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Chapter 16 - O Salão de Netuno

[POV JHIN]

A brisa marítima batia no meu rosto e dava uma sensação deliciosa de liberdade. Mesmo que o navio balançasse bastante, ainda assim era um sentimento único estar em alto mar, algo que eu jamais havia feito fora deste mundo.

Uma unidade com bons números foi movida para o encontro do próximo boss: membros da guilda Royal e da Astor se juntaram para a batalha, e dessa vez, eu era o único que não participava das guildas.

Como podem imaginar, foi inegável chamar um pouco de atenção por conta desse fato, além é claro de ser um Mestre das Lâminas agora. Contudo, a Feli foi muito legal tomando partido por mim, eu nem mesmo conheci o comandante ou pisei no castelo da Royal, ela que cuidou da minha ingressão a essa expedição.

Eu estava sentando perto da proa, admirando o vasto horizonte azul daquele nível. Como era possível que os desenvolvedores criassem algo tão imenso? Acredito que haja um limite para o quanto você possa avançar, mas um mundo aberto de realidade virtual tão grande assim deveria levar décadas para ser criado.

Feli se aproximou de mim:

- Tá fazendo o quê?

- Matando tempo...

- Você tá com uma cara tão dramática.

- Que nada. É que ao contrário da maioria, eu não odeio esse mundo.

- Aaah...

- Dá pra acreditar em como isso aqui é incrível?

Senti que Feli estava analisando o meu rosto, e isso me fez ter a sensação de ser uma criança boba falando sobre um sonho impossível.

De fato eu fantasiava com tudo que AWO me proporcionava, sempre foi a vontade da humanidade se imergir em um escapismo tão bom quanto esse, e é claro que não sou exceção. Mas... pessoas como a Feli são um pouco diferentes, elas tem uma determinação em seguir a sua rotina comum e fazer dela especial.

Eu já estou aqui há tanto tempo que mal me lembro o quão chato era a vida no mundo real. Realmente... não ter qualquer capacidade especial, qualquer sentimento de empolgação diferente do usual e também... não sentir essa brisa... era mesmo triste.

No entanto... sinto falta disso tudo. Talvez eu seja como ela.

- Nós cuidamos de toda a estratégia ontem à noite, os líderes de divisões estão preparados para o combate. Aliás, você está na minha – ela disse.

- Ah, tá, conto com você, capitã.

- Já falei pra me chamar só de Feli! – Não sei por que isso a irritava, mas ter a orelha puxada não era legal.

- Ai, ai, ai! Foi mal!

- Hahaha, ei, Feli, esse é o Jhin? – Uma garota de cabelos pintados de púrpura se aproximou de nós.

- Sim.

- Uh... olá – cumprimentei. Ela parecia ser excêntrica.

- Que raro! Ver dois de vocês, evoluídos, juntos! Se bem que o comandante tá sempre com a Feli...

- Essa é a Angel, capitã do setor B. Ela quis vir nessa expedição, mesmo não sendo trabalho do seu setor, então hoje também é uma convidada.

Alguém de mesmo patamar?! E-essa menina estranha? Será que é tão forte quanto a Feli?

- Muuuuito prazer, Jhin! – Angel me sorriu e ofereceu um copo de Vinho Envelhecido, bebida muito apreciada e gostosa.

- É um prazer, capitã – aceitei de bom grado.

- Você não quer, Feli? – Ela perguntou.

- Não, valeu, eu prefiro um café.

Alguém é tão viciada quanto eu...

O Vinho Envelhecido tinha um sabor único; era doce e também um pouquinho ácido, lembrava bem um champanhe com sabor de uva.

- Diz ai, Feli, ele é um monstro que nem o comandante?

- Não sei, nunca vi o Jhin lutar.

- Err? E mesmo assim o chamou?!

- Angel, alguém que passou pelo Castelo Abismal é tudo, menos fraco.

Então a Feli também sofreu do mesmo inferno que eu para evoluir sua classe... Só de lembrar daquela porcaria eu tenho arrepios, foi como da vez em que... eu enfrentei o Cavaleiro das Chamas Azuis...

- É, né?! Hahaha! Saiba que você chamou muita atenção nos últimos tempos, Jhin! Um cara com a classe evoluída sem uma guilda? Acho que seu nome foi tão comentado na última semana quanto o do Espadachim da Meia-Noite.

- Cof, cof, cof, cof – Merda... me engasguei com a surpresa.

- Você tá bem?! – Angel perguntou.

- Ai, ack... t-tô, relaxa.

- Mas esse cara é de verdade, diferente do outro. As pessoas tem que parar de alimentar esperança em um mito – Feli desabafou.

Huh... mal sabem que na verdade somos a mesma pessoa...

Espadachim da Meia-Noite...

