─ Não posso me mexer! É, não foi à toa que Lúcifer me avisou para não o subestimar. Provavelmente ele descobriu que isso não é um pesadelo comum, já descobriu que estou em sua mente. ─ pensa, enquanto os seus belos olhos brilham, observando a coragem do jovem que está a sua frente.
─ Você sabe muito bem que aqui ninguém pode me vencer, em minha mente eu sou invencível! Sou o Deus do meu próprio universo. ─ por um instante ele a admira dentro da esfera transparente. ─ Tão pequena, tão bonita e ainda me contou sobre a tal mão esquerda de Lúcifer na Terra! ─ pensa ele.
─ Não me deixe aqui, por favor! ─ Camus senta no chão, demonstrando cansaço depois de tentar fugir em vão.
─ Infelizmente, você ficará presa aqui até que eu descubra um meio de salvar o meu mestre.
─ César, é impossível um humano prender um demônio de primeira grandeza, apenas com o poder de sua mente! Mais cedo ou mais tarde o seu corpo fraco vai precisar de algo. ─ fechando os olhos e colocando-se em posição de meditação, na posição de lótus, como se esperasse pacientemente por uma falha para a sua fuga.
A mãe dele entra no quarto e vai em direção a cama…
─ César, César. ─ ela esbarra na espada, mas não a vê. ─ Levanta para comer um pouco meu filho.
─ Minha mãe! ─ ele olha para Camus assustado, pois não esperava ser acordado por sua mãe, pelo ao menos, não agora.
─ Nos veremos outra vez, e desta vez não estaremos em sua mente. Sentirá na pele o meu verdadeiro poder! ─ Camus desaparece lentamente de dentro da esfera transparente, e a sua voz ecoa na mente dele.
─ Ela fugiu! Eu me desconcentrei por um segundo por causa da minha mãe! ─ de repente o corpo dele cai no vazio, em grande velocidade e desaparece.
─ Ahh! ─ acordando no susto, como se o seu corpo espiritual batesse a toda velocidade em seu corpo físico. Ele então, volta a fechar os olhos enquanto respira ofegante.
─ Levanta meu filho, já é meio dia! Levanta vamos, vai tomar um banho para almoçar. ─ diz a mãe dele saindo do quarto.
─ Eu já vou mãe. Obrigado por me chamar. ─ só neste momento ele abre os olhos e senta-se na cama, cheio de preguiça. ─ A alma do meu mestre está presa no Inferno. ─ olha para cima fixamente com as mãos juntas, como se fosse rezar. ─ Por que meu Deus permite que tais coisas aconteçam?! ─ ele então levanta-se e estica os lençóis igual a cara dele, guarda a espada embaixo da cama e vai para o banheiro.
Enquanto ele escova os dentes, pensa olhando o próprio reflexo no espelho…
─ Pude ver toda a dimensão do poder de Camus! Ela é muito, muito poderosa! ─ cospe na pia. ─ Ela é só uma governadora, imagina o nível de poder do rei e do vice-rei?!
Mesmo que eu consiga chegar ao Inferno como fez Dimitri, eu não terei chance alguma, a não ser que ele me ajude. ─ lavando a boca, o rosto e secando-se na toalha.
Algumas horas depois, na casa do Juninho.
─ Tok, tok, tok. ─ Joshua bate na porta.
─ Oi Joshua! Você não se separa desta mochila, não é? Está tudo bem com você? ─ a mãe do Juninho abrindo a porta.
─ Tudo bem dona Marta. ─ ele entra.
─ Tudo bom! O Juninho está lá em cima no seu quarto, os outros já chegaram também. ─ Marta fala enquanto fecha a porta.
─ Vou lá. ─ ele vai entrando, passa pela sala e vê o pai de Juninho assistindo jogo de futebol na televisão, pois é a semifinal do campeonato brasileiro, Flamengo contra Botafogo. ─ Tudo bem seu Paulo?
─ Fala meu amiguinho, tudo bem e com você? ─ ele olha rapidamente e volta os olhos para a televisão, está usando a sua camisa velha do Flamengo e tem uma lata de cerveja na mão.
─ Tudo bem. Quanto está o jogo? ─ pergunta ele muito interessado no placar.
─ O Botafogo está com muita sorte hoje! Eles fizeram dois a zero no primeiro tempo, o segundo começou agora.
