Com o passar do tempo, comecei a ter um passatempo que minhas empregadas começaram a dizer que era esquisito ou nojento. Eu acho que é um exagero delas, claro, depende o que é nojento para cada pessoa. Eu acho nojento o cabelo na comida. Um dia quando eu estava aprendendo a comer sozinha, estava comendo uma sopa deliciosa de mandioca. Quando dei a quarta colherada senti algo em minha boca, então puxei e vi que era cabelo. Lógico que Verônica despediu os cozinheiros que preparam minha comida. Tive sorte que isto só aconteceu uma vez, no entanto eu não vomitei nem nada, até porque eu não sou muito frescurenta, por isso eu gosto de brincar com insetos.
Com o passar do tempo, comecei a admirar insetos, todos os tipos de insetos. Em meu quarto está cheio de vidros que coloco. Todo tipo de inseto, desde borboletas até larvas.
Isso começou quando tinha dois anos, Verônica lia para mim um livro de um cara que sobrevivia na natureza, então eu fiquei mais interessada na vida selvagem. Até consegui ver um paralelo com minha vida, um imperador infantil que não gosta de mim, que provavelmente quer ver minha linda cabecinha rolando no chão. Então, tenho que sobreviver e derreter seu coração de gelo. Isso me lembra uma história que Verônica leu para mim. Uma garota cuja os pais morreram em uma emboscada de mercenários, então ela foi morar com o seu tio, um duque de sangue frio, basta a heroína derretê-lo! Até que minha vida é parecida com essas histórias românticas. Até que é comum uma história de uma garota órfã, que encontra uma figura paterna, porém insensível, como meu pai.
É um pouco clichê o tanto de histórias que Verônica lê para mim. Apesar de eu estar em uma situação próxima à que leio em todos os livros, ainda é a vida real. A arte imita a vida, então é provável que minha vida não passe de uma história que quase ninguém irá ler. Pensando bem... agora estou tendo uma epifania, e se eu não for real e estou dentro de uma história meia boca? Esquece, claramente aqui é a vida real.
Eu me distanciei muito do assunto que estava falando, meu hobby de brincar com insetos. Além de brincar com eles, eu coleciono. Como eu estava dizendo, no meu quarto está cheio de vidros cheios de insetos. Lá no jardim onde eu vivo, não tem muitas opções, apenas insetos agradáveis como borboletas. Não existe um besouro-rola-bosta, nem uma larva incrivelmente calórica. Apenas insetos bonitos, insetos nojentos fora de questão. Mas aqui, no mundo humano existem todos os tipos de insetos e eu adoro. Sempre busco um inseto novo e guardo em um potinho. Além de eu colecionar gosto também de colocar um para batalhar com outros, isso é tão divertido.
Alguns insetos também têm nutrientes que eu aprendi nos livros. Algumas larvas e cigarras tem gosto de frango. Como eu sei sobre isto? Bem, com a resposta mais óbvia. Eu disse que não ligo muito para coisas nojentas, apenas tire a cabeça e voilà o prato está pronto. Se for sua preferência, poderá cozinhar ou fritar. Claro que eu não pedi para a cozinheira fazer um ensopado de insetos, apenas lavei e comi. Esse é o nosso segredo! Se alguma empregada descobrir...
Seria normal uma criança com apenas 4 anos comer tudo o que vê. Será estranho caso eu estiver maior e me verem comer esses insetos, então terei que tomar cuidado. Embora não seja segredo elas saberem que eu gosto de colecionar insetos, se elas me verem comendo um... entre alguém brincar com insetos e comê-los é apenas uma linha tênue.
Já falei muito sobre insetos, vamos falar o que aconteceu nesses quatro anos; na verdade nada. Aconteceu nada de interessante fora eu colecionar insetos.... e brincar na lama. Sempre brinco de comidinha, embora minhas babás não gostem, pois sujo muito os meus lindos vestidos. É uma pena, porém quem mandou colocar vestidos lindos em uma garota que brinca com a terra.
Eu acho que já esperei bastante para começar a missão, apenas tenho dezesseis anos para capturar meu alvo. Eu não posso falhar! Isso irá provar que aquela chata, imbecil duas-caras, não será melhor que EU! Tenho que provar que posso fazer tudo e muito melhor do que ela.
Além de eu querer terminar essa missão por interesse próprio, quero que Maxine não fique triste. Tenho que provar que a escolha dela não foi um erro. Realmente quero ver a Max feliz e orgulhosa de mim. Por isso, não posso falhar com ela. Ela foi a primeira a me querer como filha, então devo ser motivo de orgulho. Quero ser uma filha que se possa orgulhar. Então farei meu melhor por ela.
