Chereads / Press Play (Português) / Chapter 21 - O Rato Ancião

Chapter 21 - O Rato Ancião

[POV JHIN]

Me encontrei com Mira e Jeremiah no dia seguinte. Nós três nos teletransportamos para o Território de Nível Vinte e Sete, um lugar com uma temática sombria. As cidades lembravam aquelas do velho-oeste americano, mas sempre fazia noite, o que deixava tudo mais sinistro.

Apesar dos detalhes, o lugar em si não era feito propriamente para assustar os outros. Os desenvolvedores foram bem criativos em deixar uma temática para cada território, então, apesar do clima sombrio, não era um nível especificamente para causar terror.

Estamos na cidade três: Colt.

Aqui, os NPC's normalmente ficam dentro das construções, e os que estão na rua tem aparências bem antigas e algumas até mesmo intimidadoras. Era o cenário perfeito de um velho-oeste sombrio.

De certa forma, até era agradável estar ali. Algo como isso tem um toque de charme único e deve ser apreciado.

- E aí, vão me contar o que estamos fazendo aqui? – Perguntei.

- Na verdade eu tenho um espírito que pode identificar a raiz dessa kris, mas antes temos que conseguir um item – ela explicou.

- O "Dente do Xamã" cai de uma ave muito forte que normalmente fica no topo daquela montanha – Jeremiah completou, apontando para a grande elevação escura no horizonte. – Esse item é essencial no ritual de invocação.

- Hm... vocês falam de um Abutre Rei? – Presumi.

- Conhece? – Mira me olhou, supresa.

- Pra ser sincero é um dos poucos monstros dos andares que foram conquistados que eu nunca cacei. Como eles só existem no topo do Monte Fantasma eu meio que fiquei com preguiça de ir até lá.

- De fato é um caminho complicado – Jeremiah concordou. – Mas com a Mira, a coisa se torna mais fácil!

- Como assim?

Assim que expus minha dúvida, vi os olhos da garotinha brilharem, e duas pedras de runas com cores diferentes se materializaram em sua frente e consumiram-se em um brilho. Logo em seguida, um pequeno dragão azul e manso apareceu, com uma expressão que achei infantil.

- Oi, Kaiser! – Mira sorriu.

- V... você realmente fez isso?! É preciso uma Runa Ancestral e uma Runa da Vida pra invocar o filhote de Dragão Azul! – Eu disse.

- Haha, não se preocupe, Jhin, você não fica me devendo nada, eu tenho mais algumas dessas.

- Invocadores são constantemente subestimados, mas na realidade podem ser a classe mais útil desse jogo – Jeremiah acariciou a cabeça de sua esposa, que corou, e em seguida, pigarreou:

- Caham... E-enfim, esse é o único meio de se chegar tranquilamente ao topo do Monte Fantasma. Vamos, subam!

O dragão reagiu bem quando subi. Os filhotes de Dragão Azul são bem domesticáveis.

O poder de um Invocador é basicamente assim: através das runas, você pode invocar criaturas vivas com quem faz um pacto. Quanto maior sua habilidade de Invocador e seus pontos em espiritualidade e energia, maiores as chances de uma criatura poderosa se submeter ao pacto com você. Eu diria que é um ato tão perigoso quanto caçar sozinho monstros fortes.

A outra faceta do poder de um Invocador é convocar espíritos pré-estabelecidos através dos "Resquícios de Alma" deixados pelas criaturas, também através de runas. Este já é um método bem seguro, porém muito mais complicado, pois "Resquícios de Alma" são orbes extremamente raros que caem de monstros.

Se seu nível for adequado, o Invocador quebra o orbe e absorve os fragmentos do espírito que está preso dentro.

Os espíritos e monstros com pactos tem a vida diretamente ligada ao seu dono, ou seja, não morrem se seu HP chegar à zero, e quando isso acontece, eles meio que... "retornam" a mana do seu Invocador e demoram um tempo para se recuperar.

Dito tudo isso, é possível imaginar a razão de ser difícil usar um Invocador para as batalhas.

Essa classe consome muita energia para invocação, e seus meios de ataque dependem exclusivamente de outros seres. Além disso, ainda é preciso se preocupar com Runas.

O que um Invocador faria se tivesse três espíritos ou monstros ofensivos e todos fossem derrotados por um boss no meio da batalha?

Até o tempo de serem invocados novamente, é muito provável que o usuário já estaria morto.

Alguns Invocadores tentaram lutar nas linhas de frente nesses trinta e cinco territórios, mas a taxa dos que sobreviveram é bem baixa, sendo assim, estatisticamente, são ineficientes nas lutas contra os chefes.

Eu particularmente discordo disso, acho que apenas a escassez de Invocadores é que causa isso. Pessoas que não possuem tanta habilidade e aptidão para jogos escolheram essa classe, pode ser uma infeliz coincidência, mas eu não quero acreditar que os desenvolvedores tenham feito uma classe que não seja útil em batalhas contra chefes.

Talvez, na hora certa, eles se mostrarão incríveis.

É o que eu penso pelo menos...

Durou cerca de uma hora o percurso até o topo do monte. Kaiser nos levou em um voo tranquilo e sem complicações, algo que me surpreendeu. Os Abutres Reis estavam em seu momento de descanso, algo favorável a nós. Não seria legal enfrentar várias daquelas coisas.

Nós tivemos o privilégio de voar pelas redondezas a alguns metros do chão sem sermos incomodados, até que finalmente encontramos um solitário.

Depois de Kaiser pousar, descemos dele, então o animal voltou para Mira.

Observei o enorme pássaro escuro e escutei sua respiração. Era um animal que com certeza faria de tudo pela minha carne. O Dente do Xamã sempre cai dessas coisas, de acordo com a Mira, espero que um seja o suficiente.