─ Desta vez nós temos de ganhar! ─ Joshua fecha os olhos como se fizesse um pedido bem especial. Ele é botafoguense doente.
─ Me diz uma coisa, o que tanto vocês conversam nestas reuniões hein?
─ Nada demais, apenas falamos sobre festas, colégio, magia e outras coisas. Você sabe como é não é? ─ ele fica meio sem graça.
─ Tudo bem botafoguense, vai lá para a sua reunião, pois os outros estão te esperando. ─ diz enquanto desmancha o penteado dele, que por ser liso acaba voltando a sua forma novamente.
Joshua segue andando até o quarto de Juninho.
─ Até que enfim! Achávamos que não vinha mais. ─ Cláudio sentado no chão, junto dos outros.
─ Fala aí pessoal. São 17h15, eu só me atrasei quinze minutinhos. ─ Joshua cumprimenta a todos acenando com a mão e depois senta-se junto deles.
─ Você descobriu alguma coisa nos seus livros? ─ Juninho.
─ O que você acha que significa isso? ─ Samantha olhando a foto das costas de Josias.
─ Eu descobri algo em um dos meus livros. Onde está? ─ procurando dentro de sua mochila. ─ Achei! ─ pega um livro de capa vermelha, intitulado Rituais Antigos. ─ Deixe-me ver. ─ folheia-o e para em uma página que havia um marcador. ─ Aqui diz que alguns feiticeiros do Egito Antigo por volta de 1.400 a.C, costumavam aprisionar as almas dos seus inimigos derrotados em combate. Eles desenhavam símbolos em suas costas e faziam com que bebessem uma substância entorpecente. Já durante o ritual a pessoa ficava paralisada, como se dormisse eternamente. A alma era aprisionada em alguma pedra ou objeto qualquer, e era enterrado junto ao corpo quando a pessoa morresse. A morte era certa, pois a pessoa ficava naquele estado sem beber e comer até morrer. Isso ocorria entre três ou quatro dias devido à falta de água no organismo.
─ A alma do nosso mestre pode ter sido aprisionada por Astaroth. ─ Samantha abaixa a cabeça e põe a mão na testa preocupada.
─ Exato. Eu também acredito nisso, tendo em vista que as características são parecidas. Apesar dos símbolos serem diferentes dos que estão em nosso mestre. ─ Joshua observando as gravuras no livro.
─ Aí diz o que fazer para libertá-lo? ─ Cláudio.
─ Infelizmente não há contra feitiço para este tipo de magia negra. No livro está escrito que somente aquele que profere o feitiço é capaz de desfazê-lo, a menos que saiba a onde a alma foi aprisionada, pois quebrando o objeto também chamado de Gaiola da Alma, ela estará liberta e a pessoa voltará ao normal. ─ explica Joshua.
─ Então existe uma chance! ─ Samantha abrindo seus braços e sorrindo.
─ Não, nossas chances são quase nulas se considerarmos que Astaroth não prendeu a alma do nosso mestre aqui em nosso mundo. Ele provavelmente à prendeu no Inferno, onde nenhum de nós poderá resgatá-la. ─ Juninho ficando preocupado e pensativo.
─ Aí fica sobrando a outra opção, que é arrumar um jeito de Astaroth libertar a alma do nosso mestre e isso também é quase impossível. ─ fechando o livro. ─ Só nos resta dividir com Dimitri a nossa descoberta, quem sabe ele não conhece algum meio de nos ajudar. ─ guardando-o dentro da mochila.
─ Vai dormir aqui hoje Joshua? ─ Juninho despenteando o mascote do grupo.
─ Tenho que ligar para minha mãe. ─ arrumando seu cabelo liso, escorrido e seus óculos.
─ Não sei que milagre foi esse, ela deixar você vir aqui sozinho. ─ Samantha com as sobrancelhas em pé, com certa surpresa.
─ Ela me trouxe de carro. Daqui a pouco vou ligar para ela e perguntar se posso dormir aqui. Se bem que quando ela souber que hoje é dia de jogo, com certeza ela vai deixar. ─ Joshua abre um sorriso maroto em seu rosto, enquanto balança a sua cabeça fazendo o movimento de positivo.
─ Por falar em jogo, quanto deve estar a partida? ─ Cláudio vascaíno roxo, pergunta.
