Era um dia normal ensolarado, poucos raios de sol conseguiam chegar em sua face tediosa. Uma enorme e velha árvore fazia sombras com suas verdejante folhas, que em pouco menos de alguns meses, seriam trocadas por novas folhas. Era incrivelmente úmida dando oportunidades para alguns fungos florescerem, era o lugar perfeito para um piquenique.
O escritório era um lugar totalmente diferente de outros cômodos do Palácio. Enquanto a maioria dos lugares daquele lugar era feito de mármores brancos, dando uma aura mais limpa e moderna, o escritório era inteiramente feito de maneira escura e envernizada. Havia uma estante velha da mesma madeira que eram feitas as paredes. Tudo dava uma sensação estranha de velhice e selvageria. A porta tinha duas estátuas de cavaleiros que usavam armaduras muito datadas para o tempo atual. Era muito pequeno o escritório, todavia cabia um pequeno sofá com o estofado vermelho, combinando com o cru tapete carmesim. A escrivaninha era toda feita com madeira de Dalbergia com entalhes magníficos, que jazia mais de 100 anos que seu carpinteiro o esculpiu.
"Ultimamente os ataques dos rebeldes estão mais frequentes no sul de Wildblood. Temo que torna-se uma guerrilha." relatou um homem alto de meia idade.
Seu nome era Braham, um ex-fazendeiro que conseguiu o título de Marquês. Ele nasceu como apenas um filho de um humilde fazendeiro que tinha uma terra pobre e medíocre. Diriam que não poderia fazer muito por aquela terra, nem que se vendesse daria um preço bom, mesmo assim, nas mãos de Braham tornaram-se ouro.
Seu pai sabia que com aquelas terras seu filho não teria futuro, então ele fez um investimento muito arriscado, essa era a única escolha que poderia ter. Conseguiu pagar uma escola para seu filho estudar, uma coisa que sempre quis, mas nunca teve oportunidade, entretanto seu filho iria ter um estudo para que assim, possa sobreviver ao mundo adulto. Braham achará uma perda de tempo, já que poderia usar esse tempo para ajudar o seu pai com a fazenda e o dinheiro para fazer algo mais importante.
O menino não queria ir de jeito nenhum, até o seu pai dizer: Darei 15 golpes de chibatadas se você não for. Claro que ele não faria algo assim, todavia a ameaça deu certo. Braham se estremeceu todo e concordou em ir para escola. Era chato! Tinham várias crianças filhos de grandes fazendeiros e mercadores, não era o lugar de uma criança como Braham. Estava ali por obrigação e por causa disso, dormia no maior tempo da aula. Quando seu pai perguntava o que ele aprendeu, enrolava e dizia que aprendeu um bocado de coisas. Essa farsa durou até a professora relatar tudo o que Braham fazia na aula, ou, deixava de fazer. Seu pai castigou-o, mas quem disse que isso se resolveu? Braham achava melhor fazer isso, para que assim seu pai desistisse dessa ideia idiota.
Mesmo sempre levando uma surra ele dizia. Pai, apenas está jogando dinheiro no lixo, desista logo! O homem não desistia de seu filho e continuou até cair de joelhos na frente de seu menino. Entre soluços ele suplicou de joelhos para seu filho: Por favor, lhe imploro filho meu, não tornar-se um velho ignorante como seu pai. Suplicou agarrando nas veste de Braham: Eu sou um fazendeiro Braham, quero que minhas sementes dêem frutas. Para você, é um investimento muito ruim que demorará muitos anos até ela crescer e ficar madura, todavia valerá apenas quando ver o pomar cheio de frutas. Olhará orgulhoso para todos os esforços que tiveram, então Braham meu filho, dê frutos não só para mim e sua mãe, mas para você e sua nova família que um dia formará.
De início, essa cena horrorizou o menino, vendo seu pai chorando ajoelhado perante si, mas depois suas palavras foram tão comovente e forte e nunca mais esqueceu dessa cena. Seu pai nunca teve a perspectiva de uma vida melhor, sempre amaldiçoou sua miséria de não puder mudar sua situação, porém ele não poderia deixar que seu filho seguisse o mesmo caminho. Ele fez um investimento que dará fruto para o futuro de seu filho. E nunca se arrependeu de usar todo seu dinheiro para isso.
Braham se sentiu um filho miserável, entretanto ele não ficou se lamentando pela sua estupidez, jurou para seu pai que se tornaria alguém melhor e que sua nova família não passaria as mesmas dificuldades que um dia já passou.
