"Entre."
Ralph não precisou ser chamado duas vezes. Assim que ouviu a voz de Orion, ele pressionou a maçaneta da porta e entrou direto no escritório. Orion estava sentado atrás da mesa, Elowyn em seu colo, com os braços ao redor do seu pescoço.
Ele imediatamente fez uma cara, observando a mulher rir descaradamente, escondendo o riso com a mão, enquanto Orion a olhava com mel nos olhos. A cena era tão doce que Ralph teve que pigarrear para chamar a atenção dos dois.
"Por que você está aqui?" Orion perguntou secamente, como se não fosse ele quem havia dado a Ralph permissão para entrar. "Se não for nada que ameace a vida, não pode esperar até amanhã?"
Ralph estreitou os olhos - Orion nunca o havia tratado com tanta grosseria em todos os anos que o conhecia, e nunca havia declinado um possível relatório de reunião. Seu impecável senso de dever era o que o tornava um bom general respeitado por seus homens.
"Oh, você vai descobrir que é certamente muito ameaçador," disse Ralph, a boca se contraindo de irritação. "Posso falar com você em particular, Orion? Homem para homem?"
Orion franziu a testa e olhou para baixo, na direção da mulher sentada em seu colo. Elowyn o olhava com olhos tristes e úmidos, os lábios formando um delicado bico enquanto ela se movia para sair. "Então eu vou deixar vocês dois sozinhos, já que sou apenas sua concubina. Longe de mim interferir em assuntos de estado."
"Não seja ridícula," Orion pigarreou e apertou as mãos dela com força, puxando Elowyn de volta para seu colo. Em seguida, lançou um olhar furioso para Ralph.
"Tudo o que você quiser dizer na minha frente, pode ser dito na frente de Elowyn. Trate-a como você trataria uma extensão de mim mesmo."
Os olhos de Ralph quase saltaram das órbitas ao ouvir as palavras não características que saíram da boca de Orion. "Não posso, a menos que você deseje que eu a regale com histórias da minha devassidão?"
Orion soltou um rosnado de aviso, mas Elowyn apenas riu por trás da mão e olhou para ele com amor. A magia parecia crepitar entre eles com a intensidade com que se olhavam, fazendo com que o estômago de Ralph se revirasse. Então ela se virou para falar com Ralph.
"Se ouvir tais histórias é o que permitirá que Sir Byrone me aceite como parte da vida de Orion, então escutarei com prazer," disse Elowyn, mesmo enquanto um rubor cor-de-rosa cobria suas bochechas. Ela era o retrato da inocência feminina, e a pálpebra inferior de Ralph não conseguia parar de tremer quanto mais ele a olhava.
Ele sempre pensou assim, desde que ela apareceu pela primeira vez com Orion no acampamento deles, mas Elowyn o fazia lembrar demais de alguém que desejava poder esquecer.
Só de vê-la ele se irritava infinitamente.
"Qualquer devassidão que eu possa inventar é insignificante comparada a vocês dois," disse Ralph com raiva contida. "Orion, acorde. Você está cometendo adultério e traição por... por alguém como ela?"
Ele não conseguiu impedir que o desprezo transparecesse em sua voz. Elowyn era uma mulher encantadora, mas empalidecia em comparação com o charme e a inteligência de Soleia. Era como comparar uma vela achatada com a magnificência do nascer do sol.
"Você bateu a cabeça em cada galho enquanto caía de uma árvore de idiotas?" Ralph continuou implacável, observando os olhos de Orion atentamente em busca de algum sinal de clareza. "Sei que você perdeu suas memórias, mas certamente deve se lembrar que em Vramid é preciso permissão de Sua Majestade para tomar uma segunda esposa. Como estão as coisas agora, a senhorita Elowyn não passa de uma amante."
"Cale a boca! Não chame Elowyn assim, você está machucando os sentimentos dela!" ruge Orion, enquanto Elowyn encolhia a cabeça bonita no peito dele, os olhos úmidos de lágrimas não derramadas. Orion rapidamente acariciou o rosto dela, afagando sua bochecha com ternura.
