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Chapter 31 - O Julgamento

"Aros Silverstein, você está sendo julgado pelos crimes de destruir um reino inteiro e matar várias pessoas. Tens algum protesto?

"Não..."

A salão era enorme, mesmo não enxergando, eu conseguia saber exatamente a dimensão do espaço onde eu estava, o eco das pessoas e o vento que passava provavelmente por de baixo das portas, me dava corretamente a dimensão do lugar. O frio que estava sentindo podia ser de ansiedade ou por eu estar com menos peças de roupas do que o normal.

Vestido apenas com minha roupa normal, sem a capa, eu estava em um pedestal em uma sala enorme. Eu estava sendo julgado.

Dois cavaleiros estavam nos meus dois lados atrás, enquanto mais dois estavam a minha frente na frente do pedestal. Era uma guarda que eles precisavam ter e estava bem mais reforçada do que antes, aparentemente eu sou um criminoso muito pior do que todos que já passaram aqui.

"Ótimo, seguiremos então."

"Primeiro quero perguntar uma coisa!"

Um homem, ao lado do juiz, levantou a mão querendo perguntar alguma coisa. Ele estava elegante com roupas nobres de alta qualidade, eu ainda não sabia quem ele era, mas claro que o juiz o deixou falar.

"Aros Silverstein, por que estas com estas faixas nos olhos?"

O público, ou melhor, os jurados exclamaram percebendo que foi uma boa pergunta. Não tinha o por que eu mentir sobre aquilo, afinal, eu já estava sendo julgado mesmo, mentir ali só dificultaria ainda mais as coisas.

"Eu usei um feitiço forte e essa foi a consequência, eu perdi a visão, tanto que ao redor dos meus olhos ardem." Respondi e sorri.

"Certo."

Ele se sentou novamente. Os jurados e até testemunhas ficaram surpresos com a resposta, poucos feitiços causavam efeitos colaterais, então todos eles só puderam especular que era com certeza algum feitiço bem forte. Teve também alguns outros que disseram: "Bem feito..." e eu realmente não liguei, apesar de que era verdade.

"Começaremos com o lado das vítimas do ato, por favor comecem."

No mesmo instante, levantou-se do publico uma mulher e foi até a cadeira de testemunhas. Ela se sentou um pouco timidamente, seu olhar não parava quieto e parecia muito apreensiva por estar ali. Claro, não era um lugar tão confortável, mas parece que ela não queria estar ali.

"Por favor, comece dizendo como você viu acontecer e o que aconteceu." O juiz falou.

"S-Sim... é... eu estava em minha casa limpando como sempre fazia, saí pela porta e então ir atrás da minha casa para estender algumas roupas. Foi quando eu senti o ar um pouco estranho, era como se estivesse me sufocando. Até aí pensei que era algo da minha cabeça, porém logo em seguida..."

Ela pausou sua fala, como se lembrasse do ocorrido terrível.

O que me doía nas palavras que ela dizia, era que ela era uma cidadã completamente normal e eu nem sabia quem era. Ela aparentava não ser uma moça ruim, uma mulher simples que vivia no reino Carius normalmente. Não saber quem era e ter sido afetada pelos meus atos, me dava um aperto no coração muito grande e constantemente me perguntando em minha mente "o que foi que eu fiz?".

Enfim ela continuou.

"Ouvi uma explosão muito alta, corri para fora de casa para ver o que era e o fogo começou a se espalhar pela cidade inteira. Eu não sabia de onde estava vindo todo aquele fogo, mas não hesitei em correr. Primeiro, eu fui correndo para a forja de meu marido que estava com meu filho, para ver se eles estavam bem. Eu cheguei na forja e... estava tudo queimado."

Todos ficaram em silêncio, até mesmo eu. Quando dei aquela ordem para o Aros original, eu estava completamente alucinado em vingança, não pensei em ninguém que morava lá e quem vivia normalmente.

