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Chapter 19 - Fantasmas de Um Passado Não Tão Distante

[POV JHIN]

Território de Nível Trinta e Cinco, 12 de Agosto de 2034.

"Encontre o portador da lâmina gêmea: Concluído!"

Foi o que me apareceu algumas horas depois de eu pisar no Território de Nível Quinze. Isso aconteceu há meses atrás e até agora não descobri o significado; é algo que me intriga. Provavelmente tem alguma coisa a ver com a minha espada.

Mais de um ano já se passou desde que AWO começou.

Muita coisa aconteceu nesses últimos meses...

Pra contextualizar, devo dizer que estou no nível oitenta e um. Sim, ficou extremamente difícil de avançar depois do Território de Nível Vinte; a experiência ganha dos monstros é alta, mas o suficiente para aumentar o nível é muito maior, e só piora cada vez mais.

Eu também melhorei bastante em usar duas espadas. A Espada Divina do Arcanjo se mostrou ser bem usável junto de uma companheira.

E sim, estou usando a Espada da Meia-Noite. Levei mais ou menos uns três meses, mas consegui controlar a... a voz que aparece. Eu não sei por que sempre escutava uma versão... meio que maligna da Lilia quando a usava, mas prometi a mim mesmo que não me deixaria cair perante a isso.

Depois de muito sofrimento, eu me adaptei bem àquela coisa, mas toda vez que a uso ainda sinto algo estranho, como se uma parte de mim ardesse em um calor perigoso e desconhecido, o que às vezes pode causar dor...

Contudo, nem tudo é essa coisa trevosa e melancólica pra mim, eu tive momentos incríveis neste tempo. As poucas joias que consegui foram bem uteis para aumentar o poder dos meus itens, e claro, Jeremiah quase pulava de alegria todas as vezes em que lhe trazia alguma, isso aumentava demais a experiência dele em forja.

(Ah, e a propósito, eu não consigo aumentar os atributos da Espada da Meia-Noite em absolutamente nada, não entendo o motivo).

Por falar no Jeremiah, ele tem sido bem próximo de mim. Eu realmente posso dizer que somos bons amigos, passo bastante tempo com ele enquanto estou de folga das minhas atividades. Sua esposa Mira sempre é bem gentil comigo.

Céus... qualquer um que não soubesse, diria que estou falando de um casal de meia-idade.

Enfim, nos últimos tempos eu estava à procura de asas. Confesso que depois que vi as da capitã Feli, algo em mim dizia que eu tinha que obter uma. É claro, igual a dela seria impossível, visto que é um item divino.

Aliás, só existem dois itens divinos por classe, pelo menos é o que sabemos até agora.

Eu diria que provavelmente uma centena de jogadores agora possuem suas classes evoluídas, é muito pouco, visto que ainda restam mais de seis mil vivos. Não faço a menor ideia do que eles conseguiram vencendo aquele castelo, presumindo que todos os itens divinos já foram coletados.

Algumas outras guildas poderosas se formaram, mas a hegemonia da Royal e da Axion permanecem de pé, apesar de alguns quererem desbanca-los.

Eu me encontrei com eles algumas vezes, inclusive Feli, mas mantive o cuidado de não me aproximar dela e de Angel de novo, pois provavelmente elas já sacaram o meu segredo. O estranho é que isso não foi espalhado, é um bom sinal... talvez eu possa dar um crédito às duas.

Minha cabeça permanece a mesma: não quero me envolver com guildas ou grupos, é estressante demais e exige uma maturidade emocional que talvez eu não tenha no momento. O que eu tenho são relações profissionais com alguns contatos importantes que me mantém informado sobre as principais descobertas deste mundo.

E claro, o Jeremiah, que é meu amigo.

Desde o boss do nível quinze, as coisas não mudaram tanto apesar dos vários acontecimentos. As pessoas andam meio sem esperança, e ninguém descobriu sequer alguma coisa sobre a razão de nos manterem aqui, ou por que tudo isso teve de acontecer.

Chegando na metade do jogo, uma nova classificação de território foi imposta: os de nível alto.

Não sei bem o que pensar sobre como zeraremos o jogo, não sei se tenho tanta fé que isso será possível sem todos morrermos, mas não resta mais nada a não ser fazer isso, não é?

Eu por vezes me encontro nas batalhas dos chefes, e cada um se torna mais bizarro e mais poderoso do que o outro, e sempre seus padrões são diferentes. Conforme fomos avançando, mais e mais vidas foram se perdendo, as guildas se enfraquecem em números, mas o poder dos remanescentes sobe.

Há quem diga que os grandes, como Kyros e Astor, se aproveitam disso para ganhar mais poder.

