Ano de 1097, 14 de março. Reino: Bartton.
Em uma noite sombria e chuvosa, na capital Valoria, o rei Gregory Blake convocou o seu guerreiro de maior confiança, Elion Falconer. O salão do castelo, iluminado por candelabros antigos, ganhou vida com as chamas tremeluzentes que lançavam sombras dançantes pelas paredes. O som do vento e da chuva ecoava pelos corredores, intensificando ainda mais a atmosfera tensa.
— Aconteceu alguma coisa pra me chamar a essa hora, Gregory?
Ajoelhando-se sozinho diante do monarca, Elion, aos 30 anos, com cabelos pretos e olhos azuis, exiba um corpo musculoso, resultado dos intensos treinamentos pelos quais havia passado. Em suas costas, carregava orgulhosamente o brasão de sua família: um falcão desenhado em linhas douradas sobre sua capa. Também em suas costas repousava sua espada, uma preciosa herança de família que o acompanhava em todos os momentos.
— Os Falconer servem aos Blakes há décadas. Por isso, trato você como um membro da minha família; acredito que já saiba disso, Elion.
— Claro que sim!
Gregory, um homem idoso, sentado em seu trono, vestia roupas imponentes e usava uma coroa adornada com joias brilhantes que reluziam como seus olhos verdes. Embora seu corpo estivesse enfraquecido pela idade, ele ainda exalava uma aura de coragem e determinação, como a de um guerreiro pronto para lutar a qualquer momento.
— Elion, tenho uma missão importante para você, porque eu só confio em você pra isso. — Gregory suspirou, desviando o olhar, como se estivesse hesitante em continuar. — No Sul do meu reino, pessoas estão desaparecendo, e outras sendo mortas, mas ninguém sabe o que tá por trás disso. Preciso que você investigue isso o quanto antes e descubra o que está acontecendo.
Ao ouvir o pedido de Gregory, Elion levantou a cabeça e encarou o monarca diretamente, incapaz de evitar o gesto.
— Já ouvi rumores sobre isso… Gregory, desculpa falar assim, mas tenho coisas mais importantes pra fazer na capital. Por que me enviar pra encontrar o que parece ser apenas mais um assassino? Se quiser, posso sugerir nomes de soldados de minha confiança pra essa missão.
Gregory ficou em silêncio por um momento, sua expressão endurecendo.
De repente, um raio rasgou o céu, iluminando o castelo com um brilho momentâneo e ameaçador.
— Não! Tem que ser você! — Apesar de sua reação, Gregory suspirou fundo e se ajeitou no trono, tentando parecer mais sereno, embora sua preocupação fosse evidente. — Não posso revelar tudo. Espero estar errado, mas, se meus pressentimentos estiverem certos… Não, prefiro nem pensar nisso.
Elion observou Gregory e percebeu sua inquietação, algo que o incomodava profundamente. No entanto, pela convivência que tiveram, sabia que Gregory era extremamente inteligente e já havia perdido as contas de quantas vezes ele ajudou seus cidadãos, resolvendo problemas que pareciam impossíveis. Por isso, acreditava que ele devia ter seus motivos para insistir.
— Tá bem, farei como ordenado. — Seu olhar desviou-se para o chão, refletindo sua preocupação e confusão.
— Evite usar as roupas do reino para não chamar atenção. Se você for reconhecido, isso pode causar confusão entre os moradores e dar ao culpado uma chance de escapar. Leve seus melhores homens e não conte para ninguém sobre essa missão.
— Entendido!
Sem mais objeções, Elion deixou o castelo, decidido a descobrir o que estava acontecendo e a encontrar o culpado.
Ao retornar para casa, preparou os cavalos e selecionou três guerreiros de confiança para acompanhá-lo, incluindo Jack, seu braço direito, um jovem de 25 anos com cabelos castanhos e olhos negros.
Elion explicou brevemente a seus guerreiros a importância da missão e detalhou os assassinatos no sul do reino, ressaltando a necessidade de discrição. Os guerreiros se entreolharam, hesitando por um momento antes de concordarem.
