Um dia depois de toda a festa, marquei uma conversa com Lukia, a rainha-elfa do reino das Elfas. Fiquei feliz por ela ter aceitado muito rápido, então era o dia dela conhecer Lálario. Estava bem apreensivo devo confessar, precisava estar tudo perfeito já que quando visitei seu reino, estava impecável.
Preparei uma recepção organizada, anunciei a população a vinda da governante e preparei quartos extras aqui no castelo para caso ela tenha que ficar mais alguns dias.
Felizmente, tudo ocorreu do jeito que eu esperava. A recepção organizada deu certo, com guardas marchando e jogando flores por cima de sua carruagem. Os habitantes aplaudindo sua chegada. Tudo tinha dado certo.
"Nossa tudo isso foi para mim? Assim fico sem graça." Diz ela.
"Você é nossa visitante, é óbvio que a receberíamos muito bem, além de que não é uma pessoa qualquer, é a atual rainha-elfa em pele e osso."
Naquele momento já estávamos em minha sala. Os sofás de frente ao outro separados por uma mesa baixa de madeira parecia comum naquele mundo, decidi aderir também.
"Agora me senti um pouco envergonhada, fez tudo isso para mim, se eu soubesse que teria feito algo assim, planejaria uma recepção melhor a você quando foi ao meu reino."
"Só de ir lá, foi um espetáculo. Nunca tinha visto um lugar tão bonito e relaxante, pra mim, aquilo já foi uma recepção muito boa." Abro um sorriso.
Fiz Alfred preparar um chá para a convidada, que sinceramente, estava muito tranquila para quem foi tão animada na minha chegada lá. Mas logicamente, relevei, dei uma olhada superficialmente em sua linda pele morena e não tinha nenhum arranhão da batalha que aconteceu.
Depois desse clima agradável, ela deu um gole de chá e ficou em silêncio por algum tempo.
"Seu jeito de falar mudou..."
"Sério? Nem reparei nisso."
"Sim, antes você era um menino despreocupado e envergonhado. Agora, tem uma postura de governante, de uma pessoa um pouco mais séria. Não que seja tão ruim assim, no entanto tirou a essência de você."
Fiquei sério.
"Eu soube que você adotou duas filhas, algo que eu não esperava do menino que conheci antes. Uma responsabilidade muito grande para um governante e para o menino que eu conhecia, mas ouvi que você se dá bem com esse tipo de coisa."
Ela continuou dizendo o que pensava.
"Essas faixas nesses seus olhos, parece estar escondendo o menino que eu conhecia antes. Depois do incidente, nada que eu ouvia sobre você era bom. No julgamento, eu compareci lá e fiquei aflita de verdade, a qual punição você receberia. Mas diz para mim Aros, o que aconteceria se você realmente tivesse sido executado?"
O clima antes agradável foi disperso pelos comentários sinceros de Lukia, como só havia eu, Alfred e ela na sala, apenas nós ficamos desconfortáveis. Eu dei um gole grande em meu chá e coloquei no prato menor de novo.
"Alfred."
"Sim, Silverstein-sama."
"Eu vou dizer algumas coisas para a Lukia agora, para melhor privacidade gostaria que você deixasse a sala."
"Sim Silverstein-sama, agora mesmo."
Alfred abriu a grande porta e saiu assim como eu havia mandado. Era bem estranho para mim, "mandar" em alguém, então eu estava tentando me acostumar com aquilo tudo. A ficha de ser um lorde já havia caído, mas não completamente.
"Viu? O garoto que eu conhecia nunca iria expul—"
"Realmente, as cicatrizes depois do incidente ocultaram o que eu era antes" Interrompi Lukia "Meu bom humor foi perdido durante aquele tempo, mas nada impede que eu volte ser "aquele menino" que você conhecia. Eu vi várias pessoas de que eu gostava, sofrendo por conta das ações dos outros e as minhas, tudo de uma vez só. Até você Lukia, quando te vi ferida daquele jeito, percebi que as coisas estavam dando errado muito rápido."
Ela prendeu a respiração.
"Por te admirar bastante, vou revelar uma coisa que ninguém sabe."
Eu me levantei e fiquei de pé de frente para Lukia. Ela se assustou um pouco, mas olhou firmemente em mim esperando algo acontecer. Levei minha mão direita até meu ombro esquerdo e cortei meu braço fora.
"Aros!" Ela se desesperou.
"Não precisa se desesperar."
Logo após, luzes brancas começaram a contornar mais ou menos como era meu braço antes. Em seguida, começou a se regenerar e formar um braço novo. Meu antigo braço caído sobre o chão, começou a desaparecer em pequenas partículas de luz.
"Isso se chama regeneração da luz, como pode ver, eu sou imortal."
"Imortal?"
Me sentei novamente.