A partir desse dia, Braham não pensou em mais nada além de estudar, aprendeu a ler e escrever e ensinou isso ao seu pai, que chorava de felicidade ao aprender a ler e escrever seu próprio nome, uma coisa que nunca pôde fazer, até agora. O sorriso que seu pai lhe deu nunca foi esquecido e isso deu mais vontade de aprender. Logo ele aprendeu matemática, geografia, contabilidade, economia, línguas estrangeiras…
Ele descobriu que tinha um talento nato para administração, conseguiu reerguer a fazenda de seu pai de uma pobre terra estéril, até longos campos de plantação. Seu pai faleceu orgulhoso e feliz. Finalmente ele teve sua redenção.
Logo depois que sua mãe faleceu, resolveu vender sua fazenda por muito dinheiro. Ele poderia muito bem viver com sua família enquanto administra a fazenda, porém Braham era um homem com grandes objetivos, não conseguiria viver em paz até completá-las. Ele quer que seu talento não seja desperdiçado só para si, mas quer compartilhar com todos. Ele entrou para o governo de sua cidade e logo começou a progredir. Um dos seus objetivos era escola para todos, o qual não precisará pagar por educação, ademais queria qualquer pessoa de todas as idades pudessem estudar.
De início, ele começou a financiar todas as crianças de seu vilarejo, assim como um dia fez seu pai. Seus pensamentos eram muito progressistas caindo na boca do povo. Com alguns anos e muito esforço, ele conseguiu uma vaga para o governo Imperial ganhando logo o título de Conde. Todavia ele não poderia fazer nada no antigo governo. O imperador anterior, Lorzatan era uma pessoa com a cabeça simples sem muito perspectiva para seu reinado. A maioria de seus ministros eram corruptos e o Imperador sabia disso, ainda assim, não fazia nada, apenas se divertia em seu harém.
Tudo mudou quando ele conheceu o príncipe — atual imperador — ele ainda era uma criança na época, porém uma luz surgiu de sua mente. O príncipe é o futuro do império se não foi cuidado direito, logo esse império está fadado à ruína. Ele irá regar, cuidar e podar para ser assim, dar-lhe grandes frutos.
Braham sentiu-se um gosto amargo em sua boca, ao pensar que estaria usando-o para seus objetivos, todavia estava enganado ao pensar que o príncipe é apenas um boneco manipulável, ele tinha seus próprias pensamentos e sabia as intenções de Braham. Mesmo assim, o jovem príncipe sabia que as intenções dele não eram ruins, o apreço pelo povo que Braham sentia era verdadeiramente genuíno. Ademais, simpatizava com suas ideias progressistas.
Enquanto isso, acontecia tensões política entre o Império e um reino ao sul, chamado Sorthor, anos depois estourou uma guerra e quando o Império Kalliope quase perdeu pela incompetência do Imperador, junto com Braham e outros aliados políticos o príncipe deu um golpe e conseguiu matar e roubar a coroa de seu pai.
Depois disso, Braham ganhou o título de Marquês e recebeu as terras que faziam fronteira com Sorthor. As justas as terras que eram o epicentro das batalhas!
Ele conseguiu estabilizar o Marquesado de Wildblood, mas sempre sofria com ataques rebeldes. Apesar dele ser um gênio em administração, algumas pessoas diriam que ele é completamente patético em questão militares. Ele mesmo até hoje não concordou com a decisão do atual Imperador em relação à administração das terras. Sempre que as terras eram atacadas ele não sabia fazer nada para contê-las, sem ajuda de Ênio.
"Não há nenhuma novidade nas questões as quais disse" respondeu o homem cheio de cicatrizes no rosto.
Braham ficou momentaneamente surpreendido com a resposta de Ênio. Seu óculos saiu de seus olhos, mas logo ajeitou para a posição original.
"Então vocês já sabiam!"
"Braham" respondeu Ênio "isso era óbvio desde o fim da guerra. Sempre haverá resistência ao novo regime. Enquanto não destruímos totalmente eles, esses confrontos sempre permanecerão."
"Mesmo se destruirmos eles, não conseguiremos destruir seu espirito de luta" disse o homem com cabelos negros e com um rosto de tédio sentado atras da escrivania. Ele bocejou e continuou. "Por enquanto, devemos continuar fazendo os cidadãos de Oak simpatizar com Kalliope, para que percam a hostilização contra nós. Braham quero que continue seus projetos no povoado Oak."
"Entendido, Vossa Majestade" respondeu.
"Todavia, essa será a última chance que darei para o povo de Oak. Caso os conflitos fiquem fora de controle, não pouparei esforços para nos odiar ainda mais" disse ameaçadoramente, fazendo Braham estremecer ao pensar que aconteceria com aquele povo. Apesar disso, não poderia atuar como o defensor da minoria oprimida, como se não desse em nada. "Dispensados!"