— Mas, chefe, isso tá parecendo mais sério que qualquer outra missão que a gente já fez. Não era melhor levar uns soldados mais experientes? — comentou Jack, a preocupação claramente estampada em seu rosto.
Elion assentiu, com determinação em seus olhos, mas seu rosto carregava uma leve sombra de dúvida, refletindo sua preocupação com o que estava por vir.
— Sei que é arriscado, mas confio em vocês. Vamos descobrir o que tá rolando juntos.
Naquela mesma noite, disfarçados de aldeões, os cinco partiram rumo ao sul do reino sob uma chuva incessante, que dificultava o caminho ao transformar o solo em lama, prendendo os cascos dos cavalos.
A paisagem ao redor era composta por florestas densas. Montanhas distantes podiam ser vistas através da névoa, criando uma sensação de isolamento. O som constante da chuva e o vento frio que soprava nas roupas encharcadas tornava a jornada ainda mais exaustiva e desafiante.
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Após três exaustivos dias de cavalgada, chegaram a uma das vilas atacadas. Antes de se estabelecerem, fizeram uma rápida patrulha pela vila, verificando possíveis ameaças e garantindo que não havia perigo imediato. A pequena vila de Elda, outrora movimentada por comerciantes graças à criação de animais, agora parecia uma cidade deserta.
As janelas das casas estavam quebradas, e as portas, reforçadas com tábuas apressadamente pregadas, revelavam o desespero dos moradores diante de um perigo iminente. O som ocasional do vento soprando através das construções vazias criava um eco inquietante, reforçando a sensação de abandono e desolação. As pessoas, tomadas pelo medo, se apressavam para dentro de suas casas.
Devido ao cansaço da viagem, e como a noite estava chegando, decidiram procurar a pousada mais próxima para descansar. No dia seguinte, tentariam encontrar algumas pistas sobre os ataques que deixaram Elda em um estado de aparente abandono.
Quase todas as pousadas estavam fechadas; apenas uma ainda estava aberta. Ao entrarem, notaram que o assoalho rangia sob seus pés, e o cheiro de madeira velha e úmida enchia o ar. O ambiente era iluminado apenas por velas espalhadas sobre as mesas, projetando uma luz fraca e irregular.
Havia apenas um homem sentado em um canto, com uma coifa de linho grosso na cabeça e segurando uma bengala. Suas roupas, feitas de um tecido rústico, pareciam de viagem e não de um morador local. Elion se aproximou da recepcionista, que estava sentada lendo um livro. Apesar de parecer ser uma senhora de idade, ele percebeu que ela não demonstrava medo deles.
— Olá, gostaria de dois quartos pra uma noite.
A recepcionista levantou-se pegou as duas chaves e as colocou no balcão sem falar nada.
— São dois cruzeiros por quarto, pra cada noite — comentou casualmente enquanto voltava para sua cadeira e retomava a leitura.
Elion colocou as moedas no balcão e, em seguida, pegou as chaves, entregando-as a Jack.
— Tome, subam pra descansar.
Ao pegar as chaves, Jack percebeu que havia apenas duas delas.
— Chefe, só tem duas camas por quarto. Onde você vai dormir?
— Não se preocupe com isso, Jack. Vou descansar na sala comum ou em qualquer outro canto que encontrar. Podem ir na frente.
Jack olhou para Elion, coçou a nuca e soltou um suspiro.
— Tá bem, mas veja só, não invente de fazer tudo sozinho como costuma fazer, certo?
— Não se preocupe, você tem minha palavra.
Após seus companheiros subirem, Elion se aproximou novamente da recepcionista.
— Por que as pessoas da vila estão tão assustadas?
— Olha, se anoitecer, é melhor não saírem. Quando amanhecer, vão logo pra capital se quiserem continuar vivos.
Elion refletiu sobre o perigo noturno e a urgência de partir o quanto antes, percebendo que a situação era mais grave do que imaginava. Ele apoiou o braço direito no balcão e encarou a recepcionista.
