Na casa dos Falconer, no escritório, Elion estava sentado em uma poltrona, desfrutando de sua bebida sem a máscara, enquanto Jack permanecia em pé, próximo, lendo um livro.
— O que foi? Por que me chamou? — perguntou Jack.
Elion deu um gole em sua bebida, mantendo um olhar sério.
— Desta vez, temos uma nova missão, ao norte.
— São eles de novo?
— Um informante relatou que uma aldeia foi atacada: vacas mortas com marcas estranhas e aldeões desaparecidos.
— Quantos você acha que são?
— Não tenho certeza, mas acredito que sejam de 2 a 3.
— Quer que eu chame mais homens?
— Não! Apenas nós dois conseguimos lidar com isso. Já enfrentamos esses monstros antes e sabemos como agir sem colocar mais pessoas em perigo.
Jack virou-se para Elion e o encarou, com os olhos refletindo uma preocupação profunda.
— Esses monstros tão aparecendo com mais frequência ultimamente. Igual naquela época…
Elion levantou-se da poltrona, colocou sua máscara e foi até a mesa, onde pegou alguns documentos.
— Este é o nosso trabalho, temos que fazer isso pra evitar que mais aldeões sejam mortos novamente. Aqui, pegue isso e entregue ao rei, contém o relato do meu informante, e também que iremos para resolver isso.
— Quando partimos?
— Ainda hoje. Prepare tudo para a viagem.
— Hoje? É que… — Jack desviou o olhar, com uma expressão ligeiramente entristecida.
— Que foi?
— É que amanhã é o aniversário da Claris, e eu tinha prometido ir.
— Posso resolver isso sozinho.
— Não! Eu vou também!
Depois de perder seus companheiros naquele evento traumático, Jack não suportava a ideia de reviver algo semelhante. Afinal, aniversários aconteciam todos os anos, e ele acreditava que isso podia esperar.
Ao sair da casa, Jack subiu em seu cavalo e galopou direto para o castelo. Após entregar os documentos ao rei, ele voltou aos estábulos da casa dos Falconer para preparar os cavalos para a viagem. Assim que terminou, correu para informar Elion.
— Chefe, já preparei tudo!
— Ultimamente, não é seguro dormir no meio da floresta, a vila mais próxima fica a quase dois dias de viagem, então temos que ir rápido. Antes de anoitecer, é melhor acamparmos perto do rio, onde teremos água e maior segurança.
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Ponto de vista do Saito.
Enquanto caminhava pelos corredores da minha casa, imerso em um livro, deixava-me levar pela narrativa fascinante. O título era Memórias de Além do Véu: As Viagens de Sylvain.
O livro contava a história de um homem que havia viajado por todo o mundo, descrevendo coisas incríveis: animais de todos os tipos e tamanhos, uma variedade de vegetações tão vasta que parecia impossível de enumerar, cidades magníficas, ruínas subterrâneas e muito mais. Apesar de toda essa grandiosidade, era difícil acreditar que aquilo fosse real. Parecia, claramente, apenas uma história inventada.
Pouco depois, avistei meu pai e o tio Jack saindo do escritório. Meu pai passou por mim, e eu imediatamente desviei o olhar para o chão. Nunca consigo encará-lo diretamente. tio Jack vinha logo atrás.
— Oi, tio Jack! Já terminei meus estudos de hoje, vamos começar o treinamento?
— Hoje não vai ter treino.
— De novo? Vai sair?
— Tenho algo importante pra fazer com seu pai. Vai levar cerca de três a cinco dias até voltamos. Não se esqueça de praticar esgrima. Repita aqueles movimentos que te ensinei ontem.
— Cinco dias? Mas tio jack… e a nossa viagem?
Todo mês, ele e eu viajávamos pelas vilas ou fazíamos acampamentos em vários lugares diferentes. Digamos que era parte do meu treinamento de reconhecimento de território. Ainda assim, era a parte mais divertida do mês, e eu sempre contava os dias ansiosamente para que chegasse logo.
— Quando eu voltar, nós vamos. E, pra compensar, durante a nossa viajem, vou fazer aquele frango assado na brasa que você tanto ama.
