Os passos ecoavam no corredor estreito. Pelos sons graves, podia-se dizer que o barulho eram de uma bota. No longo corredor silencioso, os passos era a única coisa que preenchia o lugar, as paredes feitas de tijolos já mofadas por não limparem com frequência, tremiam um pouco.
A respiração ofegante era o menor dos problemas da pessoa que andava pelo corredor. Sua cabeça era completamente desprovida de pelos, tanto seu cabelo quanto suas sobrancelhas eram quase inexistentes. O único lugar em seu rosto, na qual podia se orgulhar, era seu bigode esbranquiçado. Dava um charme a mais.
Após muito andar ao corredor, ele dá uma parada brusca. O seu destino, era uma porta de ferro, tão escura e bem protegida talvez quanto um portão de uma cidade. O homem do bigode branco, estende a sua mão a maçaneta com cadeado da porta. Ao invés de abri-la manualmente, ele deixa a palma de sua mão aberta bem próxima da fechadura. Um círculo mágico menor aparece diante a sua mão, e depois de um barulho satisfatório, a porta se abre.
O corredor que era tão escuro, foi preenchido por uma forte luz amarelada, e obviamente, o homem que abriu a porta.
"Ai estão vocês..." Disse o homem.
Ele andou para dentro da sala e avistou justamente o que queria ver.
Uma pirâmide de tamanho pequeno, estava flutuando sobre a sala. Ela era a causadora da luz forte amarelada, a aura do objeto estava se estendendo para todos os lugares, dificultando ainda mais o homem de respirar. Precavido com alguma coisa, o homem fechou a porta atrás dele e a trancou. Andou mais alguns passos adiante, e estendeu a mão para o objeto pirâmide.
"Libertus!"
Assim que recitou sua magia, o objeto começou a brilhar mais forte do que já estava, ofuscando totalmente a visão do homem. Mesmo assim, ele se forçou a ficar no mesmo lugar. O objeto pirâmide começou a girar, e aos poucos, iam crescendo rachaduras. A ofuscante luz só ficava mais forte. Mesmo não conseguindo ver quase nada, o homem confirmou sua ação, assim que ouviu o som de algo quebrando.
Depois do forte brilho, e o barulho da rachadura se dispersando, o homem do bigode branco começou de pouco a pouco conseguir enxergar novamente.
"Fora nesta tal pirâmide que nos selaram?"
"Provavelmente..."
"A temperatura deste lugar é tão abaixo do costume, onde estamos?"
"Não pude analisar a área..."
"Kufufufu... Acalmem-se meus queridos irmãos, acabamos de nos libertar."
Como o homem já previa, várias vozes começaram a ocupar o lugar. Forçando um pouco os olhos, ele pode ver um pouco mais dos donos de tais vozes. Eram cinco pessoas, ou melhor, eram cinco demônios. Apesar da forma humanoide, estava evidente que nenhum deles eram humanos. Os cinco tinham asas negras vindas da costa, cobrindo seus torsos para baixo, chifres saiam de suas têmporas, suas escleras eram completamente negras, a única coisa que se residia lá, eram suas pupilas carmesins ofuscantes.
"Quem é este humano na nossa frente?"
Assim que um anunciou, os outros quatro se viraram para ver o homem. Mesmo assim, o homem do bigode branco não se demonstrou intimidado, mesmo parecendo estar em uma sela com outros animais, ferozes.
"Insolente! Quem és você? Não teme a nós? Demônios?"
Na mesmo instante, o demônio estendeu a mão em direção ao homem de bigodes brancos, ao longe recitou sua magia rapidamente, e soltou. Foi como ele imaginou. Porém nada ocorreu, o demônio chegou a ficar com os olhos arregalados e tentou novamente, mas ainda, não havia acontecido nada.
"Vocês são tolos? Acham mesmo que eu estaria aqui sem nenhuma vantagem sobre vocês? Neste lugar os demônios não podem usar magia, fora feito há muito tempo atrás por um certo mago."
"Você nos chamou de 'tolos'? Sabe quem somos? Humano imprudente, desprovido de inteligência!"
O mesmo demônio, se irritou diante de tais palavras rudes que o homem de bigodes branco disse. Seus olhos carmesins ficaram ainda mais radiantes por conta de sua fúria, se fosse em alguma história de super-herói, ele já teria soltado lazers para cima dele. Porém o homem, ainda continuou sem se mexer, ele estava com as mãos para trás e com o rosto sério.
"Se acalmem, não estou aqui para ter um abriga entre nós. Estou diante de vocês, para fazer uma proposta."