— Qual é o motivo de tudo isso?
Ela o olhou com uma expressão triste no rosto. Elion sentiu o peso da missão aumentar, reconhecendo a fragilidade da situação e o risco iminente.
— Nos últimos dias, várias pessoas tão sendo mortas em nossa vila. Todos estão com medo e não sabem mais o que fazer.
— Essa não era uma vila com muitos negociantes. Ninguém tentou resolver esse problema?
— O líder da vila chamou os homens mais fortes pra vigiar os arredores durante a noite, pra descobrir quem era o culpado…
— E o que aconteceu?
Ela suspirou profundamente antes de responder, com pesar na voz.
— No outro dia, encontraram apenas partes dos corpos deles. Todos foram mortos de maneira sangrenta. A partir daí, muitos partiram em busca da capital, enquanto aqueles que não tem condições de partir agora vivem com medo de serem mortos a qualquer momento.
Elion franziu a testa, esforçando-se para compreender as palavras dela.
— Mas como isso é possível? Não poderia ter sido algum tipo de animal selvagem?
— Se fosse um animal, já teria atacado toda a vila de uma vez! Esse assassino é esperto, espera anoitecer pra atacar e depois simplesmente desaparece.
Ela lançou um olhar de relance para a espada de Elion e esboçou um pequeno sorriso de canto.
— Essa espada… vocês são caçadores, não são? Eu já vi muitos como vocês, atrás de dinheiro e fama.
Ela fixou os olhos nos de Elion, com a expressão séria que transparecia um misto de preocupação e alerta.
— Você pode acreditar ou não, mas o que tá matando as pessoas da vila não é um animal raro, como você pensa. É um humano, forte e perigoso, que ataca com inteligência.
— Heh. — O homem soltou uma risada discreta ao ouvir a conversa entre Elion e a recepcionista.
Intrigado, Elion voltou-se para o homem.
— Quem é esse?
— Ele não é daqui da vila. Parece que se meteu em problemas na capital e durante uma briga, acabou ficando cego. Depois disso, veio parar aqui. Agora ele só fica sentado ali o dia todo, falando coisas sem sentido, como: "Por que fui confiar nele?" ou "não acredite nas mentiras dele". É só um louco.
Curioso, Elion aproximou-se do homem e observou as cicatrizes nos olhos dele, provavelmente causadas por uma lâmina afiada.
— Olá, por que riu enquanto conversávamos?
O homem ficou em silêncio, com a cabeça baixa e as duas mãos segurando a bengala.
— Eu disse que ele era louco! — ressaltou a recepcionista, em tom de irritação.
Quando Elion se virou para sair, ouviu uma voz baixa e misteriosa.
— Sobreviva.
Intrigado, Elion voltou-se novamente para o velho, mas ele já havia retornado a repetir suas frases sem sentido.
Decidido a desvendar os mistérios que cercavam a pequena vila de Elda, ele sentiu que algo estava errado desde que chegou à cidade naquela tarde.
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Momentos antes, no quarto da pousada, os quatro guerreiros estavam reunidos, ainda vestidos com suas roupas de aldeões comuns, cada um refletindo à sua maneira sobre a missão.
Roderick, o mais velho, com cabelos pretos e olhos castanhos, estava perto da janela, olhando para fora, pensativo.
— Espero que a gente termine logo essa missão… minha esposa tá grávida, e eu quero estar ao lado dela.
Eldric, seu amigo mais antigo, de cabelos pretos e olhos negros, encostou-se na parede com os braços cruzados e um sorriso provocador no rosto.
— Desde que se casou, você virou um molenga quando se trata da Selena.
— Você só vai entender quando se casar.
— Se casar? Ficar preso a uma mulher? Nem pensar! Prefiro a liberdade e várias companhias.
Leon, o mais jovem do grupo, loiro de olhos azuis, estava em pé, visivelmente impaciente.
— Vocês tão de brincadeira? Tem um assassino à solta matando pessoas, e vocês ficam aí falando de casamento? Temos que sair agora e procurar pistas!