Mal podia esperar para saborear aquele frango, com a pele crocante e a carne macia. Só de imaginar o aroma e o sabor, já ficava com água na boca. Pode não parecer, mas o tio Jack era incrível na cozinha. Durante nossas viagens, ele sempre me ensinava algumas receitas, dizendo que era para eu não viver apenas de sopa e carne assada quando estivesse viajando sozinho.
— Tá, vou esperar! É uma promessa?
— Sim, é uma promessa! — Apertamos as mãos firmemente, selando a promessa.
Em seguida, ele começou a caminhar em direção à saída da casa, mas logo se virou ligeiramente para mim.
— Ah, pra que você não fique sozinho, vou pedir à Margery que fique aqui cuidando da casa e da comida durante esse tempo.
— Tá bom. — Acenei em despedida.
Enquanto eles partiam, fiquei olhando pela janela, observando até que desaparecessem de vista, enquanto uma mistura de solidão e frustração tomava conta de mim. A ausência do tio Jack e do meu pai tornava a casa ainda mais silenciosa. Tentei afastar esses pensamentos, mas a sensação de impotência permanecia.
Para tentar ocupar minha mente, decidi sair para treinar com a espada. Passei pela cozinha e vi Margery preparando a comida, como sempre, com seu tradicional uniforme de empregada. Ela estava mexendo uma panela de costas para mim.
— Senhorita Margery, com licença, vou sair pra treinar lá fora!
— Tá bem, só tome cuidado pra não se afastar muito da casa!
— Certo!
Saí correndo em direção ao local de treinamento, peguei uma das espadas de madeira e comecei a golpear um espantalho. Depois, um pouco ofegante, continuei olhando para minha espada, refletindo sobre como tio Jack executou aquela técnica.
Fiquei na mesma posição em que vi ele daquela vez, comecei a respirar calmamente, ouvindo o som do vento balançando as folhas das árvores. O farfalhar das folhas criava uma melodia suave, e a brisa fresca tocava meu rosto. Esses sons e sensações ajudaram-me a me concentrar, quase fazendo-me esquecer da solidão momentânea.
De repente, um barulho inesperado vindo de um arbusto me assustou. Virei-me rapidamente na direção do som, segurando a espada com firmeza. Caminhei devagar, cada passo estalando nas folhas secas do chão, enquanto meu coração disparava e um arrepio percorria minha espinha. Imaginava os olhos ferozes de um lobo escondido nas sombras. No entanto, para minha surpresa, um pequeno coelho saiu do arbusto, seus olhos brilhantes refletindo a luz do sol.
Respirei fundo, aliviado ao perceber que não era um lobo selvagem. Um sorriso surgiu em meu rosto quando notei que se tratava apenas de um pequeno e inofensivo filhote de coelho.
— Ei, você não deveria tá aqui. Esta floresta é perigosa. Venha, vou te levar pra um lugar mais seguro. — Me aproximei lentamente, mas o filhote, assustado, correu para o meio da floresta — Não, espera! — Instintivamente, corri atrás do filhote, determinado a salvá-lo.
Ele era rápido, mas eu não desisti e dei tudo de mim para alcançá-lo. Corri com todas as minhas forças, desviando dos galhos e atravessando as moitas, até que, com um salto ágil, finalmente consegui pegar o filhote.
— Consegui! Hahaha. Você é pequeno, mas é bem rápido, hein.
Porém, quando parei para olhar ao redor, percebi que estava perdido em meio à floresta, exatamente como meu pai e tio Jack haviam me alertado.
Estava longe de casa, e por isso precisava ter cuidado com os lobos. Nunca havia lutado contra um antes, e eles poderiam aparecer em bando. Pior ainda seria encontrar uma fêmea com filhotes, já que ficam ainda mais agressivas nessas circunstâncias.
Olhei em todas as direções, tentando identificar o caminho de volta para casa. Sabia que não poderia subir em uma árvore segurando o filhote, pois isso seria arriscado; uma queda poderia machucar a mim e a ele. Escalar seria uma opção apenas em último caso.
Ah, como sou idiota. Como pude esquecer isso. Tio Jack sempre me dizia que, se por acaso eu me perdesse em uma floresta, bastaria seguir o caminho por onde vim, pois sempre haveria rastros.
