Domingo de manhã, Lótus estava começando os preparativos para a missão na área de lazer do hotel em que passaram a noite.
-Muito bem, crianças, escutem a mamãe. -Ela sorriu para seu grupo. -A gente vai precisar fazer uma formação, vamos todos ter que se separar. Eu vou pegar o garoto Tristan e fazer ele usar o poder dele. Ele vai fazer a gente ficar em um domo sem som nenhum. Depois disso, Zap vai pegar o Julian. Crash, você vai ficar responsável de cuidar caso as coisas deem errado. Certo?
-Me parece idiota. -Duque resmungou. -Você é péssima nisso.
-Querido, eu sou a sua líder. Se você acha que faz melhor, então vai lá, fala com o Oblivion, quem sabe ele não te dá uma chance?
Ela riu alto.
Seu grupo era normalmente composto por cinco pessoas, que incluíam Zeta e Theta, as gêmeas armamenteiras. Elas providenciariam armamento caso algum problema acontecesse com Crash. Tudo que faziam era carregar consigo duas Bestas Táticas, que atiravam virotes explosivos.
Mas para esta missão, Oblivion enviou outros quinze membros. Agora, ela possuía um esquadrão completo pronto para a guerra. Aquelas crianças não teriam chance contra eles. Mas também, Oblivion os avisou que era melhor nenhuma criança ser morta. No máximo, machucar elas em combate. E quando Oblivion avisava daquela forma, ele estava falando bem sério, e algo ruim aconteceria com quem quebrasse aquela regra.
-Ele está certo. -Crash disse. -Você não sabe o quê está fazendo. A gente tem tempo. Até sexta à noite podemos planejar e nos preparar. Se fizermos merda, estamos fodidos.
-Estamos mesmo. -Duque disse. -E a merda vai feder para o seu lado, Lótus.
-Eu já disse que sei o quê estou fazendo. -Ela riu.
-É. Nada. É só o quê você faz. -Duque disse.
-Por favor, eu não vou tolerar rebeldias. O Oblivion confiou em mim para isso.
-Não, ele não confia. -Duque riu. -O Ninguém confia no Crash. E o Oblivion confia em Ninguém.
-Ninguém é só um idiota. -Lótus riu.
-Ele é o principal recrutador da organização. -Crash disse. -Ele está sempre no lugar certo. Ele e o Cataclismo sempre aparecem juntos. Tenha cuidado. Se um dos dois souber do quê você anda falando, você vai ter problemas. Ninguém pode ser bonzinho, mas se o Cataclismo te pega... Ninguém sabe do quê ele é capaz.
-HAHA! Ninguém sabe! Essa foi boa! -Theta riu.
-Acho que não foi uma piada. -Zata reclamou.
-Não. Não foi. -Crash confirmou. -Saiba que a gente só vai esquecer do quê ele fez com você, e aí nunca mais vamos ouvir falar de você.
-Ah gente. -Lótus suspirou. -Vocês são tão ruins comigo. -Ela falou em uma voz triste que obviamente era forçada.
Crash possuía um nojo profundo daquilo. Ela adorava provocar daquele jeito para ganhar as coisas. E aí que as coisas ficavam perigosas, caso ela conseguisse convencer suficientemente alguém, ela poderia controlar, de certa forma, as pessoas.
Duque sabia disso, e por isso os dois a detestavam. Mas alguns dos novos membros não sabiam. E principalmente Wagon, que era um invocador, enviado como o trunfo da equipe. Seu familiar, Axcol, era basicamente um tanque pronto para esmagar qualquer coisa.
Aquilo poderia sair seriamente do controle se Axcol saísse do controle. E se Lótus fizesse uma única merda, coisa que ela era extremamente adepta a fazer, a missão terminaria da pior forma possível.
Crash sabia o quê os esperava se eles fossem considerados culpados: O Doutor faria diversos experimentos medonhos com quem fosse descoberto cometendo crimes hediondos. Crash na verdade estava lá para defender mais as crianças e salvá-las das mãos asquerosas de Lótus do quê para lutar.
Ele procurou um canto qualquer na frente do hotel em que estavam, e começou a fumar.
Wagon, que era um homem de estatura média, se sentia muito intimidado perto de Crash, que era enorme perto dele. Crash também era musculoso.
Wagon olhou para a tatuagem no braço de Crash. Um tribal preto que se estendia do ombro até o cotovelo. Será que serviria para puxar assunto?
As gêmeas estavam rindo vendo ele olhar. Wagon suspirou. Era melhor não.
Ele olhou para alguns dos novatos da equipe. Trevo era um deles. Parecia ser extremamente jovem, e não deveria saber muito sobre o quê estariam fazendo ali.
-Relaxa, moleque. -Wagon deu um tapa no ombro dele. -Acho que você está meio nervoso com a missão, mas vai tudo dar certo. Eu já fui em algumas.
