Ela lembra-se de um dia em que entrou no quarto do seu filho, quando ele tinha sete anos e o pegou lendo um livro pequeno de capa amarela.
─ O que está lendo meu filho?
─ Nada não mãe! ─ o menino estava deitado na cama lendo o livro fascinado, não a viu entrar no quarto e se assustou. Ele colocou o livro atrás de suas costas.
─ Meu filho, quem te deu este livro? ─ ela está preocupada com o conteúdo, devido à postura dele.
─ Mãe, eu não quero que pense que sou maluco.
─ Confia na mamãe, me deixa ver filho. ─ ela ergue o braço de mão aberta, para ele colocá-lo em sua mão.
─ Está bem. ─ esticando o braço e entregando-o.
─ Iniciação a magia? Nossa! Eu cheguei a pensar que fosse algo pornográfico. Graças a Deus que não é! ─ pensa aliviada, um leve sorriso brota em seu rosto enquanto olha para ele.
─ Um dia, eu serei mais poderoso do que Merlin! Eu vou ser o mais poderoso bruxo da Terra quando eu crescer! ─ diz o pequeno olhando fixamente para a sua mãe.
─ Minha amiga, ele sente-se bem e está fazendo o que gosta, como mãe você tem de apoiá-lo. A culpa não é sua dele ter escolhido este caminho. Nós não podemos escolher os passos deles, a nossa missão é colocá-los no mundo, educá-los, cuidar deles, mas eles vão crescendo e escolhem seguir os seus próprios caminhos.
─ Veja o seu filho mais velho, por exemplo. Você o crítica e com razão é verdade, mas hoje nós vimos que ele salvou uma vida! Talvez ele nem tivesse coragem de fazer isso se fosse um jovem normal, eu não sei… Nós não sabemos o que Deus planeja para cada um de nós!
─ Tem razão minha amiga, ouvir você falar me acalma muito, sempre foi assim! Dirige com cuidado, está bem? ─ ela segura firme suas mãos por uns segundos, e depois afasta-se do veículo, enquanto acena para ela.
─ Boa noite! Depois nos falamos, tchau. ─ Carla acelera e vai embora.
Enquanto isso na casa do Juninho…
─ Vrum, vrum…vrum, vrum…vrum, vrum… ─ celular vibrando em cima de uma mesa de madeira, onde vários celulares estão carregando.
─ Caramba! Quem será a essa hora? ─ Cláudio levanta-se cheio de sono e vai pegar o seu celular. ─ César, o que aconteceu?!
─ Até que enfim hein?! Onde está o Joshua? ─ ele segura-se firme com a mão esquerda enquanto fala ao celular.
─ Ué! Ele não está no quarto. ─ caminhando até a janela, após ver uma claridade no quintal. ─ Droga! Ele está na garagem. ─ da janela do quarto ele só consegue ver a porta aberta e a luz acesa.
─ Estou indo encontrar vocês aí e Dimitri está indo comigo. Ele quem me disse que Joshua está tentando evocar Astaroth sozinho!
─ O quê?! Ele ficou maluco! César, preciso impedi-lo de concluir a evocação. Tchau! ─ ele desliga o celular e corre para acordar os seus amigos.
─ Hummm! ─ Juninho gemendo ao ser sacudido por ele. ─ Está de noite ainda, qual é?! ─ ele diz ao abrir os olhos e volta a fecha-los novamente.
─ Juninho, levanta cara. O Joshua está tentando evocar o Astaroth. Precisamos impedi-lo ou nosso amigo estará em apuros.
─ Merda! ─ se levantando imediatamente.
─ Foi isso mesmo que eu ouvi?! ─ Samantha, despertando.
─ Isso mesmo, levanta e vamos logo. Ele está na garagem. ─ Cláudio olhando pela janela.
─ Eu não acredito… Goétia? Uma das magias mais perigosas! Ele não está preparado, e nenhum de nós está! ─ ela vai atrás dos outros, que já saíram do quarto, mas antes olha os livros na estante do Juninho e pega um deles. ─ Este livro poderá nos ajudar e é muita sorte que temos ele por aqui! ─ guardando-o na cintura, por dentro da bermuda.
Na garagem…
─ Quem ousa a me evocar?! ─ uma voz assustadora na mente de Joshua.
─ Eu o senhor de todo o universo e de tudo o que existe! ─ diz o pequeno, mesmo todo arrepiado de medo ao ouvir a estrondosa voz. Ele tenta seguir firme no ritual, pois sabe que se fraquejar será o seu fim.
─ Como pode ser tu o senhor de todo o universo e de tudo o que existe, se apenas a minha voz o faz tremer dos pés à cabeça?! ─ ele aparece em uma forma monstruosa e em sua mão há um chicote, pronto para ser usado.
─ Meu Deus ele possui um chicote! Ele não poderia aparecer nem em forma demoníaca e nem armado! O ritual que fiz antes da evocação exigia isso do demônio e agora? Ele deve ser mais poderoso do que eu imaginava! ─ pensa ele quase se mijando de medo.
─ Como eu previ, você é apenas um pobre mortal. Não adiantará clamar por socorro a ele… ─ apontando para o céu. ─ … pois foi você quem escolheu o seu destino, a morte! ─ Astaroth balança o chicote, como um domador de leões antes de chicotear as feras.