- Jhin, quer fazer as honras? – Ela me perguntou.

- Tá.

Me pus à frente e saquei a Espada Divina do Arcanjo, então saltei com energia e mirei entre os olhos do monstro. Contudo, creio que o Abutre Rei sentiu o perigo se aproximando, e para o meu susto, abriu rapidamente suas pálpebras, gritando e esticando as asas, que produziram um vento terrível, me empurrando para longe.

Cai meio desengonçado, e ele, raivoso, mirou seu bico para me empalar.

Jeremiah, segurando dois machados pesados me protegeu, e o abutre foi afastado. Foi a primeira vez que o vi lutar, não imaginava que ele teria força o suficiente para conter um Abutre Rei.

- Valeu! Desculpa a trapalhada! – Eu disse.

- Hehe, não se incomode! Olha só! – Ele indicou com a cabeça.

Mira consumiu três runas, e um belo espirito azul de um tigre se irrompeu, rugindo e correndo na direção do monstro, que teve sua garganta mordida pelo espectro e foi contido.

- Jhin! – Mira me gritou, e eu entendi na hora.

Saquei a Espada da Meia-Noite de meu inventário, e cruzando-a com a minha divina, o golpeei:

Habilidade ativada: Ponto Preciso.

Um corte em X foi feito na testa do Abutre Rei, que se desfez em um brilho.

Guardei as espadas no inventário e observei o tigre retornar para sua Invocadora. É mesmo muito belo a forma e cor que alguns espíritos possuem.

Você obteve: Dente do Xamã x1, Pena Negra do Abutre Rei x1, 150 nins

- Boa! Você nunca decepciona! Bastou uma habilidade! – Jeremiah se aproximou.

- Vocês dois me ajudaram bastante.

- Que tal sairmos logo daqui antes que venham mais? Vou chamar o Kaiser – alertou Mira.

Foi bem fácil na verdade. Deixamos o Monte Fantasma e também o Território de Nível Vinte e Sete, voltando para o trigésimo quinto.

O Território de Nível Trinta e Cinco tinha uma temática de cidade futurística, assim como o primeiro. Mas ao invés de algo mais escuro como o de nível um, tinha tons prósperos e bem claros.

Estávamos em uma praça vazia e fizemos questão de ficarmos fora da vista de qualquer um. Entreguei o item que conseguimos para Mira, e ela imediatamente usou de suas habilidades, usando o Dente do Xamã e outras três runas:

Uma forma de energia brilhante e branca começou a se formar, até se tornar um animal pequeno que Mira segurou com as duas mãos: era um ratinho branco e sem rabo, que usava roupas vermelhas bordadas de um dourado bonito e tinha um bigode claro e grosso.

- Waaaaaaah! Que sono!

O QUÊ?! Essa coisa fala?!

- Bom dia, Ruffus!

- Ah... é você, Mira – o rato a olhou, ficando ereto e passando as patas no bigode.

- Precisamos da sua ajuda! – Ela disse.

- É claro que precisam. Jeremiah, você ainda é o mesmo pirralho de sempre.

- Hahaha, b-bom, não e como se crescêssemos aqui – ele respondeu.

É sério... os desenvolvedores desse jogo precisam ser estudados.

- Diz ai, Mira, o que o meu grandioso eu pode fazer por vocês?

- Na verdade, é nosso amigo que precisa de ajuda. Este é o Jhin – ela levou o rato até a minha frente. Ruffus segurou o queixo e me olhou de cima a baixo.

Como é possível uma inteligência artificial ser tão esperta desse jeito? Senti como se realmente fosse um ser vivo ali!

- Moleque, você é forte.

- Uh... v-valeu.

- O que alguém como você quer com um velho rato?

- Preciso de ajuda para encontrar a origem deste item – retirei a kris do meu inventário e mostrei a ele.

- Era só isso? Bom, tanto faz, pode ser, mas precisam me dar uma recompensa.

Que rato abusado...

- O que você quer, Ruffus? – Mira perguntou.

- Hm... – ele novamente alisou o bigode. – O Queijo de Leite Premiado, é o que eu quero!

- Hã?! – Exclamei. – Leite de Vaca Premiada só pode ser obtido por uma missão específica do oitavo território ou por alguém que tenha muita aptidão em Criação de Animais!

- Não tô nem aí! Me arrumem! Ou eu não vou voltar a dormir e ficarei o tempo todo com vocês!

- Hein...?! – Jeremiah fez uma careta.

- É a minha condição – Ruffus bateu o pé na palma da mão de Mira.

Os olhei com esperança, mas logo eles me desanimaram. Todos já tinham completado aquela missão e vendido o leite, e também, ninguém tinha aptidão necessária com Criação de Animais.

Contudo, eu não podia voltar atrás, então resolvi improvisar:

- Certo, certo... eu conheço alguém que não fez aquela missão. O que acha? Depois de resolvermos este assunto eu peço para esse meu conhecido completá-la e arrumar o leite para fazermos o queijo.

- Negócio fechado, moleque!

Mira e Jeremiah sacaram na hora que eu estava blefando e me fizeram caretas preocupadas, mas não era o momento de correr atrás disso, eu precisava cuidar logo da guilda Eye, ou poderia acabar envolvendo os dois nessa loucura também.

- E então, pode saber a origem disso? – Aproximei a kris dele: Ruffus a cheirou por alguns segundos, em seguida, pareceu ativar algo semelhante a uma habilidade, seus olhos brilharam.

Com um pequeno sorriso, ele disse:

- Há! Eu sou o melhor nisso, moleque!

- E então? Pra onde vamos? – Perguntei.

- Direto para o Território de Nível Trinta!