Quanto tempo faz desde que cheguei aqui? Para mim, faz muito tempo. Não imaginava o tamanho do tédio de um bebê. Todos os meus dias são pacíficos, nada interessante aconteceu. Mas nunca imaginei o tamanho da humilhação que eu passo todo santo dia: é a hora de fazer minhas necessidades. Um anjo não precisa fazer tal coisa, mas um humano sim; agora eu sou uma humana, porém é mais humilhante quando você é um bebê. As empregadas que cuidam de mim, olham em minhas partes íntimas.
Uma vez eu fiz cocô e uma das empregadas disse o seguinte: "Minha nossa! Como uma bebezinha pode ser tão fedida assim? ", uma mistura de vergonha e raiva emanava de mim. E ainda ousou colocar um pano na cara para não sentir o meu fedor. Nunca imaginei que seria tão difícil, essa foi a primeira vez que desejei morrer.
Entra dia, sai dia, os mesmos tédios se repetem. Isso tudo, é tão ridículo! Este mundo está chato.
É tão difícil ser um bebê, dá até vontade de chorar. Não acontece nada nessa droga! Minha vida como nenê é pacífica demais, precisava ser mais agitada. Cada minuto que passa, mais eu enlouqueço e o pior, é que nem dá para fazer minha missão, pois eu sou um bebê inútil, que nem sabe se trocar direito! Mas hoje finalmente vai acontecer algo, eu poderei sair deste horrível quarto e ter um passeio de carrinho AUA! Grande dia meus amigos, grande dia!
Graças a quem? Minha maravilhosa babá Verônica. Ela é uma criatura muito gentil, gosto muito dela. Ela disse para uma das assistentes que é bom, o bebê pudesse sair para passear e assim ela fez.
Ela me arrumou gentilmente e colocou no carrinho de bebê. Ela e mais uma assistente foram juntos aproveitar esse belo passeio. Era um dia tranquilo, como todos os outros dias. Um belo dia, sem nenhuma nuvem no céu, eu finalmente pude respirar ar fresco. O jardim não era tão belo quanto os jardins do Céu, mas dava para o gasto. Lá tinha várias flores, desde peônias até violetas.
"Não é bonito Princesa?", disse Verônica para mim, apenas pude responder com pequenos gemidos.
Uma borboleta azul pousou em minha face, fazendo cócegas. Mas quando eu fui me mexer para rir ela voou. Dava-se para ouvir as canções que os percevejos faziam — eu realmente gostava daquele som, porém fazia tempo desde que eu ouvi pela última vez.
O passeio foi agradável, até eu ver uma aristocrata vindo em minha direção. Ela usava longos vestidos bonitos, cheio de jóias enfeitando no seu pescoço. Ela tinha uma feição gentil, porém eu não gostei dela. Tinha algo me incomodando em relação a ela.
"Meu Deus Verônica!" Quando Natália — uma das assistentes de Verônica — percebeu a aproximação dessa mulher, ela ficou estranhamente mais agitada. Como se estivesse com medo daquela pessoa. Ainda eufórica, ela revelou algo surpreendente. "É a Imperatriz! O que faremos?"
Imperatriz!?! O que significa isso! Minha mãe Maxine é a imperatriz! Era impossível a minha mãe ter mentido para mim! E eu escutei atentamente o que ela dizia. Até outrora eu ouvi a Verônica se referindo a minha mãe como imperatriz. Não me diga que... ah seu safado cafajeste, já encontrou outra não é?
Não quero pensar mais sobre isto! Agora eu fiquei mal-humorado com essa história de Imperatriz.
"Acalme-se Natália." tranquilizou-a.
"O que faremos? " disse com uma cara agoniante.
Por que diz como se nós tivéssemos fazendo uma coisa errada? O que eu saiba, este é o meu Palácio, logo, meu jardim. Ou seja, nós não estamos fazendo nada de errado.
Talvez esse não seja o motivo porque Natália está tão preocupada. Essa mulher não deve gostar de mim — o que faz sentido, tendo em vista que eu sou a filha da antiga mulher do marido dela — por conta disso minha existência deve ser um aborrecimento.
"Age normalmente. Deixe comigo."
Natália assentiu com uma expressão ainda manhosa.
Quando essa feia chegou, tanto Verônica quanto Natália saudaram.
"É uma surpresa encontrarmos a imperatriz ".
"Pensei que este Palácio não tinha nenhum habitante" ela me olhava como se fosse um inseto. Escondendo este rosto atrás de um leque. "mas vejo que eu estava errada."
"Este Palácio está servindo como morada da Princesa." fiquei impressionada como Verônica manteve neutralidade em seu rosto ao dizer isto. Sua voz era firme, demonstrando nenhum tipo de fraqueza ou hesitante.
"Princesa?" perguntou com algum tipo de carranca."Pensei que a Princesa havia morrido."
Percebi que Natália olhava para Verônica como se estivesse com dor de barriga. Enquanto Veronica apenas ficava com uma expressão de neutralidade, beirando sob uma faceta de confiança.
"Não, Vossa Majestade" respondeu-a como se soprasse tais palavras. "A Sua Alteza, a Princesa, sobreviveu. Desde então, estamos cuidando-lhe."
"É estranho." respondeu sem dar uma explicação sobre o que essa feiosa acha que é estranho.
"O que seria estranho, Vossa Majestade?" perguntou cautelosamente Verônica.
"Desde que ela nasceu nunca escutei sobre ela. Nem mesmo escutei algo desmentindo o fato dela estar morta."