Observei ao meu redor com calma, examinando atentamente o chão em busca de pegadas ou qualquer outro sinal que pudesse me orientar de volta para casa. Notei alguns galhos quebrados e resolvi segui-los, acreditando que poderiam me guiar.
Após dar poucos passos, com o filhote nos braços, ouvi um barulho estranho que fez meu coração disparar. Sem nada para me defender, o medo começou a tomar conta de mim.
O que faço? Corro? Não, só me perderia ainda mais. Mas por que um lobo tinha que aparecer justo agora?
O suor escorria pelo meu rosto enquanto eu olhava ao redor, tentando encontrar qualquer sinal de perigo, mas nada parecia suspeito. De repente, o barulho cessou por um momento, apenas para ser substituído por uma voz surgindo atrás de mim.
— Ei, você achou ele!
Ao me virar, para minha surpresa, vi uma garota. Ela parecia ter mais ou menos a mesma idade que eu. Seus olhos dourados brilhavam com curiosidade, enquanto seus cabelos brancos como a neve caíam suavemente sobre os ombros, presos por um elegante grampo adornado com uma pequena joia cintilante.
Ela vestia um simples, porém encantador, vestido azul-claro, adornado com delicados bordados em tons de branco e dourado, que lembravam pétalas de flores. O tecido leve dançava suavemente ao toque da brisa, dando-lhe uma aparência ainda mais graciosa. Seus lábios curvavam-se em um sorriso acolhedor, transmitindo uma calma tranquilizadora, embora seus olhos revelassem uma sutil preocupação. Estava ofegante, como se tivesse acabado de correr.
— Ainda bem que você achou ele… Tava procurando por todo canto.
Fiquei completamente paralisado, incapaz de dizer qualquer coisa.
— Ei, você tá me ouvindo? — Ela começou a acenar a mão na frente do meu rosto, tentando me trazer de volta à realidade.
Finalmente, despertei do meu transe.
— S-sim, estou ouvindo!
— Você pode me entregar esse filhote? — Ela estendeu os braços delicados para receber o filhote de coelho que eu segurava.
— A-ah, sim, claro. Aqui está.
— Você deu trabalho, hein?
Continuei olhando para ela enquanto acariciava suavemente o filhote em seus braços. Seus movimentos eram delicados, transmitindo uma ternura que parecia acalmar o pequeno animal.
— Obrigado. Qual é o seu nome?
— Me chamo Saito e você?
— É Yuri. Você parece tá cansado. Vamos até minha casa, ela fica perto daqui.
— hmm? Pera, sua casa tá aqui? Na floresta? — Eu estava curioso e um pouco preocupado, tentando imaginar como seria viver em um lugar tão perigoso.
— Sim, vamos! — Ela começou a caminhar em direção à sua casa, enquanto eu a seguia um pouco hesitante.
— Mas você não tem medo dos lobos selvagens?
— Lobos? Moro aqui a muito tempo, e nunca vi um lobo.
Fiquei parado por um momento, tentando entender por que meu pai e tio Jack sempre insistiam que a floresta era perigosa. Talvez eles exagerassem nos relatos sobre os perigos, ou talvez Yuri simplesmente tivesse sorte de nunca ter cruzado com um animal selvagem.
— O que foi, por que tá ai parado?
— Não, não é nada, vamos.
Quando encontrar tio Jack, vou perguntar a ele. Tenho certeza de que ele sabe de algo. Ainda assim, por que nunca me contou nada?
Depois de caminharmos por alguns minutos por uma trilha estreita cercada por árvores altas, finalmente chegamos à casa de Yuri. O canto dos pássaros preenchia o ar, criando uma atmosfera tranquila.
A casa era simples, construída em madeira, mas cercada por um exuberante jardim de flores de todas as cores e tamanhos. Ao lado, um pequeno cercado abrigava coelhos que saltitavam de um lado para o outro, trazendo vida ao lugar. O aroma doce das flores se espalhava pelo ambiente, tornando o espaço ainda mais acolhedor e convidativo.
— Não fuja de novo! — Yuri levou o filhote para junto dos outros, e eu não pude deixar de notar o olhar carinhoso e atencioso que ela dedicava aos animais.