— Relaxa, Leon. A gente acabou de chegar de uma viagem de três dias, quase sem parar. Além disso, o chefe Elion já tá cuidando disso — respondeu Eldric, colocando o braço de forma camarada sobre os ombros de Leon.
— Mesmo assim, eu não consigo ficar aqui parado!
— Ah, entendi… você quer terminar logo pra ir encontrar a Talia, não é? Eu vi vocês juntos outro dia… sortudo, ela é linda.
— Não é nada disso! — protestou Leon, empurrando Eldric, corado — sou um soldado do rei, e jurei proteger este reino e suas pessoas. Não podemos perder tempo com besteiras.
Jack, sentado em uma das camas, inclinou-se ligeiramente para a frente, com as mãos cruzadas sobre as pernas, e interrompeu.
— Vocês poderiam fazer um pouco de silêncio?
— Que foi, Jack? Tá muito calado. Não me diga que tá pensando na filha do Malkar? Como é mesmo o nome dela?
— É Nissa. Ouvi dizer que o pai dela só deixa um homem se casar com a filha se tiver coragem de passar por uma prova. Parece que ele faz o pretendente cortar um dedo pra provar seu valor — comentou Roderick, com um sorriso de canto.
— Haha, desista, Jack. Você não teria coragem pra isso.
Roderick voltou-se para a janela, com a expressão ficando séria.
— Mesmo assim, tem algo muito errado aqui. Por que esse assassino tá matando essas pessoas sem razão?
— Provavelmente é só mais um maluco desgraçado que gosta de matar. Mas deve ser bem esperto pra ainda não ter sido pego.
— Quando chegamos à vila, quase não consegui encarar o medo nos olhos das pessoas. Elas nos olhavam como se a gente fosse monstros — disse Leon, com um tom de tristeza.
— Era de se esperar. Essas pessoas são simples aldeões. Tudo o que podem fazer é fugir ou se esconder. Acredito que a única esperança que lhes resta é a ajuda do rei… O que você acha disso, Jack?
— Não tenho certeza. Mas algo definitivamente tá errado com esse assassino. Tou com um mau pressentimento. O chefe também não nos deu muitos detalhes sobre a missão, apenas mencionou que era uma ordem direta do rei.
— Jack, você não acha que está exagerando? Tenho certeza que a gente vai achar ele logo. Esqueceu que tamos com o chefe Elion, o maior cavaleiro deste reino? Esta missão vai ser tão fácil quanto as outras — disse Eldric, gesticulando com confiança, enquanto esboçava um sorriso cheio de segurança.
— A viagem foi longa. O melhor agora é descansar. Amanhã, começaremos a procurar pistas sobre esse assassino — concluiu Roderick.
Após a breve conversa, o silêncio pesado envolveu os guerreiros, cada um perdido em seus próprios pensamentos enquanto se preparavam para o que estava por vir.
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Durante esse período, Elion saiu da pousada em busca de informações, mas encontrou apenas aldeões aterrorizados. Eles hesitavam antes de se afastar, lançando olhares furtivos e assustados, como se temessem até mesmo falar. Frustrado com a falta de respostas, ele retornou ao quarto na pousada ao cair da noite.
Enquanto seus companheiros descansavam, Elion, sentado à janela do quarto, observava atentamente a cidade abaixo enquanto limpava cuidadosamente sua espada.
De repente, um grito feminino ecoou pela noite, fazendo Elion se sobressaltar, seus olhos se estreitando em alerta enquanto seu coração acelerava. Ele acordou seu companheiro, Jack, e ordenou que acordasse os demais e descessem imediatamente com suas armas.
No saguão da pousada, Jack, ainda sonolento, perguntou com um olhar confuso: — O que aconteceu, chefe? O assassino apareceu?
Nesse meio-tempo, Elion já estava preparando os equipamentos.
— Eu escutei um grito de uma mulher, não muito longe. Peguem alguns lampiões e fiquem com suas armas em guarda. Não sabemos quantos podem ser.
