A borda da floresta comum estava próxima.
Ren podia ver à distância, a cerca de 5 quilômetros, as primeiras casas do subúrbio, pequenas luzes piscando na escuridão como estrelas caídas.
Em breve, ele teria que enfrentar as consequências de suas ações.
Ele fez uma pausa por um momento, ajustando a mochila onde guardava os tesouros que obtivera.
Como ele explicaria tudo isso?
Os arranhões, a lama, o fungo dourado, as placas, o núcleo? Talvez ele pudesse entrar deslizando pela janela e...
Um movimento na escuridão o fez congelar.
Por um momento, ele pensou que fossem sapos expulsos de seu território. Perigosos, já que estavam com tanta fome e falta de mana que poderiam agir de maneira diferente do normal.
Mas...
Duas silhuetas se moviam perto da borda da floresta, uma carregando uma lâmpada fraca. Mesmo a essa distância, ele reconheceu a maneira como se moviam, não monstros, mas seus pais.
Seu pai liderava o caminho, uma enxada em uma mão e sua planta madura pronta para o combate. Sua mãe seguia logo atrás, suas próprias vinhas se espalhando sutis pelo chão, preparadas para defesa.
Claro, teria obviamente revelado seu caminho e apontado exatamente o caminho que ele havia tomado...
O mapa.
Assim que perceberam que Ren não estava em seu quarto...
Seu pai teria notado a ausência do mapa imediatamente. Quantas vezes ele tinha visto Ren estudando-o, perguntando detalhes sobre aquela aventura desesperada em busca de medicamento?
Era óbvio onde uma criança que acabara de receber o esporo mais fraco procuraria esperança.
Ren os observou se movendo na escuridão.
Apesar de suas bestas básicas, eles se moviam com a coordenação que só anos de trabalho conjunto poderiam dar. Ele os tinha visto assim antes, na cozinha, trabalhando em perfeita sincronização.
Mas agora...
Seu novo conhecimento permitiu que ele visse mais. Como a planta do seu pai se estendia de maneiras específicas para detectar movimento, como as vinhas de sua mãe criavam padrões defensivos precisos com as raízes ao redor.
Até com bestas maduras de posto-Ferro, eles haviam desenvolvido técnicas eficazes.
Os cogumelos em seu cabelo brilhavam mais intensamente. Ele estava cansado, coberto de lama e esporos cinzentos, mas estava vivo. E agora teria que enfrentar o que estava por vir.
Ele não tinha escolha...
Ele deu um passo em direção à luz.
Apenas um...
O brilho amarelado dos cogumelos em seu cabelo o traiu.
"Lá!" seu pai sussurrou. "Um sapo tão perto da pradaria poderia ter atacado o Ren!"
As vinhas se moveram com surpreendente velocidade e Ren sentiu novamente o familiar aperto das plantas de sua mãe ao redor dele. Por um momento, ele considerou explicar como as vinhas maduras de posto-Ferro tinham um padrão de crescimento que...
"REN!"
O grito de sua mãe cortou seus pensamentos. As vinhas se soltaram instantaneamente.
Ren se preparou para o pior. Ele agora conhecia a biologia de dezenas de bestas, entendia os padrões de comportamento mais complexos, mas não fazia ideia de como lidar com o que estava por vir.
A punição seria severa, ele sabia.
Ele havia roubado o precioso mapa de seu pai, fugido no meio da noite, havia...
Sua mãe o alcançou primeiro, praticamente o derrubando com a força de seu abraço. Seu pai chegou um segundo depois, envolvendo-os ambos em seus braços.
Eles estavam...
Chorando?
"Meu filho," sua mãe soluçava, apertando-o tão forte que ele mal conseguia respirar. "Meu pequeno..."
"Nós pensamos..." seu pai não conseguiu terminar a frase, sua voz embargada.
Ren ficou rígido, esperando.
A qualquer momento começariam os gritos, as repreensões, a punição que ele merecia por ser tão imprudente. Ele sabia que merecia. Ele havia agido sem pensar, havia...
"Sinto muito," sua mãe sussurrou através das lágrimas.
"Se tivéssemos escolhido conseguir um ovo melhor em vez de uma escola melhor, mesmo que você não pudesse cultivá-lo adequadamente..."