"Irei para a capital e falarei com Sua Majestade amanhã logo cedo. Farei de você minha esposa, custe o que custar," prometeu Orion com ardor fervoroso. "Soleia já se referiu a si mesma como minha concubina, então não haverá problemas."
Elowyn passou os braços ao redor de Orion. "Obrigada... Mas sinto muito por todo o transtorno... Sei que não sou bem-vinda aqui," disse ela tristemente enquanto se forçava a deixar seu colo. "Vou preparar uma xícara de chá para você e o Senhor Bryone beberem enquanto conversam."
Ralph estreitou os olhos enquanto a observava se afastar. Talvez essa fosse a oportunidade que ele precisava para entender o que estava acontecendo. Ele se virou rapidamente e encarou Orion com fúria.
"Independentemente do status de Soleia, certamente você não é um homem que bateria em uma mulher desarmada, não é?" Ralph retrucou friamente. A imagem da bochecha inchada de Soleia flutuou em sua mente, fazendo sua ira crescer. "Isso é uma recompensa inadequada pelos esforços dela em manter seu lar a flutuar. Até mesmo o fato de você estar sentado em uma sala com uma lareira funcionando é equivalente ao trabalho duro dela."
Ele fez uma pausa para que suas palavras pudessem ser assimiladas. Um lampejo de reconhecimento pareceu surgir nos olhos de Orion.
"Enquanto isso, sua pobre 'concubina' agora está ficando nos úmidos e frios quartos dos criados com a bochecha machucada que ela deve tratar com suja neve em uma tentativa de economizar," Ralph continuou a falar. "Mesmo que você não goste dela, não pode negar que isso é ridículo!"
"Por que você se importa tanto com ela?" Orion rebateu. "Ralph, você foi enganado pelas mentiras dela. Eu me encontrei com o administrador, e ele diz que os quartos dos criados são adequadamente mobiliados. Ela provavelmente está agindo de forma patética para que você sinta pena."
Orion então se enrijeceu. "Você está apaixonado por ela?"
"Não mude de assunto," cuspiu Ralph enquanto se aproximava para encarar nos olhos de Orion. De tão perto, ele conseguia detectar o mais leve traço de magia obscurecendo suas pupilas. Elowyn deve ter feito algo com ele, mas até descobrir como e porquês, era melhor não fazer nenhuma movimentação brusca.
Deixe todos acreditarem que ele estava apaixonado pela Princesa Soleia. Era a solução mais fácil.
Os olhos de Orion se arregalaram. "Então você está―"
"Eu voltei," Elowyn entoou alegremente, carregando duas xícaras de chá quente em uma bandeja. "Orion, a da esquerda é sua, enquanto a da direita é do Senhor Byrone." Ela sorriu docemente. "A sua tem uma colher extra de açúcar, do jeito que você gosta."
"Obrigado," disse Orion, parecendo voltar ao seu habitual eu apaixonado enquanto lançava para Elowyn um olhar meloso de devoção. Antes que sua mão pudesse alcançar a xícara de chá, Ralph a pegou e bebeu todo o conteúdo de uma vez, tossindo enquanto queimava a língua.
Então ele pegou sua própria xícara e bebeu também, por via das dúvidas.
"O que há com você?" Orion exclamou.
"Senhor Byrone!" Elowyn exclamou em choque, mas não dava para negar o brilho divertido em seus olhos. De repente, Ralph se sentiu como uma raposa presa em uma armadilha para ursos, sem saída. "Eu não fazia ideia de que você estava com tanta sede! Você poderia ter me dito antes, para eu poder trazer mais xícaras comigo."
"Não precisa," disse Ralph roucamente enquanto sentia sua garganta começar a queimar. Aliás, seu corpo inteiro estava pegando fogo.
Ele cambaleou para fora do quarto, desesperado para sair assim que percebeu o que estava acontecendo. Essa sensação era muito familiar.
Ele havia sido drogado com um afrodisíaco.