Sou uma princesa abandonada, espera o quê, sua tribufu? Poucos sabem de minha pequena existência, nem mesmo seria algo interessante de se saber. Apenas sou como uma boneca deixando de lado em uma velha prateleira apenas pegando poeira.
Verônica deu um olhar para Natália, como que fosse óbvio o motivo sobre o desconhecimento de minha existência. Elas ficaram, de certa forma, espantadas?
"Vossa Majestade, lembra-se da ordem do Imperador? "
Hum? Que ordem é essa? Queria ter uma boca para perguntar — não é como se eu não tivesse uma boca, mas queria ter a capacidade de falar como uma humana normal. Mas atualmente sou só uma espectadora que não é capaz de fazer uma simples pergunta para saciar minha dúvida.
Bem, espero que elas falem alguma coisa dessa tal "ordem", se não, ficarei na curiosidade.
Quando Verônica terminou de perguntar-lhe, a tribufu saiu momentaneamente de sua postura indiferente. Provavelmente a expressão que ela fez, era como se estivesse lembrando de algo que não deveria ter esquecido.
" Ah! " exclamou desviando o olhar.
Seus olhos se voltaram para mim. Não havia nenhum pingo de emoção em suas pupilas, apenas me fitava sensatamente. Eram olhos frio que de início me assustou, pois ninguém havia me olhado dessa maneira. Por conta que ela não demonstra nenhuma emoção, era um pouco difícil de lê-la, mas eu consegui rastrear um pouco de raiva na maneira em que me olhava.
Ela não gosta de mim, nem eu gosto dela. Mesmo ela sendo alguém que goste de mim, ainda sim, eu a consideraria ela como uma inimiga! Ela é minha rival e a mulher que usurpou o lugar de minha mãe. Como eu poderia me dar bem com essa daí?
Olhando bem para ela — Grrrr odeio admitir, mas ela até que é bonita. Claro que ela não chega aos pés da deusa Maxine! Entretanto sua beleza é alguma coisa.
Ela tinha uma aparência jovem, até mais jovem do que minha mãe. No entanto, ela tinha um ar mais elegante, enquanto Max uma aura mais selvagem. Vamos assim dizer.
Ela usava seu cabelo amarrado, no entanto não era um rabo de cavalo, mas uma espécie de coque muito bem firme. Também tinha uma franja lateral para direita que deixava-a com um ar peculiar. Seus cílios eram longos e negros, bem diferente da cor ouro de seu cabelo. Mas uma coisa que eu achei bonito nela, foi sua pinta debaixo de seus cílios. Aquilo trazia um charme interessante.
Droga! Falei demais sobre essa mulherzinha! Maxine é mil vezes mais bonita!
"Hum." disse enquanto pegava um lenço. "Que cheiro é este? "
Cheiro? Do que você está falan — não, não, não, nãoooo, por favor, por que isto tinha que ter acontecido comigo!? Justo agora! Justo agora!
"Oh, parece que a Princesa fez cocô." avisou Natália.
"Tem razão."
"Já irei ir. Antes que me dê dor de cabeça."
"Como desejar, Vossa Majestade "
O que você quis dizer: antes que me dê dor de cabeça? Está me dizendo que meu cheiro dá dor de cabeça. Argh sua... sua titica de galinha! Vai ver se eu estou na esquina!
Quero chorar, sinceramente hoje é o pior dia da minha vida. Nunca passei com tanta humilhação como hoje. Por que isto tinha que me acontecer, bem na hora que essa feiosa estava aqui. Buáááá!!!!
"Princesa," ela me deixa chorar um pouco "você foi incrível! "
Hã? O que quer dizer? Claro que eu não fui incrível, não sei onde você está com a cabeça.
"Que bom que a Princesa conseguiu afugentar a Imperatriz." Natália disse com um olhar travesso.
"Não diga uma coisa dessa."
"Por que não?" disse indignada. " Realmente a Princesa é nossa salvadora. Ela espantou a bruxa malvada."
Bruxa malvada com certeza é um ótimo apelido. Natália é uma gênia mal compreendida.
"Se alguém escutar você falando isso... seria um desacato à Imperatriz."
"Quem iria me caguetar?"
"Bem..."
"As nossas amigas não fariam isso, não é? "
"Sim.Tem razão."
"Somos leais a Imperatriz."
O quê? Como assim? Natália, você leal aquela vaca feiosa!? TRAI —
"Natália." disse como se fosse uma mãe chamando assustadoramente o nome de sua filha ao ser malcriada com alguém.
" =Desculpa. Deixe-me corrigir: Antiga-Imperatriz."
Ah, agora entendi. Me sinto envergonhada de aceitar que aquela megera seja a Imperatriz. Infelizmente quando estava falando de minha mãe, pensei que estava falando daquela babaca! Eu não deveria ter pensado nisso, eu traí a Maxine! Desculpe, Mamãe! Agora, sempre que se referir a imperatriz, será você que virá à minha mente.
Natália, você provou ser mais leal à minha mãe do que eu! Salva de palmas!
"Oh céus! Esqueci que a princesa precisa ser limpa!"
Agora que lembrou de mim Verônica?
"Também esqueci que a Princesa precisa trocar de fraldas." e acrescentou. " Já até me acostumei com o cheiro. Nem me incomoda mais."
"A mim também." respondeu enquanto virava o carrinho em direção ao palácio. "Vamos voltar logo."
E assim foi o meu primeiro passeio. Espero que as coisas melhorem.