Helena, sentindo o peso que seu marido passou, tenta confortá-lo. "O importante é que vocês voltaram, conseguiram salvar aquelas pessoas e conseguiram acabar com aqueles Orcs e goblins."
"Sim, porém, isso não é tudo…", Kael hesitou, trocando um olhar com Elisabeth. "Há algo a mais."
"O que foi?", Helena perguntou, sentindo um aperto no coração.
Elisabeth tomou a frente, explicando a situação. "Descobrimos a causa raiz de todo esse problema. O aumento da atividade dos monstros, o inverno rigoroso… tudo está ligado a uma segunda Dungeon que surgiu recentemente."
"Uma segunda Dungeon?", Helena repetiu, incrédula. "Aqui? Na nossa cidade?"
"Sim", confirmou Elisabeth. "Ela apareceu na fronteira, em uma área remota, mas sua influência já está se espalhando. A energia que emana dela está corrompendo a natureza, criando monstros, evoluindo-os também e alterando o clima."
"Nossa vila…", Kael começou, com uma expressão sombria. "Está dentro da área de influência da Dungeon, mesmo que por pouco. Por isso o clima e a atividade de monstros tem se intensificado."
Um silêncio pesado caiu sobre a sala. A notícia era alarmante. Dungeons eram conhecidas por serem lugares perigosos, repletos de monstros, armadilhas e magia poderosa. A ideia de ter uma segunda Dungeon perto de casa era aterrorizante.
"O que vamos fazer?", Sophy perguntou, com a voz trêmula.
Kael e Elisabeth trocaram um olhar significativo. "A guilda dos aventureiros está organizando uma expedição para investigar a Dungeon", disse Kael. "Eles precisam de todos os guerreiros e magos disponíveis."
"E vocês pretendem ir, não é?", Helena perguntou, já sabendo a resposta.
Kael assentiu. "É nosso dever", disse ele. "Não podemos ficar parados enquanto a Dungeon ameaça nossa vila, nosso lar."
Helena suspirou, olhou para Vargo e depois de volta para Kael, então aceitou de forma resignada. Ela sabia que Kael não iria recusar um chamado como esse. Ele era um guerreiro, um protetor. Era sua natureza lutar pelo bem.
"Eu entendo", disse ela, com um olhar triste. "Mas, por favor, tomem cuidado. Vocês dois."
Kael assentiu, segurando a mão de Helena com firmeza. "Nós teremos", prometeu ele. "Mas a situação é mais complexa do que parece."
Ele fez uma pausa, tomando fôlego antes de continuar. "A guilda dos aventureiros já está recrutando e abrindo missões para investigar a Dungeon, coletar informações e enfraquecer as defesas externas", explicou. "Mas o ataque principal… isso é outra história."
"A guilda dos magos está se mobilizando", acrescentou Elisabeth. "Eles planejam uma incursão em larga escala dentro de seis meses. Vão reunir os magos mais poderosos para tentar desvendar os mistérios da Dungeon e, se possível, neutralizá-la."
"Seis meses?", Helena perguntou, preocupada. "É muito tempo. Até lá, a situação pode piorar."
"Eu sei", concordou Kael. "Mas é o tempo necessário para reunir forças e se preparar. Uma Dungeon como essa… não é algo que se possa enfrentar de qualquer maneira."
Ele hesitou por um momento, antes de revelar a informação mais perturbadora. "Há mais uma coisa, disse ele, com a voz grave. "A rainha ordenou que, se a Dungeon for classificada como de alto nível de perigo, acima de A, eles usarão uma medida extrema."
Que medida?", Helena perguntou, com um pressentimento ruim.
"Uma magia de selamento de nível 10", respondeu Elisabeth. "É um feitiço extremamente poderoso, capaz de selar a Dungeon temporariamente, impedindo que sua influência se espalhe. Mas…"
"Mas?", Helena insistiu.
"Mas é uma magia com um custo muito elevado", explicou Elisabeth. "Ela exige um cristal de mana classe S, o qual é muito raro tendo sido usado para energizar parte dos sistemas de segurança do reino, eu receio que caso seja usado o império de Aeridor declare guerra contra nosso reino."
"E também, o selamento é apenas temporário", acrescentou Kael. "Ele só adia o problema, não o resolve. E se o selo for quebrado…"
"A situação ficaria ainda pior", completou Helena, entendendo a gravidade da situação.
A conversa tomou um rumo ainda mais sombrio quando Kael mencionou as implicações políticas da situação.
"Por causa da Dungeon", disse ele, "há rumores de que a Marquesa Eleonor seja enviada para a nossa cidade caso a missão da guilda falhe."
"Marquesa Eleonor?", Helena perguntou, surpresa. "Por quê?"
"Sim", respondeu Kael. "Ela tem experiência em conquistar Dungeons. Já liderou expedições bem-sucedidas em outras regiões. A corte considera que ela seria mais capaz de lidar com a situação."
Helena sentiu uma pontada de indignação. "Mas nós também já conquistamos uma Dungeon!", exclamou ela. "Nós derrotamos o chefe da Dungeon de Dawnlight que deu início ao coração da nossa cidade!"
Kael suspirou. "Eu sei, Helena", disse ele, com um olhar triste. "Mas a Dungeon de Dawnlight… era de nível baixo, todos sabem. Era uma Dungeon de classificação D. A que enfrentamos agora… os primeiros relatos indicam que pode ser uma Dungeon de classificação C, ou até mesmo B. É uma escala completamente diferente."
Enquanto a conversa se desenrolava, Sophy, agora recuperada do choque, percebeu que Vargo estava próximo da lareira. Então ela o pegou no colo, com cuidado, e o colocou em um berço de madeira que ficava perto da mesa, longe do fogo.
Vargo, frustrado por ter sido removido de sua posição de observação privilegiada, protestou com um resmungo. Mas, ao ser colocado no berço, ele percebeu que ainda podia ouvir a conversa perfeitamente. Ele se acomodou, prestando atenção em cada palavra, tentando decifrar o significado daquelas informações alarmantes.
Dungeon… magia de selamento… Marquesa…, ele repetiu mentalmente, armazenando as novas palavras em seu crescente vocabulário. Ele não entendia todos os detalhes, mas percebia a gravidade da situação. Havia perigo, incerteza e mudanças no ar.
Depois de colocar Vargo no berço, Sophy voltou sua atenção para os adultos, que também precisavam de conforto. Ela foi até a cozinha e começou a preparar um chá quente, escolhendo ervas com propriedades calmantes. Em seguida, pegou alguns pães e queijos, preparando uma refeição simples, mas reconfortante, para eles.
"Aqui", disse ela, colocando a bandeja sobre a mesa. "Isso vai nos ajudar a relaxar um pouco."
Kael, Helena e Elisabeth agradeceram, aceitando o chá e a comida. O calor da bebida e o sabor dos alimentos ajudaram a aliviar um pouco a tensão, criando um breve momento de paz em meio à tempestade que se aproximava.