Oi, como você está?
A parte de você que não está presente fisicamente, mas que habitou minha mente por tanto tempo, finalmente partiu.
Escrever essa última carta de despedida ajudou. Foi como desfazer nós do pescoço. Ainda restam lembranças, afinal, não é possível esquecer. Eu apenas aprendi a sentir a dor até o ponto em que não faz mais sentido chorar por ela.
Quando estávamos juntos e você colocou aquela música da Spektor "Two Birds" para tocar, não percebi naquele momento que era uma forma de se despedir de mim.
Existe algo simples que você nunca poderia entender, pois era simples demais para alguém tão complexa como você. Apaixonar-se é, originalmente, olhar para a mesma paisagem e continuar se apaixonando pela monotonia das pedras cinzentas, pela água turbulenta que varre a areia para dentro e fora do mar, pela relva que cresce milagrosamente entre as pedras firmes, escapando da fúria do mar. Amar por mil anos a mesma coisa é algo simples para mim.
Até o fim, você não conseguiu compreender a força da palavra "coletivo".
Isso, eventualmente, se tornará um pretérito mais-que-perfeito quando eu finalmente permitir que você se vá por completo.
Ver uma foto ou lembrar de você me faz querer escrever sobre mil e uma coisas, mas todas elas me trazem sofrimento.
Não sei se você me compreende, ou se sou eu que não consigo entender a mim mesmo.
Sinto saudades, raiva, antipatia. Realmente, sinto muitas coisas e, mesmo sentindo uma imensa tristeza, ainda sinto que te amo.
Isso não faz sentido. Eu gostaria de poder simplesmente te esquecer, deixar você voar para bem longe das minhas memórias.
Entretanto, você continua aqui, no momento de me levantar da cama, no almoço, no retorno para casa e em tudo ao meu redor. Como um pássaro cantando, chamando minha atenção para suas belas cores de asas e para seu canto.
Ao dizer tudo isso, ainda sinto, em momentos, gatilhos de raiva e de inaceitação. Penso no que poderia ter feito de melhor, mas o pior não é isso.
O pior é analisar toda a nossa história e perceber que você só queria terminar com isso, pois havia se cansado, mas não queria se sentir culpada, então direcionou tudo para esse desfecho.
Isso me deixa mal.
Mas também...
O que não me deixa mal?