─ Olha, quando cheguei o meu time estava ganhando de dois a zero. Acho que dessa vez meu o time vai ser campeão brasileiro! ─ Joshua sorrindo enquanto olha para cima com as mãos juntas, como se fizesse uma prece.
─ Se o Botafogo vencer, ainda vai pegar o vencedor de São Paulo e Corinthians. Eu acho muito difícil dele ganhar a final! ─ Cláudio desdenhando.
Cláudio, Joshua, Juninho e Samantha se distraem um pouco debatendo sobre futebol, pois ali tem dois flamenguistas e um vascaíno ironizando as últimas campanhas do Botafogo.
Algum tempo depois na casa do inspetor Almir, o telefone toca sem parar…
─ Ai meu Deus! Quem será a essa hora? ─ rola na cama, depois olha o relógio de parede antes de pegar o seu smartphone, os ponteiros marcam 18h16. ─ Fazia tanto tempo que eu não dormia assim! Raarrrhhhh. ─ bocejando. ─ Alô. ─ ele senta na cama com muita preguiça.
─ Estava dormindo? ─ delegado Mario.
─ Sim. Descobriu alguma coisa? ─ Almir coçando a cabeça enquanto fecha os olhos, parece que está fazendo cafuné em si mesmo.
─ A única coisa que eu descobri de concreto é que você tirou férias. O que aconteceu? Desde que eu te conheço você nunca tirou férias!
─ Mario não tive escolha, tentei falar sobre o que aconteceu essa noite com o delegado Guilherme, olha no que deu. Ele acabou me obrigando a tirar férias de dois meses, disse que eu e Francisco estávamos ficando loucos, que em consideração aos meus serviços prestados, ele não nos expulsaria da corporação.
─ É, não é difícil entender o comportamento do meu amigo Guilherme. Ninguém conseguiu filmar nada, nem dos mortos-vivos e nem do tal monstro. Todos os vídeos parecem montagem, pois nenhum deles mostra as criaturas, fica uma luz branca intensa em todos os vídeos, como se irradiassem uma energia que impede o registro das imagens e sons. ─ Mario, passando várias destas imagens na tela do seu computador.
─ Isso é muito estranho mesmo! Talvez em câmeras que filmem em infravermelho consigamos pegar algo!
─ Conseguimos imagens de uma câmera infravermelho e nada. Eu tentei aplicar filtros nas imagens que consegui e nada, o brilho é muito forte e realmente nada deles foram registrados em nenhum aparelho.
─ É, e o pior que de certa forma eu estou envolvido nessa história toda agora. É questão de honra pegar o assassino de crianças e não vou deixar de trabalhar no caso.
─ E o Francisco?
─ Ele vai aproveitar para descansar aquela carcaça cansada dele. ─ Almir levanta-se da cama, se espreguiça esticando o braço esquerdo.
─ Ele parece ser o mais sensato de vocês dois!
─ Qual é Mario?! Não venha você também pegar no meu pé. Eu precisarei da sua ajuda, você sabe disso. ─ indo até o banheiro.
─ Você também sabe que posso vir a perder o meu emprego, se você for pego fazendo besteira por aí! Como posso te ajudar? ─ Mario se irrita, como se já tivesse passado por problemas várias vezes por tentar ajudar o seu amigo encrenqueiro.
─ Relaxa, eu nunca te deixei em apuros e não vai ser desta vez que vou deixar.
─ Putz! Quando você fala relaxa, costuma vir confusões das piores. Cuidado cara, isso é coisa grande, ouvi dizer que os Estados Unidos estão investigando, para tentar descobrir algo sobre estas criaturas! ─ Mario se exalta um pouco.
─ Você não perde este seu mau humor. Tudo bem, pode deixar que serei discreto. Eu ligo para você depois, tchau meu amigo. ─ depois de se despedir, ele olha a tela do smartphone. ─ Já vai dar 18h25. ─ põe o aparelho no bolso, coloca pasta em sua escova. ─ Algo me diz que vão tentar pegar o Dimitri esta noite e eu estarei lá esperando. ─ escovando os dentes, alguns minutos depois veste a calça, põe a camisa que estava pendurada no cabide, calça os sapatos, pega a sua magno e coloca no coldre, pega a doze e saí em seguida.