O caminho de casa nunca pareceu tão longo.
As ruas de paralelepípedo do centro da cidade aos poucos davam lugar a estradas de terra.
Edifícios elegantes se transformavam em casas cada vez mais humildes até que ele chegasse aos subúrbios, onde sua pequena cabana estava, inclinada e desgastada pelo tempo.
Correção, ela nem mesmo era mais deles...
Seus pobres pais agora tinham que alugar o que um dia fora sua propriedade.
Ele parou na porta.
O aroma escapando pelas frestas da porta fez o estômago de Ren roncar traiçoeiramente. Seus pais eram cozinheiros talentosos; era o que os mantinha à tona todos esses anos.
A despeito de seu baixo posto.
Com suas plantas de Posto de Ferro maduras, o mais baixo possível, tinham sido incrivelmente sortudos por trabalhar nas cozinhas mais modestas da cidade... Claro, o dono era uma grande pessoa por não discriminar contra eles, mas a habilidade deles era inegável.
Essa era a verdadeira razão pela qual foram aceitos lá.
O cheiro de ensopado de raiz doce, o favorito de Ren, se misturava com pão fresco assado.
Ele ficou ali, mão na maçaneta, o esporo flutuando pateticamente ao seu lado.
Pela janela, ele podia ver sua mãe se movendo pela cozinha com a graça de anos de experiência, enquanto seu pai decorava a mesa com as únicas três velas que lhes restavam.
Eles haviam preparado uma festa de celebração com o pouco que tinham.
Quando ele finalmente empurrou a porta aberta, o nó em sua garganta era tão grande que mal conseguia respirar.
"Ren!" Sua mãe se virou ligeiramente antes de seu pai.
Ambos olharam para o pequeno esporo cinza, e Ren pôde ver o exato momento em que a esperança abandonou seus olhos.
Mesmo assim, sua mãe limpou as mãos no avental e abriu os braços. "Meu pequeno domador..."
As lágrimas que Ren havia segurado por horas finalmente começaram a cair.
"Eu sinto muito," ele sussurrou ao entrar, com a voz embargada. "Eu sinto tanto. Sinto muito, sinto muito..."
"Oh, meu filho," sua mãe o envolveu em seus braços. "Não é sua culpa. Nunca será sua culpa."
"Vocês gastaram tudo... venderam tudo... e eu..."
Seu pai se aproximou, seus passos pesados de um longo dia de exaustão nas cozinhas. Ele se ajoelhou diante de Ren, colocando suas grandes mãos nos pequenos ombros do garoto.
"Filho, olhe para mim."
Ren olhou para cima, com a visão embaçada pelas lágrimas.
"Lembra quando eu queimei um lote inteiro de pão no ano passado?"
Ren assentiu, confuso.
"E lembra o que fizemos?"
"Nós... cortamos em cubos e transformamos em croutons."
"Exatamente," seu pai sorriu. "Às vezes a vida não te dá o que você espera. Mas isso não significa que você não pode fazer algo bom com o que tem."
"Mas eu... o esporo..."
"Ele é parte de você agora," sua mãe acrescentou. "E nós amamos cada parte de você."
"Ei," seu pai juntou-se ao abraço, com a voz rouca. "Você é nosso filho. Não importa se você tem um esporo ou um dragão..."
Mas isso importava. Claro que importava.
♢♢♢♢
A sala de jantar era pequena, mas cheia de amor e do aroma da cozinha mais fina dos subúrbios...
Mas por mais que tentasse, ele não conseguia aproveitar.
Seus pais haviam preparado tudo o que podiam em sua nova situação: ensopado de raiz doce, pão fresco assado, até tinham conseguido algumas frutas silvestres para a sobremesa.
As três velas iluminavam a mesa com um brilho quente, tão diferente do brilho cinzento do esporo.
"Come um pouco, querido," sua mãe serviu um prato generoso. "Você teve um dia longo."
"Eu... não estou com fome."
"Só uma mordida," seu pai insistiu. "Sua mãe passou horas cozinhando."
Mas nem mesmo o aroma de seu prato favorito conseguia superar o gosto amargo da decepção. Ren se levantou da mesa, as lágrimas voltando aos seus olhos.
"Eu sinto muito," ele sussurrou antes de correr para o seu quarto, o esporo o seguindo como uma sombra cinza de culpa.