"Corri pela cidade em chamas até achá-los e consegui encontrar meu filho que corria desesperadamente em busca de algo. Eu o puxei para nos afastarmos, só que ele estava me puxando de volta dizendo que meu marido estava nas chamas. Eu consegui ver ele de relance, ele estava ajudando as pessoas a saírem das chamas e fugirem. Aquela foi a última vez que vi meu marido, os guardas e os magos curandeiros disseram que ele provavelmente estava morto já."

As lágrimas daquela moça, chegaram a preencher seus olhos, mas ela segurou. Mesmo com uma cara triste, ela decidiu continuar a história até aquele ponto.

"Meu filho e eu fomos correndo para fora das muralhas, eu olhei para o céu para ver o que estava acontecendo, e lá estava Aros Silverstein aos céus, queimando toda a cidade."

Ela abaixou a cabeça.

O juiz me olhou novamente com uma cara neutra. Pensei que todos estariam ali me julgando bastante, com nojo de mim ou algo do tipo. Porém, todos estavam sérios fazendo seus trabalhos corretamente, o que é algo estranho de se ver visto a época em que estávamos.

"Aros Silverstein, tem algo de falso neste depoimento?"

"Não."

"Então, prossiga por favor." Diz ele a moça.

"Quando eu estava correndo com meu filho para fora das muralhas, começou uma batalha intensa entre Aros e uma mulher desconhecida. Essa batalha estava causando impactos na cidade toda, então precisei me esconder... Foi nesse momento que quase perdi meu filho."

Todos engoliram seco.

"Em uma das casas que usei para nos proteger, foi atingida por um ataque da batalha. Consegui abraçar meu filho e proteger meu filho, mas uma das madeiras escapou e caiu sobre a barriga dele. Fiquei desesperada pois não conseguia retirar. Mas a batalha tinha acabado e consegui auxilio dos magos curandeiros, porém não houve melhora. Foi ali que pensei que tinha perdido meu filho, quer dizer, ele realmente morreu por alguns dias, mas..."

O julgamento continuou por mais ou menos três dias. No último dia, mais vitimas fizeram depoimentos e como lhe afetaram durante o ataque. Claro, cada dia mais, ficava com mais peso por ouvir todas aquelas histórias tristes, tudo que eu causei agindo cegamente.

Mas a última vítima, era alguém surpreendente.

"Lola Greyroth, por favor, compareça." Disse o juiz.

Assim, a garota de cabelos rosas, subiu na cadeira de testemunhas. Ela estava assustada e um pouco nervosa, eu podia sentir. Suas mãos estavam tremendo, então não conseguiu carregar nada até ali.

"Por favor, conte-nos como ocorreu."

"S-Sim..."

Ela olhava para todos os lados tentando desviar o olhar.

"E-Eu fui vitima do ataque que aconteceu em Lálario, mas fui salva graças a uma garota. Após levar essa garota ferida para o castelo, onde estavam realizando o tratamento das pessoas feridas, Aros apareceu lá, chegando do reino dos elfos... Ele... Ele pediu... para eu ir com ele, fazer a vingança do reino."

Todos ficaram espantados.

"Ele... Ele... Ele não me deu direito de escolha e me forçou ser sua cumplice."

Jurados e públicos colocaram a mão na boca e quase não acreditavam no que Lola havia dito. Eles começaram a conversar entre si, abismados com o seu depoimento chocante. Pude ouvir algumas das conversas, algo como: "Não acredito que ele forçou a ela fazer esta atrocidade." Ou "Ele merece ser punido, isso é terrível, como pode se considerar humano?".

"Silêncio!" Disse o juiz e todos se calaram. "Quer continuar, Lola Greyroth?"

"N-Não, é apenas isso."

Depois deste último depoimento, era a hora mais esperada, o juiz, faria o julgamento final. Era ali que ele decidiria minha condenação. Sinceramente eu não estava muito esperançoso, mas tinha chances de eu sair dali sem ser por pena de morte ou prisão perpétua. Apesar de que seria bem difícil.