"Já testei de várias formas, e funciona em tudo, órgãos, peles, veias, tudo se regenera novamente. Por isso, respondendo sua pergunta, se eu tivesse sido executado, eu não teria morrido. Com certeza, no ato de desespero, eu teria me mudado para um lugar bem longe e viveria lá sentindo um tédio eterno."
"É realmente difícil de acreditar nisso. Eu pensava que só a minha raça tinha realmente tinha poder de ser "imortal", era algo característico dos elfos. Mas você tem um poder de imortalidade muito maior..."
"Sim."
"Por que que ninguém sabe disso? Isso é incrível!"
"Eu não sei o quanto essa informação afetaria Lola e Tess. Talvez eles pensariam que já que não poderiam fazer nada comigo, iriam machucar as duas. Minha responsabilidade agora é protege-las."
"É estranho ver como você é um bom pai."
Nesse mesmo instante a porta se abre. Já que a conversa tensa já havia terminado, não havia problema alguém invadir desse jeito. Quem vem correndo em uma velocidade exorbitante para cima de mim, era Tess. Suas orelhas acinzentadas vieram balançado até mim.
"Papai, eu estou aqui!"
"Claro que está."
Na porta estavam todos reunidos, Alfred, Cássiria, Lola e Asura. Seria um reencontro emocionante entre Cássiria e Lukia, já que antes eram parceiras de trabalho por tanto tempo. Me sentia culpado de ter levado Cássiria tão distante da rainha-elfa, mas ela aceitou vir comigo mesmo assim.
"Ei Tess, eu disse que não era para entrar de imediato!" Quem deu o sermão foi Lola.
"Mas papai não está falando de assuntos malvados, não é papai?"
"Não, com certeza não."
Todos entraram na sala depois da grande barulheira que Tess havia causado. Lukia se levantou para cumprimenta-los todos, era um ato de respeito muito humilde por ponto da rainha-elfa, visto que todos ali deviam saudar ela e até se curvar.
"Ah, você é uma moça muito bonita!" Diz Tess.
"Obrigada, você também é uma criança muito fofa!" Responde Lukia.
As duas passaram um tempo grudada uma na outra. Pensei que era por respeito e Lukia estava tratando Tess bem, mas ela realmente gostava de crianças e passou a maior parte do tempo a abraçado e a apertando. Depois de cumprimentar todo mundo e se emocionar com o reencontro entre Lukia e Cássiria, nos sentamos novamente.
"Parece estar tudo indo bem atualmente, não é?"
"Sim, pela minha condenação, consigo focar mais em problemas do meu próprio reino. Por isso a reconstrução do centro comercial foi bastante rápida. As multas por quebras de contrato já foram todas pagas. Levou quase duas semanas para resolver tudo."
"E nenhum grupo de revolta surgiu contra você, não é?"
"Não, todos foram bem compreensíveis, tenho sorte de ter uma população tão unida assim. Apesar de que já ouvi que rebeliões estão acontecendo em outros reinos contra mim, segundo algumas fontes que tenho, eles justificam que tem medo de eu mata-los por ter uma opinião contrária."
"Também já ouvi os rumores. Lá no reino, não houve nenhuma até o momento, todos estão agradecidos por você ter nos protegido com a barreira."
"Fico feliz."
"Mas os rumores que ouvi são graves... Tem um grupo no reino de Sagólia que está fazendo um movimento contra você. Todos os dias eles enchem as ruas gritando alto e pedindo para que o rei de Sagólia elimine você."
O reino de Sagólia ficava um pouco distante de Lálario, mas a distancia com grande velocidade de cavalos, você chegaria lá em três dias. O rei de Sagólia já foi considerado um dos melhores guerreiros do continente, porém segundo Lukia, ele naquele momento não bastava de um velho corcunda.
"O problema mesmo é que muitos integrantes desse grupo estão destruindo casas e tendas comerciais, até extorquindo pessoas. A situação lá parece ser bem grave, me intriga ninguém ter vindo fazer alguma proposta com você."
"Este é o único grupo que está tendo atitudes rebeldes?" Desta vez quem pergunta é Asura, que até então estava quieta.
"Com certeza não, mas este grupo é o que tem mais membros, assim sendo o mais reconhecido de lá."
"Vai ser difícil acabar com o grupo sem conhecer o líder." Diz Asura de novo.
"Ele provavelmente está se escondendo, apenas fez o movimento para extorquir o dinheiro de várias pessoas inocentes e assim se enriquecer em total silêncio."
"Mas também não podemos chegar lá e eliminar o líder, vão dizer que estamos oprimindo a liberdade de expressão." Diz Cássiria.
Cássiria tinha toda razão. As pessoas irão nos acusar de oprimir a liberdade de expressão e isso pegaria bem mal para a imagem do reino a partir dali. Por isso queria um jeito pacifico de fazer as coisas. Cada dia que passava, a politica entrava em mim e me deixava ansioso.
