Na manhã seguinte, Letícia acordou febril, o corpo dolorido e a cabeça pesada. Apesar do mal-estar, uma importante reunião com os conselheiros reais a aguardava.
— Alteza, você está queimando em febre! — exclamou Dagmar, tocando a testa de Letícia com preocupação. — Deveria repousar!
— Tenho uma importante reunião, não posso faltar — respondeu Letícia, com firmeza, embora sua voz soasse fraca.
Enquanto caminhava pelo corredor, a tontura a atingiu de repente. Sua visão escureceu, e ela cambaleou, prestes a cair. No último instante, braços fortes a seguraram. Era Aleph.
Ele a amparou com delicadeza, notando sua respiração ofegante e o rubor intenso em suas faces, que, de alguma forma, a tornava ainda mais bela. Preocupado, tocou sua testa.
— Você está queimando em febre, princesa! — exclamou. — Precisa descansar.
Letícia, consciente de estar nos braços de Aleph, afastou-se delicadamente, tentando recuperar a compostura.
— Estou bem — insistiu, embora sua voz falhasse. — A reunião é importante demais para ser adiada por causa de uma simples febre.
Aleph, porém, sabia que não se tratava de uma simples febre. Seu toque revelara uma temperatura alarmante. Observou Letícia se afastar, respirando fundo e entrando na sala de reuniões como se nada estivesse errado. Admirou sua força de vontade, mas também se preocupou com sua teimosia.
— "Ela precisa realmente fazer tudo isso pelo Reino? Pensar neles antes do que nela mesma." — pensou Aleph, com um misto de admiração e indignação. — "Um reino que a entrega como moeda de troca para obter vantagens comerciais…"
Na reunião, os conselheiros discutiam a exigência do príncipe Ryuuji: Letícia deveria partir para o Reino do Outono em duas semanas. A notícia do sequestro havia chegado aos ouvidos do príncipe, que a interpretara como uma afronta pessoal e uma ameaça ao acordo matrimonial. Ele ameaçara o Reino do Inverno com sérias consequências caso algo acontecesse à sua futura noiva.
— Não compreendo as exigências do príncipe Ryuuji... — resmungou um dos conselheiros. — Somos nós que mais nos beneficiamos desse acordo. Por que iríamos querer que ele fosse desfeito?
— Talvez ele tema que não cumpramos nossa parte do trato — sugeriu outro.
— Há inúmeras mulheres no Reino do Outono. Por que ele insiste tanto na princesa Letícia? — questionou um terceiro, lançando um olhar apreciativo a Letícia. — "Embora ela esteja particularmente radiante hoje…" — pensou.
— Ele não ganha nada com esse casamento além da… união em si — ponderou um quarto conselheiro.
— Talvez seja uma exigência do rei Ryuuichi para a sucessão de Ryuuji ao trono — especulou um quinto. — Afinal, o acordo foi feito com os antigos reis.
A discussão se prolongava sem chegar a uma conclusão. O rei Hayden, impaciente, interveio.
— Não importa a motivação do príncipe Ryuuji — declarou, com firmeza. — O importante é que ele assine o contrato e nos forneça a assistência prometida.
Laurenn, sentado com os braços cruzados, observava a cena com desaprovação.
— "Eles só pensam em acordos e benefícios, ignorando o sacrifício que Letícia está fazendo pelo reino" — pensou, lançando um olhar preocupado à irmã. — "Ela parece diferente hoje. Será que está se sentindo bem?"
Letícia ergueu a mão, pedindo a palavra.
— Este casamento foi um acordo firmado por minha mãe, a rainha Elyza, com o Reino do Outono — disse, com a voz firme. — Independentemente das circunstâncias, honrarei sua decisão. Já encontrei um cavaleiro para me acompanhar e garantir minha segurança durante a viagem. Portanto, não há motivos para preocupação. A aliança será concretizada.
Os conselheiros aplaudiram as palavras de Letícia. Hayden, com um aceno de cabeça, a dispensou da reunião.
— "Melhor dispensá-la antes que comece a defender os interesses do reino como Elyza fazia" — pensou Hayden, irritado.
— Majestade — interveio um dos conselheiros —, por falar em casamento, quando será oficializada a união do príncipe Laurenn com Lady Rachel?
— "Quanto mais tarde, melhor" — pensou Hayden, mas respondeu em voz alta: — Eles ainda estão se conhecendo. Aguardaremos o momento em que ambos se sentirem prontos para assumir o compromisso. Não é mesmo, Laurenn?
Laurenn, incapaz de desafiar o rei abertamente, confirmou com um aceno de cabeça. Os conselheiros, representando diferentes áreas do reino, discutiam acaloradamente sobre economia, segurança e agricultura. Laurenn, repleto de ideias inovadoras, ansiava por contribuir com suas propostas, certo de que poderiam beneficiar o reino. A cada problema apresentado, formulava soluções eficientes, mas suas tentativas de se expressar eram ignoradas pelos conselheiros ou interrompidas pelo rei Hayden, que o tratava com indiferença e desdém. A frustração de Laurenn crescia a cada minuto.
Do lado de fora da sala de reuniões, Aleph aguardava pacientemente por Letícia. Assim que ela surgiu, percebeu imediatamente sua fragilidade. A febre havia piorado, consumindo suas últimas reservas de energia. Sem hesitar, Aleph a tomou em seus braços.
— "Apesar da febre, ela se esforça ao máximo por um reino que não a merece" — pensou Aleph, com um aperto no coração. — "A viagem ao Reino do Outono será perigosa. Não posso deixá-la desprotegida. Preciso protegê-la."
Aleph entregou Letícia aos cuidados de suas damas de companhia, que se assustaram com o agravamento de seu estado. Ao saber da notícia, Laurenn correu para os aposentos da irmã, trazendo consigo o médico real. Ele se sentia culpado pelo que havia acontecido, sabendo que Letícia havia se aventurado na noite fria para procurá-lo.
Com a febre controlada pela medicação, Letícia dormia profundamente. Laurenn sentou-se à beira da cama, tomou sua mão com delicadeza e a levou ao rosto.
— Melhore logo, Letícia — sussurrou, com carinho. — Não suporto ver você doente. A possibilidade de perder outro familiar me aterroriza.