— Você mora aqui sozinha?
— Sim!
— Como consegue água e comida?
— Eu que cozinho, mas quem traz as coisas é o senhor Jack. Ele é super gentil e vem aqui quase todo dia. O senhor Elion também aparece às vezes, ele traz livros e outras coisas pra eu ler. Ele é um professor muito bom também.
Uma pontada de surpresa e curiosidade me percorreu, despertando um misto de inquietação.
Sabia! tio Jack e meu pai já estavam cientes, mas nunca os ouvi comentarem nada sobre ela.
— Vem, pode entrar, vou fazer um pouco de chá — disse ela enquanto abria a porta.
Ao entrar, fiquei impressionado enquanto meus olhos percorriam o ambiente. Pequenas prateleiras exibiam vasos com flores coloridas, que acrescentavam um toque alegre ao local. O chão estava coberto por um tapete de tecido grosso, levemente desgastado, mas impecavelmente limpo. No centro, uma mesa de madeira escura era rodeada por cadeiras com almofadas, enquanto as janelas permitiam que a luz suave do sol inundasse o espaço, iluminando os móveis. Em um dos cantos do cômodo, havia uma cama simples, mas bem arrumada, com um cobertor que parecia extremamente aconchegante.
Senti um calor reconfortante ao observar cada detalhe, como se estivesse em um lugar seguro e acolhedor, algo que jamais imaginaria encontrar no coração da floresta.
— Não repare muito, pode parecer tá velho, mas eu deixo tudo limpinho.
— Não é isso, é que… sua casa é muito bonita — sussurrei.
— Hum? o que você disse?
— A-ah… foi nada, não.
— Tá, espera aí, vai ficar pronto rapidinho.
Enquanto examinava o ambiente ao redor, meus olhos pousaram em alguns livros empilhados em um canto. Movido pela curiosidade, aproximei-me de um deles, um volume peculiar com letras que eu nunca havia visto antes. Folheei suas páginas, mas não consegui entender nada do que estava escrito. Frustrado, fechei o livro e me sentei à mesa, deixando meu olhar vagar novamente pelo ambiente, ainda fascinado com os detalhes ao meu redor.
Yuri colocou os copos na mesa, ajeitou o cabelo, prendendo-o delicadamente atrás da orelha, e serviu o chá com movimentos suaves, enquanto eu observava suas mãos habilidosas. Seu jeito gentil e tranquilo parecia me cativar mais a cada instante.
Após servir o chá, ela caminhou até a janela e parou por um momento, olhando para fora com um semblante sereno e contemplativo, como se estivesse perdida em seus pensamentos.
— Eu amo as flores. Digamos que elas são como minhas companheiras. Cada uma tem sua beleza única. As margaridas trazem uma simplicidade encanta, enquanto as rosas vermelhas são incríveis pelo perfume doce. Mas os lírios têm um lugar especial pra mim, porque eram os favoritos da minha mãe.
— Parece que você conhece bastante sobre flores.
Ela se aproximou de repente, batendo as duas mãos na mesa com entusiasmo. Fui pego de surpresa e levei um pequeno susto.
— Sabe, meu sonho é viajar pelo mundo em busca delas. Eu li em um livro que existem várias espécies, algumas que ainda são um mistério, eu quero conhecer todas.
Enquanto Yuri falava, minha mente vagava, encantado por sua voz suave e pela paixão que ela transmitia. Seus olhos brilhavam de entusiasmo, e eu, tão absorto em observá-la, me perdi em meus próprios pensamentos.
Foi então que, distraído, acabei queimando-me com o chá quente.
— Ouch… ai! — Rapidamente coloquei a mão sobre os lábios.
— Cuidado, o chá tá quente! — Ela sentou-se à minha frente. — Você mora perto daqui?
— Sim, eu moro perto da floresta.
— Ahhh, que legal! Quantos anos você tem?
— Tenho 10.
— hahaha. Eu também tenho 10!
Enquanto ela falava, meus olhos não conseguiam desviar dos seus cabelos e olhos. Sempre imaginei que apenas pessoas mais velhas tivessem cabelos brancos. Será que é algum tipo de condição rara? E aqueles olhos… eu nunca tinha visto nada parecido antes.
