, voando sangue e ossos para os lados, inclusive no rosto de Lucy, que demonstrava um olhar totalmente revoltado.
- Lucy... – David diz enquanto a olhava, preocupado.