"Kufufufu... Proposta? Quer fazer um acordo conosco, demônios? Lhe acho igualmente imprudente, assim como meu querido irmão dissera."
Desta vez quem falou foi um demônio feminino. O homem só conseguia ver sua silhueta, porém podia-se perceber que ela tinha um corpo belíssimo comparado as outras mulheres que viviam nas cidades. Seu corpo esguio, porém, com bastante curvas, ele era envolto por um terno justo, que embaixo de seu paletó, seus seios de tamanho médio saltavam sobre o colete que fazia parte do conjunto. Ela era alta, talvez quase do mesmo tamanho do homem do bigode branco.
"Pelo que eu soube, vocês tem uma raiva gigantesca daqueles que portam o raro elemento luz com eles, estou errado?"
Os demônios finalmente se permaneceram em silêncio, prontos para ouvir o que o homem dos bigodes brancos tinha para falar.
"Um garoto tem posse desse elemento raro, no momento ele está descontrolado, com suas emoções sobrepondo em suas ações. Já que seria um grande perigo tê-lo a solta, viemos com a proposta, onde o único objetivos de vocês é selá-lo, assim como fizemos com você."
"E o que ganhamos com tal ato? Não pense que com apenas riquezas irão nos conquistar facilmente."
"É claro que não. A nossa parte do acordo, não é só darem a vocês a chance de vingança sobre seu pai, mas também garantir que após nosso pedido ser cumprido, dar liberdade absoluta a todos vocês."
Novamente, os demônios ficaram em silêncio. Realmente parecia ser uma oferta tentadora, se eles pudessem ficar livres de novo, poderiam dominar o continente como tempo atrás, e novamente erguer a raça demoníaca novamente. Todos os cinco, pensaram a mesma coisa.
"Kufufufu... Acho um acordo justo..."
"Concordo irmã..."
"Hmm... Também tenho tais pensamentos em minha mente."
"Não me parece ser algo tão dificulto de se fazer..."
"Esperei tanto tempo para ser libertado, não é de agora que andarei para trás."
O homem de bigodes brancos deu um sorriso, sabia que conseguira convencer os demônios.
"Então humano, qual o nome de tal garoto, portador do elemento raro da Luz?"
"Me desculpem, não sou a pessoa que dará estas informações, vocês terão uma conferência com o Grande Rei agora mesmo."
"Me apressarei para ouvi-lo então."
...
Os demônios já estavam todos lado a lado, a frente do trono do Grande Rei. Mesmo incomodados, por estarem escutando alguém maior que eles, nenhum deles se atreve a se opor diante do Grande Rei.
"Então darei continuidade ao que Lorus disse."
O Grande Rei, com sua voz grossa, apontou para o homem de bigodes brancos, e depois abaixou sua mão para olhar diretamente aos demônios. Obviamente os cinco se sentiram desconfortável, de tamanha falta de respeito com eles, que já governaram o continente assim como o Grande Rei.
"Esse acordo é o seguinte: Vocês irão selar Aros Silverstein, o garoto que é portador do elemento luz, em troca, terão a liberdade de vagar livremente pelo mundo afora."
"Entendemos... Esta parte do acordo concordamos em tudo. Porém, gostaríamos de mais informações sobre o garoto."
"Como já lhe disse antes, ele é Aros Silverstein. Neste momento, ele é lorde do Reino de Lálario. Assim que seu reino foi atacado, decidiu se vingar atacando os reinos inimigos. Ele matou 30.000 soldados, destruiu um reino completo e matou um grupo de aventureiros."
Os demônios apenas ouviram.
"Ele atualmente está vagando sozinho, em direção ao reino Borogh, o reino dos demi-humanos."
"Compreendemos todas as informações." Mesmo com sua cara distorcida, ele se curva diante do Grande Rei, assim como os outros.
"Se entenderam, vão agora, ele deve estar a uns vinte quilômetros de Borogh."
"Entendido."
Assim que receberam a ordem, os cinco saem da sala do Grande Rei. Deixando apenas o próprio, e seus servos. O homem dos bigodes esbranquiçados, estava ao lado dele, e presenciou a conversa toda. Sua cara séria ainda dava impressão de que ele não estava atento, porém pegou informação por informação, isso seria útil para ele posteriormente.
Deu algum tempo, e o homem de bigodes brancos começou a falar.
"O senhor garante que eles serão capazes de selar Aros Silverstein?"
"Não."
"Entendo... Então qual foi a intensão em mandá-los?"