Braham e Ênio se curvaram e logo depois saíram do escritório. O Imperador deu uma longa espreguiçada enquanto se afundava na cadeira. Marvin sempre ficava de prontidão ao lado do Imperador, como as pessoas diziam, era carne e unha.
"Vossa Majestade" chamou Marvin "se Braham concordar, poderia dividir o governo de Wildblood em dois. A parte administrativa ficaria com ele e a militar com Ênio. Ambos podem trabalhar em conjunto ou de forma independente, como achar melhor. Assim, Braham não precisará se envolver com os assuntos militares e Ênio terá mais liberdade com o exército."
Ele assentiu silenciosamente.
O Imperador teria uma pausa para descansar e almoçar, apesar de estar na parte da tarde. Infelizmente ele precisaria passar por um longo caminho até chegar à mesa, o qual se alimentava. Ele estava no palácio Administrativo o qual era feito para o seu trabalho como imperador, se ele quisesse almoçar, teria que ser no seu palácio pessoal. A caminhada levava poucos minutos, já estava acostumado com essa rotina que todo santo dia seguia.
Era um dia refrescante entre o fim do verão e o começo do outono. Ainda estava um dia claro com poucas chuvas, todavia misto com a brisa gélida do outono. Uma boa época para apreciar a vista, porém sentia-se um sentimento nostálgico misturado de solidão. Como a longínqua terra das fadas que desapareceram ao alvorecer do mundo.
Quando chegaram na parte externa entre o Palácio Administrativo e o pessoal se depararam com muitos criados correndo de um ponto ao outro. O Imperador não percebeu, ou, não se importou com as coisas que aconteciam em sua volta, ele vivia em seu mundo. Ademais, Marvin era muito curioso com tudo, se algo ele queria saber, ele sempre procurava as respostas. Ele parou uma empregada e perguntou, disse que estava preparando uma festa do chá no Jardim das Violetas.
Quando Marvin se abasteceu de sua curiosidade, apertou os passos, para conseguir acompanhar o Imperador.
"Parece que a Imperatriz está fazendo uma festa do chá, no Jardim das Violetas" disse enquanto olhava todo em seu arredor.
O Imperador não disse nada, apenas manteve silêncio enquanto dava longos passos.
" Tudo bem para Vossa Majestade?"
"Por que não estaria?" e acrescentou "Não me importo o que Lupercia faz com seu tempo."
O Jardim das Violetas tinha uma carga muito emocional para o Imperador, era egoísta para quem desfrutava de sua paisagem tão magistral. Somente uma pessoa era permitido olhar, colher e estar no jardim, era sua amada esposa que se dissipou no ar como uma bolha de sabão. Porém, desde que ela se foi, ele não se importou com quem mais pisasse no jardim.
"Bem, ela estará fazendo uma festa de chá no Jardim das Violetas. Vossa Majestade tem um apego emocional com o lugar, pensei que se irritaria de outra pessoa ficasse lá." Marvin disse com total cuidado, mas não houve nenhuma resposta vinda do Imperador. Até que quando eles viraram a esquina que passava pelo jardim ele deparou-se com uma cena peculiar. "Meu Deus é a Princesa!"
Eram poucas coisas que faziam o Imperador sair de seu mundo, mesmo uma vaca voando ao seu lado, não perceberia. No entanto, Marvin ficou tão histérico que o Imperador ficou com a tentação de se virar para dar só uma olhadinha. Ele virou pouco sua cabeça, quase não dando para perceber. Seus olhos acabaram se deparando com uma criança muito familiar. Era uma menina extremamente bochechuda, que algumas senhoras de bastante idade não conseguiriam se conter para agarrá-las. Além disso, não era o que mais destacava, e sim suas grossas e bagunçadas sobrancelhas negras, ademais delas ter um leve grau de arqueamento dando uma impressão de braveza ou até mesmo, sabichona. Mas se alguém descrevê-la atentamente, diria que tem a feição de uma exime arteira.
Ela estava sendo puxada por uma empregada, aparentemente de forma violenta. Marvin roía as unhas enquanto via cena, ele queria na mesma hora ajudar, todavia sabia que essa função não era a dele.
"Vossa Majestade" chamou-o todo histérico "parece que aquela serventia está maltratando a Princesa." depois que o Imperador matou sua curiosidade, ele se virou e continuou o seu caminho "Vossa Majestade precisa fazer alguma coisa."
" Não" respondeu curto e direto
"Mas Majestade…" antes mesmo que terminasse sua súplica, um grito alto e estridente o interrompeu.
