"Não," disse Orion. Ele levou a mão de Elowyn aos lábios, deixando um beijo no dorso da mão dela. "Não mais, agora que você está aqui."
O lábio inferior de Elowyn tremeu enquanto ela piscava os olhos. Soleia assistia, incrédula, enquanto a menor lágrima se formava no canto dos olhos de Eloywn, balançando precariamente na borda dos seus cílios, ameaçando rolar pelas bochechas dela.
"Mas eu desejo compartilhar o seu fardo," Elowyn confessou, chorosa. Ela levantou uma mão e acariciou a bochecha de Orion ternamente. "Você é o meu amado. Eu faria qualquer coisa para ajudá-lo a dormir melhor à noite."
Soleia não conseguiu evitar o menor dos resmungos ao escapar dos seus lábios. Deus. Essa mulher estava desperdiçada neste deserto desperdiçado de um feudo. Ela deveria ter sido mandada na primeira caravana para a cidade capital para que pudesse se juntar às trupes teatrais, onde poderia cativar um público maior com suas habilidades de atuação.
Seu pequeno resmungo não passou despercebido. Lucinda imediatamente se virou e apontou um dedo exigente para Soleia.
"Você tem algo a dizer? Cuspa logo e pare de rir como uma covarde!"
"Eu não estava rindo," disse Soleia com uma sobrancelha levantada. "Mas se a Srta. Elowyn realmente quer ajudar com as tarefas domésticas, certamente não me oponho. Isso é mais do que alguém já me ofereceu até agora."
Claro, essa provocação foi totalmente destinada a sua querida sogra e a própria Lucinda. Certamente Orion veria o sentido em suas palavras. Lucinda havia se mostrado uma gastadora imprudente em sua conversa anterior - esperançosamente, ele controlaria seus parentes desordenados.
No entanto, as próximas palavras de Orion fizeram o coração de Soleia afundar de decepção.
"Como ousa tentar fugir de suas responsabilidades! Se você não está encarregada de administrar esta propriedade, então arrume suas coisas e saia já daqui!" Orion gritou de repente, lançando um olhar furioso para Soleia. O grito dele fez todos pularem de medo.
Soleia ficou particularmente chocada quando olhou nos olhos dele. Suas íris azuis, que acabaram de estar tão claras quanto o céu de verão, tinham escurecido, e não mostravam sinais de mudança. A frágil paz entre eles que existia poucos minutos atrás havia ido embora, e aquele simples gesto de conforto parecia ser um fragmento de sua imaginação.
Parecia quase como se o homem diante dela tivesse sido trocado bem debaixo do seu nariz.
"Bem dito, meu filho!" Elisa bateu palmas em aprovação. "Fico feliz que você esteja vendo o sentido. Como poderia deixar a Srta. Elowyn levantar um único dedo? Ela está carregando o sangue da família Elsher!"
Quase que imediatamente, todos os olhares se voltaram para a barriga de Elowyn. Elowyn abraçou a pequena protuberância com recato, como se envergonhasse da atenção. Ela balançou a cabeça levemente, e um cacho de seu cabelo prateado escapou do coque, contornando delicadamente o seu rosto.
Orion imediatamente levantou a mão e a encaixou atrás da orelha dela enquanto ela corava bonitamente pelo gesto afetuoso dele.
Soleia apertou os punhos e mordeu o lábio. Era bom saber que ela não era nada especial aos olhos dele. O que ela pensava ter visto nele apenas minutos atrás era obviamente nada mais do que sua esperançosa imaginação.
"Mãe, você é muito gentil," Elowyn disse suavemente enquanto segurava a mão de Orion firmemente. "É precisamente porque estou carregando o filho de Orion que desejo fazer mais. Afinal de contas, acabei de entrar nesta casa. A Srta. Soleia tem administrado esta propriedade há dois anos. Eu preciso contribuir mais para ganhar o meu lugar."