-E em alguma delas teve alguma luta? -Trevo olhou para ele.
-Sim. Muitas. Nenhuma com um grupo que quisesse rivalizar a organização, claro. Mas esses são conhecidos apenas como crianças.
-Então por que tudo isso? Toda uma formação para capturar crianças.
-São muitas. -Duque se aproximava deles. -Não sabemos o quê elas podem fazer. Elas podem ser perigosas se atacadas sem preparação.
-Entendo. -Wagon disse. -Sabemos quanto sobre elas?
-Pouco. Por isso vamos capturar a turma inteira. Não sabemos quantas podem estar envolvidas nisso. -Duque contou.
-Isso pode dar ruim.
-Pode. Não sabemos quem são suas famílias, quem são as crianças e o quê elas podem fazer. Por isso toda essa formação vai ser necessária. Se uma coisinha sequer der errado...
-Então estamos fudidos. -Trevo finalizou.
-É. -Duque respondeu. -Se resistirem por tempo demais, podemos ter sérios problemas.
-E se falharmos? -Trevo perguntou.
-A maioria será remanejada para outros grupos. Outros incompetentes, como o Zap ou a Lótus... -Ele olhou para os dois, que estavam distantes dali. -Podem ter um destino terrível.
-Por isso vamos debater a formação bastante. -Wagon sorriu. -Tenha calma, Trevo.
-Tudo bem. Ei, como a gente vai embora?
-O Trincheiro vai vir buscar a gente. -Duque respondeu. -É um cara da infiltração que pode se teleportar. Ele vai levar a equipe toda em uma lapada só. Se ficarem para trás, vão ter que se virar.
-Certo. -Trevo engoliu em seco. -Espero que ele espere um pouquinho mais.
-Não se preocupe. Vamos planejar um sinal e um ponto de encontro. -Duque sorriu. -Vai ficar tudo bem.
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O Doutor estava em seu laboratório, terminando algumas armas que ele mesmo criou para a Divisão de Artilharia. Ele se questionou por um bom tempo sobre o quê fazer com relação à Lótus. Ele pensou em contatar a equipe de Majoris. Aquela sim era uma equipe decente, que conseguia cumprir suas missões sem que algum idiota causasse problemas.
'Pobre Crash, pobre Duque'. Os dois precisam mesmo aguentar aquilo. Ele viu o olhar idiota em Zeta, em Theta e em Lótus quando as viu pela primeira vez.
Ele conheceu Olívia no começo do ano, e achou que ela seria uma ótima invocadora ali. Era uma lástima que tenha fugido com Niccolo. Ela precisava de uma família e de uma figura protetora. Mas o assassino que os encontrou não a matou. Ele disse que ela estava com os Mirai.
Trincheiro entrou na sala, seguido por um menino usando uma capa marrom.
-Ei, doutor. -Ele chamou. -O garoto quer ir ver a missão de Lótus. O quê eu faço?
-Não deixe.
-Doutor. -Disse o garoto. -Tenho fome de experiência.
-O quê?
-Eu desejo. Desejo conhecer o trabalho executado por uma equipe da organização denominada Gyazom.
-Essa missão é idiota.
-Portanto a probabilidade de que eu me envolva em problemas é baixa.
-Baixíssima. Mas não é nula.
-O senhor se preocupa com uma variável mínima. Qual a necessidade disto?
-A necessidade é que você compreenda que as coisas sempre tomam rumo caótico. O destino é uma coisa incompreensível, menino.
-Incompreensível. Portanto, você explica esperando que eu compreenda o Incompreensível. Por quê?
-Entenda que nem tudo pode ser entendido.
-Não entendi.
-Desse jeito.
-Irei na missão?
-Não. Quando você fizer 15 anos, poderá ir com a equipe Majoris em uma missão. Mas Lótus é idiota demais. Ela vai causar problemas.
-Portanto, ela precisa de auxílio. Eu posso aprender observando ela.
-Eu já disse que não.
-Certo. Me desculpe pelo incômodo, Doutor. Retornarei às atividades.
-Quais?
-Montar e desmontar máquinas. Tentarei remontar alguma que deu erro.
-Muito melhor assim.
O garoto se virou e saiu da sala.
-Acha que ele pode tentar escapar? -Trincheiro perguntou.
-Não. Ele não compreende conceitos como rebeldia. Ele é como uma máquina. Mas em qualquer caso, se ele acabar indo atrás de você, fique de olho nele.
-Certo. O local informado por você está marcado. Só vou poder me teleportar para lá três vezes. Se alguém ficar para trás, não vou poder recuperar.
-Se puder, esqueça o Zap. Vai ser um favor.
-Um baita favor. -Trincheiro riu. -Vai ser uma lástima eu esquecer logo ele.
O Doutor riu.
-Ótimo. Esteja pronto. Na sexta de noite, nós vamos finalmente conhecer os Mirai.