Eu estava bem abalado, ouvir todos aqueles depoimentos me fez refletir mais e querer parar de buscar vingança tão agressivamente. Na realidade, tudo se estendeu bastante, por tomar decisões precipitadas ocorreram alguns eventos na qual me fizeram tomar atitudes erradas. Primeiro, o fato de eu ter erguido a barreira no reino dos elfos, fez Lukia sair e procurar por mim, um grupo de aventureiros apareceu e feriu bastante ela. Por conta disso, eu matei o grupo de aventureiros...

"Como todos aqui viram..." começou o juiz "Aros Silverstein fez muitas atrocidades, tantas que existe mais centenas de pessoas que queriam depor contra o réu. Mas depois de um certo acontecimento, muitas delas desistiram. Nada obviamente justifica seus atos ruins, no entanto não podemos que ele foi quem mais ajudou depois dos incidentes. A pena agora seria execução ou prisão perpétua."

Todos ficaram agitados, a maioria aflita, mas alguns comemorando. Acho que eu realmente não era uma pessoa muito querida. O que mais apertou meu coração, foi Asura. Ela estava no tribunal, sentada como uma espectadora. Lá do fundo, quando o juiz disse minha provável condenação, pude ouvir ela se agachando no chão e chorando bem alto. Mas a vozes de euforia dos outros meio que abafaram seu choro.

"Porém..." Assim que ele disse isso, todos se calaram "Uma ameaça maior apareceu no momento do incidente, os reis demônios foram libertados. Eles tentaram tomar o poder do continente novamente, apesar de discretos. Mas graças a Aros Silverstein, o continente foi salvo, ele matou todos os cinco e fomos salvos."

Todos ainda estavam ouvindo, mas alguns estavam desacreditando, que talvez ele diminuísse a minha pena.

"Além de que, Aros Silverstein conseguiu salvar muitas pessoas do ataque que ele mesmo salvou. Pessoas que tiveram seu estado relatado como mortos, foram ressuscitados por Aros Silverstein. De 50% de feridos, 45% foram ressuscitados. Realmente um milagre. Não só isso, como o réu ajudou tanto o reino Carius quanto o reino Borogh na reconstrução de seus reinos. Mesmo que seus crimes sejam imperdoáveis, minha decisão foi diminuir a pena para o máximo que consegui."

Todos se levantaram novamente, até Asura, que ficou com as mãos juntas rezando por mim. Sinceramente, nunca tinha sentido essa sensação antes, de estar completamente feliz por ela estar ali. Por ter alguém em meu lado, fazia tempo que não tinha ninguém assim, apenas minha irmã mais nova do outro mundo.

"O réu, Aros Silverstein, como pena, terá que viver cinco anos em seu próprio reino sem poder sair dele. Uma prisão domiciliar. Caso contrarie esta pena, outra será colocada no lugar mais grave, como a prisão perpétua."

Na hora que ele disse, alguns comemoraram e outros ficaram abismados, com raiva. Asura que estava apreensiva, pulou de alegria junto de Cássiria e Tess que estavam ao seu lado. De começo, eu tinha desaprovado em relação a Tess comparecer no julgamento, porém tanto ela quanto Asura insistiram. Lola que estava na bancada de vítimas, também ficou feliz, mas não expressou com tudo. Tudo aquilo tinha acabado de fato, receber minha condenação deixou meu coração mais leve um pouco, mostrava que realmente havia acabado tudo aquilo.

Eu, Asura, Tess, Lola e Cássiria estávamos nos preparando e adentrando a carroça que nos levaria de volta a Lálario. Era uma cena realmente normal, exceto que...

"Não me faça fazer uma coisa daquelas de novo! Sabe como eu fiquei apreensiva?"

"Me desculpa Lola, mas era preciso."

"Ah! De novo você falando disso! Eu fui com você por toda essa jornada e então eu estava preparada para o que viesse de consequência também!"

