Chapter 21 - Concerto

Estou cansado desse palco.

Rodando e rodando, rindo e sorrindo, caindo e doendo, rodando e caindo, caindo e sorrindo, doendo e rindo, rodando e rodando.

Não gosto de entreter a plateia, não mais.

Houve algum momento em que pude me diferenciar do Pagliacci? Algum momento em que eu não fui este eu?

Acho que, quando comecei a atuar, a mentir, começou com um desejo de fazer os outros rirem e sorrirem.

Agora que penso nisso... Que ideia tola.

Não é à toa ser considerado o palhaço do grupo, não é à toa.

Riem da minha desgraça. Juro que não sei mais sentir dor sem rir. Juro que não sei mais cair sem sorrir.

Por quê... Se não mostrar que estou contente é pior, vocês me olham com desgosto ao tentar dizer que dói?

Não sou um monstro. Vocês sorriem ao ver minha dança, gargalham das minhas piadas e se identificam com minhas atuações idiotas, mesmo assim.

Mesmo assim.

Se afastam quando me aproximo. Ficam com medo, soltam arrepios e me olham com nojo quando toco em vocês. Por que são assim?

Por que sou assim?

Estou sozinho embaixo da chuva sem guarda-chuvas. Me desmotiva ver você se afastando, cadeiras e mais cadeiras. Acho que vai chegar o momento em que vão ver meu teatro pelo celular.

Os passos dela são tão rápidos e eu me sinto tão lento, como vou alcançá-los se aqui ainda há a morbidade das desventuras do viver.

Grito alto, mas ninguém me escuta. Vejo os olhos de vocês refletindo o meu estorvo.

Como vão arrumar o que é inconsertável? Mesmo tendo pedido ajuda, gritar enquanto se afoga no meio do lago parece infrutífero.

Que direito tenho de ser ajudado se minhas mãos nunca se levantaram nem para aqueles que considero aliados? Fazer o mínimo, todo mundo faz.

Somos contrapontos. Minha obscura escuridão se contrapõe à sua luz.

Embora talvez seja apenas um reflexo da sombra de sua luz.

Aqui embaixo vejo você criando sombras e ondas ao se mover por cima desse lago.

E se...

Não.

Já sei.

Não dizer já é uma estratégia para não acabar.

Como fechar os olhos para não sentir tanto quando a estaca apontada para meu rosto me rasga.

Ou.

Você já sabe, só finge que não?

Falar mais do que isso é dar dicas sobre o fim.

Estou planejando o ato final. Terminar com os estudos, um livro, lágrimas nos olhos e uma corda afrouxando depois de sufocar.

A pergunta é? De quem é o pescoço que foi sufocado.

De quem é a motivação para acabar em desagrado.

Tenho que continuar mentindo, continuar encenando, é uma peça de um homem só.

É triste olhar assim.

Seguir um roteiro imutável.

Talvez o início já tenha sido o problema.

Talvez não deveria ter havido um início.

A psicóloga disse que estou ficando louco e mais louco, não acredito nela, embora profira essas mesmas palavras em meu dia a dia.

Se eu pensar do porquê estou andando, eu paro.

Não posso parar, se eu parar vou parar para sempre.

Egoísta ao ponto de querer brilhar mesmo sendo unicamente trevas. A lua e o sol. A lua incapaz de ser luz, refletiu na própria escuridão o brilho do sol.

Há quem ache que a luz brilha, que ela ilumina. A lua está mentindo, fala que está mentindo, que não é tudo isso, e sofre as consequências da raiva alheia por esse baixo brilho.