Para encontrar meu alvo não poderei ficar neste palácio o tempo todo, terei que explorar os outros lugares, em busca do pai perdido! Como sempre eu consegui fugir de minhas empregadas enquanto eu me escondia no jardim. Desde aquele dia, nunca mais havia encontrado a chata daquela Sobrecu de Galinha. Graças a Deus! Não encontrei ninguém diferente, somente quem trabalhava em meu palácio. Sorte a minha de não encontrar alguém indesejado.
Infelizmente o jardim era pequeno, não havia muitas flores diferentes, mas pelo menos era fácil de sair. Eu já saí algumas vezes do local onde fica o meu palácio.
Atrás dele, havia um pequeno bosque com um coreto, algumas vezes eu brincava de festa do chá com minhas adoráveis bonecas, além de meus lindos insetos, é claro. Ao invés de ir por ali, fui na direção oposta, o qual talvez haja civilização.
Por incrível que pareça, eu andei por alguns minutos em um caminho de pedra e não encontrei ninguém, muito menos cheguei em algum lugar. Não imaginava que seria tão longo os caminhos. Será horrível eu ter que caminhar tudo isso para encontrar meu pai. De qualquer forma, segui o caminho por mais alguns minutos. Neste ponto eu já havia perdido as esperanças, pensei que havia ido para a direção errada. Ainda teria que caminhar tudo de volta, minhas perninhas não iriam aguentar. Teria que acampar ali mesmo. Poderia pôr à prova meu conhecimento sobre sobrevivência. Mas eu não precisei fazer isto. Finalmente encontrei um traço de civilização, um palácio ou é isso o que eu acho. Porém não havia ninguém, era tão silencioso, me vi perguntando o que aconteceu com as pessoas que moravam lá. Nenhuma empregada ou serva, o fim do mundo chegou para todos menos nós?
Em seguida, caminhei um pouco, olhando cautelosamente para aquela construção, até ver duas estátuas. Elas estavam paradas, parecendo guardar a porta, no entanto quando eu me aproximei, vi que não eram estátuas e sim, dois cavaleiros protegendo aquela porta. Eles não pareciam humanos, pois estavam totalmente imóveis, mas dava-se para ver seus olhos fixados em mim, escondidos com aqueles capacetes de metal. Quando eu vi suas armaduras, passei mal. Estavam fazendo um calor lascado e eles vestiam essas armaduras de metal.
Espero que um trabalho assim pague bem!
"Vocês não estão morrendo de calor?" perguntei, mas não houve resposta.
Genuinamente fiquei preocupado com eles. Seus órgãos internos devem estar todos cozidos. Eles ficam debaixo de um sol escaldante, além de não poder se mexer. Poderiam muito bem morrer de desidratação ou ter problemas na saúde por causa que ficaram muito tempo parados.
"Bebam muita água."
Eles ficaram parados sem mexer um único músculo, parecia que eles estavam me desafiando a fazer eles se mexerem. Então aceitei seu desafio.
"Por que vampiros não gostam de mosquitos?" Não houve nenhum palpite.
"Mais concorrência!" Eu comecei a rir, pois era muito engraçado, mas apenas ouvia minhas risadas. Imediatamente eu parei e continuei.
"Lá vai uma boa." Já preparei eles para não fazerem xixi nas calças de tanto rir.
"O que é verde, mas fica vermelho?" esperei alguns segundos, tentando me conter para não rir antes da hora. "Um gafanhoto envergonhado!"
Eles realmente são durões, estava ficando sem piadas. Não esperava chegar a isso, mas precisei. Espero que eles não passem mal com minha ultimate piada. Mas eu não estava preparada psicologicamente com essa piada. Eu descontroladamente comecei a rir só de lembrar dela. Minha mente ficou em branco, meu corpo se estremeceu todo, não conseguia abrir minha boca para falar, apenas saia minhas risadas. Infelizmente minha piada tinha dois gumes, poderia ferir meu oponente, mas também a mim. Eu nem mesmo disse a eles, porém já me atingiu. Droga! Sabia que era muito arriscado, mesmo assim eu tentei dizer e agora eu estou nessa situação.
Minha barriga começou a doer, porém eu não poderia fazer nada contra isso, apenas esperar que isto passe.