— Por que olha tanto pro meu cabelo? Tem algo nele? — Ela passou as duas mãos sobre a cabeça, tentando encontrar algo.
— Não, é só que… eu achei ele meio que… bonito.
— Se gostou tanto assim. — Yuri sorriu e, de repente, arrancou um fio de cabelo e o estendeu em minha direção. — Aqui, pegue!
Um pouco surpreso, peguei o fio de cabelo e, com as duas mãos, estiquei-o em direção à luz, admirando-o com fascínio. Não era completamente branco; tinha um tom prateado que refletia nuances cinzentas, reveladas apenas sob a luz do sol, tornando-o ainda mais encantador.
— Onde tão seus pais? — perguntei.
Ela levou a mão ao belo grampo de cabelo com uma joia vermelha que adornava seus fios, enquanto seu olhar se tornava melancólico.
— O senhor Elion me falou que meus pais morreram quando eu ainda era um bebê. A única coisa que sobrou foi este grampo de cabelo, que era da minha mãe. É a coisa mais importante que eu tenho.
A resposta dela despertou em mim uma mistura de tristeza e curiosidade, mas me esforcei para não deixar isso transparecer.
— Ele é muito bonito, fica até parecendo como uma rainha!
— Obrigada. Seus olhos azuis são bonitos também, são iguais do senhor Elion.
— Isso é porque ele…
— Você tem mais amigos? — Yuri interrompeu.
— Cof… Cof… — Engasguei-me levemente com o chá ao ouvir a pergunta inesperada. — Ahhh, tenho muitos amigos, já até perdi as contas.
— Incrível! Eu também queria ter mais amigos, Moro aqui sozinha, e só conheço o senhor Jack e o senhor Elion. Teve uma vez que fiquei doente, e uma mulher chamada Nissa veio cuidar de mim. Mas depois de um tempo, ela parou de vir.
Enquanto conversávamos na sala, meus olhos se voltaram para a janela, e notei que o sol já estava se pondo, tingindo o céu com tons de laranja. Ainda não estava completamente escuro, mas, preocupado com minha segurança, decidi que era melhor partir.
— Já tá ficando tarde, preciso voltar. Obrigado pelo chá. — Levantei-me, percebendo o leve desânimo no rosto de Yuri.
Antes que eu pudesse sair, Yuri levantou-se também e disse: — Espera…
Virei-me para ela, curioso.
— Foi bem divertido hoje. Já que você mora perto, gostaria de vir de novo?
Nesse momento, uma onda de alegria tomou conta de mim, uma sensação quente e inesperada que iluminou meu coração. Nunca imaginei que alguém como Yuri gostaria de me ver novamente. A surpresa misturada com a felicidade fez meus lábios quase se curvarem em um sorriso aberto. Tentei conter a emoção, mas não consegui esconder o quanto aquilo me deixou verdadeiramente contente.
— Claro que sim, eu adoraria.
— Então vamos ser amigos.
Ela se aproximou de mim e estendeu a mão, um gesto inesperado que me fez hesitar por um instante. Olhei para sua mão e, logo depois, para seus olhos, sentindo meu coração acelerar. Uma onda de felicidade me envolveu ao perceber que Yuri queria ser minha amiga. Um sorriso involuntário surgiu no meu rosto enquanto, com um misto de timidez e alegria, estendia minha mão para a dela.
— Tá bom, vamos ser amigos. — Ao apertar sua mão, fiquei muito feliz, afinal, ela seria minha primeira amiga.
— Você é o meu primeiro amigo. — Yuri abriu um sorriso radiante que iluminou todo o seu rosto.
Enquanto saía de sua casa, uma alegria genuína aquecia meu coração ao pensar na felicidade de ter feito uma nova amiga.
Pouco depois, escalei uma das árvores mais altas da floresta, tentando identificar a direção da minha casa. O sol já começava a se esconder no horizonte, e eu sabia que precisava voltar o mais rápido possível, antes que Margery percebesse que eu havia saído.
— Tenho que correr, não posso perder mais tempo.
Depois de confirmar a direção que precisava seguir, desci da árvore com cuidado e comecei a correr o mais rápido que minhas pernas permitiam.