Ambos olharam rapidamente para onde houve o grito. Eles conseguiram ver a menina com os dentes cravados na carne da mulher. A criança olhava confiantemente para a servente, não havia nenhum tipo de remorso ou culpa, muito menos medo. Ela realmente era uma criança muito estranha.
"Isso Princesa!" comemorou Marvin.
No início, o Imperador ficou surpreso com a cena o qual estava vendo, não esperasse que algo assim acontecesse, mas depois se conformou. Não dava para saber o que ele estava pensando neste momento, porém diria que estava completamente vazia de pensamentos. Apenas olhava a cena por curiosidade.
"Você me mordeu?" gritou a servente enquanto abanava sua mão. "Sua, sua cachorrinha! Só cachorro morde!"
Marvin se embranqueceu todo, poderia muito bem se confundir com uma assombração ambulante, — uma assombração muito bonita inclusive.
" Eu não acredito no que eu ouvi. Não acredito no que eu ouvi! Não pode ser verdade isso que eu escutei agora! " embasbacou Marvin.
Mesmo assim, o Imperador não fez nada além de olhar. Marvin queria muito pula-lá e agarrar a adorável princesa em apuros, todavia ele jurou-se para si mesmo que não faria nada, somente Sua Majestade poderia intervir.
A cena continuou, porém a Princesa não deixou barato, respondeu à altura.
" Você que é uma cachorra!" gritou alto " Sua desalmada sem coração!"
Faltava-lhe chorar Marvin de emoção. A Princesa sabia-se como se defender sozinha. Todavia isso não seria muito bom, não é? Se a criança não precisa de ajuda, então não haveria como Sua Majestade intervir.
Mais algumas ofensas aconteceram entre essa breve discussão. Marvin com todo coração torcia-se para sua adorável Princesa, enquanto o Imperador observava silenciosamente. Não sabia exatamente o que ele estava pensando, todavia notoriamente ele sentiu-se um leve interesse no que estava acontecendo. Até que foi divertido até a servente ter ousado bater na criança. Marvin ficou horrorizado com o que ela estava prestes a fazer com a Princesa, ele ficou silêncio enquanto fitou o Imperador seriamente.
"Não acredito que ela fará isso." disse Marvin terrivelmente irritado. Realmente essa empregada irá encostar em um membro da Família Imperial? Foi esse pensamento que passou em sua cabeça. Mesmo a criança não sendo reconhecida como um membro imperial, ela ainda tinha o sangue do atual Imperador.
O Imperador não queria ver uma cena assim, isso com certeza estragará seu dia. Vendo uma criança apanhar, não significava coisa boa. Deu-lhe um passo, mas logo parou quando viu-se a criança dando-lhe uma canelada. O Imperador ficou espantado como a primeira vez que a criança dirigiu palavras pejorativas. Depois que ela tirou uma aranha que estava em sua roupa, atacou na servente. Inesperadamente ela caiu na gargalhada com o escândalo que a serva fazia.
Marvin ficou tenebrosamente abismado com a inesperada cena. Logo então, começou a rir timidamente com toda essa confusão. Riu lindamente até perceber que o Imperador começou a dar-lhe passos, continuando o seu caminho.
"Majestade!" chamou Marvin puxando o colarinho do Imperador. Por sorte ambos têm uma certa intimidade para fazer tal coisa, mesmo assim, puxou delicadamente para não dar-lhe qualquer problema. "Não fará nada?"
Com o puxar do seu colarinho, o Imperador parou momentaneamente e olhou-se para Marvin.
"Acha que precisará de minha intervenção?" fitou a criança gargalhando.
Marvin queria que o Imperador pelo menos interagisse com a Princesa, já que ela estava aqui, porém que motivos ele teria que ir ali, já que a Princesa saiu dessa situação sem interferência de outrem?
Ele olhou para o Imperador como um cachorro olha para seu dono pedindo um pouco de petisco. Mas esse método funcionou. Sempre que ele fazia essa chantagem usando-o de sua extrema beleza, sempre dava-se certo, isso era sua arma mortal, no entanto isso não funcionaria com o Imperador. Pelo simples fato que ele já se acostumou com essa beleza, adamais a relação de ambos chegaram a tal extremo que só a voz de Marvin já lhe faz irritar
Marvin era alguém difícil de se lidar, ele é como uma criança mimada que faz birra quando não ganha o que quer. Logicamente ele não ficará esperneando no chão, como uma criança birrenta e chata normalmente o faz, todavia ele ficaria tagarelando o dia inteiro na cabeça do Imperador, então a melhor escolha seria resolver essa babaquice logo.