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Chapter 8 - Capítulo VII - Escola e Quartel

Era final do mês de Fevereiro de 2016, data que marcava o início das aulas do 4° Colégio Militar. Os monotrilhos já estavam lotados de alunos do turno da manhã, com muitos já ansiosos para verem seus amigos depois das férias. No entanto, para alguns, era um novo começo em um local de ensino novo.

— A gente deu sorte de conseguir entrar na mesma turma! — Vivian comentou, enquanto andava rapidamente pelas escadas do prédio onde estava sua sala. Atrás dela, vinha o resto de sua trupe.

Poucos minutos depois, com os estudantes já assentados, começou a primeira lição do ano. A classe onde os quatro estavam era composta quase que inteiramente por novos alunos, mas nenhum havia demonstrado ter reconhecido o grupo de prodígios que acabou com a prova de magia do processo seletivo.

— Não faço a menor ideia de como não chamamos atenção ainda, mas espero que continue assim. — Gabrielle pensou. Os outros três também haviam ficado receosos com a primeira impressão que poderiam causar, mas até aquele momento, tudo andava bem.

Uma professora entrou na sala, e após comprimentar os alunos e se apresentar, pediu a eles que falassem seus nomes, idade e países de origem pela ordem das carteiras. Na sua vez, Ana abriu seu enorme sorriso de sempre antes de falar qualquer coisa.

— Meu nome é Ana Clara! Tenho quinze anos e sou brasileira. — A educadora ficou em silêncio por alguns instantes, como se estivesse tendo um deja-vú momentâneo, até que ela disparou um "Ah!", sinalizando que tinha lembrando do que era.

— Sabia que já tinha escutado seu nome antes! Você é uma das quatro pessoas do último processo seletivo que bateram aquele monte de recordes, não é? — O rosto calmo dos prestigiados camuflava seus gritos internos de vergonha. A professora havia falado sem nem ao menos pensar. Sua inocência era inacreditável para uma pessoa que aparentava ter mais de trinta anos de idade.

— Bem... tudo que fiz foi dar meu melhor! Eu nem sabia que eles registravam esses tipos de coisas. — Ao contrário do resto do grupo, a expressão de Ana deixou descaradamente óbvio que ela havia adorado a atenção tinha recebido, mas ainda assim tentou parecer humilde. Os outros aprendizes que estavam assistindo a aula começaram a reconhecê-la e a comentar uns com os outros a respeito.

— Que olhar falso é esse menina!? Tá óbvio que você tá se achando! — Vivian bradou em sua mente, revoltada de maneira cômica e envergonhada com a reação da amiga à tutora. Felizmente o vexame não durou muito tempo, e o resto das introduções seguiu normalmente.

Acabou que a situação criada pela professora quebrou o gelo da turma, com os estudantes começando a se socializar a partir de então.

— Que mulher sem noção. Não acredito que a primeira coisa que ela falou ao ver a gente foi da nossa prova de magia. Fiquei morrendo de vergonha. — Gabrielle comentou para suas colegas, enquanto arranjavam um local para ficarem sentadas. Já era o horário de recreio, e Ismael havia se separado delas para conversar com outras pessoas.

— Agora que já conseguimos entrar no colégio, podemos ficar mais tranquilas quanto aos nossos estudos. O que temos que fazer agora é tentar se alistar para o quartel. Ouvi falar que tem um aqui próximo, e que eles tem um programa para estudantes interessados em seguir carreira militar, mas não sei ao certo como funciona. — Ana relembrou.

— Se você não pagar de fodona na frente de um sargento, deve dar tudo certo. — Vivian respondeu, num tom que parecia estar entre rancoroso e brincalhão. Sua amiga disparou a rir quando a escutou.

— Ah, então aí que estão vocês. — A velha voz masculina interrompeu a conversa entre as garotas. Ao verificar a origem dela, notaram num ancião, vestido com uma espécie de manto branco e empunhando um cajado. Parecia ter uns setenta anos, tinha longa barba, cabelos totalmente brancos e não mais de um metro e sessenta e cinco de altura.

— Como podemos te ajudar, senhor? — Ana perguntou ao homem que se aproximava.

— Eu sou o diretor da escola. Também sou o irmão do mestre de vocês. Podem me chamar de Wilfred. — As jovens foram pegas completamente de surpresa com a revelação do idoso.

— Que!? Você é o tal do irmão mais novo!? Você parece que é o pai dele! — Vivian falou, espantada. A reação imediata do sênior foi de irritação.

