Em frente ao Hospital Geral de Bonsucesso, um táxi para ao lado da calçada…
─ Espere aqui, eu devo levar uns quinze minutos no máximo. ─ César saindo do carro. ─ Já são 18h26. ─ Ele vê as horas em seu smartphone, pois não usa relógio de pulso.
─ Ok, eu não tenho nada mesmo para fazer. ─ o motorista relaxando no banco e ligando o rádio do carro.
─ É, como eu vou conseguir entrar? ─ olhando para cima e vendo a dimensão do hospital. Ele respira fundo e vai entrando.
─ O que pensa que faz aqui a essa hora meu jovem? Visitas somente das 11h30 às 12 horas e das 17 horas às 17h30. Não é permitido acompanhante. São duas visitas por horário, uma de cada vez. ─ a recepcionista é uma gordinha, que usa óculos fundo de garrafa.
─ É que, eu estive aqui hoje cedo e não consegui vê-lo. ─ diz juntando as duas palmas das mãos, e balançando-as como se suplicasse por cima do balcão. ─ Meu tio foi envenenado, seu nome é Dimitri Dormen.
─ Dimitri Dormen? Deixe me ver, ele deu entrada hoje cedo?
─ Não, deu entrada nessa madrugada. ─ ainda com as duas mãos grudadas como se fosse rezar, ele leva as suas mãos até a boca aguardando ansioso.
─ Hummmm… O quadro dele é estável, ele foi fortemente sedado mais cedo, pois queria ir embora a revelia. ─ a recepcionista gesticula sem tirar os olhos do computador.
─ Posso vê-lo? Por favor, eu prometo que vou ser rápido!
─ Façamos o seguinte, vou ligar para as enfermeiras do andar, se elas liberarem eu deixo você subir por 15 minutos, tudo bem? ─ ela balança a cabeça para frente ao terminar de falar e seus óculos vão para a ponta do nariz, assim ela o olha por cima dos óculos com a sobrancelha em pé.
─ Tudo bem. ─ se debruçando no balcão.
─ A sorte está lançada! ─ ela pega o telefone e disca um ramal.
O telefone toca por duas vezes no balcão das enfermeiras…
─ Trinnn, Trinnn.
─ Nossa! O que será a esta hora? Alô. ─ uma enfermeira que passava por ali atende.
─ Enfermeira, tem um rapazinho aqui na recepção dizendo ser o sobrinho, do paciente do quarto 312-1, o nome do paciente é Dimitri…
─ Sobrinho a esta hora? Mande-o voltar amanhã no horário de visitas. ─ a enfermeira desliga.
─ Qual o seu nome mesmo?
─ César. ─ logo após, ela disca outro ramal.
─ Enfermeira chefe? ─ diz ela enquanto masca um chiclete que pegou em uma de suas gavetas.
─ Sim, não me diga que é um problema aí a essa hora?! ─ a enfermeira preocupada.
─ Não Clarice, é que estou com o sobrinho do paciente Dimitri do quarto 312-1, ele disse que veio mais cedo, mas não conseguiu vê-lo.
─ Diz a ele que o horário da visita já encerrou. Você sabe qual é a norma do hospital! ─ responde rispidamente.
─ Ele disse que quer falar com a direção, que vai ver o tio de qualquer maneira hoje, nem que seja por 15 minutos.
─ A direção?! ─ ela aperta firme o telefone na mão, enquanto passa a outra pelos cabelos, visivelmente muito irritada pela insistência. ─ Está bem, libera ele para subir por somente 15 minutos! ─ Clarice bate o telefone.
─ Ok. ─ ela põe o fone no gancho. ─ garoto, aqui atrás seguindo por este corredor e virando para a direita, tem um elevador. Seu tio está no terceiro andar, quarto 312 na primeira cama. ─ ela dá a ele um crachá com o número do quarto. ─ Você tem somente 15 minutos! Se demorar mais do que isso o segurança vai subir, ok? ─ a recepcionista fica seria e empurra com o dedo indicador direito os seus óculos para trás novamente, o encaixando nos olhos.
─ Pode deixar, muito obrigado pela a sua ajuda! ─ César vai caminhando para o elevador.
─ Muito obrigado nada, você me deve uma caixa de bombom. ─ ela diz rindo.
─ Ok. ─ César olha para trás e faz o sinal de tudo bem com o polegar esticado para ela. ─ depois corre.
Ele encontra o elevador e sobe para o terceiro andar.
─ O pior já passou! ─ pensa consigo mesmo ao descer no andar e caminhar pelo corredor vazio e muito pouco iluminado, até que chega no quarto 312.
─ César? ─ diz ao ver a porta se abrir lentamente, ele está sentado na cama.
─ O que pensa que está fazendo? ─ surpreso ao vê-lo arrancar o tubo de soro do braço.
─ Vamos feche essa porta e me ajude a fugir daqui. Eu vi você chegando. ─ ele está com a aparência bem melhor agora.
─ Às vezes eu me esqueço do seu poder. Quanto a fugir daqui, acredito que não tem como passarmos pelo segurança sem sermos vistos. ─ ajudando-o a se levantar, apoiando o braço esquerdo dele por cima dos seus ombros e segurando até ele levantar.