Enquanto eu ria, vi uma sombra se aproximar de mim, por causa do estado do meu corpo não me importei muito, pois minha barriguinha doía muito. Até o dono dessa sombra falar.
"Uma criança nesse lugar? " imediatamente me virei. Neste instante fiquei bastante assustada, por causa disso eu parei de rir imediatamente.
Mas o que eu vi foi algo surpreendente. Como eu poderia descrever o que estava em minha frente. Eu poderia descrevê-lo como um anjo, porém ele é mais bonito do que eles. Ele é um deus da beleza, nunca vi e nunca irei ver algo ou alguém mais bonito do que isto.
Neste momento, eu agradeci aos céus, por dar esta magnífica visão. Nunca mais irei esquecer deste momento. Seus olhos mais puro que o céu, olhava para mim com espanto. Ele não esperava que uma criança como eu estaria nesse lugar. Mesmo assim, como se não houvesse amanhã, apreciei a bela vista que Deus me deu. Ele tinha longos cabelos de ouro, que voavam aos ventos. Até parecia que brilhavam quando o sol tocava. Ele também tinha uma linda pele, tão macia quanto o meu bumbum — nem meu bumbum era macio e lindo como a pele dele. Ele era todo perfeito, como se Deus passasse horas esculpindo ele, com os mínimos detalhes. Infelizmente minha descrição não faz jus a sua espantosa beleza. Poderei morrer em paz.
Enquanto eu estava de queixo caído, ele se abaixou para ficarmos da mesma altura, assim nossos rosto se aproximaram. Eu ainda estava atordoada com aquela visão do paraíso. Quando seus lábios abriram para falar, meu coração se estremeceu todo.
"Você deve ter se perdido de sua mamãe na festa. "
Eu ainda estava em estado de choque, não sabia como reagir com suas palavras. Nesse momento eu me perguntei se realmente merecia conversar com esse ser em minha frente. Por que Deus me agraciou ao falar com ele? Eu queria responder, mas no estado em que estou não conseguia dizer nenhum "A". Ele me olhou com aqueles olhos quentes e pousou sua mão em minha cabeça.
Ai! Ele me tocou!
Nunca imaginei que ele poderia me acariciar, eu realmente estava no céu. Provavelmente ele me acariciou pois achava que eu estava com medo, assim ele estava me acalmando. Porém ele estava me matando com um infarto. Ele deu um sorriso, nunca imaginou que este seria seu golpe final. Minha alma já estava saindo de meu corpo, falhando em minha missão. Até que ele voltou a falar comigo, milagrosamente minha alma voltou para o meu corpo. Para apreciar mais um momento com ele.
"Irei levá-la." Ele pegou em minha mãozinha me conduzindo, para sei lá onde.
"Não" pronuncie com muita dificuldade. "Eu moro ali!"
Eu apontei para a direção o qual eu vim. Ele olhou e vagarosamente olhou para mim com um grande espanto. Mil coisas passaram em minha cabeça, será que eu disse alguma coisa errada, será que tem algo em meu rosto, será que estou fedida? Chequei todas as opções. Depois de me cheirar, finalmente ele abriu aquela linda boca.
"Você mora por ali? "
Apenas afirmei.
"Princesa?" ele me chamou, como se ainda não tivesse certeza que eu era uma princesa. Não que eu me importasse, já que ele mesmo me chamou.
"É assim que me chamam." Virei minha cabeça de uma forma engraçadinha. Eu aposto que ele me achou fofa, já que eu sou uma lindinha. Claro, que minha beleza não se compara ao dele, mas é alguma coisa. Ele se abaixou e continuou a falar comigo.
"Uau!" exclamou como se não tivesse acreditando no que via. "A última vez que a vi, era uma bebezinha. Embora eu ainda ache você uma bebê linda."
Como é possível ele ter me conhecido? Desde que eu nasci lembro de tudo o que acontecia à minha volta. Aliás, como eu poderia me esquecer dessa beldade? Uma vez visto, nunca mais iria esquecer, mesmo assim, ele lembra de mim. Eu olhei para ele em confusão e perguntei desnorteada.
"Eu não me lembro. "
Ele olhou para mim e deu um sorriso enquanto acariciava minha cabeça. Nesse momento eu acabei de perceber que não chegaria aos meus vinte anos, provavelmente eu morreria de amor.
"Era muito pequenininha! Não deve-se lembrar." Claro que me lembraria! Ele realmente estava subestimando sua aura inesquecível. "Além de estar dormindo na hora que lhe visitei."