"Ren!" sua mãe chamou. "Pelo menos pegue um pouco de pão!"
Mas a única resposta foi o som de uma porta se fechando.
Na sala de jantar, as três velas continuavam queimando, iluminando uma mesa cheia de comida preparada com amor e esperança. Seus pais trocaram olhares, o peso da preocupação visível em seus rostos cansados...
As tentativas da tarde também não deram frutos.
"Não estou com fome," ele gritou quando sua mãe bateu na porta com uma bandeja de comida.
Na escuridão de seu quarto, o menino observava as luzes fracas de seu patético companheiro.
Uma semana.
Em uma semana, ele teria que enfrentar a escola, o escárnio, o desprezo.
Uma semana para aceitar que sua vida seria exatamente o que todos esperavam de alguém com a pior besta possível.
Uma vida cinza.
♢♢♢♢
Na pequena sala de jantar, as velas iluminavam os rostos exaustos de duas pessoas que acabaram de assistir suas últimas esperanças se transformarem em esporos cinzentos, e o contrato escolar jazia sobre a mesa.
Era obrigatório... Uma vez assinado, ele tinha que frequentar a Escola de Cultivação e Evolução por 8 anos.
Lá ele aprenderia a fortalecer sua criatura, desenvolver suas habilidades, se tornar um verdadeiro domador. Em uma das melhores escolas, se não a melhor.
Ou essa era a ideia, mas...
"Sessenta anos," o pai murmurou, ambos já com 60 anos.
Suas plantas maduras de Posto de Ferro mal brilhavam em seus pulsos e lhes davam cabelos compostos de folhas e vinhas, o resultado de uma vida de cultivação limitada.
Suas mãos, desgastadas por décadas trabalhando em cozinhas, tremiam. "Vendemos tudo por isso. Tudo."
Seus dedos passavam pelo documento que tinham assinado naquela manhã.
Aquele que lhes custou mais de 1 milhão de cristais. Aquele pelo qual trabalharam a vida inteira.
Na juventude, eles não tinham recursos para comprar as técnicas secretas necessárias para evoluir suas bestas além do estado básico.
Um simples aumento de 40% na vitalidade e 20% em todos os atributos era tudo que tinham conseguido delas, mas serem plantas maduras lhes permitia fingir que eram Bronze 1, apenas o suficiente "status" para manterem seus empregos nas cozinhas terceirizadas na linha externa da cidade.
Por sorte, o bônus de vitalidade os fazia parecer e se sentir mais jovens, como um casal de 40 anos.
Hoje, no entanto, nada em suas vidas parecia "sorte".
"Vendemos tudo por isso," sussurrou a mãe, lágrimas caindo em seu avental gasto. "Tudo para que ele pudesse ter uma chance real em uma boa escola. Para que sua planta pudesse crescer até Bronze, evoluir, dar-lhe uma vida melhor do que a nossa."
A escola era cara por um motivo.
Oito anos de treinamento intensivo, acesso a técnicas de cultivação, recursos para evolução, conexões, tudo o necessário para transformar uma besta comum em algo mais.
Eles tinham sonhado com algo melhor para Ren. Um posto que lhe permitisse andar pelas ruas principais sem abaixar a cabeça.
Com uma planta normal, Ren teria chance de chegar ao Bronze 2, melhorar sua vitalidade em 80% com a maturação e todos os seus aumentos de base para 40%, talvez até conseguir um emprego nas boas cozinhas da cidade aprendendo com seus pais.
Mas com um esporo...
"Ele não pode desistir agora," a mãe segurava o contrato em suas mãos trêmulas, lágrimas silenciosas escorrendo por suas bochechas. "O pagamento foi feito, e as leis são claras, todo contrato deve ser cumprido e toda criança com uma besta deve completar sua educação básica desde que passaram aquela lei no ano passado."
"Se eu não tivesse ficado doente, poderíamos ter tido o suficiente... Eu estava tão perto de comprar o ovo marrom... Mas aquela medicina cara maldita, eu deveria ter mor…"
"Não diga isso! Não é sua culpa. Ren não teria querido isso," a mãe repreendeu. "Além disso, talvez escolher a melhor e mais cara escola tenha sido muita ganância da nossa parte."
"O que fizemos..."