[POV JHIN]
Nadamos em meio aos pequenos peixes que passavam por nós no caminho escuro e sem fim do Salão de Netuno. O lugar tinha o mesmo tom do mar, e era bem assustador. Fico imaginando quais sons estaria ouvindo se não estivesse com a bolha.
Sentir a água gelada em minha pele não era muito agradável, mas meu equipamento me deixava aquecido. O importante é que quando a ação começasse, eu ficaria em chamas.
No entanto, quando finalmente consegui perceber o brilho de um cristal que rodeava a área no chão de onde passávamos, já era tarde demais para alertar à todos com gestos:
Muita poeira se levantou, e infelizmente, nossa formação foi toda bagunçada. É pedir demais que pessoas comuns mantenham sua calma e não quebrem o planejado diante de um susto daqueles.
Uma criatura gigantesca com aspecto de polvo surgiu em nosso frente; seus vários tentáculos enormes balançavam e tentavam acertar os jogadores, bagunçados na formação.
"O Terror do Mar: Leviatã"
Feli deu sinal para que todos se acalmassem. Conforme a poeira se abaixava, era possível reagrupar com os companheiros da própria divisão.
O líder do esquadrão de magia deu o sinal, e seus subordinados começaram a lançar todo tipo de ataque em direção ao monstro.
Era preciso ter cuidado, já que a água limitava nossos movimentos.
Angel ficou ao meu lado como parte da divisão de espadachins, mesmo que fosse uma lanceira, suas habilidades seriam úteis no combate de linha de frente.
Como tínhamos poucos tanques disponíveis, eles ficaram encarregados de proteger os magos, e isso veio muito a calhar com a chegada de Sereianos, aliados do Leviatã.
Nós não levamos nenhum arqueiro nessa expedição. Pode-se dizer que o fundo do oceano é praticamente a maior fraqueza de um arqueiro, que depende muito da potência de suas flechas.
No caso de alguém como eu, um espadachim de agilidade, mesmo que a velocidade seja comprometida, nós ainda temos uma grande quantidade de força para utilizar em compensação, e também não é como se dependêssemos de projéteis para dar dano.
Feli indicou para nossa divisão que se dividissem em dois: sete jogadores foram ao auxílio dos tanques na batalha contra os Sereianos, enquanto que os magos faziam o possível para tanto lidar com os inimigos menores quanto com a criatura, que não parava de balançar os tentáculos perigosamente.
Sobrou para nós o enfrentamento direto. Eu, Feli, Angel e mais quatro partimos com tudo e desferimos golpes com nossas armas naquela coisa, mas seu HP imenso caia pouco.
Mesmo que golpeássemos com todas as nossas forças, a vida do Leviatã caia muito pouco.
Tem algo de errado, tenho certeza...
Eu sei que nós também sofremos embaixo da água, mas não é como se fossemos arqueiros... Isso está errado. Nosso dano está baixo e esse desgraçado parece nos ignorar.
O kraken tentava avançar em direção aos magos; talvez tenha julgado que eliminar a linha de trás era o mais adequado, visto que os Sereianos estavam tendo dificuldades em lidar com nossos tanques e os outros espadachins juntos.
Contudo, nós conseguimos atrapalhar o Leviatã, que mesmo levando pouco dano, não tinha sucesso em avançar.
Eu estou incomodado...
O que nós podemos fazer...?
Será quê...?
Sinalizei para Feli que eu faria algo, e sem entender, ela me fez uma expressão de revolta, como se me questionasse por que eu estava abandonando a formação e me encaminhando para as paredes.
Só que eu formei uma teoria...
Pode ser besteira ou perda de tempo mas...
Mergulhei mais fundo ainda, direto para o piso.
Uma espécie de orbe no chão, bem onde o Kraken se levantou, brilhava em uma cor mais reluzente do que aquele azul escuro do fundo do oceano, parecia muito com um ponto de objetivo, e isso chamou minha atenção anteriormente.