— Isso é jeito de falar com os mais velhos!? A geração de vocês não tem respeito nenhum! — Ele protestou, com seu sotaque estrangeiro se tornando ainda mais forte por conta da explosão sentimental. A garota imediatamente ficou acuada e se desculpou. Depois de limpar a garganta, Wilfred continuou.

— D-de qualquer forma, eu estive em contato com James ao mesmo tempo em que ele estava ocupado treinando vocês. Ele me disse que vocês estariam interessados em entrar para os esquadrões de exorcismo, e eu vi que vocês são bons no que fazem. Eu poderia ajudar vocês a entrar para o Curso Preparatório de Magos Combatentes da 2° Companhia de Exorcistas. — A oferta se alinhava muito bem com os interesses do grupo.

— Quero saber mais informações a respeito. Podemos nos reunir em algum lugar para discutir isso? Também seria bom ter o Ismael junto pois eu tenho certeza que ele vai querer saber informações sobre isso. — O idoso assentiu, concordando com Vivian.

— Perfeito. Venham até meu escritório no prédio principal depois da aula. — Assim aconteceu. O resto das lições ocorreram normalmente, e após o último horário os quatro se encontraram com o diretor para discutir a proposta, que foi rapidamente aceita por conta dos vários benefícios que o grupo teria. Ao final do curso, em Setembro de 2016, eles poderiam entrar direto para a unidade militar como soldados, pois já estariam com a idade mínima necessária.

Uma semana depois, começaram também as "classes" nos quartéis, e dessa vez, os amigos foram separados. Ana e Gabrielle continuaram juntas em um mesmo esquadrão, enquanto Vivian e Ismael foram sozinhos para suas próprias unidades.

O ambiente era bem menos amistoso do que o do colégio. A rotina iniciava-se logo às duas da tarde e terminava às oito da noite, e as tarefas realizadas, eram na sua grande maioria as mesmas que um recruta de um exército normal faria.

Duas semanas passaram num piscar de olhos, e a sensação dos jovens era de que a cada dia se tornava mais trabalhoso.

— Ana, me passa a bucha. — Era a vez de Vivian e sua amiga serem responsáveis pela limpeza do banheiro do quartel, que tinha que ser feita a cada dois dias. Por coincidência, seus turnos se alinharam e elas puderam fazer suas tarefas juntas.

— Pega! — Como resposta, ela pegou a esponja e a atirou para sua colega, que a agarrou e continuou a esfregar as pias. Depois disso, não houve muita conversa entre as duas, o que Ana estranhou. Antes de finalizarem a faxina, a garota decidiu tocar no assunto.

— Tem algo errado? Você não tá puxando conversa nem nada. — A fala assustou a jovem, que parecia estar pensativa até aquele momento.

— Me desculpa. Meu esquadrão foi punido recentemente, e eu to de cabeça cheia por conta disso. — Sua expressão demonstrava que ela estava incomodada com algo, e não conseguia relaxar seu semblante sério nem por um instante.

— Sei não. Você não iria ficar tão irritada assim se fosse por causa disso. A sargento acaba com a gente por qualquer motivo mesmo. — A menina de longos cabelos negros replicou.

— Eu sei. Mas é que já é a terceira vez que isso acontece. Tem uma garota que andou vacilando nos últimos dias nos deveres de rotina. Andou fazendo corpo mole e agora todo mundo tá pagando a conta. Mas eu acho que o bicho tá pegando com ela e as outras meninas do esquadrão. Não fala pra ninguém que eu te disse isso, beleza? — Ana assentiu, compreendendo que a situação poderia ser séria.

Já de noite, neste mesmo dia, o quarteto se encontrou antes de voltarem juntos para casa, mas Vivian disse para o seus colegas que tinha assuntos para resolver com alguém, sem dar detalhes do que seria. Depois que eles pegaram o monotrilho, ela aguardou na estação, observando o portão do quartel.

Após poucos minutos de espera, a vigilante avistou três garotas saindo juntas do estabelecimento. Logo que estavam fora dos limites da zona militar, duas delas fecharam o cerco contra a terceira garota. De longe, não parecia que estava ocorrendo nada suspeito, mas a menina que às estava observando a distância tinha a percepção boa o suficiente para ver que a jovem sitiada estava sendo intimidada.

— Merda. Estão importunando ela. — Vivian disse em voz baixa, enquanto aguardava a melhor hora para agir. Felizmente, depois de algum tempo, as valentonas foram embora, deixando a vítima para trás, ilesa. A adolescente saiu de seu esconderijo e cruzou a rua no momento oportuno, e se aproximou de sua parceira sem que ela percebesse.

— Catarina, o que aconteceu?