Lola estava discutindo comigo, ela soltava xingamentos a mim de ódio. O significado disso era que eu pedi para Lola depor contra mim, inventamos uma desculpa um pouco rápido e quem quase não fazia sentido, porém funcionou. Caso Lola não fizesse isso, ela seria julgada como minha cumplice e provavelmente receberia uma punição grave igual a minha. Claro que eu não iria deixar.

"Hunf... Não quero mais saber, vamos embora logo."

Ela adentrou a carroça com auxilio de Cássiria, todos estavam com um ar de alivio por tudo aquilo ter acabado. Claro que a condenação a mim me limitaria do jeito ruim, porém foi preciso, eu não estava tão triste, sentia que realmente merecia.

"Ela não parece contente, não é?"

Quem chegou e falou foi Asura.

"Eu entendo, depor contra uma pessoa conhecida deve ser duro, porém não tinha outro jeito."

Asura ficou quieta por um momento. Pensei que ela diria alguma coisa sobre se tinha outro jeito, ou talvez por ela ainda estar apreensiva. Ou até triste com minha condenação. Mas de repente, ela me abraçou.

"Eu pensei... que realmente não te veria nunca mais..."

"..."

Não consegui falar nada, realmente, tinha a chance de eu ser executado ou ter prisão perpétua. Mas felizmente nada assim ocorreu, eu não estava no corpo de Asura, mas podia sentir empatia do que ela estava sentindo.

"Não fica em silêncio, diz alguma coisa!" Ainda abraçada em mim, reclamou.

"Eu também fiquei assustado, não queria perder vocês... Não queria perder mais pessoas que amasse.

Para destruir completamente nosso clima "amoroso". Alguém atrás me chama.

"Aros Silverstein?"

Eu me viro, para poder ver quem era. Fico espantado, era a mulher que depôs contra mim, aquela que perdeu o marido e quase o filho. Um dos depoimentos que mais me marcou e que mais fiquei comovido.

"Ah, olá senhorita." Me curvei.

"Você consegue ver através dessas faixas?" Ela provavelmente brincou.

"Não, mas consigo sentir tudo. É praticamente uma segunda visão."

"Haha, não esperava que conseguisse." Ela estava tímida.

"Eu... me perdoe." Eu disse, querendo sempre me desculpar com ela.

"Não, não precisa. Na verdade, eu não quis depor contra você, algumas pessoas que me pressionaram a fazer isso. Quando você... Quando você salvou meu filho, tudo que sentia de raiva contra você passou. Sempre achei que ressuscitação era coisa de história de livros, mas você conseguiu. Nunca estive tão feliz."

Ela emitia um sorriso gentil, dava para ver que ela não tinha mais raiva contra mim. Aquilo me causava desconforto, afinal eu fiz coisas ruins a ela e mesmo não me odiava. Era como se essa fosse a minha pior pena.

"Eu só posso ressuscitar seres que ainda estejam com seus corpos ainda existindo, mesmo que seja apenas um pedaço dele... Não pude salvar seu marido, já que ele queimou no incidente... me desculpa."

As faixas brancas que tampavam minha visão, começou a ficar úmidas, tanto que Asura e a moça conseguiram ver.

"Não se preocupa com isso. Sei que foi ruim, mas eu que vou lidar com a perda. Então por favor, não se julgue tanto. Apesar de ter feito coisas ruins, fez coisas tão boas quanto ruins. Isso te faz um homem diferente."

Depois de conversarmos um pouco, ela foi embora. Mas o peso que sentia em meu coração não. Posso ter feito coisas boas claro, no entanto, as coisas ruins ainda ficavam em minha mente e aquilo me destruía por dentro. Quando voltamos para Lálario, pude descansar um pouco e pensar mais. Porém, toda as noites eu tinha pesadelos e acordava no meio da noite. Tinha noites tão ruins, que eu vomitava e chegava a chorar. Não sabia quando aquilo iria parar, mas era minha punição dos céus, por tanta coisa ruim feita por mim.