"Ela te disse isso?" Elisa lançou um olhar sujo para Soleia. "Você é uma invejosa tão odiosa, ameaçando expulsar minha nora e futuro neto! Orion, é melhor você disciplinar essa mulher antes que ela decida nos expulsar a todos com a autoridade da família real! Você nem consegue dar à luz um filho para meu filho - quem é você para protestar?!"
O rosto de Orion escureceu ainda mais. Soleia viu como seus dedos esticaram, como se ele tivesse vontade de os enrolar em volta do pescoço dela. Soleia rapidamente deu um passo cauteloso para trás, arrepiada ao vislumbrar o mais leve traço de satisfação na curva do sorriso de Elowyn.
Seu marido deveria ter visto, mas aparentemente, ele não se importava nem um pouco. Em vez disso, Orion estava acariciando o rosto de Elowyn como se fosse algo infinitamente precioso.
"Elowyn, minha mãe está certa. Não ligue para Soleia. Você é mais merecedora do que qualquer outra pessoa; esta é a sua casa. Não aceitarei uma única palavra contra você."
"Então é bom que eu não tenha dito nada contra ela, não é?" Soleia não pôde deixar de apontar. "Foi a sua mãe quem colocou palavras na minha boca!"
"Ela não teria feito isso sem justa causa," Orion retrucou friamente. "Claramente, você tem sido absolutamente desrespeitosa com ela e todos os outros. Você, que ainda está sem filhos depois de tanto tempo. Quem é você para falar com Elowyn dessa maneira?"
A boca de Soleia se abriu. Seu marido esqueceu como as crianças eram feitas?
"Você não pode usar isso como argumento! Nunca consumamos o casamento, então de onde viriam quaisquer crianças? Você quer ser corno, seu homem tolo?"
Suas palavras causaram um olhar enfurecido nos olhos de Orion. Ele levantou a mão, e Soleia estremeceu de dor ao sentir o golpe contra sua bochecha. Ela tropeçou e caiu, enquanto Lucinda e Elise riam escarnecedoramente.
Lágrimas brotaram nos seus olhos. Seu marido era um homem forte, e aquele golpe doeu tanto quanto quando ela tinha caído de um cavalo. Ela tinha sido atingida mais em uma noite do que tinha sido em toda a sua vida de duas décadas.
Seus itens também caíram no chão, e ela ouviu o som de vidro quebrando.
Mas ela se recusou a permanecer no chão. Soleia cambaleou e segurou a bochecha, sentindo o gosto de sangue na boca.
"Orion, por favor, não bata na Lady Soleia..." Elowyn fungou pateticamente, mas não havia erro no brilho de alegria nos olhos dela ao olhar para a figura trêmula de Soleia.
"Lady Soleia trouxe um bom ponto. Vocês nunca consumaram o casamento dela. Talvez... vocês devessem tentar. Ela também é sua esposa, e ela é de origem real. Seu filho seria mais afortunado se tivessem alguém como ela por mãe, e não eu... apenas a filha de um fazendeiro. Eu quero que a sua casa tenha sucesso, Orion."
"Eu prefiro você a todas as fortunas do mundo," Orion declarou tão apaixonadamente que era quase embaraçoso para todos os outros no cômodo. "Você vale por cem dela. Não fale de si mesma tão severamente. Dói-me profundamente quando você não vê o seu valor."
Ele olhou friamente para Soleia como se ela fosse uma mendiga suja à beira da estrada.
"Eu nunca permitiria que Soleia carregasse meus filhos, já que tocar nela me enche de repulsa." Em contraste, Orion olhou para Elowyn como se ela fosse a única que pendurou a lua e as estrelas no céu noturno dele. "Você é a única no meu coração, e sempre será assim."
"Orion..." Elowyn começou a chorar, superada pelas emoções. Orion a abraçou e começou a beijar arrogantemente as lágrimas dela.
"Você não vê que não há lugar para você?" Lucinda perguntou sarcasticamente.
Ela não sabia por que seu primo de repente bateu em sua esposa depois de defendê-la, mas ela gostou de ver a humilhação de Soleia demais para se importar com sua súbita mudança de coração.
"Pare de ser uma abominação e saia!"