"Não deveríamos ter arriscado seu futuro assim," seu pai acrescentou, sua voz trêmula. "Não deveríamos ter acreditado que você conseguiria as mesmas plantas que nós com tanta certeza. Quando fiquei doente, deveríamos ter..."
Ren piscou, confuso. Eles estavam se culpando?
"Mas eu..." ele tentou explicar, "fui eu quem fugiu. Quem roubou o mapa. Quem..."
Seu pai o abraçou mais forte.
"Nós o levamos a isso. Com nossas expectativas, com nosso..."
"Não!" Ren recuou o suficiente para olhar para eles. "Vocês venderam tudo por mim, até a casa. Trabalharam tanto para me conseguir um lugar na melhor escola, para me dar um ovo, qualquer ovo, e eu..."
Lágrimas começaram a cair de suas bochechas, misturando-se com a lama e os esporos cinzentos que restavam.
"Eu só queria..." sua voz quebrou, "queria que vocês se orgulhassem..."
"Nós sempre nos orgulhamos," sua mãe sussurrou, limpando gentilmente seu rosto sujo. "Sempre."
Não houve gritos naquela noite.
Nenhuma punição ou repreensão grave.
Apenas três pessoas se abraçando sob a luz das doze luas, chorando juntas enquanto os cogumelos no cabelo de Ren brilhavam suavemente, como estrelas caídas.
E pela primeira vez desde a cerimônia de invocação, Ren entendeu algo que nenhum conhecimento sobre bestas poderia ter ensinado a ele: o amor de seus pais era mais forte do que qualquer decepção, mais profundo do que qualquer fracasso.
Era incondicional.
♢♢♢♢
A caminhada de volta através das pradarias foi silenciosa, interrompida apenas pelos pequenos soluços contidos de sua mãe enquanto ela segurava sua mão.
Como se temesse que ele pudesse desaparecer se ela o soltasse.
Em casa, o banquete que eles haviam preparado para celebrar sua invocação ainda estava na mesa, agora frio.
Sua mãe imediatamente começou a reaquecê-lo.
"Não é necessário," Ren começou, mas ela já estava na cozinha.
"Você deve estar com fome," ela insistiu, enxugando as lágrimas enquanto trabalhava. "Você ficou fora na noite por tanto tempo..."
Para sua própria surpresa, quando o aroma do ensopado reaquecido encheu o quarto, seu estômago roncou ferozmente.
Ele comeu como se não provasse comida há dias, cada mordida despertando uma fome mais profunda. Seu corpo parecia clamar por energia, como se a transformação tivesse despertado um apetite voraz.
"Sinto muito, meu filho," seu pai quebrou o silêncio, sua voz embargada. "Se não fôssemos tão pobres, se tivéssemos trabalhado mais, se pudéssemos ter conseguido um ovo melhor para você..."
"Não deveríamos ter pressionado você tanto com nossa própria preocupação," sua mãe adicionou, servindo outro prato de ensopado que Ren imediatamente atacou. "Você deve ter se sentido tão..."
"Se algo tivesse acontecido com você," seu pai interrompeu, "nós... não poderíamos... a tristeza teria..."
"Não pressione ele com chantagem emocional!" sua mãe repreendeu seu pai. "Não vê que ele já sofreu o suficiente? Ficar sozinho na floresta por tanto tempo, escondendo-se de sapos na lama..."
Ela se aproximou de Ren, acariciando seu cabelo sujo com ternura. "Você gostaria de um banho quente, querido?"
"Perdoe-me," seu pai cobriu o rosto com as mãos. "Eu sou inútil. Não consegui nem te arranjar uma besta decente. Mas eu prometo... eu mesmo irei à floresta. Encontrarei um remédio milagroso, algo para substituir esse esporo ou para te dar uma segunda besta como nas lendas. Qualquer coisa por você, filho. Não me entenda mal, eu te amo mesmo você tendo apenas esse fungo, mas por você eu..."
"Não!"
A veemência na voz de Ren surpreendeu a todos, até ele mesmo. Ele se levantou da mesa, lágrimas frescas nos olhos.
"Por favor, não digam isso. Não se desculpem. Eu... eu fui tolo." Sua voz tremia, mas estava cheia de convicção. "Esse fungo... o presente de vocês... é o melhor presente do mundo. Eu fui estúpido por não ver isso antes."