"Acho que nossa única opção é negociar com ele, criar algum tipo de acordo que faça ele retirar o movimento. Não quero que mais pessoas se machuquem por minha causa."
Senti que todos ao redor sorriram com minha frase.
"Certo, então como acharemos o líder?" Diz Asura.
"Acho que posso mandar Zerbst ou Zannith para uma investigação em Sagólia, no momento eu não posso pisar fora de Lálario então terei apenas que comandar de fora mesmo."
Todos ali concordaram balançando suas cabeças afirmando. No pior das hipóteses, terei que ir lá resolver pessoalmente, então confiante eu estava sobre o futuro das negociações entre o líder do grupo e Lálario.
"Bom, eu também posso mandar alguns de meus homens para fazer uma investigação. Até seria mais fácil já que não somos moradores de Lálario."
"Claro, agradeceria toda sua ajuda Lukia."
"Eu que fico grata por poder te ajudar... A conversa que tivemos mais cedo, foi de estrema importância, pude ver que realmente confia em mim como sua aliada."
Demos sorrisos um para um outro, nos levantamos e nos cumprimentamos. Estava tarde já e ela gostaria de voltar ao seu reino para resolver os problemas que surgiram. Foi outra despedida emocionante. Agora, estávamos focados em acabar com aquela rebelião que incomodava muita gente do reino de Sagólia.
"Fizemos uma investigação intensa meu lorde, mas nenhuma pista do atual líder do grupo."
"Os protestos estão acabando em muitas intrigas, doí-me ver toda aquela confusão sendo usado o nome do senhor."
"Fiquem tranquilas, sei que fizeram o melhor de vocês."
Estava bem a noite, em minha sala estava Zannith e Zerbst. Tanto Lola quanto Tess estavam dormindo, então evitei fazer qualquer barulho ou acender quaisquer lamparinas durante o corredor. Acendi apenas uma vela em cima de minha mesa e estava perfeito. As investigações falharam, o líder do grupo não foi encontrado nem mesmo por elas, talvez ele seja muito bom em ocultar seus rastros.
"O que deseja fazer meu lorde?"
"Esperarei os relatórios de Lukia, até lá não vamos fazer nenhuma movimentação que exponha nós. Se perceberem que estamos nos movimentando, eles podem criar uma revolta ainda maior. Caso os relatórios de Lukia também não tenham nada... Terei que ir pessoalmente."
"Pessoalmente meu lorde? Mas não podes fazer isso!"
"Aros Silverstein não pode."
"Hm?"
"Se eu for disfarçado, ninguém vai ficar sabendo que saí do reino ou não. Mas isso só vai acontecer se realmente não descobrimos nada."
Elas ficaram pensativas e relutantes quanto a minha ideia. Claro que ficariam. Minha punição aumentaria caso descobrissem que pisei fora do reino de Lálario, seria pena de morte desta vez sem hesitar. Mas aquele era o único jeito que eu encontraria de acabar com aquela rebelião tão violenta.
No entanto, eu ainda precisava de um modo de entrar disfarçado. Não queria algo simples como uma simples muda de roupa e um chapéu, queria algo mais realista que alguém estaria vestindo por lá.
"Vocês viram algum modo de entrar no reino fácil?"
"Sim, o reino de Sagólia está passando por dificuldades com goblins que rondam lá perto senhor. Parece que estão raptando jovens e mulheres para os ninhos deles e os torturando. A guilda de aventureiros de lá estão desesperadamente procurando aventureiros para exterminar os goblins."
"Então os guardas das fronteiras estão deixando os aventureiros passar por lá mais facilmente, certo?"
"Sim, meu lorde."
Esta ideia estava na minha mente fixamente. Era algo comum em animes ou mangás, um aventureiro no período medieval europeu. Estava animado lógico, mas ser um aventureiro também tem seus contras. A primeira delas é a própria comunidade de aventureiros, como estão sempre querendo subir de classe, são muito egoístas. A segunda delas é o fato de não terem muita paciência com novatos, então dificilmente me ajudariam se eu pedisse algum favor ou até pedir para entrar em um grupo.
"Vocês foram bem, se quiserem podem tomar os dias de folga. Já não tenho nenhuma ordem para vocês."
"Obrigada, meu lorde, aceitarei esta oferta."
"Obrigada senhor, também optarei por esta generosa oferta."
Elas aceitaram e saíram do local.
Passei a noite acordado pensando o que seria melhor a fazer naquele tipo de situação. Ser um aventureiro registrado pelas guildas era bem comum e fácil, então 0 problemas para conseguir uma identificação. O problema mesmo era os itens que eu precisava para ser um. Claro que para parecer estiloso com certeza eu iria com uma espada e uma armadura brilhante, mas se eu fizer isso vou chamar muita atenção.
Bom, o futuro nos dirá qual vai ser a melhor opção.