— Chefe, isso é perigoso. E se for uma armadilha?
Elion relembrou os rostos de sofrimento das pessoas da vila, e seu coração apertou ao pensar em tudo que eles estavam enfrentando nos últimos dias.
— Não podemos simplesmente abandonar aquela mulher. Vamos dar uma olhada ao redor da vila com cuidado.
Eles se equiparam rapidamente e saíram da pousada, seguindo na direção do grito da mulher. O coração de Elion acelerava com a antecipação do que poderiam encontrar, mas ele estava resoluto em não deixar a população de Elda desprotegida.
Ao chegarem a um determinado ponto, depararam-se com um rastro de sangue que se estendia em direção à densa escuridão da floresta.
— Esse sangue é recente. Vamos, ela ainda pode estar viva!
Na escuridão, que limitava a visão a poucos metros, Elion liderou o grupo com firmeza. Ele analisava cada passo com atenção, garantindo que todos seguissem suas instruções.
— Fiquem juntos! Jack, vigie a retaguarda enquanto os demais fiquem atentos a qualquer movimento. Mantenham seus escudos prontos; não sabemos do que esse assassino é capaz. Ele pode até usar flechas envenenadas.
Deixando a vila, seguiram o rastro de sangue que os conduziu ao coração da floresta, onde se depararam com o braço decepado da mulher.
Elion ergueu a mão para sinalizar ao grupo que parasse e declarou: — Esperem! O rastro de sangue termina aqui. Preciso verificar melhor pra encontrar mais pistas.
Com o coração acelerado, ele se abaixou, os olhos percorrendo cada detalhe em busca de pistas.
A noite na floresta estava silenciosa, ouvindo-se apenas o vento entre as folhas das árvores. A luz dos lampiões projetava sombras inquietantes no chão, enquanto o som abafado dos passos dos guerreiros se misturava ao ambiente. A escuridão envolvente parecia engolir tudo ao redor, criando uma sensação de vulnerabilidade e tensão crescente.
"Isso não parece certo… Devíamos tá ouvindo vários animais. O que tá acontecendo?"
Antes que pudesse concluir seus pensamentos, uma forte rajada de vento varreu o local, arrancando os lampiões de suas mãos e fazendo as chamas vacilarem até finalmente se apagarem uma a uma.
— O que foi isso? Parece que alguma coisa passou entre nós! — disse Roderick, olhando ao redor com os olhos arregalados e a mão firme na empunhadura da espada.
— Homens, formação de círculo! Cada um olha pra um lado e não pisquem, se não quiserem morrer!
Todos estavam encolhidos, o medo estampado em seus rostos. Apenas Roderick e Elion, que pareciam não se deixar abalar, mantinham-se alertas. De repente, um barulho estranho surgiu entre os matos próximos.
— Chefe, tamos em desvantagem! Eles estão em bandos, fazendo barulho por toda parte! Tá muito escuro, só consigo enxergar até onde minha espada chega! — disse Roderick, olhando para todos os lados e atento aos sons.
Percebendo que o medo estava tomando conta do grupo, Elion tomou a iniciativa.
— Não temam, fiquem em guarda! Qualquer movimento suspeito, se defendam e depois ataquem!
— Sim, chefe! — responderam todos juntos.
Com as palavras de Elion, o grupo recuperou a confiança, preparando-se para enfrentar o que quer que estivesse à frente.
Tudo voltou a ficar em silêncio, deixando os homens alertas e tensos. De repente, Roderick foi arrastado pela perna para dentro da escuridão.
— AAAAHHH! — O grito desesperado do amigo ecoou pela floresta, levando Eldric a correr imediatamente em sua direção.
— ROOOODErick…
— Não, espera, não se mexa — alertou Elion, tentando impedir Eldric.
No entanto, sua voz se extinguiu por completo assim que ele foi engolido pela escuridão.
Elion se posicionou rapidamente, encostando-se aos demais no círculo.