Imaginem a minha surpresa quando comecei a ouvir os boatos sobre essa história. Naturalmente, as testemunhas que viram a minha silhueta naquele dia espalharam histórias, mas a coisa é bem diferente do que costumam dizer.

O boato faz parecer que eu derrotei aquele boss de maneira tranquila, mas a verdade é que eu só não morri graças... graças àquela coisa...

Além disso, fiquei muito surpreso ao saber que estavam usando esse apelido, já que o nome da... daquela coisa é igual. No entanto, eu descobri mais tarde que era em alusão ao horário em que eu apareci, que coincidentemente era à meia-noite. Como eu já falei... neste dia eu estava fora de mim...

Eu não sei por que aquela coisa é chamada de Meia-Noite, já que seus detalhes estampam claramente luas crescentes. De qualquer forma, esse item é anormal até para este jogo... Eu... eu não quero ter que usá-lo de novo...

Depois de algumas horas navegando no mar, o capitão, um NPC que era fruto de uma missão principal, nos trouxe para um local no meio do oceano. Não havia nada em volta, apenas água e mais água. Ele explicou que havíamos chegado em nosso destino, depois, não abriu mais a boca.

Feli tomou a palavra, era impressionante como todos a escutavam atentamente:

- Estamos no nosso destino! Quero que todos se preparem e tomem coragem, pensem pelo que estamos lutando. Sei que hoje alguns podem perecer, mas faremos o possível para minimizar isso! Lutem com vontade e também não desistam da vida! Esse será mais um pequeno passo para nosso objetivo!

Todos a saudaram em um coro.

Será que lutaríamos no meio do mar? Mas como? Se o inimigo é mesmo um kraken gigante, o que podemos fazer daqui?

Porém, eu entendi tudo assim que a capitã Feli se aproximou de mim e me disse algo:

- Jhin, como você não estava na reunião de ontem, não tem isso – ela abriu o menu e me enviou um item.

- "Bolha de Oxigênio..."?

- Esse é um item bem importante para situações como essa. Quando equipado, te dá um suprimento de oxigênio de uma hora em baixo da água, mas é preciso tomar cuidado para ele não ser destruído.

- Interessante – eu não conhecia essa coisa, já que o único lugar que não explorei neste nível era o fundo do mar. Os Sereianos que eu cacei foram todos em beiras de lagos especiais, mas eles também nasciam no oceano.

Eu recebi dois daqueles itens de Feli, para precaução, caso um fosse destruído. Ficar sem ar aqui era a mesma coisa que no mundo real: bastava alguns minutos e seu HP caía gradativamente.

As divisões se organizaram em uma fileira, lado a lado, na borda do navio, juntos de seus líderes. Os espadachins, comandados por Feli, tinham pessoas interessantes. Angel estava na nossa divisão também, e ao lado, os tanques e os magos se preparavam para pular.

Depois do sinal, todos equiparam suas bolhas; minha cabeça se envolveu por uma película fina, mas bem resistente, assim como ouvi um barulho de gás. O ar ali dentro era incrivelmente bom, fresco e também revigorante.

Mas... algo me chamou a atenção. Eu tenho certeza absoluta que teremos uma desvantagem muito grande: a comunicação.

Ninguém nunca descobriu itens para se fazer chamadas neste mundo, talvez isso nem exista aqui, por isso, será impossível de falarmos uns com os outros, visto que, além do oceano atrapalhar, essas bolhas abafam muito o som.

Será que já sabiam? Eu não estava na reunião de ontem à noite.

Por que ela não me falou?

Droga... tá me testando num momento como esse?

Essa menina...

Feli ergueu seu braço e deu o aval: as quase três dezenas de jogadores pularam na água, e eu também fiz o mesmo. A ordem era para que todos permanecessem juntos de suas divisões.

O fundo do mar era um lugar muito bonito, mas absurdamente escuro. Ainda era possível ter visão, mas conforme a profundidade aumentava, mais a visão diminuía. Em determinado momento, os magos conjuraram belos feitiços de iluminação e espalharam esferas brancas por todo o caminho.

Eu consegui ver os corais, os peixes, as algas e tudo que havia no mundo real, a única coisa que não tinha era monstros para nos atacar.

A Stardust não estava de brincadeira quando disse que esse seria o jogo mais histórico de todos...

Depois de alguns minutinhos nadando, chegamos a uma construção submersa incrivelmente alta, parecia um daqueles Pathernons gregos, mas estava coberto com a vida marinha.

Feli pediu para que parassem e se pôs à frente: tocando a porta daquilo, e então se afastou rapidamente.

Todos assistimos as inúmeras bolhas se espalharem pela água enquanto a enorme entrada se abria aos poucos.

Na minha visão, uma aba apareceu:

"O Salão de Netuno"

Um frio na barriga que há algum tempo eu não sentia se fez presente. Eu estava ansioso para enfrentar o próximo boss...