Será que eu estava certo?
Preciso tentar...
No entanto, três Sereianos tentaram voar no meu pescoço, e por pouco eu consegui desviar.
Estou pressionado.
Angel, de forma magistral, os espetou com sua lança prateada e os afastou, sendo a distração perfeita que eu precisava. Feli continuava a lidar com o Kraken, e ao mesmo tempo, nos olhava preocupada.
Com Angel tomando conta dos Sereianos, eu tinha espaço para tentar o que queria.
Tinha que ser rápido, ela teria problemas em lidar com os três inimigos...
Com muita força no braço, utilizei minha Espada Divina do Arcanjo para desferir um ataque certeiro no orbe brilhante:
"Habilidade ativada: Onda de Fúria"
O belo efeito daquele golpe atingiu o objeto esférico preso ao chão e rapidamente o rachou.
Pressentindo algo grande, me afastei o mais rápido possível, puxando Angel para longe dos Sereianos.
A água de todo o lugar começou a ser sugada para a rachadura daquele orbe, e conforme os segundos passavam, mais e mais raso ficava o local. Até que então, depois de um grande alvoroço, o Kraken caiu no piso, o que só me mostrou o quão grande ele era. Os Sereianos pareciam sem forças também.
Eu retirei a minha Bolha do Oxigênio e vi os outros fazerem o mesmo.
Feli chegou em mim:
- O que você tava pensando?! Ficou maluco?!
- O Leviatã tem defesa extra na água! – Expliquei.
- O quê?!
- Eu pensei que poderia ter um jeito de esvaziar esse local, visto que ele foi todo fechado desde que nós entramos!
- Isso foi imprudente! – Ela repreendeu-me.
- Faz sentido, Feli – Angel interveio. – Pelo menos, agora nossos ataques ficarão mais fortes.
Mas algo aconteceu que não deu tempo para ficarmos de papo: os Sereianos que sobraram começaram a se transformar em um brilho e serem sugados pelo Leviatã, que os absorvia em seu corpo, até que o mesmo virou uma esfera de luz e começou a moldar seu formato para outra coisa.
Aquele monstro estava se transformando...
O resultado foi algo que eu já estava acostumado... Bom, não tão acostumado assim, pelo menos me lembrava um certo monstro...
Se os Crocodilos Gigantes eram, como o nome diz, gigantes, pode se dizer então que esse crocodilo que o Leviatã se tornou agora era... uh... colossal.
Merda... frio na barriga...
Aquela porcaria devia ter vinte vezes o tamanho de um crocodilo gigante...
Que coisa insana...
Então já avançamos para o estágio dois?
Que bafo horrível... É nessas horas que eu vejo como a Bolha de Oxigênio pode ser uma benção.
- E-e-essa coisa... – tremeu uma garota espadachim ao meu lado.
- Se acalmem! Vamos continuar com a estratégia! – Feli disse.
Porém, eu logo percebi qual era a intenção daquela insanidade quando ele direcionou seus olhos raivosos a nos.
Mesmo que os tentáculos fossem grandes, não se comparavam a uma cauda de aspecto pontudo que é praticamente um terço do corpo dessa besta.
Não tive tempo de fazer muita coisa...
O Leviatã não mudou seu pensamento...
Essa não...
Só me restou alertar a linha de trás com todas as forças que tinha:
- PULEM!!! – Os avisei, saltando o máximo que podia.
Os guerreiros, acostumados a movimentos reflexivos de batalha acompanharam-me, mas os magos são jogadores que normalmente fazem linha de trás, e não possuem uma reação corporal tão rápida quanto a de um guerreiro.
O Leviatã virou seu corpo absurdamente rápido para um ser daquele tamanho, sua calda fez um movimento circular e varreu tudo que tinha pela frente: pedras, estátuas e também... toda a divisão de magos...
Pude ver o olhar desesperado de Angel, assim como um grito angustiado de Feli:
- NÃÃÃÃÃÃOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!