— Homens, não se mexam. Tem armadilhas com cordas no chão.
— C-chefe, se a gente ficar aqui, também vão nos pegar. Temos que agir rápido! — exclamou Jack com urgência, ao perceber a gravidade da situação em que estavam.
— Vamos andar com cuidado pelo caminho que viemos.
Assim que Elion se virou para alertar Leon a tomar cuidado onde pisava, percebeu que a cabeça do companheiro havia desaparecido completamente, enquanto sangue jorrava por todos os lados. O choque tomou conta do grupo. Jack gritou em desespero, seus olhos arregalados e sem acreditar no que via.
Instintivamente, Elion ergueu sua espada num movimento rápido em direção ao pescoço, conseguindo se defender do ataque e contra-atacar. Seu oponente soltou um som estranho, mas o golpe recebido foi forte o suficiente para jogá-lo para trás, fazendo-o bater nas costas de Jack.
"Hã? Mas o que foi isso? Que tipo de força é essa?"
Jack estava visivelmente aterrorizado, suas mãos tremendo enquanto tentava manter a calma.
— C-Chefe, o que está acontecendo? Não consigo ver nada, todos os outros estão mortos. Desse jeito, a gente vai acabar morrendo também.
Elion sentiu a tensão aumentar no ar e encostou suas costas nas de Jack, virando a cabeça ligeiramente na direção dele.
— Calma, Jack. Não vamos morrer. Parece que é apenas um inimigo, e eu consegui acertar ele. Se agirmos com cuidado, vamos conseguir derrotar ele.
— Sim, chef… — Um grito desesperado cortou o ar — AAAAHH!
Jack foi puxado violentamente pela perna, forçando Elion a mover de imediato para segurá-lo, mas sua mão encontrou apenas o vazio. Entretanto, ele se deparou com um dos lampiões virado para baixo, com a chama quase apagada. Com um gesto decidido, Elion quebrou o lampião com sua espada, permitindo que o líquido inflamável escorresse pela lâmina e a acendesse em chamas. Agora, com uma visão clara do ambiente ao redor, ele foi capaz de ver seu inimigo e salvar Jack.
— JACK!
Ao perceber as chamas, o inimigo avançou em sua direção. Elion se virou e se deparou com uma visão que jamais imaginara: uma criatura diferente de tudo que já havia visto.
Sua pele acinzentada, marcada por cicatrizes profundas, sugeria que já havia sobrevivido a inúmeras batalhas. Os olhos negros, desprovidos de qualquer vestígio de empatia ou humanidade, contrastavam com os dentes afiados, dos quais escorria sangue, enquanto suas garras enormes rasgavam o chão. A cauda longa e musculosa balançava de forma ameaçadora. Com uma expressão sedenta por sangue, essa criatura não era um animal selvagem, tampouco um humano; era um verdadeiro monstro.
Apesar de já ter enfrentado assassinos cruéis, Elion nunca havia sentido um medo tão intenso. Seus olhos se arregalaram de incredulidade ao encarar o monstro diante dele, surreal, como um pesadelo que ganhou vida. Por um instante, seu corpo congelou, os músculos paralisados pelo terror, mas ele sabia que recuar não era uma opção. Não agora. A criatura avançou, e com o coração disparado, ele manteve as mãos firmes no cabo da espada.
Jack esforçou-se para se recompor, respirando com dificuldade, enquanto observava Elion se preparar para o confronto. Apesar do terror evidente em seu rosto, ele sabia que não podia deixar Elion enfrentar aquela criatura sozinho. Empunhando sua espada, e mesmo com o corpo tremendo de medo, Jack avançou decidido em direção ao monstro.
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Enquanto isso, em um local não muito distante, três homens encapuzados cavalgavam pela escuridão da noite. Seus rostos estavam ocultos sob capuzes escuros. De repente, o homem do meio parou abruptamente.
— Por que parou?
— Uma das minhas criaturas foi morta.
— Devemos voltar? — sugeriu o terceiro homem.
— Não! Voltar agora seria perda de tempo.