Chapter 26 - Último

Você está tão linda quanto no dia em que te conheci, seus olhos sorrindo ao fitar o céu na virada do ano, que, por sinal, nunca pude vê-la, só imagina-la.

Vim para relatar meu dia.

Atravessei sutilmente pela sua porta de vidro, tirei meus tênis e entrei o mais silenciosamente possível, como um ladrão.

Olhei ao redor antes de subir as escadas, ainda admirando a casa.

No último degrau, só você em casa. Sua porta, que estava ao meu lado esquerdo, estava aberta.

E lá estava você, olhando pela janela, admirando o mundo encantador.

Seus olhos devem ter um filtro, ou seriam os meus que não estão limpos?

Ah, são as lágrimas embaçando minha visão.

O tempo passa com o tic-tac do relógio da parede e, em uma cena que parecia de um filme, seu cabelo voando regularmente com o vento me deixa sem ar.

Me faz desejar ter um pincel e um quadro.

Me faz querer pintar o que não consigo enxergar (você).

Saio finalmente da minha brusca paralisia, que não foi nada momentânea.

Subo o último degrau, tento entrar pela porta à minha esquerda, mas...

Mas não consigo.

Não posso entrar sem ser convidado.

E você não me escuta, permanece como uma paisagem viva.

Não importa se a porta está aberta ou não, você não me convidou.

Eu pedi para entrar na sua casa para seus pais.

Não pedi para entrar em seu quarto, na sua casa.

Lágrimas voltam a escorrer, embaçando ainda mais minha visão.

Saio disparado pela escada e, no último instante, sinto você virar o rosto para a porta. Entretanto, era tarde demais.

Tropeço na escada e caio no vaso de flores.

Rosa.

Rosas cheias de espinhos perfuram minha pele, ocasionando a rosa vermelha a se tornar carmim.

Água do pote misturada ao sangue é espalhada pela sala, minhas mãos tremem por conta da loucura transparente refletida no vidro.

Terminei.

Terminei fugindo.

Terminei sozinho.