"Eles não conseguiram derrotar Aros Silverstein, isso porque aquele garoto já tirou o 'limite' de seu vocabulário. Ele está muito mais forte do que qualquer outro portador do elemento Luz foi... Se o plano der certo, matamos dois coelhos em uma cajadada só."
"Ainda não compreendo senhor."
"Se eles não conseguirem selar Aros Silverstein, eles serão mortos. Porém ainda conseguirão deixá-lo fraco pelo menos, assim os governantes dos dois reinos tem a chance de acabarem com ele enquanto estiver em um estado deplorável."
"Então seu plano é eliminar os demônios restantes?"
"Isso mesmo."
Os cinco demônios estão a frente do grande palácio onde ficava o Grande Rei. Um dos demônios, tinha cabelos acinzentados como todos, e um físico forte, vestia um terno bem arrumado e parecia tão raivoso quanto nunca. Outro, está usando óculos que apenas os escolheu como decoração, ele sempre estava com seus olhos fechados, usando o mesmo terno que seu irmão. O outro tinha cabelos longos o suficiente para caírem sobre seu torso malhado. Ao seu lado também havia outro com um cachecol por cima de seu pescoço, também era bem discreto em seus movimentos e falas. E por último, era a demônio que mais se destacava entre eles, tanto por ser a única da espécie do sexo feminino, quanto sua beleza superava a qualquer humano que já havia visto.
"Finalmente vejo um céu azul, é tão belo!"
"O que faremos primeiro, irmão Leonard?"
"Nós iremos em direção a Aros Silverstein de imediato?"
"Vamos pensar em uma estratégia primeiro?"
"Kufufufu... vocês estão com medo de um garoto?"
Os demônios pensaram um pouco. Afinal fazer uma estratégia é o mais sensato a se fazer, visto que foi um mago do elemento luz que quase aniquilou eles. A única que parece estar tranquila, é a demônio, que só de estar em sua postura normal, já exibia um ar sensual.
"Irmã Zannith, o medo dos magos do elemento luz circula pelas nossas veias, eles são fortes o suficiente para nos matarmos."
"Kufufufu... tens razão."
"Irmão Leonard, tenho uma informação que podemos usar a nosso favor."
"Diga então."
"Antes de sairmos, falamos com aquele servo do Grande Rei, ele nos disse que haveria uma carroça, que acabara de sair do reino de Lálario, que contêm cinco cavaleiros e alguém misterioso em uma túnica preta."
"E o que faremos dadas essas informações?"
"Não queres fazer um massacre humano? Imagina como será divertido, como nos velhos tempos. Além de que, isso talvez possa quebrar as forças de Aros Silverstein, visto que humanos tem sentimentos complicados."
Os dois demônios conversavam entre si quase que particularmente. Os outros três apenas ouviam tudo que eles tinham a dizer, apenas para estabelecer um plano.
"Entendi o seu ponto, não vamos atacá-lo de imediato, iremos atacar suas forças para assim ele ficar mais fraco e derrotarmos."
"Exatamente."
"Eu concordo plenamente com tal plano." Diz o outro demônio que apenas estava ouvindo.
"Concordarei também..."
O único que não respondeu, foi a demônio Zannith. Obviamente, seus irmãos perceberam, já que os cinco sempre foram unidos desde sempre e concordavam com seus planos juntos. Mesmo sendo encarada por todos seus quatro irmãos, ela ainda exibia a mesma postura sensual, apenas seu rosto mostrava que ela não concordava com o plano.
"Não concordas com o plano, irmã Zannith?"
"... Me desculpem, porém desta vez, não estarei ao lado de vocês, queridos irmãos."
"Hã? Do que estás falando irmã Zannith?"
"Kufufufu... vocês sabem, que sempre procuro alguém mais forte a me aliar, no momento, não vejo tal força em vocês."
"Está dizendo que somos fracos?"
"Kufufufu... É claro que não meu querido irmão, apenas nesta situação, vocês não serão o lado que vencerão. Ainda não perceberam que o velho sentado a aquele trono só quer eliminar nós?"
Os demônios ficaram calados.
"Kufufufu... É por tal razão, que serei obrigada a estar do lado inimigo de vocês, é apenas meu instinto feminino dizendo para seguir alguém mais forte."
Desta vez, Zannith que estava sempre desviando o olhar de seus irmãos, olhou diretamente nos olhos do de cabelos negros, o irmão que os outros quatro consideravam líder. Até ele se surpreendeu, dela olhar diretamente.
"Você está nos traindo? Irmã Zannith..."