─ Isso não está no livro. ─ olhando as páginas que usou para fazer a evocação. ─ LIBERTE MEU MESTRE OU… ─ Joshua olha para os lados, mas sabe que se correr estará desprotegido fora do círculo mágico, sua única proteção.
─ Ou vai se mijar nas calças, chorar e sair correndo? ─ Ah, ah, ah, ah, ah. ─ Se você não correr sabe que morrerá, eu vou chicotear você até a morte. Não, farei melhor ainda… ─ algo acontece com o corpo dele, a sua forma medonha sofre uma mutação. A onde era a sua barriga agora existe uma boca gigantesca cheia de dentes afiados. ─ … vou engolir você, inteiro! HAAAAA. ─ aquela enorme boca abre por completo.
─ Ele não pode sair do triângulo mágico (o triângulo é onde o espírito evocado fica preso), se não estarei perdido! ─ ele a esta altura está totalmente arrependido de fazer a evocação, ignorando a maior advertência de todos os livros de magia, que é para só iniciar um ritual deste tipo, após um longo período de preparação, devido ao alto grau de risco.
─ É, parece que você teima em me subestimar garoto. ─ ele avança lentamente ultrapassando o triângulo, enquanto sua gigantesca boca saliva sem parar. ─ Posso não somente ultrapassar este ridículo triângulo, como posso ultrapassar o seu miserável círculo, que sinto em desapontá-lo, não tem nada de mágico!
O demônio ri sem parar enquanto continua caminhando lentamente em sua direção, que a esta altura já está desesperado. Ele tem poucos segundos para se decidir se tenta fugir correndo ou arrisca ficar dentro do seu círculo mágico, pois o demônio pode estar blefando.
─ Ele não vai me pegar, eu não vou deixar! ─ o suor desliza pelo seu rosto, mas quando ele olha para trás e vê os seus amigos chegando, fica mais confiante. ─ Obrigado meu Deus! Agora eu tenho uma oportunidade. ─ ele vira-se para a frente e olha nos olhos medonhos do demônio.
De repente o pequeno bruxo vira-se novamente para trás e corre o mais veloz que consegue. Neste mesmo instante os outros três jovens terminam de fazer os seus círculos mágicos de proteção, eles ficaram afastados bem próximos à porta da garagem.
─ NÃOOOOO! ─ os três gritam ao ver Joshua fazer a maior burrada que ele poderia ter feito… sair do seu círculo mágico.
─ Cometeu um grave erro meu pequeno escravo! ─ Astaroth, na verdade, ainda estava preso no triângulo em sua forma original. Tudo o que Joshua havia visto anteriormente era uma ilusão muito poderosa.
Joshua não deu nem um passo fora do círculo e caiu de joelhos no chão, ficando imóvel.
─ Vamos nos concentrar no triângulo, é a única chance de proteger o nosso amigo agora. ─ Cláudio se concentra, fazendo o triangulo com o dedo indicador da mão direita.
─ Não sinto a presença dele vindo do triângulo! ─ Juninho de olhos arregalados.
─ Tarde demais! ─ a voz assustadora sai direto dos lábios de Joshua, que se levanta lentamente.
─ Aconteceu o que tanto eu temia! No livro da Magia Sagrada de Abramelin, por exemplo, diz claramente para se fazer este ritual somente se estiver muito bem preparado, pois se não conseguir dominar o espírito evocado, será dominado por ele, que entrará em sua pele e poderá sofrer diversos males, da morte instantânea a loucura eterna.
─ CALEM-SE! ─ Joshua fala com a sua voz ao desferir uma chicotada que atinge os três de uma só vez. Ele segura o chicote, mas o objeto não é físico, é como se ele permanecesse na mesma forma astral em que estava nas mãos de Astaroth.
─ AI! ─ os três gritam de dor, pois o chicote pegou no braço esquerdo de Samantha, nos peitos de Cláudio e na bochecha esquerda de Juninho.
─ Precisamos nos concentrar melhor em nossos círculos mágicos. ─ Juninho com as mãos em seu ferimento.
─ Ordeno que se afaste, espírito imundo! ─ diz Cláudio, mas Joshua nem se moveu. ─ Ordeno que se afaste já disse! ─ desfere um corte no ar, como se segurasse uma espada, bem na direção dele.
─ Vejam! ─ Juninho ao ver o corte se projetar nos peitos dele.
─ Pelo que vejo só há uma solução, o exorcismo. ─ Samantha retira o livro da bermuda.
─ Vocês não são capazes de me tirar daqui. ─ o demônio fala e desferi várias chicotadas contra os três, que se contorcem de dor.
─ Precisamos tentar o exorcismo e rápido! Trabalhando em equipe suponho que podemos conseguir. ─ Cláudio.
─ Samantha contamos com você, faça o exorcismo enquanto eu e Cláudio vamos prendê-lo. Assim ficaremos livres do chicote e você terá a oportunidade de completar o ritual. ─ Juninho.
─ Vamos imaginar um pequeno tornado, sugando-o diretamente para dentro do triângulo. ─ Cláudio olhando para o seu amigo, enquanto gira o seu dedo indicador no ar, como se tenta-se criar um redemoinho dentro de uma piscina. Eles imaginam o vento começando a girar dentro do triangulo, no mesmo sentido que os dedos deles giram, este vento vai aumentando a sua força gradualmente, e assim acontece uma ventania real lá dentro.