Então, lá estava eu com meu bloco de notas mais uma vez.
Consigo recordar um tempo que, hoje, parece distante, embora comparado à totalidade da minha vida, não esteja tão longe.
Hoje, é quase cômico perceber que a angústia do meu eu passado residia no medo de ser apenas um segundo plano, uma mera sombra.
Mas agora, o mundo me mostra, sorrindo, quão longe estou de sequer ser considerado uma sombra.
Perguntam-me o porquê dessas reflexões.
Mesmo que questionem, talvez não saiba responder.
Não, não é inveja. Pelo menos não acredito que seja. A inveja tem um sabor distinto, e este não é o gosto que estou experimentando agora.
É um gosto distante, como olhar diretamente para o sol, tentando alcançar as estrelas enquanto estou aqui na terra.
Recentemente, um amigo expressou seu desespero sobre o futuro em poucas palavras. Concordo com ele, compartilho do mesmo medo.
Medo de dar errado e, ainda mais, medo de dar certo. Compreende?
O receio de dar certo está no fato de que, assim que se dá um passo, será necessário dar outro. Talvez mais rápido, mais longo, e e se não for capaz de dar esse próximo passo?
Em específico, esses meus dois amigos podem se dar bem, conquistando verdadeiros primeiros e segundos lugares.
E eu? Não sei como sou amigo deles. Sinto-me como um parasita no meio dos saudáveis.
Falando sério, uma colega de sala me chamou de psicopata e sociopata.
Duvido que ela saiba o significado desses termos.
A verdade é que sou um farsante. A todo momento finjo saber, minto e engano.
Observo isso e reflito: por quê?
Não sei. Meu corpo anseia pela sobrevivência (embora minha alma não queira), levando-me a mentir diversas vezes.
É uma sociedade, um círculo, um drama social. É mais fácil sobreviver quando se está em grupos.
É mais simples agradar a todos. É mais fácil se todos acharem (não que seja a verdade) que é valioso eu estar ali.
Apenas não quero ser inútil.
Porém, é inútil.
Não tenho um propósito além do modo operante de sobrevivência.
Quero um propósito.
Juro que estou procurando...
Meus amigos disseram que sou masoquista por causa dos meus relacionamentos complicados.
Mas não sei se entenderiam quando eu dissesse que estava apenas procurando um significado para minha existência, disposto a sofrer desde que tivesse um propósito.
Viktor Frankl talvez entenderia esse aspecto.
Vejo beleza nas guerras, árvores, no mar e na morte.
Elas têm razão de ser.
Pense na razão de ser de uma árvore; seu impacto é colossal. Há motivo para as guerras dos homens (seja poder, território ou o que for). Há valor na vida e na morte para regular o todo.
Mas e eu? Onde entro nisso? Apenas a minha morte teria significado para alguns vermes que se alimentariam de meu cadáver por um mês, talvez menos.
A minha dignidade é a minha inexistência?
Não quero sofrer à toa, não quero apenas sobreviver se for somente isso.
Assim, é preferível alimentar meia dúzia de vermes agora.
Talvez eu não seja a pessoa certa para viver.