"Kufufufu... Nunca trairia meus queridos irmãos, na verdade estarei ao lado de seu inimigo, pelo bem de vocês..."
"Que palavras são essas? Será que por governar uma nação humana seus sentimentos mudaram? Eles te corromperam com a falsa lealdade entre eles?"
"Kufufufu... Nada me corrompeu, apenas são meus sentimentos de bem antes."
Zannith deu alguns passos para trás, as asas demoníacas que ficava em suas costas, se abriu. Uma rajada de vento por conta do choque de abertura, percorreu pelo gramado onde estavam. Os demônios apenas observaram, com desaprovação, as atitudes de Zannith.
Ela enfim, voou e encarou seus irmãos uma última vez. Depois de confirmar que nenhum deles faria nada para impedi-la, Zannith voou para longe. Seus irmãos apenas viam a sua querida irmã, ir para o horizonte do céu azul, se distanciando deles. Claro que nenhum ficou contente com a decisão de Zannith, na verdade, todos ficaram furiosos por ela ter os traído.
...
Aros e Lola caminham pela longa estrada. Ele poderia pegar ela no colo e voar até seu destino, mas decidiu andar, para pensar um pouco. Tudo estava dando errado, as pessoas se machucavam cada vez mais, e a raiva que sentia em seu coração, nunca acabava. Lola por outro lado, também andava com um rosto não muito animado, ela tinha visto uma cena traumatizante para alguém de sua idade, ela já sabia que viveria situações assim, mas ver a força de Aros a fez tremer bastante.
O andar deles pela estrada não estava em um clima muito bom, o silêncio mútuo dos dois dava uma aura de tensão.
"Hm?"
Aros parou de andar, Lola que estava o seguindo, também não deu nenhum passo adiante, ela se perguntava o que talvez tenha ocorrido. Ele começou a olhar em volta, como se estivesse procurando alguma coisa, Lola ficou assustada por esse movimento inesperado.
"Você sentiu isso Lola?"
"Não... Aros-sama..."
"Hmm..."
Aros ainda não podia confiar que foi apenas ele que sentiu aquilo. Seu olhar ficou piscando na luz branca, ele sabia que fazia aquilo quando se sentia ameaçado, e Lola também sabia. Então ela decidiu procurar pelos céus, assim como Aros, mas não encontrou nada.
Mas no mesmo instante, ele olhou para seu lado direito ao céus. Lola não teve um tempo de reação bom, na verdade ela não conseguira ver nada. Uma explosão ocorreu na sua frente, tão barulhenta que fez seus ouvidos zumbirem, ela fechou os olhos por instinto, e quando os abriu novamente, ela estava longe de onde ocorrera explosão.
"Que merda..."
Ela ouviu a voz grave de Aros e olhou para cima. Logo percebeu que estava em seus braços, Aros conseguiu protegê-la da explosão para não sofrer nenhum dano. Ele estava com a testa franzida e olhando para frente. Consequentemente, Lola também decidiu olhar para o mesmo lugar, e se surpreendeu.
"Kufufufu... Vejo que és mesmo um humano bem interessante, conseguiu me detectar mesmo ocultando minha presença."
Um ser estava flutuando sobre o lugar onde aconteceu a explosão. Mesmo tendo uma presença assustadora, havia algo que Aros e Lola não podia negar, ela era realmente sensual e atraente. Seu corpo envolto por um terno completo era justo, mostrando todas as perfeitas curvas que ela tinha. Seus cabelos acinzentados balançavam ao ar, ela tinha chifres saindo de suas têmporas. Ao mesmo tempo, seus olhos eram assustadores. Suas escleras negras apenas continha sua pupila ofuscante carmesim.
Aros queria questioná-la no mesmo instante, mas percebeu algo errado. Lola em seus braços começou a tremer o bastante para ele tentar acalmá-la forçando seus braços. Mas ela estava com seus olhos arregalados e parecia estar prestes a chorar ali mesmo.
"O que aconteceu Lola?"
"Ela... Ela..."
Lola ainda não conseguia formular nenhuma frase.
"Quem é ela? Lola."
"Ela... Ela é um dos cinco demônios que te contei... Ela é a rei demônio Zannith!"
Aros virou seu olhar para o demônio que ali estava flutuando. Estava um conflito de olhares assustadores, um era do próprio Aros que estava ofuscando as visões de ambas com o brilho intenso de luz. E por outro lado, os lindo olhos carmesins de Zannith que eram assustadores o suficiente para fazer os animais tremerem de medo.