Então está explicado! Por conta disso eu não me lembro, mas realmente é uma pena, se eu estivesse acordada veria mais cedo sua beleza. Mas se eu visse, provavelmente não conseguiria dormir, acho que não conseguirei dormir por pelo menos uma semana. Em minhas noites em claro, somente pensaria se eu veria novamente. Viraria um pesadelo eu não ver ele novamente, mesmo assim acho que estou sendo mal agradecida. Não é qualquer um, que poderia falar docemente com esse deus da beleza.
Enquanto eu estava pensando o quão lindo ele é, uma coisa pousou em minha cabeça. Por que diabos ele iria me visitar? Desde que eu nasci, ninguém foi me visitar — o que eu tenho conhecimento. — Além do mais, não tem nenhum motivo para visitar uma princesa abandonada, quem iria enfrentar a ira do imperador? Não faz sentido alguém me visitar, sabendo que provavelmente o imperador iria se zangar. A não ser que… — espera! Isso seria muita loucura de minha parte, além de ter várias pontas soltas. — Ele poderia ser o imperador! Fazia sentido ele visitar sua própria filha quando nasceu. Além de não haver nenhum problema em me visitar, porém por que ele está sendo gentil comigo? Talvez o tempo tenha ajudado a esfriar os ânimos, agora ele percebeu que abandonar sua própria filha foi um ato de infantilidade. Ele deve estar com remorso então está me tratando muito bem. Talvez ele não seja alguém frio como as pessoas dizem, mas sim, estava triste com a morte de sua esposa, assim ele se distanciou de mim.
Maxine nunca falou que ele era frio e insensível, mas sempre falou que ele era gentil e carinhoso. Mas nunca confiei muito nas palavras de Max, para alguém que abandona sua própria filha, não consigo ver alguém carinhoso. Porém acho que eu estava errada, esse ser em minha frente, me parecia muito carinhoso e gentil. Além de fazer todo o sentido do mundo, minha mãe ter se apaixonado por ele, que sorte ela teve. Bem, eu não poderia chamar ele de pai, pois como uma criança de apenas quatro anos, poderia raciocinar tal coisa? Irei chamar ele de pai depois que ele revelar para mim, sua identidade paterna.
Eu olhei para ele com meus encantos infantis, eu acho que estava funcionando, mas não sabia ao certo. Sou uma encantadora princesa, que é capaz de cativar qualquer coração.
"Oh!" exclamou ao olhar o entardecer do céu. "As suas babás devem estar preocupadas com o seu sumiço. Vamos voltar."
Com suas macias mãos me carregou no colo. Secretamente eu cheirei seu cabelo e não me decepcionou, havia cheiro de primavera, enquanto suas flores exalam seus doce perfumes.
No caminho de volta para o palácio, eu contei tudo sobre meus adoráveis insetos e, que eu amo brincar no bosque perto do coreto. Ele me recomendou ir na parte da manhã, embora eu sempre brincava na parte da tarde, pois não gostava muito de acordar cedo, mas como foi que meu pai recomendou, seguirei seu conselho.
Foi realmente rápido na hora da volta, em comparação quando eu ia. Parecia que levava um século para encontrar civilização. Minhas perninhas eram extremamente pequenas, por conta disso, meus passos eram pequenos em comparação ao de um adulto. Além disso, foi extremamente divertido conversar com ele. Quando algo é divertido o tempo passa mais rápido.
Ele não se aproximou do palácio, dava-se para perceber que ele não queria ser visto por alguma empregada minha. Ele não queria ser visto comigo, acho que ele não estava preparado para anunciar o nosso encontro oficial. Tudo bem! Não irei apressar as coisas, vai no tempo dele. Nem falei para a Verônica do nosso encontro.
Quando eu estava me despedindo dele, dei um beijinho em sua bochecha e sai correndo sem olhar para trás. Se eu visse sua expressão, provavelmente morreria. E não quero morrer agora, desejo passar mais tempo com o meu papai.
Depois de uma hora de broncas que levei, deitei-me em minha cama e refleti sobre tudo o que aconteceu hoje, enquanto eu lembrava daquela doce visão, algo me passou pela minha cabeça. Um absurdo! Como que eu não lhe perguntei seu nome! Nunca ouvi o nome de meu papai, sempre se referia a ele como o Imperador, nunca dizendo o seu nome. Mas logo eu me relaxei, já que terei bastante tempo para perguntá-lo.
Então, hoje começou minha missão de fato!