É claro que contestações apareceriam. Eventualmente, uma massa se formaria entre os jogadores de AWO, formada por aqueles que não tem capacidade de lutar nas linhas de frente, os que só querem sossego e se acomodaram aqui, e aqueles que anseiam por serem governados.

Dentre todas essas pessoas, é óbvio que os protestantes hipócritas que não movem sequer uma palha criticariam os que lutam por eles.

Desconheço Kyros e Astor, mas tive um tempo com a capitã Feli, ela não parece ser do tipo de pessoa que aceita esquemas de pirâmide ou de poder em uma organização que participa.

Mas eu até entendo algumas revoltas, que são justificadas pela formação de uma classe social elevada entre os jogadores, pois quanto as outras guildas que vem ganhando poder, não posso garantir a integridade delas.

Não houve muitas descobertas de itens novos, eu mesmo não consegui desvendar o mistério por trás daqueles que eram os opostos dos que usei para a criação da Espada da Meia-Noite, mas é óbvio que se trata de uma lâmina irmã.

A questão é: pra que elas servem?

Esta espada com certeza é o item mais peculiar que já toquei, vi ou ouvi falar neste jogo. Até mesmo a divina não tem a mesma... sei lá... aura que essa coisa emite.

Sem falar que é impossível alterar qualquer coisa dela, e sua durabilidade é ridiculamente alta; em todo este tempo que estive com ela, só precisei de reparos uma única vez.

Enfim, as novas descobertas eventualmente se revelarão a todos, eu estou focado em outra coisa no momento.

O que estou fazendo?

Hm...

Na verdade eu estava bem interessado em uma coisa: a quest "Guerra do Céu", isso é algo quase tão misterioso quanto a minha espada. Depois da quest de evolução de classe eu ouvi a menção de eventos dessa tal guerra poucas vezes.

Pelo que entendi, há seres que originaram os tais itens divinos, e eles travaram guerra contra os "Demônios do Fim", e o que sobrou dessa batalha maluca foi cada um de seus itens sagrados.

É provavelmente a quest principal do jogo e também o caminho de zerá-lo.

Me pergunto como isso se relacionará com os chefes ou os níveis finais...

Enfim, a verdade é que eu andava investigando bastante sobre isso, afinal, pode ser uma maneira de sair deste jogo.

Porém, eu fui atrapalhado por gente que... bom... me fez reviver algumas coisas desagradáveis na minha mente.

Há dois dias fui encurralado por um grupo de três jogadores: eram membros da guilda de ladrões Eye.

Acredite se quiser, eles estão muito poderosos, mas só trabalham nas sombras.

A Eye é meio que um tabu, pois faz atos que vão contra a maioria dos objetivos dos jogadores: eles não parecem ter vontade de zerar o jogo, apenas são pessoas que descarregam sua maldade e ódio aqui, já que os reprimiram na vida real.

Pelo menos é assim que eu enxergo.

Então, consegui fugir, não queria matar. Aquelas pessoas me fizeram reviver alguns fantasmas complicados na minha cabeça...

Só que eu não deixaria barato, é claro.

Agora, estou com este lixo bem na minha frente, devidamente amarrado e rendido, sem nenhum item. Ele grunhi em uma mistura de tensão e raiva, mas eu não vou ceder à dó e amolecer; eles são ruins, maus, com certeza. E pelo visto, sinto que sou um alvo dessa maldita guilda.

Andei devagar pelo piso do casebre em meio à floresta, me irritando um pouco com os sons que aquele cara fazia. Mesmo um bandido nojento pode demonstrar medo. É claro, era um fracote e aproveitador dos menos habilidosos que ele.

Parei na frente daquele homem, que acho eu ter cerca de uns trinta anos, seu olhar durante muito tempo teve um certo desprezo por mim, talvez não colocasse tanta fé no que um, segundo o que pensei que sua expressão achava, "um pirralho pudesse fazer".

Agachei e cheguei perto de seus olhos arregalados:

- Então, companheiro... você vai falar exatamente o que eu quero – retirei sua amordaça.

- Pft... Krr... Filho da mãe... Vai se ferrar!

- Eu estava quieto na minha, e vocês vieram me atacar. Por sorte, seus dois parceiros não estavam por perto, ou os três estariam aqui.

- Moleque desgraçado.

- Olha a boca, idiota – dei um tapa em sua cara, ele gemeu de dor, mas ainda tentava disfarçar o medo demonstrando raiva.

- M-m-me mata... logo!

- Não eu não vou fazer isso. Você tá quase se mijando. Eu devo imaginar que seu chefe deve ser um cara terrível pra você chegar a tanto pra acobertá-lo. Que cara curioso...

- O... o quê...?

- É isso que ouviu, idiota: eu quero saber quem é o líder da guilda Eye!