Chereads / Tentativas Ansiosas de um Não Lírico / Chapter 19 - Apoiar-se em muletas

Chapter 19 - Apoiar-se em muletas

"Nem se trata de diminuir-me, é sobre saber o meu lugar"10^100x.

Repetir, repetir e repetir.

Claramente, não sou um bom escritor. Isso é evidente na minha escrita tosca e no vocabulário modesto.

Minha fonte de inspiração secou, não me restando alternativa senão a submissão.

As férias chegaram, trazendo consigo o som da chuva que não cai, das lágrimas que não molham, dos cortes que não cicatrizam.

Conversei com um outro amigo, ele disse que, de alguma forma, me compreende, mas está teoricamente vivendo o momento mais feliz de sua vida e ainda assim não se sente verdadeiramente feliz.

Outro dia se passou, e hoje é mais um domingo. Estou sozinho, mal saio, é quase como se estivesse em quarentena.

Não estou estudando, não estou trabalhando e me sinto inútil.

Preferiria estar morto, parece mais atraente, quero parar de pensar, não gosto do meu corpo.

Falando em corpo...

Vez por outra me olho no espelho nu.

Vejo cicatrizes, estrias, gordura e qualquer outra coisa que considero problemática em meu corpo.

A barba por fazer, o bigode falho, o cabelo desgrenhado, meio longo e sujo, tudo me causa náusea.

Os olhos sem vida, com um sorriso amarelo e totalmente sem graça, despertam raiva em mim.

E todas as outras milhares de coisas que posso perfeitamente observar só me fazem sentir ainda mais inferior.

Eu sei o meu lugar, eu sei exatamente onde estou.

Maldição, estou chorando novamente, outra crise, droga.

Como alguém poderia me amar? Eu sei que não tenho nada a oferecer. Como alguém poderia me amar quando há pessoas melhores por aí?

Odeio vocês. E odeio meu corpo.

Não quero ter um.

Não quero ser nada, nem mesmo o que sou.

Por favor, alguém, me mate logo.

Como, me diz, como posso aceitar elogios? Sei que são apenas compaixão.

Vocês veem o quanto sou patético e sentem pena, dó.

Caso não sintam, simplesmente vão me humilhar até o mais insignificante dos meus átomos.

Eu conheço o meu lugar, mas é amargo demais estar aqui.

Só me deixem ir, por favor.