─ Eu não estava pensando em sair pela porta. ─ olhando em direção a enorme janela do quarto, que fica ao lado direito da cama.
César olha para a janela também, seus olhos estão arregalados.
─ Nem pensar! ─ assustado e gesticulando com a cabeça negativamente.
─ Pode deixar, eu só precisava de uma ajuda para me levantar. ─ puxando o seu braço esquerdo que estava apoiado em César e ficando em pé sozinho.
─ Ok. ─ responde abrindo os braços e levantando os ombros.
─ Você já tentou voar antes? ─ pergunta Dimitri com um leve sorriso em sua face.
─ Não venha com essa, eu tenho medo de altura! Mas, você me lembrou… ─ ele de repente fica pensativo olhando para a parede e se vê criança em suas lembranças. ─ … a única vez que eu tentei voar de verdade.
César se recorda de quando tinha nove anos, e naquele dia em questão seu pai que já era separado da sua mãe, havia lhe dado de presente uma fita cassete com alguns episódios do seu herói favorito, Spectreman. Ele lembra-se de como ficou eufórico ao terminar de assistir pela primeira vez a fita, ficou tão eufórico que acreditou que podia voar se imitasse com precisão os movimentos da transformação dele. Então o garoto foi até a janela da sala enquanto sua mãe fazia a janta, se concentrou e ergueu o seu braço direito com a mão aberta e seus dedos todos esticados e juntos (como o herói fazia). Em sua imaginação desciam raios de luzes coloridas em cima dele e passavam de um lado para o outro, ele realmente tinha certeza agora de que poderia voar, e após abrir um largo sorriso ele sobe na janela, estica seus dois braços mais ou menos na altura da cabeça e deixa o seu corpo cair para a frente.
─ Eu voei naquele dia! ─ sorri enquanto se lembra do seu lindo voou até a lua, em suas lembranças ela está cheia, brilhando muito e ele está voando bem no meio dela indo em sua direção.
─ Você não voou de verdade, voou?! ─ pergunta com um tom irônico.
─ Não! ─ olhando para Dimitri bem sério. ─ Cai e bati com a testa no chão, do jeito que cai eu fiquei desacordado. Fiquei ali por uns 10 segundos e quando acordei estava com um galo enorme no meio da testa. Por sorte a janela tinha pouco mais de um metro de altura, senão eu já era!
─ Quem nunca tentou voar quando era criança?
─ A recepcionista disse 15 minutos, mas quanto antes sairmos melhor. ─ olhando o relógio na parede. ─ E já está próximo dos quinze.
─ Vamos, eu ouvi passos no corredor! ─ Dimitri pega as suas roupas dentro da cômoda que fica ao lado da cama, ele a veste rapidamente, coloca a sua espada na cintura, seu medalhão no pescoço e caminha em direção da janela, enquanto vai fechando a sua roupa.
─ Você está louco?! ─ César afasta-se indo para trás em direção a porta.
─ É só uma brincadeira. ─ ele ri. ─ Meu plano é ficar invisível e sair sem ser percebido.
─ Então vamos logo, o meu táxi está esperando lá embaixo. Caso ele entre no quarto… ─ César faz um feitiço e um volume se forma embaixo do lençol, imitando a forma de um corpo deitado. ─ … dá para enganar. Fiz tanto este feitiço, para fugir a noite para os encontros do coven, que virei mestre em fazê-lo.
─ Ele está chegando. ─ Dimitri ficando invisível e saindo pela porta.
─ Nossa que legal! Você vai ter que me ensinar a fazer este feitiço. ─ saindo e fechando a porta. Quando ele se vira para a esquerda, vê o segurança caminhando em sua direção.
─ Está tudo bem com o seu tio?
─ Está sim, ele estava muito sonolento, mas matei a minha saudade.
─ Kreeeeck! ─ um barulho alto, como de alguém amassando alguma embalagem de plástico.
─ O que foi isso?! ─ virando-se para trás com a mão no coldre, ele parece muito tenso.
─ Nada, não tem nada ali. Deve ter sido algum rato.
─ Droga! ─ pensa Dimitri, ao levantar o pé bem devagar, pois ele havia pisado em um copo plástico que estava no corredor.
─ Dizem que este andar é assombrado. Eu tenho pavor de assombração! ─ o segurança aperta o passo em direção aos elevadores. Chegando lá, ele clica no botão.
─ Temos de temer os vivos, isso sim. Um negão desse tamanho com medo de fantasmas?! ─ César se segura para não ri.
─ Quando eu era garoto, ainda mais novo do que você… ─ o elevador chega, eles entram. ─ … eu via fantasmas, e durante muitos anos, a hora de dormir foi um pesadelo para mim! ─ apertando o botão do térreo.
─ Eu sempre brinquei com espíritos, fazíamos a brincadeira do copo e perguntávamos muitas coisas, era muito divertido!
─ Cruzes! ─ fazendo o sinal da cruz, bem no momento em que o elevador chega no térreo.
─ Tchau garoto! E vê se não brinca mais com espíritos ok? Isso é coisa muito séria!
─ Eu sei que é sério! O homem pensa que é o senhor do universo, ah quando ele descobrir que não é nem o verme que habita a merda do senhor! Tchau amigo! ─ se despedindo do segurança que vai fazendo a sua ronda, enquanto ele vai seguindo para a saída.